A FALECIDA DRA The Late Mrs. Anna Kingsford, M.D. – Helena Petrovna Blavatsky

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(p. 38) (*)

5. VERDADEIRA E ESOTÉRICA DOUTRINA

DA ENCARNAÇÃO DIVINA

(Edward Maitland)

 

            Da mesma forma que Deus é espírito puro, assim também o espírito puro é Deus: e eles não são menos do que isso por estarem individualizados em uma alma humana, ou porque, quando assim individualizados, essa alma esteja vestida com um corpo humano.

            Assim é a verdadeira doutrina – simples, óbvia, inexpugnável – da divina encarnação. E o Evangelho que Jesus veio ensinar, e demonstrar com o seu exemplo, é aquele que ensina que todos os homens possuem igualmente as potencialidades Divinas, as quais lhes pertencem em virtude da natureza dos princípios que os constituem.

            Jesus foi um homem que havia se aperfeiçoado através do sofrimento das experiências de muitas vidas e tinha alcançado a plenitude de Cristo. Ele não tinha, portanto, nenhuma necessidade de retornar ao corpo

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em seu próprio benefício. (1) Mas ao voltar, por puro amor, para redimir, por meio de mostrar aos outros que eles também tinham em si o mesmo potencial para se tornarem, ele foi UM Cristo, e como chefe da ordem, O Cristo.

            E o fato de que ele foi um redentor não foi em razão de ele sofrer por outros – “por”, nesse sentido, não significa “no lugar de” – mas sim por sofrer dentro dos outros e com os outros, através da plenitude de sua compaixão. E foi por meio da demonstração da perfeição de seu amor que ele foi capaz de conquistá-los para também amar.

            Pois o amor que de forma imediata salva o homem não é o amor de alguém por ele, mas o amor dentro dele. Esse amor dentro dele é Deus dentro dele. Pois “Deus é amor”. E Deus no homem é Cristo. Cristo é o novo homem nele; seu próprio ser regenerado, que “carrega os pecados” de sua própria existência passada envolvida com o mal, que agora já não é mais assim, e que é, portanto, sua “unificação” e “sacrifício”, tornando-o uno com a sua própria divindade, a qual habita dentro dele. E, por meio disso, tornando-o uno com a Deidade universal. Desse modo é o homem “salvo por Cristo”.

            Nossa língua foi enriquecida com a apropriação do termo oriental “Karma” (ou Carma), que representa sucintamente aquilo que está implicado na afirmação: “Tu não sairás dali enquanto não pagares o último ceitil” [Mateus 5:26]. Quando compreendida corretamente, essa doutrina não é inconsistente com aquela da redenção por meio da regeneração (...). O amor cobre e varre uma multidão de pecados naquele em quem a chama do amor é acesa. (...)

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            E a doutrina que rejeita o esforço redentor “sob pena de interferir no Karma”, é uma doutrina das profundezas, desenvolvida expressamente para se afastar do exercício do amor, resultando em perda tanto para o doador como para quem recebe. Ao ignorar o amor e seu poder regenerador, ela ignora Cristo. Não há nem pode haver nenhum conflito real entre o amor divino e a justiça divina.

            O homem necessita apenas ser convencido de suas próprias possibilidades divinas para empreender todos os esforços para realizá-las. Sabendo disso, Jesus restringiu sua mensagem em grande parte à afirmação dessa suprema verdade.

            Uma vez permitido que os homens fiquem certos de que seu direito de nascença é a divindade, é Deus, tudo o mais, cada detalhe na vida e na prática, irá se harmonizar de acordo com isso. A aspiração na direção desse ideal experimentará a sua própria realização.

            Qualquer ensinamento diferente disso; qualquer insistência em modos de vida particulares, tais como os que dizem respeito à dieta, ou da relação do homem com os animais, por essenciais que possam ser, teriam falhado em obter resposta de um mundo tão rude e insensível como o mundo romano daqueles tempos.

            Além disso, independente do que Jesus possa ter dito sobre esses e outros assuntos semelhantes, somente ficou registrado aquilo que os seus biógrafos julgaram adequado registrar, e apenas sobreviveu aquilo que o Sacerdotalismo permitiu sobreviver. Mais ainda, os Evangelhos declaram que o mundo não acreditaria nos livros que fossem escritos sobre ele, seus dizeres e seus feitos; e é enfaticamente afirmado no Novo Evangelho da Interpretação que a segunda destruição da biblioteca de Alexandria foi realizada por instigação sacerdotal, expressamente visando suprimir as evidências que ela continha sobre a falsidade da apresentação sacerdotal do Cristianismo. (1)

            E, além de tudo isso, o próprio Jesus declarou que ele ocultava muitas coisas de seus discípulos porque eles naquele momento não as suportariam, não estando eles suficientemente avançados em sua percepção das coisas espirituais, e predisse o advento de um Espírito de Verdade

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que deveria guiá-los para todas as verdades – uma previsão e uma promessa cujo cumprimento a Igreja tem até agora esperado.

