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Capítulo 12

 

 

Anna Kingsford

 

            Anna Kingsford foi uma grande pioneira em sua época. Dotada de faculdades psíquicas e de um intelecto brilhante, foi defensora incansável do vegetarianismo e uma militante contra a vivissecção de animais. Foi porta-voz dos direitos das mulheres, da doutrina da reencarnação e uma nova interpretação simbólica (e não histórica) das Escrituras cristãs. Escrevendo sobre Anna Kingsford, por ocasião de sua morte, HPB reconhece suas imensas capacidades e o valor de seu trabalho, assim se expressando:

 

“Poucas mulheres trabalharam mais intensamente do que ela, ou em causas mais nobres; nenhuma com mais sucesso na causa do humanitarismo. (...) Poucas mulheres escreveram de forma mais gráfica, mais cativante, ou possuíram um estilo mais fascinante.

            “O campo de atividades da Sra. Kingsford, entretanto, não estava limitado ao plano puramente físico, ou mundano, da vida. Ela era uma teósofa, uma verdadeira teósofa de coração; uma líder de pensamento espiritual e filosófico, dotada com os mais excepcionais atributos psíquicos. (...) embora suas ideias religiosas diferissem grandemente em alguns pontos da filosofia oriental, permaneceu um membro fiel da Sociedade Teosófica e uma amiga leal de seus líderes. Foi alguém cujas aspirações da vida inteira estiveram sempre voltadas para o eterno e o verdadeiro. Uma mística por natureza – das mais ardentes, para aqueles que a conheceram bem – ela era, ao mesmo tempo, mesmo na opinião de materialistas e descrentes, uma mulher extraordinária.” (CW IX, 89-90)

 

 

Edward Maitland: seu Grande Colaborador (1874)

 

            Anna Bonus Kingsford nasceu em 16 de setembro de 1846, na Inglaterra. Em 1867 casou-se com o reverendo anglicano Algernon Godfrey Kingsford, com quem teve uma filha. Para desgosto do marido, em 1870 entrou para a Igreja Católica. Entre 1872 e 1873 editou um jornal ligado aos direitos femininos. (CW IX, 439)

 

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            Em 1873 conheceu Edward Maitland o qual veio a ser, com o consentimento do reverendo Algernon, o acompanhante de Anna durante o tempo que estudou Medicina em Paris, a partir de 1874. Para evitar falatórios os dois se apresentavam como tio e sobrinha.

 

            Anna tornou-se vegetariana nesse período e sua tese de conclusão do curso foi sobre a alimentação vegetariana para o ser humano. Posteriormente, ela foi revisada e publicada sob o título de The Perfect Way in Diet (O Caminho Perfeito em Dieta). O vegetarianismo e a luta contra a vivissecção se tornaram causas que defendeu publicamente pelo resto de sua vida. (Godwin 1994b, 335).

 

            Edward Maitland foi seu grande companheiro de trabalho desde essa época até o fim de sua vida. Maitland era dotado de um psiquismo totalmente consciente, como um “datilografar automático”. (Godwin 1994b, 337)

 

 

As Iluminações de Anna Kingsford (1874-1888)

 

            Anna Kingsford tinha faculdades psíquicas desde a infância. Na época do curso de Medicina, começou a ter experiências contendo mensagens inspiradoras, às quais deu o nome de “Iluminações”. Embora algumas fossem transmitidas por meio de um ditado quando ela estava em transe, a maioria era recebida por visões durante o sono natural, que ela descrevia assim que acordava.

 

            Kingsford chamava aquele que a inspirava de seu “gênio” e o descreve como um “anjo”, cujo trabalho era “guiar, advertir e iluminar”. (Kingsford 1993, 36) Embora seu gênio conhecesse seu futuro, nada lhe dizia, exceto que podia ter certeza que teria problemas, pois “nenhum homem jamais alcançou a Terra Prometida sem ter atravessado o deserto”. (Kingsford 1993, 37) Ela diz:

 

            Meu gênio se parece com Dante e, como ele, está sempre de vermelho. E tem um cáctus em sua mão, o qual ele diz que é meu emblema. Ele me pede para dizer que a melhor arma contra os astrais [seres, entidades astrais] é a oração. Oração significa o intenso direcionar da vontade e do desejo em direção ao Alto; um propósito imutável de conhecer tão somente o mais Elevado. (...)

 

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            “Devo informar-lhes que o gênio nunca “controla” o seu cliente, nunca tolera que a alma saia do corpo para permitir a entrada de um outro espírito. A pessoa controlada por um astral ou elemental, ao contrário, não fala em seu próprio nome, mas naquele do espírito que a controla (...).

