A FALECIDA DRA The Late Mrs. Anna Kingsford, M.D. – Helena Petrovna Blavatsky

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(p. 42) (*)

6. MISTÉRIO DA REDENÇÃO, E O

CRISTO COMO O SUPREMO

RESULTADO DESSE MISTÉRIO

(Edward Maitland)

 

            O novo Evangelho da Interpretação efetivamente afasta a invenção eclesiástica – não menos monstruosa do que alheia às escrituras – que, deificando Jesus e o apresentando como Deus, o remove da categoria de humano e o identifica com o Ser Supremo, e representa de forma ímpia aquele Ser como morrendo na Cruz para satisfazer Sua própria ira implacável. No entanto, isso de fato mantém e reforça o símbolo que é sustentado pelo Sacerdotalismo como confirmação de tal doutrina. Pois ela apresenta o Credo como um epítome da história espiritual, não de qualquer ser individual, mas de todos aqueles que, sendo “filhos da Intuição”, se tornam, por meio disso, “filhos de Deus”,

(p. 43)

e o Credo reconta os estágios daquele processo de regeneração do qual o Cristo é a culminância, mostrando que esse processo se fundamenta na própria natureza do ser, e está aberto, portanto, igualmente para todos os homens.

 

            Mas, mesmo assim, não é a Jesus, o homem, que se devem honras divinas. Ele é somente o veículo da manifestação Divina, e apenas um dentre muitos desses veículos, a diferença entre os quais é unicamente de grau, sendo que a natureza e a história espiritual de todos eles é a mesma. Pois, onde quer que Deus encontre manifestação dentro e através do homem, lá, em Seu grau, está Cristo.

 

            “Reconhecendo plenamente aquilo que Jesus foi e fez, o Novo Evangelho da Interpretação apresenta a salvação como dependendo, não do que qualquer homem tenha dito ou feito, mas no que Deus perpetuamente revela. Pois, de acordo com o Novo Evangelho, a Religião não é uma coisa do passado, ou de qualquer época em particular; mas é uma sempre presente realidade, que ocorre a todo instante; a qual é para todo homem apenas uma e a mesma: um processo completo em si mesmo para cada homem; e que para ele existe independentemente de qualquer outro homem. Desse modo ele reconhece como atores, nesse drama crucial da alma, somente duas pessoas, o próprio indivíduo e Deus.” (1)

 

            Dessa maneira, que é o mesma pela qual todos os outros homens são salvos, é salvo aquele que se tornou um Cristo. Sua função é mostrar aos homens o caminho, tendo ele próprio aprendido esse caminho através da experiência.

 

            Ao fazer isso, a Nova Interpretação reconcilia a religião com a razão, e a fé com o conhecimento, restaurando para esse fim os textos sagrados originais a partir dos quais a própria Bíblia foi escrita, obtendo-os diretamente da fonte primária e eterna depositária da gnose divina à qual eles pertencem, a Hierarquia da Igreja Celestial, a qual, na plenitude da época apontada, agora se encontra, uma vez mais, em aberta relação com a Terra. Tal é o caráter e a origem reivindicados pela exposição que segue do “Mistério da Redenção”:

 

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            “Todas as coisas no Céu e na Terra são de Deus, tanto as invisíveis como as visíveis.

            Assim como é o invisível, também é o visível, pois não há linha divisória entre o espírito e a matéria.

            A matéria é espírito tornado exteriormente cognoscível pela força da Palavra [ou Verbo] Divina [o].

            E Deus renovará todas as coisas pelo amor, o material se resolvendo no espiritual, e haverá um novo Céu e uma nova Terra.

            Não que a matéria venha a ser destruída, pois ela veio de Deus, e é de               Deus, indestrutível e eterna,

            Mas ela se recolherá ao interior e se resumirá em seu verdadeiro ser.

            Ela afastará a corrupção, e permanecerá incorruptível.

            Ela afastará a mortalidade, e permanecerá imortal.

            De modo que nada seja perdido da Divina substância.

            Ela era entidade material: e será entidade espiritual.

            Pois não há nada que possa sair da presença de Deus.

            Essa é a doutrina da ressurreição dos mortos: ou seja, a transfiguração do corpo.

            Pois o corpo, que é matéria, é apenas a manifestação do Espírito: e a     Palavra [Verbo] de Deus a transmutará em seu ser interior.

            A vontade de Deus é o crisol alquímico: e a impureza que é depositada dentro dele é matéria.

