Índice Geral das Seções   Índice da Seção Atual    Índice da Obra Atual   Anterior: O Casal Coulomb Chega em Bombay   Seguinte: Anna Kingsford

 

 

(p. 165)

Capítulo 11

 

 

Swami Subba Row

 

            Subba Row divide com Damodar a honra de ter sido um dos mais destacados membros indianos dos primeiros tempos da ST. Por seu intelecto brilhante e seus conhecimentos ocultos, ele era carinhosa e respeitosamente chamado de Swami (Instrutor) Subba Row.

 

            Tallapragada Subba Row nasceu em 6 de julho de 1856 no distrito de Godavari, na região de Coromandel, na costa oriental do sul da Índia. Sua família era de brâmanes Advaitas, que falavam o Telugu e eram influentes na região. Seu pai morreu quando ele tinha 6 meses de idade, ficando seu avô e tio maternos responsáveis por sua educação.

 

            Em 1876 casou-se com Sundaramma, filha de sua tia materna. Estudou Direito na Universidade de Madras e logo tornou-se um destacado advogado. Poderia ter ganho muito dinheiro nessa profissão, se não fosse a irresistível atração que sentia pela filosofia oculta, à qual dedicou a maior parte de sua atenção até o final de sua curta vida, em 1890.

 

            Subba Row adotava como sistema filosófico espiritual a Taraka Raja Yoga, um sistema brâmane de Yoga. Nas palavras de Subba Row:

 

Taraka Raja Yoga é, como se fosse, o centro e o coração da filosofia Vedanta, uma vez que, em seus aspectos mais elevados, é decididamente a parte mais importante da antiga Religião-Sabedoria. Atualmente, se conhece muito pouco dele na Índia. O que usualmente se vê nos livros comumente lidos, dá apenas uma ideia muito inadequada de seu alcance ou de sua importância. Na verdade, entretanto, é um dos sete principais ramos nos quais toda a ciência oculta é dividida, e é derivado, de acordo com todas as narrativas, dos “filhos da chama” da misteriosa terra de Shamballa.” (Row, 364)

 

 

Primeiro Encontro de HPB com Subba Row (abril 1882)

 

            Em setembro de 1881 Subba Row escreveu um artigo para o The Theosophist sobre os doze signos do zodíaco e suas antigas raízes hindus, apresentando o significado esotérico de cada signo, seus correspondentes

(p. 166)

ocidentais e suas relações com as forças na natureza. (Row, 319) O artigo deu início a uma correspondência de HPB e de Damodar com Subba Row. Em 3 de fevereiro de 1882 ele escreveu para HPB:

 

“Penso que é altamente recomendável que você venha aqui, se as circunstâncias permitirem, quando o coronel Olcott vier para cá de Calcutá. Sem dúvida estou, individualmente, muito ansioso para vê-la; mas essa não é a razão importante para lhe pedir que venha. Embora nenhum ramo da Associação Teosófica tenha sido estabelecido aqui ainda, há um bom número de cavalheiros que sinceramente simpatizam com seus propósitos e objetivos, e que ficariam muito felizes de vê-la. Eles conhecem muito pouco do coronel Olcott, exceto o que captaram de suas palestras públicas. Mas sua Ísis Sem Véu deixou uma impressão muito forte em suas mentes.” (LBS, 316)

 

            Olcott relata que quando perguntou à mãe de Subba Row sobre o desenvolvimento dos conhecimentos místicos de seu filho, ela lhe disse que a primeira vez que ele falou sobre metafísica foi após o contato com HPB, em 1882. A partir desse encontro novas portas de percepção oculta se abriram para ele:

 

“Foi como se um depósito de experiência oculta, há muito esquecida, tivesse sido subitamente aberto para ele; vieram lembranças de seu último nascimento; reconheceu seu Guru e daí por diante manteve contato com Ele e com outros Mahatmas; com alguns, pessoalmente, em nossa Sede, com outros, em outros lugares e por correspondência. Ele disse a sua mãe que HPB era uma grande logue e que havia visto muitos fenômenos estranhos em sua presença. (...)