            “Outro sintoma, diz ele, por meio do qual distinguir espíritos estranhos do seu próprio gênio, é o seguinte: – o gênio nunca está ausente. Desde que a mente se encontre em condições de ver, ele está sempre presente.” (Kingsford 1993, 36-37)

 

            Maitland diz que essas Iluminações não eram o produto de qualquer estimulação artificial de suas faculdades, ou da indução a qualquer estado anormal seja por meio de drogas, mesmerismo ou hipnotismo. Kingsford nunca disse ser uma médium ou uma clarividente no sentido comum dessas palavras. Ela se intitulava uma profetisa e assim explicava seu dom:

 

“Não tenho quaisquer poderes ocultos, e nunca aleguei possuí-los. Nem sou, no sentido comum da palavra, uma clarividente. Sou apenas uma “profetisa” – alguém que vê e sabe intuitivamente, e não pela utilização de qualquer faculdade treinada. Tudo que recebo vem a mim por “iluminação”, como para Proclus, para Jâmblico, para todos aqueles que seguem o método platônico. Esse “dom” nasceu comigo, e foi desenvolvido por uma regra e uma conduta especiais de vida. Ele é, me foi dito, o resultado de uma iniciação anterior num nascimento passado (...) Minha iniciação foi greco-egípcia e, assim sendo, recordo a verdade primariamente na linguagem e segundo o método dos mistérios de Baco, que são de fato a fonte e o padrão imediatamente precedentes dos mistérios da Igreja Católica Cristã.” (Kingsford 1993, xxii)

 

            Essas Iluminações, recebidas ao longo de 14 anos, foram publicadas por Edward Maitland após a morte de Anna Kingsford, com o título de Vestida com o Sol [Clothed With the Sun] em referência à alegoria da alma iluminada, que é representada no Apocalipse como “uma mulher vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas em sua cabeça.” (Apoc., 12: 1) Para eles a mulher, na Bíblia, era o símbolo da alma e da intuição – o princípio feminino no homem.

 

            Kingsford e Maitland eram profundamente cristãos, mas incapazes de aceitar uma interpretação literal da Bíblia, ou o dogmatismo

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das igrejas. Para eles o Cristianismo era apenas uma das religiões da Antiguidade, cujos mistérios ensinavam as mesmas verdades sobre o destino da alma. As Iluminações confirmaram suas hipóteses, pois nelas os Evangelhos eram quase totalmente alegóricos, uma descrição do destino da alma.

 

            Cristo não é visto como uma pessoa, mas como o estado de um homem regenerado no qual a alma se tornou “una com o Espírito Divino”. (Godwin 1994b, 338) E Jesus era um homem que havia realmente vivido e realizado esse estado de união. Um iniciado cujo nome ela só conseguia ver a primeira letra – a letra “M”. (Kingsford 1993, 85)

 

 

A Doutrina da Reencarnação (julho de 1881)

 

            Pouco antes de deixar Paris, Kingsford e Maitland descobriram Ísis Sem Véu e souberam da existência da Sociedade Teosófica. Embora achassem Ísis desorganizada e desnecessariamente agressiva, estavam encantados por encontrar outras pessoas realizando um trabalho paralelo ao deles.

 

            Indo a Londres, entraram em contato com espíritas, com pesquisadores psíquicos e com membros da Sociedade Teosófica Britânica. Em meados de 1881, proferiram várias palestras, que foram publicadas no início de 1882 como The Perfect Way; or, The Finding of Christ (O Caminho Perfeito; ou, a Descoberta de Cristo). (Godwin 1994b, 339)

 

            Esse livro causou grande polêmica no meio espírita principalmente por sua defesa da reencarnação. Mesmo nos meios espíritas da época não havia um consenso e a questão gerava um debate quase permanente. Seus defensores mais fortes eram os médiuns da escola francesa de Allan Kardec e, na Inglaterra, Lady Caithness, Anna Blackwell, Francesca Arundale, Isabel de Steiger e o espírito Ski, que costumava falar através da Sra. Hollis-Billing. Contra eles estava a maioria dos médiuns ingleses e americanos, como P.B. Randolph, Stainton Moses e Emma Hardinge Britten.

 

            E importante notar que a ideia da reencarnação não era uma ideia corrente na Sociedade Teosófica dos primeiros tempos. A própria HPB, durante a primeira parte de sua carreira pública, como em Ísis Sem Véu, parecia negar a doutrina da reencarnação. Somente mais tarde,

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quando já morava na Índia, é que ela passou a se declarar publicamente a favor dessa doutrina. Olcott afirma que ele, pelo menos, não conhecia a doutrina da reencarnação:

 

“Naturalmente, não é da minha conta porque ela não nos foi ensinada (...) Não acredito que o mistério da incongruência dos ensinamentos de Nova Iorque de 1875, e os posteriores na Índia possa ser explicado, pelo menos a ponto de satisfazer àqueles que atacam o problema do ponto de vista da crítica literária: para aqueles que têm o poder de levantar o véu e estudar a questão a partir do interno, essa dificuldade desaparece. Mas não se pode esperar que estudantes limitados ao plano físico recebam como sendo conclusivas as explicações de alunos avançados da Loja Branca. A conclusão que cheguei há muito tempo é a de que essa questão deve simplesmente ser deixada como um mistério.” (ODL V, 38)

 

