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Capítulo 13

 

 

O Caso Kiddle (setembro de 1883)

 

            Em setembro de 1883, logo após a publicação do segundo livro de Sinnett, Esoteric Buddhism (Budismo Esotérico), um espírita americano chamado Henry Kiddle escreveu um artigo no jornal espírita Light onde ele comentava que quando lera o primeiro livro de Sinnett, The Occult World (O Mundo Oculto), um ano antes, ficara muito surpreso ao encontrar:

 

“... em uma das cartas apresentadas pelo Sr. Sinnett como tendo sido transmitidas a ele por Koot Hoomi, na misteriosa maneira descrita, uma passagem tirada quase que verbatim de um discurso sobre Espiritismo feito por mim no Lago Pleasant, em agosto de 1880, e publicada no mesmo mês pelo Banner of Light. Como o livro do Sr. Sinnett não apareceu senão após um tempo considerável (cerca de um ano, eu penso), é certo que não citei, consciente ou inconscientemente, de suas páginas. Como, então, ela foi parar na misteriosa carta de Koot Hoomi?” (Kiddle)

 

            Ele diz que havia escrito para Sinnett pedindo explicações e incluindo uma cópia de seu discurso com as partes usadas por KH marcadas. Entretanto, como não recebeu resposta, Kiddle questionava: KH não seria, na verdade, apenas uma ilusão? Será que existia mesmo uma fraternidade oculta de adeptos? Se KH era de fato um adepto poderoso, por que precisaria “tomar emprestado” qualquer coisa de um humilde estudante das questões espirituais?

 

            Essa suspeita de plágio, que ficou conhecida como o “caso Kiddle”, gerou não apenas uma discussão que durou meses, mas um clima desconfiança e suspeita com relação a Madame Blavatsky e todos os fenômenos associados aos Mestres.

 

 

O Texto de Kiddle e o da Carta do Mestre KH

 

            Kiddle argumentava que era importante questionar a existência do adepto KH porque o conteúdo apresentado nos livros de Sinnett era de uma tal natureza que só poderia ser verificado através do uso de faculdades transcendentais. Como a grande maioria das pessoas não possui essas faculdades, a

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validade desse conteúdo estava na dependência de que KH fosse realmente um verdadeiro adepto. Assim sendo, ele argumentava que seria importante que sua existência fosse comprovada. E termina seu artigo mostrando as duas passagens – a usada por ele em seu discurso e a usada na carta de KH para Sinnett:

 

Extrato do Discurso de Kiddle:   Extrato da Carta do Mestre KH:

“Meus amigos, ideias regem o mundo; e à medida que as mentes dos homens recebem novas ideias, deixando de lado as velhas e estéreis, o mundo avança. A sociedade baseia-se nelas; revoluções poderosas surgem delas; instituições desmoronam ante sua marcha à frente. É tão impossível resistir ao seu empuxo, quando chegar a hora, quanto deter o avanço da maré.”

   

“Ideias regem o mundo; e à medida que as mentes dos homens recebem novas ideias, deixando de lado as velhas e estéreis, o mundo avançará, revoluções poderosas surgirão delas; credos e mesmo poderes desmoronarão ante sua marcha à frente, esmagados por sua força irresistível. Será tão impossível resistir à sua influência, quando chegar a hora, quanto deter o avanço da maré. Mas tudo isso virá gradualmente e, antes que venha, temos um dever colocado ante nós: aquele de varrer para tão longe quanto possível a escória que nos foi deixada por nossos piedosos antepassados.”

“E o instrumento chamado Espiritismo está trazendo um novo conjunto de ideias para o mundo – ideias sobre os mais importantes assuntos, que estão relacionadas com a verdadeira posição do homem no universo; sua origem e destino; a relação do mortal com o imortal; do temporário com o Eterno; do finito com o infinito; da alma imortal do homem com o universo material no qual ela agora habita – ideias maiores, mais gerais, mais abrangentes, reconhecendo mais completamente o reino universal da lei como a expressão da vontade Divina, permanente e inalterável, com relação à qual existe apenas um Eterno Agora, enquanto que para os mortais o tempo é passado ou futuro, estando relacionado com suas existências finitas nesse plano material; etc.”