            “Seu conhecimento armazenado de literatura sânscrita lhe voltou, e seu cunhado me disse que se você recitasse qualquer verso do Gita, Brahma-Sutras ou Upanishads, ele podia imediatamente lhe dizer de onde havia sido retirado e em que contexto empregado.” (Eek 1978, 663)

 

            Entretanto, na época da criação da biblioteca de Adyar, em 1886, Subba Row contou a Olcott que “um terço de sua vida é passada num mundo do qual sua própria mãe não tem a menor ideia.” (ODL III, 394). Isso nos indica que Olcott pode ter se enganado nas suas conclusões. Ainda em fevereiro de 1882, antes de encontrar-se pessoalmente com HPB, Subba Row lhe escreve:

 

(p. 167)

“Para lhe falar a verdade, minha “sincera crença” é que a Índia ainda não perdeu seus adeptos e seu “NOME INEFÁVEL” – a Palavra perdida! A Índia ainda não está espiritualmente morta embora esteja rapidamente morrendo. Ainda temos homens serenos entre nós (...) aqueles que quase alcançaram as praias do oceano do Nirvana. (...) É apenas para os que crêem sinceramente na Yoga Vidya e na existência de Adeptos, que esses austeros místicos estão acessíveis. Mesmo se um teosofista inglês como o Sr. Hume, por acidente, se encontrasse com um desses homens, ele logo colocaria sua filosofia em prova. Sua aparência externa seria revoltante para o refinado gosto de um cavalheiro inglês. Aparentemente – seu comportamento seria aquele de um louco ou de um e idiota, e ele falaria bobagens ininteligíveis de propósito, para afastar o visitante.” (LBS, 316)

 

            Numa carta para HPB, em agosto de 1882, apenas quatro meses após conhecê-la, falando de seus próprios conhecimentos, Subba Raw escreve:

 

            “Quanto ao adeptado, sei muito bem o quão distante estou dele. Até agora não ouvi falar de ninguém em minha posição que tivesse tido sucesso em se tornar um Adepto. Mesmo na prática conheço muito pouco de nossa Antiga Ciência Arcana.” (LBS, 321)

 

            Porém a frase em itálico foi sublinhada pelo Mestre KH, que acrescentou o seguinte comentário: “Isso não é bem assim. Ele conhece muito para qualquer um de vocês.” (LBS, 321)

 

            Subba Row filiou-se à ST em 25 de abril de 1882, poucos dias após encontrar-se com HPB e Olcott em Madras, “sozinho, privadamente, por alguma insondável razão de mistério”. (ODL II, 343) Talvez essa “insondável razão de mistério” esteja justamente relacionada com o fato de que ele já não era uma pessoa comum, mas um chela.

 

 

Adyar: Os Jardins de Huddlestone (maio de 1882)

 

            No início de maio de 1882 HPB e Olcott partiram de Madras para Nellore, numa viagem que levava dois dias de barco. No primeiro barco iam apenas os dois com Babula e a tripulação e, num outro, alguns dos melhores amigos de Madras. Olcott diz que, em todos os anos

(p. 168)

de relacionamento com HPB, é dessa viagem que guarda os momentos mais tranquilos que tiveram juntos, principalmente porque ela estava de bom humor e gozando de boa saúde. Ele escreve:

 

“Querida, saudosa amiga, companheira, colega, instrutora, camarada: ninguém podia ser mais exasperante em seus piores momentos, ninguém era mais adorável e admirável em seus melhores. (...) Essa página aberta de meu diário (...) me traz de volta à memória (...) uma imagem de HPB em seu roupão surrado, sentada em seu compartimento em frente ao meu, fumando cigarros, sua enorme cabeça com seus cabelos marrons, crespos, caindo sobre a página que estava escrevendo, sua testa cheia de rugas, um olhar de pensamento introspectivo em seus olhos azuis claros, sua mão aristocrática deslizando a caneta rapidamente sobre as linhas e não se ouvindo nenhum ruído, a não ser a música líquida das pequenas ondas contra as laterais do barco”. (ODL II, 349-350)