            Não há dúvidas de que Olcott realmente não havia sido ensinado sobre a reencarnação. Mas, e com relação à Madame Blavatsky? William Judge afirma que, embora ela realmente não ensinasse ao público a doutrina da reencarnação durante essa época em Nova Iorque:

 

“... ela de fato a ensinou para mim e para outros, naquela época como agora. (...) HPB me falou muitas vezes, pessoalmente, da real doutrina da reencarnação, compelida pelo caso da morte de minha própria filha; portanto, eu sei o que ela conhecia e acreditava”. (Judge 1989, 119)

 

            Numa carta de março de 1875 HPB se posiciona contra a reencarnação da maneira como os kardecistas a concebiam. (Corson). Eugene Corson, que publicou as cartas de HPB para seu pai, comenta sobre as razões da reencarnação não ser então ensinada por HPB:

 

“Ela [a reencarnação] era a ideia dominante em todo o Oriente. Era quase a nota tônica da filosofia de Platão. O neoplatonismo de Plotino e Proclus está repleto dela. (...)

            “A única explicação que me vem à mente é que ela ficou em silêncio, como o fez em tantas outras coisas naquela época. Ela deveria estar consciente de que isso seria repugnante aos espíritas americanos, e eu não sei se mesmo hoje é aceita por eles. Também não acredito que seja aceita na Inglaterra. A maioria dos espíritas não são filosoficamente inclinados e não se preocupam em olhar

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além do mero fato da inter-relação entre os dois mundos. (...) Minha opinião é que ela permaneceu em silêncio, do mesmo modo como silenciou em outras questões, que foram extensamente elaboradas em seus escritos posteriores.” (Corson)

 

            Sinnett chegou em Londres, vindo da Índia, para publicar seu livro O Mundo Oculto em fins de março ou começo de abril de 1881. O livro foi publicado em junho desse ano e ele retornou para a Índia em 4 de julho. Durante esse período que esteve em Londres, encontrou-se com Anna Kingsford e Edward Maitland. Os três ficaram até tarde da noite discutindo a questão da reencarnação – eles a favor e Sinnett contra. (Kingsford 1916, 5)

 

            Porém, em maio de 1882, Sinnett publicou no The Theosophist uma crítica literária sobre O Caminho Perfeito, onde demonstrava ter passado a aceitar a doutrina da reencarnação. Isso, é claro, causou surpresa a Kingsford e Maitland, ao lembrarem do quanto ele havia sido enfático em negá-la, no ano anterior. Escreve Kingsford numa carta para Lady Caithness:

 

“O próprio crítico literário – o Sr. Sinnett – que escreve com tanta pseudo autoridade no The Theosophist, no intervalo de um ano alterou completamente suas visões em pelo menos uma questão importante – me refiro à reencarnação. Quando veio nos ver a um ano atrás, em Londres, ele veementemente negou aquela doutrina e afirmou, com imensa convicção, que eu estava completamente enganada em meu ensinamento referente a ela. Leu uma mensagem de Ísis Sem Véu para me contestar e discutiu longamente sobre a questão. Ele não havia então recebido quaisquer instruções de seu Guru indiano sobre ela. Agora ele foi assim instruído, e escreveu uma longa carta ao Sr. Maitland reconhecendo a verdade da doutrina que, depois que nos encontrou, foi ensinado.” (Shirley, 15)

 

            Para Kingsford o fato dela ter exposto a doutrina da reencarnação em O Caminho Perfeito é que havia “provocado” uma reação dos Adeptos, que decidiram expor essa doutrina. Em janeiro de 1883 o Mestre KH aconselha Sinnett a escrever para Massey dizendo que isso não era verdade, uma vez que ele já havia sido ensinado sobre a reencarnação a partir de julho de 1881, vários meses antes do livro de Kingsford ser publicado.

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Entretanto, o fato é que isso ocorreu após sua longa discussão com Kingsford e Maitland. O Mestre KH diz:

 

“Apenas permita-me dar-lhe um aviso. Um incidente agora tão trivial, que parece ser apenas a inocente expressão de vaidade feminina, pode, se não for corrigido de uma vez, produzir consequências muito maléficas. Numa carta da Sra. Kingsford para o Sr. Massey, condicionalmente aceitando a presidência da S.T. Britânica, ela expressa sua crença – ou melhor, o aponta como um fato inegável – que, antes da aparição de O Caminho Perfeito, ninguém “sabia o que a escola oriental realmente sustentava quanto à reencarnação”; e acrescenta que “vendo o quanto foi exposto naquele livro, os adeptos estão se apressando em abrir seus próprios tesouros” (...) Então escreva, meu bom amigo, a verdade ao Sr. Massey. Diga-lhe que você possuía a visão oriental da reencarnação vários meses antes que o trabalho em questão tivesse aparecido – uma vez que foi em julho (18 meses atrás) que você começou a ser ensinado sobre a diferença entre a reencarnação à la Allan Kardec, ou renascimento pessoal – e a da mônada espiritual.” (MLcr., 342-343)

 

            Além da crítica literária de Sinnett, um artigo de Hume, sob o título de Fragmentos de Verdade Oculta, e um editorial de HPB (CW lV, 119), começaram a mostrar que os Adeptos, afinal, também estavam ensinando a reencarnação. Essa mudança de atitude causou polêmica na Loja de Londres, levando Massey a pedir a HPB que explicasse e esclarecesse a questão.