   

“Novas ideias têm que ser plantadas em locais limpos, pois essas ideias tocam os assuntos mais importantes. Não são os fenômenos físicos, mas essas ideias universais que estudamos; e para compreender os primeiros, temos que antes compreender as últimas. Elas estão relacionadas com a verdadeira posição do homem no universo com relação a seus nascimentos pretéritos e futuros, sua origem e seu destino final; a relação do mortal com o imortal, do temporário com o Eterno, do finito com o infinito; ideias mais amplas, mais grandiosas, mais abrangentes, reconhecendo o reino eterno da lei imutável, permanente e inalterável, em relação ao qual existe apenas um ETERNO AGORA: enquanto que para os mortais não iniciados o tempo é passado ou futuro, estando relacionado com suas existências finitas nesse grão de poeira material etc.” (Kiddle)

 

 

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            A semelhança é óbvia e a suspeita estava lançada. Sinnett lhe respondeu por meio de um artigo no mesmo jornal, dizendo que não se lembrava de ter recebido sua carta anterior, o que lastimava, pois se ainda estivesse na Índia seria bem mais fácil tratar a questão do aparente plágio de seu Mestre Adepto. E uma vez que ainda levaria algum tempo para obter uma explicação para o mistério, enquanto isso, ele apenas poderia salientar que:

 

“... o caminho que leva a relações pessoais com os adeptos sempre se encontra coberto de provocações para desacreditá-los, (...) sua política atual é mais de repelir do que de atrair a confiança europeia. Nós, que estamos ardentemente desejosos de avançar na compreensão de sua filosofia, devemos estar preparados para a cada momento encontrar armadilhas colocadas para levantar nossas suspeitas; com relação à questão que tratamos nesse momento me parece, de qualquer modo, que dificilmente merece ser considerada como uma armadilha.” (Sinnett 1999)

 

            Sinnett ainda dizia que qualquer um que conseguisse compreender a grandeza do ensinamento esotérico apresentado “não estará inclinado a dar importância à questão relativamente trivial agora levantada”, e também que essa já era uma questão antiga e ultrapassada. É claro que sua resposta só aumentou a desconfiança e outras manifestações surgiram, alimentando uma discussão que durou vários meses.

 

            Outras questões sobre Madame Blavatsky também acabaram sendo levantadas. Por exemplo, W.H. Harrison, passou a questionar a evolução pública dos fenômenos relacionados a HPB. Harrison que após estudar o livro de Sinnett havia chegado à conclusão de que HPB era tão somente uma poderosa médium e que os poderes relacionados a ela eram apenas:

 

“... os costumeiros ‘John’ e ‘Katie Kings’ seja lá quem eles possam e ser, e seja lá o que ela e seus amigos acreditem acerca do que essas inteligências invisíveis afirmam quanto às suas identidades. (...) quando ela estava na América, um de seus espíritos que na época atendia regularmente às suas sessões, de fato deu seu nome como sendo ‘John King’. Agora que Koot Hoomi está em cena, será que o John King, mais humilde, dos primeiros dias desapareceu?” (Harrison)

 

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            Como já vimos John King, embora conhecido no mundo espírita da época como um espírito desencarnado, no caso de HPB, era um disfarce do Adepto que estava exercendo o papel de seu instrutor: o Irmão Hillarion. Harrison também argumenta que havia uma falta de coerência nos teosofistas:

 

“Dizem para os teosofistas que desejam entrar em comunicação com os Irmãos dos Himalaias e entrar em sua fraternidade, que eles precisam levar uma vida de severos ascetas, abstendo-se de vinho, bebidas alcoólicas, carne e fumo, que eles devem purificar seus pensamentos, e assim por diante, mas após muitos anos de uma tal vida, não é garantido que irão obter o que desejam. Como é, então, que Madame Blavatsky, que não é uma asceta, tem sido bem sucedida quando aqueles que seguem as instruções, que ela não segue, podem falhar?” (Harrison)

 