 

            Em 31 de maio, já de volta a Madras, HPB e Olcott foram levados pelos filhos do juiz Muttuswamy para ver uma propriedade que estava à venda, nas margens do rio Adyar. Essa propriedade, conhecida como os “Jardins de Huddlestone”, tinha 11 hectares e estava sendo vendida por um preço muito barato, devido à recente abertura da estrada de ferro de Madras até a base das montanhas Nilgiri, encurtando muito a viagem de Madras até Ootacamund. Os oficiais ingleses que no verão fugiam do intenso calor de Madras compraram propriedades nas montanhas, deixando seus grandes bangalôs nos arredores de Madras vazios e sem compradores.

 

            Com a ajuda de P. Iyaloo Naidu que adiantou parte do dinheiro, e do juiz Muttuswamy Chetty que assumiu um empréstimo para pagar o restante, a compra da propriedade foi efetuada. Com as doações recebidas, em um ano os empréstimos haviam sido pagos. (ODL II, 361)

 

            HPB e Olcott ficaram em Madras até 6 de junho de 1882 quando voltaram para Bombay, deixando Subba Row como secretário do recém formado ramo da ST em Madras. Olcott revela que um dos fatores que pesou na escolha de Madras como Sede da Sociedade foi a presença de Subba Row nessa cidade. (ODL II, 362) A importância que Subba Row dava a essa região fica clara numa carta de fevereiro de 1882 para HPB, onde ele escreve:

 

(p. 169)

“O pouco de Ocultismo que ainda subsiste na Índia está centrado nessa região de Madras (...). O grande reviver da Yoga Vydia na época de nosso grande Sankaracharia teve sua origem nessa parte da Índia; e desde aquela época até os dias de hoje, o sul da Índia nunca teve o infortúnio de ser desertado por todos os seus iniciados.” (LBS, 31)

 

 

O Ocultismo Exige Tudo ou Nada

 

            Subba Row recusava-se a ministrar treinamento espiritual a qualquer um que não estivesse adequadamente preparado. Ele até mesmo recusou-se a treinar S. Iyer, seu amigo e colega de tribunal, porque esse não realizava as observâncias religiosas diárias prescritas. (Ramanujachary, 22)

 

            Além disso, como um brâmane ortodoxo, acreditava que ensinar a ocidentais era um sacrilégio. Porém, HPB queria que Sinnett recebesse ensinamentos de Subba Row. Para tanto, começou uma verdadeira campanha, tanto com pedidos ao próprio Subba Row, quanto ao Guru de ambos, o Mestre M. O Mestre KH escreve para Sinnett a esse respeito:

 

“Pobre Subba Row está “num dilema” – e é por isso que ele não lhe responde. Por um lado ele tem a indomável HPB que atormenta a vida de Morya para lhe recompensar e o próprio M. que, se pudesse, gratificaria suas aspirações; de outro lado ele encontra a intransponível muralha da China das regras e da Lei.” (MLcr., 156)

 

            Como Sinnett não conseguia compreender nem mesmo os primeiros princípios do treinamento de um chela, o Mestre lhe aconselha a não assumir:

 

“... uma tarefa além de suas forças e capacidades; pois uma vez compromissado se quebrar sua promessa, isso o afastaria por anos, se não para sempre, de qualquer progresso futuro. Eu disse desde o início para Rishi “M” que sua intenção era boa, mas seu projeto precipitado. Como pode você, em sua posição, empreender qualquer trabalho desse tipo? O Ocultismo não deve ser tomado sem a devida seriedade. Ele exige tudo ou nada.” (MLcr., 155)