            Quanto mais distante se está do infernal, mais próximo se está do celestial, no que diz respeito à condição do homem. De modo semelhante, quanto mais distante for o afastamento do sacerdotalismo, maior será a proximidade com o divino, com relação à verdade.

            As idéias principais da doutrina, que é ao mesmo tempo a doutrina da Bíblia e a de Cristo, são precisamente os princípios mais fortemente anatematizados pelo Sacerdotalismo, ou seja, os princípios do Panteísmo e a da Evolução, estando a condenação da última compreendida em sua condenação da doutrina da divindade da Substância como sendo uma heresia mortal.

            Do mesmo modo que o próprio Cristianismo, esses princípios só foram colocados diante do mundo de forma distorcida. Todas as coisas são Deus enquanto princípios constituintes, mas não enquanto condição, por causa da criação. Deus – o Deus que o homem tem em si como potencial para tornar-se – é o produto da Evolução. Tendo a sua origem em Deus por meio da emanação, o homem retorna a Deus por meio da evolução. Assim, seu ponto de chegada está em seu ponto de partida. Esse é o verdadeiro Panteísmo.

            A verdadeira evolução se dá nesse sentido. Em virtude da divindade dos princípios constituintes da existência – sua Força e sua Substância – em seu atributo essencial a existência é divina. A evolução é a manifestação desse atributo essencial, o impulso para a evolução sendo a tendência em reverter para uma condição divina perdida.

            Por essa razão a Divindade é a meta da evolução. A evolução é o método da individuação da divindade; e seu processo não está concluído até que a divindade seja alcançada. Deus é o direito hereditário de cada criatura; e não há nenhuma barreira à realização de Deus, a não ser a vontade do indivíduo. “Até destas pedras Deus pode fazer nascer filhos para Abraão” [Lucas 3:8]. Tudo que é necessário é que o espírito aprisionado na matéria seja libertado para operar. Pois “Cada mônada da substância divina possui a potencialidade de duplicação”. E a alma – que é o indivíduo – uma vez gerada,

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é indestrutível, salvo através de sua própria vontade pervertida. “O espírito por si mesmo é difuso, e a chama nua está passível de se fundir a outras chamas. Mas a chama que está envolta em substância se torna uma individualidade que não é difusível”, que é capaz de sobreviver a todas as alterações de forma e condição, e que sempre vai assumindo formas e condições mais elevadas através do desenvolvimento de suas capacidades. Para esse desenvolvimento, tanto do individual como do universal, não há nenhum limite. E o produto desse desenvolvimento, por mais sublime como possa ser, sempre é “Cristo”. Pois Cristo é Deus em manifestação por meio da individuação. E o manifestado nunca exaure o não manifestado: mas sempre, na manifestação, o “Pai é maior do que o Filho”.

            Ao fazer de Cristo a encarnação do “Filho” na Trindade da Divindade, ao invés de sua contraparte no homem, o Sacerdotalismo confundiu o Manifestado com o Não Manifestado, e fez do Espírito Santo o Pai da “Pessoa” por meio da qual ele tem a sua processão (*). Esse é um artifício sutil para privar o homem de suas potencialidades divinas, e para exaltar a Ordem que reivindica o poder de converter os elementos eucarísticos em real Divindade.

 

NOTAS

 

(38:*) N.T.: Essa numeração refere-se às paginas no original.

(39:1) Aperfeiçoado, quer dizer, em relação à sua seidade espiritual, a qual, por ser o verdadeiro e permanente indivíduo, é a única que reencarna; e, em virtude de tal perfeição da alma, é capaz de realizar a plena regeneração de sua natureza corpórea, que, por derivar de pais humanos, eles mesmos apenas parcialmente regenerados, necessariamente carecia de certos graus de regeneração. Daí a "fraqueza” através da qual, como diz São Paulo, ele foi crucificado. Ver Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), I, xxiv.

(40:1) Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), I, xxxii.

(42:*) N.T.: Na teologia católica, procedência do Filho do Pai e a do Espírito Santo de ambos, no mistério da Santíssima Trindade.

 

 

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