            Convém lembrar que a abstenção do uso de fumo e de carne nunca foram requisitos para qualquer pessoa se tornar um membro da ST. Mesmo para o ingresso na Seção Esotérica, quando criada por HPB em 1888, não havia tais requisitos. As regras 14 e 15 dessa Seção, na época, estabeleciam que nem uso moderado de tabaco, nem o consumo de carne eram proibidos, muito embora se recomendasse uma dieta vegetariana ou o uso de peixe, uma vez que a carne reforça a natureza passional. (CW XII, 496)

 

            Madame Blavatsky, de fato, não era uma asceta no que diz respeito a seus hábitos alimentares e ao fumo. Como já vimos, ela não ingeria bebidas alcoólicas, mas apreciava a carne e fumava regularmente. A tentativa de justificar esses hábitos de HPB alegando que ela precisava “densificar” seus veículos não se sustenta diante de sua predileção por eles.

 

            Tais explicações servem apenas para tentar encobrir as contradições humanas de quem era apenas um discípulo. Elas criam uma fantasia ilusória que dificulta ainda mais a compreensão dos mistérios que são inerentes à vida daqueles que servem diretamente aos Mestres.

 

            Por outro lado, sua completa dedicação e obediência aos Mestres; bem como a renúncia voluntária de uma vida familiar comum, abrindo mão de sua posição social, e abraçando uma vida de sacrifícios físicos e psicológicos, certamente constituem elementos que caracterizam uma verdadeira ascese, ou disciplina ascética (i.e., conducente à verdadeira edificação espiritual).

 

 

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A Explicação do Mestre KH

 

            Um clima de controvérsia, discussão e desconfiança foi sendo criado através da publicação dessas discussões. Em novembro Madame Blavatsky escreve para Sinnett:

 

“Massey está com sua fé abalada, pobre, querido e suscetível companheiro. O plágio insolente achou nele um crente fácil. KH plagiou de Kiddle! É claro que eles, os sutis metafísicos, não acreditarão na verdadeira versão da história como eu a conheço. Tanto pior para os tolos e os saduceus. (...) KH me repreende por falar demais – diz que Ele não precisa de defesa e para eu não me preocupar. (...) É claro que se Ele não te disse, nem te explicou, deve ter boas razões para isso. Mas desde que Subba Row nos trouxe o rascunho original (...) compreendi o que significava. Porque aquela carta é apenas um terço da carta ditada e que nunca a foi publicada, pois você não a recebeu.” (LBS, 66-67)

 

            O Mestre KH precipitou o seguinte comentário logo abaixo: “Verdadeira prova da discrição dela! Eu mesmo lhe contarei tudo assim tiver uma hora de folga.” (LBS, 67) No final de dezembro de 1883, Sinnett recebeu a carta explicando o “plágio”. Entretanto ele não podia revelar a explicação aos demais, pois o Mestre lhe pediu um juramento de segredo:

 

“Meu bom e fiel amigo – as explicações aqui contidas nunca teriam sido feitas se não fosse pelo fato de ter ultimamente percebido como você esteve em apuros, durante suas conversas sobre o assunto do ‘plágio’ com alguns amigos – particularmente com C.C.M. [Massey]. (...) negar a você a verdade – seria crueldade; entretanto, dá-la ao mundo de espíritas preconceituosos e maldosamente predispostos seria pura insensatez. Assim sendo, precisamos firmar um compromisso: preciso colocar tanto você quanto o Sr. Ware, que goza de minha confiança, sob um juramento de nunca explicar a ninguém, sem permissão especial de minha parte, os fatos daqui por diante expostos – nem mesmo ao Sr. M.A. Oxon [Stainton Moses] e C.C. Massey (...). Se pressionado por qualquer um deles, você pode simplesmente responder que o ‘mistério psicológico’ foi esclarecido para você e alguns outros; e – SE satisfeitos – você pode acrescentar que as ‘passagens paralelas’ não

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podem ser chamadas de plágio ou palavras com esse sentido.” (MLcr., 396)

 