 

            O Mestre KH também lhe diz que Subba Row nunca consentiria em ir para Simla. Mas:

 

(p. 170)

“... se ordenado por Morya ele ensinará de Madras, i.e., corrigirá os manuscritos, como M. fez, comentará sobre eles, responderá perguntas e será muito, muito útil. Ele tem uma perfeita reverência e adoração por HPB.” (MLcr., 158)

 

            Esses sentimentos ficam claros numa carta que Subba Row escreveu para HPB, quando ela estava na Europa:

 

“A Sociedade não pode se dar ao luxo de perdê-la. Quanto a mim, sinto-me muito sozinho e desconfortável em sua ausência e espero que, assim que for possível, você nos faça saber a data de sua partida. Após receber as ordens de nosso Mestre, penso que seria recomendável enviar para cá o Coronel Olcott alguns dias antes.” (LBS, 322)

 

            Talvez diante da insistência de HPB, o Mestre M. acabou ordenando a Subba Row que desse instruções a Sinnett. Assim, em maio de 1882, Subba Row lhe escreve:

 

“Várias vezes me foi solicitado nos últimos três meses, por Madame Blavatsky, que lhe desse tais instruções práticas em nossa Ciência Oculta, conforme me seja permitido dar para alguém em sua posição; e agora sou ordenado por ... [M] a ajudá-lo, até certo ponto, a erguer uma parte do primeiro véu de mistério.” (MLcr., 154)

 

            E continua dizendo que, para tanto, era preciso que Sinnett concordasse com algumas condições. Subba Row lhe pede sua palavra de honra de que nunca revelaria a ninguém os segredos que lhe fossem comunicados, a menos que recebesse autorização prévia para tanto. E lhe adverte que:

 

“... qualquer coisa como um estado de mente oscilante com relação à realidade da Ciência Oculta e a eficácia do processo prescrito provavelmente impedirá a produção do resultado desejado.” (MLcr., 154)

 

            Subba Row também diz que era necessário que Sinnett agisse estritamente de acordo com essas instruções e alterasse seu modo de vida para estar em conformidade com as mesmas. Esse era um ponto onde Subba Row via grandes dificuldades, pois considerava que Sinnett não estava preparado para esse compromisso. Ele escreve para HPB sobre essa questão, revelando nessa carta sua apreensão bem como seu enorme conhecimento de Ocultismo prático:

 

“Sem dúvida lhe causaria considerável transtorno se ele fosse obrigado a mudar completamente seu modo de vida. Você verá pelas

(p. 171)

cartas que ele está muito ansioso em conhecer de antemão a natureza dos Siddhis, ou poderes de realizar prodígios, que se espera que ele obtenha pelo processo ou ritual que eu pretendo lhe prescrever.

            “O poder ao qual ele será introduzido pelo processo em questão sem dúvida lhe desenvolverá maravilhosos poderes clarividentes, tanto em relação à visão quanto ao som em algumas de suas mais elevadas correlações”. (MLcr., 155)

 

            O ponto de vista de Subba Row acabou prevalecendo sobre a vontade de HPB. Em 26 de junho de 1882, ele escreve para Sinnett que após “uma consulta aos Irmãos, para suas opiniões e ordens”, eles concluíram que não seria possível qualquer instrução prática na Ciência Oculta, pois:

 

“Até onde vai meu conhecimento, nenhum estudante de Filosofia Oculta jamais teve sucesso em desenvolver seus poderes psíquicos sem levar a vida prescrita para tais estudantes; e não está dentro do poder do instrutor fazer uma exceção no caso de qualquer estudante. As regras estabelecidas pelos antigos instrutores de Ciência Oculta são inflexíveis (...) Se você acha impraticável mudar seu atual modo de vida, não pode senão esperar por instruções práticas até que esteja numa posição de fazer tais sacrifícios como os que a Ciência Oculta requer; e, pelo momento, deve se satisfazer com as instruções teóricas que for possível lhe dar.