            E a impureza se tornará ouro puro, sete vezes refinado – o próprio perfeito espírito.

            Ela não deixará nada para trás: mas será transformada na Divina imagem.

            Pois ela não é uma nova substância: mas sua polaridade alquímica é alterada, e ela é convertida.

            Mas a menos que fosse ouro em sua verdadeira natureza, ela não poderia se transformar no aspecto do ouro.

            E a menos que a matéria fosse espírito, ela não poderia se reverter ao espírito.

            Para produzir ouro, o alquimista deve ter ouro.

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            Mas ele sabe ser ouro naquilo que os outros consideram impureza.

            Entrega-te à vontade de Deus, e te tornarás como Deus.

            Pois tu és Deus, se tua vontade for a vontade divina.

            Esse é o grande segredo: é o mistério da redenção.” (1)

 

            Mas o processo da redenção é complexo e multifacetado, tal como é o próprio homem, e possui muitas etapas, se constituindo numa escada. Todo esse processo, imenso como ele é, está dentro do homem. Essa escada é ao mesmo tempo da Evolução e da Regeneração – sendo involutiva e espiritual – por meio da qual o homem ascende “do pó do chão ao trono do Altíssimo”, a qual tem Cristo como seu ápice. Os passos são assim apresentados na Nova Interpretação, tendo por base a apresentação hebraica:

 

            “Agora, os membros do microcosmo são doze: três membros são do sentido, três da mente, três do coração, e três da consciência.

            Pois do corpo há quatro elementos; e o signo dos quatro é o sentido, no qual há três portais;

            O portal da visão, o portal da audição, e o portal do tato. (2)

            Renuncie à vaidade, e seja pobre: renuncie ao reconhecimento, e seja humilde: renuncie à luxúria, e seja casto.

            Ofereça a Deus um sacrifício puro: permita que o fogo do altar chegue a ti, e prove tua fortaleza.

            Purifique tua visão, tuas mãos, e teus pés: conduza o incensório da tua adoração aos recintos do Senhor; e que teus votos se dirijam ao Altíssimo.

            E para o homem magnético (3) há quatro elementos: e a cobertura dos quatro é a mente, na qual há três portais;

(p. 46)

            O portal do desejo, o portal do trabalho, e o portal da iluminação.

            Renuncie ao mundo, e aspire às coisas do céu; trabalhe, não para a carne que perece, mas peça a Deus teu pão de cada dia: acautela-te das doutrinas que te desviam, e permita que a Palavra [Verbo] do Senhor seja tua luz.

            A alma também possui quatro elementos: e a morada dos quatro é o coração, no qual, do mesmo modo, há três portais;

            O portal da obediência, o portal da oração, e o portal do discernimento.

            Renuncie à tua própria vontade, e deixe que apenas a lei de Deus esteja dentro de ti: renuncie à dúvida: ore sempre e não fraqueje: também seja puro de coração, e verás a Deus.

            E dentro da alma há o espírito: e o Espírito é Uno, e, no entanto, ele possui, do mesmo modo, três elementos.

            E esses elementos são os portais do oráculo de Deus, que é a arca da aliança;

            O cajado, a hóstia e a lei:

            A força que dissolve, e transmuta, e profetiza: o pão do céu que é a substância de todas as coisas e o alimento dos anjos; a tábua da lei, que é a vontade de Deus, escrita com o dedo do Senhor.

            Se esses três estiverem dentro de teu espírito, então o Espírito de Deus estará dentro de ti.

            E a glória estará com o que se sacrifica, no sagrado lugar de tua oração.

            Esses são os doze portais da regeneração: através dos quais, se o homem entrar, ele terá o direito à árvore da vida. (1)

 

            A Nova Interpretação, contudo, não se restringe à apresentação Hebraica. Ela reconhece a Oriental, a Egípcia e a Grega, e ao fazer isso demonstra ao mesmo tempo a verdade da definição que torna o Cristianismo uma síntese dos mistérios sagrados

(p. 47)

que já se encontravam no mundo, e repreende o Sacerdotalismo cristão por ter suprimido esses mistérios, uma supressão que tem sido feita ao ponto de acusá-los de “satânicas imitações com o objetivo de antecipadamente desacreditar o Cristianismo.” E isso foi feito pelo Sacerdotalismo, não obstante o reconhecimento conferido a esses mistérios por Jesus, conforme adiante será explicado, e conforme foi explicado por São Paulo na sua descrição de Moisés como considerando a repreensão do Cristo [Hebreus 12] como contendo riquezas maiores do que os tesouros do Egito – uma expressão que mostra que a sabedoria que Moisés aprendeu no Egito compreendia, e era, a doutrina do Cristo, a gnose suprimida pelo Sacerdotalismo.