 

            Madame Blavatsky, então, argumentou que, na verdade, há duas maneiras de falar sobre o destino de um indivíduo. Do ponto de vista mais exotérico [externo], dado em Ísis Sem Véu, estava correto dizer que uma pessoa nunca reencarna. Porém, desde um ponto de vista mais elevado, uma individualidade o faz. Para ilustrar isso ela apresentou o esquema esotérico [interno] dos sete princípios do ser humano.

 

            Segundo esse esquema os três princípios inferiores que compõem o Corpo, ou o “Ego terreno”, sempre morrem. Os dois princípios seguintes compõem a Alma, ou o “Ego pessoal”. Eles são destruídos após algum tempo e só reencarnam sob circunstâncias especiais, conforme escrito em Ísis Sem Véu. Finalmente, os dois princípios

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restantes que constituem o Espírito, ou “Mônada Espiritual” são eternos e indestrutíveis. Esse esquema pode ser melhor compreendido observando-se o quadro abaixo:

 

GRUPO I

ESPÍRITO

7. Atma – “Espírito Puro”.

6. Buddhi – “Alma Espiritual ou Inteligência”.

Mônada Espiritual ou “Individualidade” – e seu veículo. Eterna e indestrutível.

GRUPO II

ALMA

5. Manas – “Mente ou Alma Animal”.

4. Kama-Rupa – “Desejo” ou Forma “Passional”

Mônada Astral – ou o Ego pessoal e seu veículo. Sobrevive ao Grupo III e é destruída depois de um tempo, a menos que reencarne, como foi dito, sob circunstâncias excepcionais.

GRUPO III

CORPO

3. Linga-sharira – “Corpo Vital ou Astral”.

2. Jiva – “Princípio de Vida”.

1. Sthula-sharira – “Corpo”.

Composto Físico, ou o “Ego terreno”. Os três morrem juntos invariavelmente. (CW IV, 185)

 

 

Anna Kingsford Presidente da Loja de Londres (janeiro de 1883)

 

            Em 1882, a Sociedade Teosófica Britânica estava em crise. Alguns de seus membros, ainda fervorosos espíritas, não aceitavam as críticas de HPB ao movimento espírita, e outros queriam provas da existência dos Mestres. Seu presidente, Wyld, havia renunciado. Pensando em ter mais seções dentro da ST, entre elas uma seção católica, Massey convidou Kingsford para juntar-se a eles. Entretanto ela não aceitou o convite, pois tinha uma imagem bastante negativa da ST, conforme podemos ler nas palavras de Maitland:

 

“... nós já sabíamos o bastante da ST, sua origem, motivos e métodos para não acreditar nela. Seus prospectos originais cometiam a flagrante inconsistência de declarar absoluta tolerância da Sociedade a todas as formas de religião e, depois, afirmar que um objetivo principal era a destruição do Cristianismo. Seus fundadores também a comprometeram com a rejeição da ideia de um

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Deus, pessoal ou impessoal, e isso ao mesmo tempo em que a chamaram Teo-sófica.” (Kingsford 1916, 11)

 

            Realmente, numa circular feita para divulgação da ST, em maio de 1878, quando seus objetivos ainda não tinham a formulação atual, se lia:

 

“A Sociedade ensina e espera que seus membros exemplifiquem pessoalmente a mais elevada moralidade e aspiração religiosa; oponham-se ao materialismo da ciência e a toda forma de teologia dogmática, especialmente a cristã, que os Chefes da Sociedade consideram como particularmente perniciosa; tornar conhecido nas nações ocidentais, os fatos há muito suprimidos sobre as filosofias religiosas orientais, sua ética, cronologia, esoterismo, simbolismo; contrapor-se, tanto quanto possível, aos esforços dos missionários de iludir aos assim chamados “Infiéis” e “Pagãos” com relação à real origem e dogmas do Cristianismo e aos efeitos práticos dos últimos sobre o caráter público e privado nos assim à chamados países civilizados”. (CW I, 376-377)

 

            Maitland diz que essa questão não foi adiante nesta época, mas depois eles ficaram surpresos ao saber que Kingsford havia sido reconhecida pelos misteriosos chefes da ST como “a maior mística natural de nossos dias, e com incontáveis idades adiante da grande maioria da humanidade”. (Kingsford 1916, 11-12)

 

            Anna Kingsford acabou aceitando sua indicação para presidente da Sociedade Teosófica Britânica, sob a condição de que “nenhuma forma de obediência aos Mahatmas, a HPB ou a qualquer outra pessoa, real ou não, me seria exigida, mas apenas aos Princípios e Objetivos da ST”. (Kingsford 1916, 19)

 