            “Quase não é necessário, agora, lhe informar se as instruções prometidas em minha primeira carta, sob as condições ali estabelecidas, iriam desenvolver em você tais poderes que lhe permitiriam tanto ver os Irmãos quanto conversar com eles clarividentemente. O treinamento oculto, seja como for que comece, irá no devido tempo necessariamente desenvolver tais poderes. Você estará adotando uma visão muito vulgar da Ciência Oculta se fizer a suposição de que a mera aquisição de poderes psíquicos é o mais elevado ou o único resultado desejado do treinamento oculto.” (MLcr., 164)

 

 

HPB Encontra o Mestre M. no Sikkim (setembro de 1882)

 

            Em agosto de 1882, Damodar foi passar um mês em Poona, para descansar e se recuperar, pois estava com a saúde muito debilitada, devido às perseguições e ao excesso de trabalho. (CW IV, xxv) HPB

(p. 172)

também passava por um período muito delicado de saúde. Ainda em março de 1881, o Mestre KH havia escrito:

 

“Nossa infeliz “Velha Senhora” está doente. Fígado, rins, cabeça, cérebro, pernas, cada órgão e membro manifesta um duelo e estala os dedos ao esforço dela em ignorá-los. Um de nós terá que “ajustá-la” como nosso leal Sr. Olcott diz, ou teremos que lhe dizer adeus.” (MLcr., 56)

 

            Em setembro de 1882 HPB vai ao Sikkim encontrar-se com o Mestre KH e com seu Guru, para se recuperar. O Mestre KH descreve o encontro:

 

“Não creio que jamais tenha sido tão profundamente tocado, em toda minha vida, por algo que testemunhei, como com o arroubo em êxtase da pobre velha criatura, quando nos encontrou recentemente, ambos em nossos corpos naturais (...) Mesmo nosso fleumático M. foi tirado de seu equilíbrio, por uma tal exibição – da qual ele era o principal herói. Ele teve que usar seu poder, e mergulhá-la num sono profundo, pois de outro modo ela teria rompido algum vaso sanguíneo, incluindo rins, fígado e seus “interiores” (...) em suas tentativas delirantes de achatar seu nariz contra sua capa de montaria suja com a lama do Sikkim! Nós dois rimos, mas como poderíamos deixar de nos sentir tocados? É claro, ela é completamente inadequada para um verdadeiro adepto: sua natureza é por demais apaixonadamente afetuosa e nós não temos o direito de condescender em apegos e sentimentos pessoais.” (MLcr., 297)

 

            Em outubro o Mestre KH escreve para Sinnett que “HPB foi emendada, se não completamente, pelo menos por algum tempo.” (MLcr., 304), e que:

 

“Ela está melhor e nós a deixamos perto de Darjeeling. Ela não está a salvo no Sikkim. A oposição dos Dugpas é tremenda e a menos que nós devotemos todo o nosso tempo cuidando dela, a “Velha Senhora” poderá ser prejudicada, uma vez que ela agora está incapaz de cuidar de si mesma.” (MLcr., 286)

 

            HPB ficou em Darjeeling até novembro 1882, quando retornou a Bombay. Em 17 de dezembro de 1882 HPB, Olcott, Damodar, Babajee, os Coulombs e alguns servos indianos partiram de trem para Madras, de mudança para a nova sede da Sociedade Teosófica em Adyar. (ODL II, 391)

 

 

(p. 173)

O Santuário (janeiro de 1883)

 

            Na nova sede Emma Coulomb continuou exercendo suas funções de governanta da casa. HPB ocupava o andar de cima do prédio principal, onde havia sido construído um novo quarto. Sinnett e sua esposa passaram por lá antes de irem para Londres, e ele descreve:

 