            Embora descreva o próprio processo de regeneração em termos derivados dos mistérios hebraicos, a Nova Interpretação celebra os supremos resultados daquele processo em um ritual que pertence aos mistérios gregos – que é uma das várias similaridades recuperadas pela Nova Interpretação. Trata-se de um hino devotado ao “Primeiro dos Deuses”, ou o Elohim criativo, o Espírito de Sabedoria, conforme representado por seu “Anjo”, o “Anjo do Sol”, e representante “daquela luz que Adonai criou no primeiro dia”, sob sua designação grega de Febo Apolo. Como se verá, este hino exala tanto o espírito como a letra da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, de tal modo que indica, inequivocamente, a identidade, em substância e origem, dos mistérios hebraicos e cristãos com os outros mistérios e escrituras sagradas da antiguidade. E, como também veremos, seu tema é a divindade potencial do homem como ser humano, e não a divindade exclusiva de um dado indivíduo humano em particular:

 

Hino a Febo

 

            “Forte e adorável és tu, Febo Apolo, trouxestes vida e cura em tuas asas, coroastes o ano com tua generosidade, e destes o espírito da tua divindade aos frutos e às coisas preciosas de todos os mundos.

(p. 48)

            Onde estaria o pão da iniciação dos filhos de Deus, se tu não tivesse feito o milho florescer, ou o vinho de seu cálice místico, se tu não tivesse abençoado a vinha?

            Muitos são os anjos que servem nas cortes das esferas celestiais: mas tu, Mestre da Luz e da Vida, és seguido pelos Cristos de Deus.

            E teu sinal é o sinal do Filho do Homem nos céus, e do Justo tornado perfeito;

            Cujo caminho é como uma luz brilhante, brilhando mais e mais até a mais interna glória do dia do Senhor Deus.

            Teu estandarte é vermelho carmesim, e teu símbolo é um cordeiro branco-imaculado, e tua coroa é de puro ouro.

            Aqueles que reinam contigo são os Hierofantes dos mistérios celestiais; pois a vontade deles é a vontade de Deus, e eles conhecem como eles são conhecidos.

            Esses são os filhos da esfera mais interna; os Salvadores dos homens, os Ungidos de Deus.

            E o nome deles é Cristo Jesus, no dia em de sua iniciação.

            E diante deles todo joelho se dobrará, tanto das coisas do céu e como das coisas da Terra.

            Eles são produto de grande tribulação, e são colocados para sempre à direita de Deus.

            E o Cordeiro, que está no meio das sete esferas, lhes dará de beber do rio da água vivente.

            E eles comerão da árvore da vida, que está no centro do jardim do reino de Deus.

            Eles são teus, Ó Grande Mestre da Luz; e esse é o domínio que a Palavra [Verbo] de Deus te designou desde o princípio:

            No dia em que Deus criou a luz de todos os mundos, e separou a luz das trevas.

            E Deus chamou a luz de Febo, e as trevas Deus chamou de Píton.

(p. 49)

            Agora, havia trevas antes da luz, como a noite antecedeu a aurora.

            Esses são a noite e a manhã do primeiro ciclo dos Mistérios.

            E a glória desse ciclo é como a glória dos sete dias; e aqueles que nele habitam são sete vezes refinados;

            São os que purificaram a vestimenta da carne nas águas viventes;

                        E transmutaram tanto o corpo como a alma no espírito, e se tornaram virgens puras.

            Pois eles foram compelidos pelo amor a abandonar os elementos externos, e a buscar o mais interno, que é indiviso, chegando mesmo à Sabedoria de Deus.

            E Sabedoria e Amor são Unos.” (1)

 

NOTAS

 

(42:*) N.T.: Essa numeração refere-se às paginas no original.

(43:1) The Perfect Way (O Caminho Perfeito), I, 42.

(45:1) Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), II, ix.

(45:2) O paladar e olfato sendo considerados modos de toque.

(45:3) Ou seja, a parte magnética ou astral do homem, que é considerada uma pessoa ou sistema em si mesmo.

(46:1)Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), II, v.

(49:1)Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), II, xi.

 

 

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