            Sob indicação de Massey, ela foi eleita presidente da ST Britânica, em 7 de janeiro de 1883, com Maitland e Wyld como vices. Como nessa ocasião ela ainda estava na França, somente assumiu suas funções após 20 de maio, quando retornou a Londres. Um dia antes da posse de Kingsford, Sinnett recebeu uma carta do Mestre KH, onde lhe advertia:

 

“Quatro europeus foram colocados em provação há doze meses; dos quatro – apenas um, você, se mostrou merecedor de nossa confiança. Esse ano as Sociedades, ao invés de indivíduos, que serão testadas. O resultado dependerá de seu trabalho coletivo e o Sr. Massey engana-se ao esperar que eu esteja preparado para me juntar à heterogênea multidão de “inspiradores” da Sra. K. Deixe-os

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permanecer sob suas máscaras de São João Batista e aristocratas bíblicos semelhantes. Desde que esses últimos ensinem nossas doutrinas – por mais que misturadas com adições alheias – um grande ponto terá sido ganho.” (MLcr., 342)

 

            Para que a Loja de Londres saísse da crise em que se encontrava, Anna Kingsford acreditava que um de seus objetivos especiais, a “reconstrução da religião numa base científica, e da ciência numa base religiosa” (Ransom, 196) também deveria ser aplicado ao Cristianismo e não apenas ao Hinduísmo e ao Budismo. Ela escreve, em maio:

 

“Farei o máximo ao meu alcance para tornar nossa Loja de Londres um corpo realmente influente e científico. ... Além disso, nós não queremos nos comprometer apenas com o Orientalismo, mas com o estudo de todas as religiões esotericamente, e especialmente àquele da nossa Igreja Católica ocidental. Teosofia é igualmente aplicável a tal estudo; mas o Orientalismo só pode se relacionar ao Bramanismo e ao Budismo. (...)

            “Tenho um plano que sinceramente espero ter, de algum modo, os meios para colocá-lo em prática na próxima primavera. Trata-se de dar palestras em um dos auditórios em Londres sobre “Cristianismo Esotérico”. Eu explicarei o significado verdadeiro e oculto das doutrinas católicas – tanto quanto isso for possível, é claro – e o significado interno de todos os mitos sagrados. Já elaborei um esboço a partir de um pequeno esquema que, se puder se realizado, irá, estou segura, fazer mais pela nossa Teosofia do que qualquer quantidade de livros publicados.” (Kingsford 1916, 14)

 

            Em junho, a pedido de Anna Kingsford, os membros decidiram alterar o nome de Sociedade Teosófica na Grã-Bretanha, para Loja de Londres da Sociedade Teosófica, a exemplo dos movimentos maçônicos que eram um corpo único com várias subdivisões em Lojas.

 

 

A “Divina Anna”

 

            Entretanto, o desejo de Anna Kingsford de transformar a Loja de Londres num “corpo realmente influente”, não comprometido “apenas com o Orientalismo”, dando especial ênfase ao estudo “da nossa Igreja

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Católica ocidental” (Kingsford 1916, 14), era algo que não agradava HPB que tinha uma conhecida implicância com o Cristianismo dogmático, tendo uma preferência particular pela filosofia oriental.

 

            Mas havia ainda outros pontos de atrito. Anna Kingsford era uma pioneira na luta pelo vegetarianismo e pela defesa dos animais, enquanto Madame Blavatsky não era nem mesmo vegetariana. Além disso, Kingsford se considerava uma profetisa, porta-voz de uma nova era e de um novo evangelho, e com um conhecimento que ela dizia ser superior àquele que HPB recebia, uma vez que era obtido diretamente, sem intermediários, em suas Iluminações, enquanto a Sociedade Teosófica:

 

“... afirmava que suas doutrinas eram derivadas de fontes que, mesmo que tivessem existência real – uma questão da qual não tínhamos nenhuma prova – não podiam ser comparadas com aquelas das quais as nossas eram derivadas, enquanto que a doutrina em si mesma era palpavelmente inferior, até o ponto em que havia sido revelada, e isso tanto no conteúdo quanto na forma.” (Kingsford 1916, 11)

 

            Talvez essa seja a origem do apelido irônico com que HPB se referia a ela em suas cartas particulares para Sinnett: a “divina Anna”. (LBS, 44) Embora publicamente Madame Blavatsky não demonstrasse seus sentimentos em relação a Anna Kingsford, em suas cartas para Sinnett ela os extravasava livremente, revelando suas críticas:

 

“Eu era, desde o começo, contra sua nomeação, mas tive que segurar minha língua, uma vez que é a escolha de KH e que Ele percebe sementes tão maravilhosas nela, que Ele até mesmo desconsidera suas críticas pessoais arrogantes acerca Dele.” (LBS, 60).