            O Mestre continua a carta dizendo: “A solução é tão simples e as circunstâncias tão engraçadas, que confesso que ri quando minha atenção foi chamada para elas, desde algum tempo. Não somente isso, elas ainda me fariam sorrir mesmo agora, não fosse o conhecimento da dor que causam a alguns verdadeiros amigos.” (MLcr., 398) E passa à explicação:

 

“A carta em questão foi por mim estruturada enquanto estava numa viagem, e à cavalo. Foi ditada mentalmente na direção de um jovem chela e ‘precipitada’ por ele, que ainda não domina esse ramo da química psíquica, e que teve que transcrevê-la da impressão que estava pouco legível. Metade dela, assim, foi omitida e a outra metade mais ou menos distorcida pelo ‘artista’. Quando na época ele me perguntou se eu gostaria de examiná-la cuidadosamente e corrigi-la, eu confesso que respondi imprudentemente – ‘de qualquer modo servirá, meu rapaz – não tem grande importância se você pular algumas palavras.’ Eu estava fisicamente muito cansado por uma cavalgada de 48 horas consecutivas, e (de novo fisicamente) – meio dormindo. Além disso, tinha questões muito importantes para atender psiquicamente e assim restou pouco de mim para devotar àquela carta. Estava predestinada, eu suponho. Quando acordei, descobri que já havia sido enviada e como na época não estava prevendo sua publicação, desde então nunca mais lhe dei atenção.” (MLcr., 398)

 

            O Mestre KH conta a Sinnett que, devido à correspondência entre eles, se interessara pelo progresso intelectual dos espíritas que estavam mais ligados a fenômenos e, por isso, dirigiu sua atenção para várias de suas reuniões, entre elas a do Lago Pleasant:

 

“Algumas das ideias e frases curiosas representando as esperanças e aspirações gerais dos espíritas americanos ficaram impressas em minha memória, e lembrei apenas dessas ideias e frases, de forma bastante separada das personalidades que as elaboraram ou as pronunciaram. Por isso minha completa ignorância do palestrante a quem eu inocentemente defraudei, como poderia parecer, e que agora levanta o clamor do público. Contudo, se tivesse ditado minha carta na forma que agora aparece publicada, ela certamente pareceria suspeita e, por distante que seja do que geralmente

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é chamado de plágio, ainda assim, na ausência de quaisquer aspas, ela daria um fundamento para censura. Mas eu não fiz nada disso, como o original agora à minha frente claramente mostra.” (MLcr., 398)

 

 

A Precipitação ou “Telégrafo” Mental

 

            Antes de continuar com a explicação do que ocorrera, o Mestre KH descreve que duas condições são necessárias para uma perfeita e instantânea “telegrafia” mental:

 

“... uma intensa concentração no operador e uma completa passividade receptiva no ‘leitor’. Dada uma perturbação em qualquer condição, o resultado será proporcionalmente imperfeito. O ‘leitor’ não vê a imagem como no cérebro do ‘telegrafista’, mas como surgindo de seu próprio cérebro. Quando o pensamento do último se dispersa, a corrente psíquica se torna quebrada, a comunicação desconexa e incoerente. No presente caso, foi como se o chela tivesse que recuperar o que lhe foi possível da corrente que eu estava lhe enviando e, como observado acima, juntar os pedaços quebrados da melhor maneira que ele pudesse.” (MLcr., 399)

 

            Ainda nas primeiras cartas entre Sinnett e o Mestre KH, esse havia compreendido mal a caligrafia de Sinnett, trocando “out of tune” (fora de sintonia) por “out of time” (fora de hora). Quando Sinnett percebeu a troca e lhe falou a respeito, o Mestre respondeu:

 

“Você escreveu ‘tune’? Bem, bem; eu preciso lhe pedir que me compre um par de óculos em Londres. (...) Mas você deveria adotar o meu hábito antiquado de ‘pequenas linhas’ sobre os “m”. Aquelas barras são úteis, muito embora estejam ‘fora de sintonia e fora de hora’ [out of tune and time] com relação à caligrafia moderna. Além disso, tenha em mente que essas minhas cartas não são escritas, mas impressas, ou precipitadas, e depois é que todos os erros são corrigidos.” (MLcr., 26)

 

            Quando Sinnett lhe perguntou mais sobre esse processo de precipitação e se o Mestre tinha que ler as cartas que Ele lhe escrevia, ou conseguia lê-las por meio de algum processo oculto, no qual o significado lhe aparecesse rapidamente, Ele respondeu:

 

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“É claro que eu tenho que ler cada palavra que você escreve; de outro modo faria uma bela confusão com elas. E seja através de meus olhos físicos ou espirituais, o tempo requerido para fazer isso é praticamente igual. O mesmo pode ser dito de minhas respostas. Pois, quer eu as ‘precipite’, as dite ou as escreva eu mesmo, a diferença no tempo economizado é mínima. Eu tenho que refletir sobre elas, fotografar cada palavra e sentença cuidadosamente em meu cérebro, antes que elas possam ser repetidas por meio da ‘precipitação’. Assim como a fixação das imagens formadas pela câmara, sobre superfícies quimicamente preparadas requer uma preparação prévia dentro do foco do objeto a ser representado, pois do mesmo modo – como frequentemente acontece em fotografias ruins – as pernas do modelo podem parecer fora de proporção com relação à sua cabeça e assim por diante – temos que primeiro arrumar nossas sentenças e imprimir cada letra que irá aparecer no papel em nossas mentes, antes que elas fiquem prontas para serem lidas. No presente, isso é tudo que posso lhe contar.” (MLcr., 37)

 

            É curioso observar que justamente nessa carta acima citada, em que o Mestre oferece uma explicação de como ocorre o processo de precipitação ou “telégrafo” mental é que, coincidentemente, se encontra o trecho que Kiddle acusa de ter sido plagiado pelo Mestre KH. Num artigo sobre essa questão da precipitação, HPB nos fala um pouco mais sobre esse processo:

 

“O trabalho de escrever as cartas em questão é realizado por meio de um tipo de telegrafia psicológica; os Mahatmas muito raramente escrevem suas cartas pela maneira usual. Uma conexão eletromagnética, por assim dizer, existe no plano psicológico entre um Mahatma e seus chelas, um dos quais age como seu escrevente. Quando o Mestre quer que uma carta seja escrita desse modo, ele atrai a atenção do chela a quem selecionou para a tarefa, fazendo com que um sino astral (escutado por tantos de nossos membros e outras pessoas) seja tocado perto dele, assim como o escritório de telégrafo que está despachando a mensagem envia um sinal para o que está recebendo, antes da mensagem ser enviada. Os pensamentos que surgem na mente do Mahatma são então revestidos com palavras, pronunciadas mentalmente e forçadas ao longo das correntes astrais que ele envia em direção ao discípulo

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para penetrar no cérebro do último. Dali elas são transmitidas pelas correntes nervosas para a palma de suas mãos e as pontas de seus dedos, que repousam sobre a superfície de um pedaço de papel magneticamente preparado. À medida que as ondas de pensamento são assim impressas no fino papel, materiais são atraídos para ele do oceano de âkas [ou Âkasha] (...) e marcas permanentes são deixadas.” (CW VI, 120)

 

 

O Texto Original da Carta

 

            Examinando os originais o Mestre KH percebeu que Ele era o responsável pela situação criada, uma vez que muitos caracteres e mesmo frases inteiras se encontravam ilegíveis ou estavam faltando. Restaurando o texto, o Mestre mostra a Sinnett que, na verdade, Ele estava citando o discurso de Kiddle. Segue o texto completo, com as frases que faltam na primeira carta em negrito-itálico:

 