 

            Ou, referindo-se à escolha dela para a presidência da Loja de Londres por Massey:

 

“... não foi ele, e somente ele que propôs e a elegeu como a única possível Salvadora da Sociedade Teos. Britânica? Bem, agora agradeça a ele e fique com ela para que os transforme todos numa geleia [um grupo amorfo, sem identidade]. É claro que ela irá lhe adular mais do que nunca. Eu sei que isso irá acabar com um escândalo.” (LBS, 22)

 

            O fato é que a “divina Anna” também incomodava HPB em outros aspectos bem mais pessoais. Anna Kingsford era uma mulher de

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rara beleza. Maitland descreve a primeira vez que a encontrou com as seguintes palavras:

 

“Alta, esbelta e de formas graciosas. De aparência agradável e requintada. Brilhante e jovial em expressão. O cabelo longo e dourado, mas as sobrancelhas e os cílios escuros, e os olhos fundos e de cor castanho-claro, ora sonhadores, ora penetrantes. A boca harmoniosa, carnuda e perfeitamente formada. A larga sobrancelha proeminente e precisamente talhada. O nariz delicado, ligeiramente curvado e proeminente apenas o suficiente para dar personalidade à face. E o vestido um tanto excêntrico, como se tornava sua aparência. Anna Kingsford parecia, à primeira vista, mais como uma fada do que humana, mais criança do que mulher. Pois embora na verdade tivesse vinte e sete anos, ela mal aparentava dezessete, e parecia particularmente feita para ser cuidada, mimada e satisfeita, e de modo algum para ser tomada seriamente.” (Shirley, 12)

 

            Tamanha beleza também parecia incomodar Madame Blavatsky que nessa época já tinha a saúde comprometida e estava bastante obesa. Ela deixa isso claro pela maneira como descreve a aparência física e o modo de vestir de Anna Kingsford. HPB havia pedido a Sinnett um retrato dela, pois não a conhecia pessoalmente, mas, pouco depois lhe escrevia dizendo que Kingsford lhe havia sido mostrada:

 

“Diga, por que ela estava usando um vestido que parecia com “o pelo preto e amarelo das zebras da criação do Rajá do Kashmir?” E é verdade que usava rosas em seu cabelo “o qual é como um pôr de sol flamejante, amarelo dourado”? E por que – piedade! Por que ela tinha “suas mãos e braços pintados de preto, bem preto – até os cotovelos?” Ou eram luvas? E mais, é verdade que naquela noite ela trazia uma bolsa de metal brilhante a sua frente, com fivelas e guizos e mais alguma coisa, e “tilintantes brincos de lua crescente” – simbólicos do crescente brilho da “Loja de Londres”? Essa lua tomou luz emprestada do Satélite. Mas por que – por que ela, a “mística do século” tinha que usar tantas joias! Como pode confabular com os deuses invisíveis quando se parece “com uma vitrine de uma joalheria inglesa em Delhi”? Bem, eu penso também tê-la visto, e gostaria de ter o seu retrato para comparar. Pois ela me foi mostrada. Não é alta, fina na cintura

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mas larga nos ombros, e muito bonita, bochechas ligeiramente rosadas e com lábios bem vermelhos, e um nariz que fica mais largo quando ela fala, do que quando está em repouso? Seus olhos são azul claro. Ela é fascinante; mas então, por que fazer seu lindo cabelo ficar parecido com “a mitra de um Dugpa Dashata-Lama”? Bem, tudo isso é besteira. Estou extremamente triste, e não tenho ânimo para brincar.” (LBS, 51-52)

 

 

Sinnett e a Autoridade do “Budismo Esotérico” (julho de 1883)

 

            Em julho de 1883, Anna Kingsford fez sua primeira aparição pública como presidente da Loja de Londres, numa reunião para recepcionar Sinnett, que havia recém chegado da Índia e publicado seu segundo livro – Budismo Esotérico. Sua chegada e a publicação do livro modificaram completamente a Loja de Londres, pois ele chegava com o status de alguém que estava em contato com os Mestres.

 

            À volta do casal Sinnett reuniu-se um grupo de pessoas para estudar o livro, e a Loja passou uma resolução de que deveria se devotar “principalmente ao estudo da filosofia oculta como ensinada pelos Adeptos da Índia com quem o Sr. Sinnett tem estado em comunicação”. (Ransom, 187)

 

            Kingsford e Maitland também se dedicaram ao estudo da obra Budismo Esotérico. O principal ponto criticado por eles era o de terem que aceitar uma autoridade, independentemente da compreensão, pois, desse modo, estariam criando um novo “sacerdotalismo” em relação a esses homens divinizados denominados “Mahatmas”. (Kingsford 1916, 17) Na verdade, eles não negavam a possibilidade da existência de tais Seres evoluídos, mas questionavam o método de como verificar se eles eram realmente Seres dessa estatura. Maitland escreveu a esse respeito:

 

“Pois, assim como somente aqueles que possuem o espírito de Cristo, em alguma medida, podem reconhecer o Cristo, do mesmo modo apenas aqueles que são, eles mesmos, em alguma medida adeptos, podem reconhecer os Adeptos. E mesmo que o ensinamento em questão tenha vindo da fonte alegada, qual a garantia de que ele não tenha passado, na transmissão, por uma mudança suficiente para o deturpar?” (Kingsford 1916, 16)

 

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            Essas diferenças de postura começaram a criar uma situação difícil dentro da Loja de Londres. Sinnett reclamava com HPB, a qual não podia compreender como os Mestres tinham Kingsford em tão alta consideração, uma vez que “a Sra. K. não acredita e, se acredita, não se importa nem um pouco com os Irmãos.” (LBS, 48) Porém, Madame Blavatsky logo começou a suspeitar que por detrás da escolha da “divina Anna” não estava apenas o Mestre KH, mas também seu Superior, o Grande Chohan:

 

“Por que o Mahatma KH teria imposto sobre a sua Sociedade um tal emplastro como parece ser a Sra. K., uma criatura arrogante, fútil e opiniática, um monte de presunção ocidental – “Deus” sabe, eu não. Eu acredito que o Chohan interferiu subitamente, como ele não raro faz. E agora vai haver uma bela confusão.” (LBS, 64)

 

 

O Protesto de Anna Kingsford e a Eclosão da Crise (outubro de 1883)

 

            Até então, o conflito na Loja de Londres estava restrito aos seus bastidores. Entretanto, em outubro de 1883, Maitland leu na Loja um discurso de Kingsford contendo duras críticas. O conflito interno começava a se exteriorizar, e surgiu um movimento pedindo que ela saísse da presidência.

 

            Anna Kingsford então escreveu uma longa carta a HPB, expondo seus pontos de vista, e pedindo que os submetesse ao Mestre KH. Na carta ela se posiciona contra o sentimento de idolatria e submissão sem questionamento, que os membros, liderados por Sinnett, estavam nutrindo pelos Mestres. Ela achava que esse tipo de sentimento estava criando para a Sociedade uma aparência de seita, o que era prejudicial para um movimento que pretendia atrair a atenção de líderes de pensamento:

 

“Isso é “insensato” porque num país “onde o olhar da crítica e da ridicularização hostil permanece fixo sobre qualquer novo movimento”, é “manifestamente imprudente nossa Sociedade apresentar-se diante do mundo sob a aparência de uma Seita, tendo chefes a quem se conferem poderes super humanos de grandeza”. Tudo isso levou o Standard a nos chamar de “uma Sociedade fundada sobre os alegados feitos de certos impostores indianos”. “Esse

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incidente e outros episódios similares têm aborrecido e preocupado a ela. Por mais que estime o Sr. Sinnett, ela pensa que “ele está cometendo um erro em aplicar nesse país uma política idêntica à que está sendo seguida pela Sociedade na Índia. Ela será fatalmente destruidora de todas as nossas esperanças de atrair a atenção dos líderes de pensamento (...) e ciência, cuja cooperação seria inestimável para nós” etc., etc., etc.” (LBS, 70)

 

            Para Kingsford a base da Sociedade deveria ser a de uma escola filosófica “constituída sobre as bases herméticas antigas, seguindo métodos científicos e processos exatos de razão, independentes de qualquer autoridade absoluta de um tipo exterior, embora aceitando com reverência ensinamentos de fontes competentes”. (LBS, 70) Na Índia, onde o conhecimento sobre os Adeptos era algo comum, tal política poderia estar bem, mas em Londres essa conduta levaria a Sociedade:

 

“... a ser considerada, por um lado, como demonstrando uma credulidade e uma ignorância fora do comum acerca dos métodos científicos; e, por outro, como um sistema que apresenta para a mente protestante – uma impressionante semelhança ao sistema católico de mentores e confessores, com a requerida submissão do catecúmeno em relação a seu guru ou Mahatmas.” (LBS, 70)

 

            Para HPB e outros chelas, como Subba Row, uma tal posição era um desrespeito inaceitável em relação aos Mestres, que lhes causava indignação:

 

“Ontem recebi uma carta de três jardas de comprimento da Sra. K. com sua comunicação confidencial; primeiro fruto da bondade de KH! Bem, isso é Carma do Chohan. Seja lá como for, de Subba Row até Brown, todos aqui estão indescritivelmente chocados com esse panfleto ou essa crítica tão insolente e impertinente de Maitland. Ela pede que KH a torne “o apóstolo na Europa da Filosofia Esotérica Oriental e Ocidental” !!!!!” (LBS, 63)

 

            HPB continua sua carta dizendo que, de acordo com o Mestre esse já havia avisado a Sinnett que, a menos que ele criasse uma Seção secreta e também a presidisse, “enquanto que a Sra. K seria o lindo e cintilante cartaz da “Loja”, representando o Cristianismo Esotérico ou qualquer outra tolice – eles (os Mahatmas) não teriam mais nada a ver membros ingleses.” (LBS, 64) E que, sob ordens do Mestre M.,

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Subba Row estava se encarregando de escrever uma resposta às críticas de Kingsford. Essa resposta, entretanto, só foi publicada três meses depois, no final de janeiro de 1884. Enquanto isso, HPB não continha suas críticas e continuava a reclamar junto a Sinnett e a seu Mestre, até que Ele ordenou que ela ficasse quieta. HPB escreve para Sinnett, em novembro 1883:

 