“Elementos fenomênicos previamente nunca imaginados, ... finalmente revelarão os segredos de seus processos misteriosos. Platão estava certo em readmitir cada elemento de especulação que Sócrates descartou. Os problemas do ser universal não são inacessíveis e não são destituídos de valor se forem alcançados. Mas esses últimos só podem ser resolvidos pelo domínio daqueles elementos que agora mal começam a se esboçar no horizonte dos profanos. Mesmo os espíritas, com suas visões e noções equivocadas e grotescamente pervertidas, estão vagamente compreendendo a nova situação. Eles profetizam e suas profecias nem sempre deixam de conter um pouco de verdade, de prévisão intuitiva, por assim dizer. Ouça alguns deles reafirmando o antigo, muito antigo axioma de que ‘Ideias regem o mundo’, e, à medida que as mentes dos homens recebem novas ideias, deixando de lado as velhas e estéreis, o mundo avançará; revoluções poderosas surgirão delas; instituições (sim, e até mesmo credos e poderes, eles podem acrescentar) desmoronarão ante sua marcha à frente, esmagados por sua própria força inerente, não a força irresistível das ‘novas ideias’ oferecidas pelos espíritas! Sim; eles estão ao mesmo tempo certos e errados. Será tão impossível resistir à sua influência, quando chegar a hora, quanto deter o avanço da maré – pode estar certo. Mas o que eu vejo que os

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espíritas falham em perceber, e seus ‘espíritos’ em explicar (os últimos não sabendo mais do que o que eles podem encontrar nos cérebros dos primeiros) é que tudo isso virá gradualmente; e que antes que venha, eles tanto quanto nós, temos todos um dever a executar, uma tarefa colocada ante nós: aquela de varrer tão longe quanto possível os detritos deixados para nós por nossos piedosos antepassados. Novas ideias têm que ser plantadas em locais limpos, pois essas ideias tocam nos assuntos mais importantes. Não são os fenômenos físicos ou o instrumento chamado Espiritismo, mas essas ideias universais que nós temos exatamente que estudar; o númeno e não o fenômeno pois, para compreender os ÚLTIMOS, temos que antes compreender os PRIMEIROS. Elas de fato dizem respeito à verdadeira posição do homem no universo, pode estar certo – mas apenas com relação a seus nascimentos FUTUROS não os PRETÉRITOS. Não são os fenômenos físicos, por mais maravilhosos que sejam, que poderão jamais explicar ao homem sua origem, que dirá seu destino final, ou, como um deles o expressa – a relação do mortal com o imortal, do temporário com o Eterno; do finito com o infinito etc. etc. Eles falam muito fluentemente do que consideram como novas ideias ‘mais amplas, mais gerais, mais grandiosas, mais abrangentes’ e ao mesmo tempo eles reconhecem, ao invés do reino eterno da lei imutável, o reino universal da lei como a expressão de uma vontade divina (!). Esquecidos de suas crenças anteriores, e que ‘arrependeu-se o Senhor de ter feito o Homem’ [Gen. 6, 6], esses pseudo filósofos e reformadores pretendem inculcar sobre seus ouvintes que a expressão dessa Vontade divina é ‘permanente, inalterável – em presença da qual existe apenas um ETERNO AGORA: enquanto que para os mortais (não iniciados?) o tempo é passado ou futuro, estando relacionado com suas existências finitas nesse plano material’das quais eles conhecem tão pouco quanto de suas esferas espirituais. Transformaram essas últimas num grão de poeira à semelhança de nossa própria terra, uma vida futura que o verdadeiro filósofo antes evitaria do que buscaria. Mas eu sonho com meus olhos abertos ... Em todo caso, esse não é um ensinamento que seja privilégio deles. A maioria dessas ideias são tomadas, em partes, de Platão e dos filósofos da Alexandria. É o que todos nós estudamos e o que muitos de nós solucionaram ... etc. etc.” (MLcr., 400)

 

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            Poucos meses após o recebimento dessa carta Sinnett foi dispensado do segredo e, caso se sentisse preparado para “enfrentar o fogo das negações furiosas e críticas adversas”, ele estava autorizado a publicar a carta com as explicações. (MLcr., 420) Ele assim fez, aproveitando o lançamento da 4ª edição de seu livro, O Mundo Oculto.

 

            As críticas adversas não tardaram a aparecer. Além de não entenderem as explicações, agora os espíritas estavam furiosos porque o discurso de Kiddle, realçando a importância do papel do Espiritismo na formação de uma nova era para a humanidade, havia sido transformado numa denúncia contra o próprio Espiritismo.

 

 

 

T. Subba Row, HPB e Babajee.

 

 

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