“... pois eu sabia todo o tempo que fêmea esnobe insuportável em “a divina Anna”. Eu sabia, e o repeti e continuei protestando do início ao fim, até que meu PATRÃO M. me chamou de “chata” e uma “fêmea de visão curta” (...) e me ordenou a “calar a boca”, uma elegante expressão que ele pegou, eu creio, do estoque de palavras ianques de Olcott. Ainda assim, ele nunca disse que eu estava errada, mas simplesmente que a Kingsford vestida de zebra havia sido escolhida pelo teu protetor e guia KH, e que ELE sabia o que estava fazendo – apesar de tudo. Bem, eu supus que fosse uma de suas costumeiras sinuosas experiências com a natureza humana, e assim calei a boca. Mas agora minha língua está mais uma vez livre. Ótimos acontecimentos!” (LBS, 65-66)

 

            Mas poucos dias depois, ela escreve para Sinnett: “Estamos fritos, tanto você quanto eu. (...) Estamos fritos além de qualquer redenção”. (LBS, 69) Seu plano de tirar de cena a “divina Anna”“uma criatura egoísta, fútil e mediunística, que gosta demais de adulação, vestidos e jóias cintilantes para ser do tipo certo” (LBS, 69) – havia falhado completamente, pois os Mestres haviam decidido que ela era necessária para o movimento e deveria permanecer. Com esses sentimentos em relação à “divina Anna”, HPB lhe respondeu com uma “longa, polida e, pelo que eu imaginava, diplomática carta”. (LBS, 71) Porém, para sua tristeza:

 

“... eu mal havia acabado de copiar minha carta (inglês corrigido por Mohini), uma operação realizada no meu melhor papel e com minha caneta nova, que me tomou toda uma manhã, em detrimento de, e negligenciando outros trabalhos, quando o seguinte ocorreu. Minha carta de 8 páginas – foi silenciosamente rasgada, uma página após a outra, por meu PATRÃO!! Sua grande mão aparecendo na mesa debaixo do nariz de Subba Row (que queria que eu escrevesse de um modo bem diferente) e Sua voz dizendo um cumprimento em Telugú, o qual não devo traduzir, embora Subba Row parecesse me traduzir com grande júbilo.

(p. 193)

“KH quer que eu escreva de um modo diferente” – era a ordem. Eles (os Patrões) confabularam e decidiram que a “divina Anna” deve ser agradada. Ela é necessária para eles; ela é um maravilhoso paliativo (seja lá o que for nesse mundo que essa palavra signifique nesse caso!) e eles pretendem usá-la. Ela deve ser levada a permanecer como a presidente auréola, e você o presidente núcleo e (ou nucleático?). Vocês devem ver um ao outro como os dois pólos, oportunidade guiada por Mestres, traçando finalmente o verdadeiro meridiano entre vocês dois, para [o bem da] a Sociedade. Agora, não imagine que eu ri ou caçoei. Estou num estado de mudo e impotente desespero – pois dessa vez estou perdida, se entendi o que eles pretendem!” (LBS, 71)

 

            Como entender que uma mulher que se referia com pouca veneração ao Mestre KH pudesse receber esse tratamento? A essas reclamações de HPB, Djual Khool simplesmente lhe respondeu:

 

“As palavras de uma mulher ferida em sua vaidade física, brava por não chamar a atenção do Mestre (KH) são menos que uma brisa passageira. Ela pode dizer o que quiser. Os membros cumpriram seu dever protestando, como fizeram, ela saberá melhor agora, mas ela deve permanecer, e o Sr. Sinnett deve se tornar o líder e presidente do círculo interno.” (LBS, 71)

 

            Então Madame Blavatsky teve que “lhe escrever; e dizer para ela todos os tipos de piedosas e mentirosas congratulações que não sinto”. (LBS, 72) E, se o fez, foi apenas porque devia obediência a seu Mestre, pois ela própria era claramente contrária, como escreve:

 

“Deixe o Carma disso cair sobre meu PATRÃO (“Boss”) – pois eu tenho sido única e exclusivamente seu instrumento e agente sem responsabilidade em tudo isso. E suponho que Mahatma KH atuou em primeiro plano e meu Patrão, em segundo, como de costume. E como você diz, eu tenho apenas que obedecer.” (LBS, 72)

 

            E, abaixo dessa frase o Mestre M. precipitou o seguinte comentário: “Exatamente, pois essa é a melhor política.” (LBS, 72) No final da carta, para tranquilizar Sinnett, o Mestre M. também precipitou a mensagem abaixo:

 

“Sinnett Sahib – você não deve estranhar. Nós temos o bem de todo o Movimento e da Sociedade no coração. Mesmo os desejos da maioria não devem prevalecer – os sentimentos da minoria

(p. 194)

menos iluminada também têm que ser consultados. Deve chegar o dia em que tudo será melhor compreendido. Enquanto isso a akhu tenta fascinar KH com seu retrato!” (LBS, 73) [Akhu: Inteligência, entre os egípcios. (Glossário Teosófico, 27)]

 

 

 

Anna B. Kingsford.

 

 

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