“O novo quarto, recém acabado, teve sua construção apressada para que pudéssemos vê-lo pronto; ele foi destinado pela Madame para ser seu ‘quarto oculto’, seu próprio sanctum, especialmente privado, onde ela seria visitada tão somente por seus amigos mais íntimos. Ele veio a ser tristemente profanado por seus piores inimigos um ou dois anos depois. No seu ardor de afeição por tudo que dizia respeito aos ‘Mestres’, ela havia especialmente se dedicado em decorar um certo pequeno armário suspenso, que seria mantido sagrado, exclusivamente para as comunicações ocorrendo entre esses Mestres e ela mesma, e já tinha lhe dado a designação, sob a qual ele mais tarde se tornou tão tristemente a célebre – o santuário [shrine]. Aqui ela havia colocado alguns pequenos tesouros ocultos – relíquias de sua estadia no Tibet – dois pequenos retratos que ela possuía dos Mahatmas e algumas outras pequenas coisas associadas a eles em sua imaginação.” (Sinnett 1886, 258)

 

            O santuário ficava cercado por cortinas, no quarto oculto, vizinho ao dormitório de HPB. Ele foi desenhado pelo próprio Alexis Coulomb, e construído em partes desmontáveis, para que a Madame pudesse levá-lo em sua bagagem quando fosse passar algum tempo fora de Adyar. (CW VI, 415) Funcionava como um local para comunicação com os Mestres – as cartas a Eles endereçadas eram ali colocadas e as a respostas lá apareciam materializadas. Esse é um fenômeno oculto:

 

“... tão rigidamente sujeito a leis naturais quanto o comportamento do vapor ou da eletricidade. Um local mantido puro de todo ‘magnetismo’, a não ser aquele conectado com o trabalho de integrar e desintegrar cartas, facilitaria o processo, e o ‘santuário’ foi usado dezenas de vezes para a comunicação de questões entre os Mestres e os chelas ligados à Sociedade”. (Sinnett 1886, 258)

 

 

(p. 174)

Olcott Encontra com Mestre KH em Lahore (novembro de 1883)

 

            Em novembro de 1883 Olcott e Damodar viajaram para Lahore. Essa viagem estava sendo feita sob ordens do Mestre KH, para que Olcott o encontrasse. Apesar de Olcott já estar a vários anos numa convivência estreita com HPB, muitas vezes sua mente racional ainda pedia por provas. Esse comportamento precisava mudar e por isso o Mestre KH foi encontrá-lo fisicamente, em Lahore. De acordo com HPB:

 

“Parece que Maha Sahib (o grande) é que insistiu com o Chohan para que Olcott tivesse a permissão de encontrar pessoalmente dois ou três dos adeptos além de seu guru M. Tanto melhor. Eu não serei, quem sabe, a única a ser chamada de mentirosa, quando afirmar a realidade de suas existências.” (LBS, 62)

 

            Na noite de 17 de novembro de 1883, quando estavam no trem, Damodar estava deitado em sua cama e não parecia estar fisicamente dormindo pois, de tempos em tempos, mexia-se. Daqui a pouco ele perguntou a Olcott que horas eram:

 

“Eu lhe disse que faltavam poucos minutos para as seis da tarde. Ele disse: “Eu recém estive na Sede” – querendo dizer no duplo [astral] – “e aconteceu um acidente com Madame Blavatsky”. E lhe perguntei se havia sido algo sério. Ele disse que não podia me dizer, mas achava que ela havia tropeçado no tapete e caído pesadamente sobre seu joelho direito.” (SPR Appendix I)

 

            Na estação seguinte, Olcott enviou um telegrama para HPB perguntando: “Que acidente ocorreu na Sede, em torno das 6h? Responda para Lahore.” No dia seguinte, ele recebeu a resposta: “Quase quebrei a perna direita, caindo da cadeira do Bispo, arrastando Coulomb, atemorizando Morgans. Damodoss [Damodar] nos assustou.” (SPR Appendix I)

 

            No momento em que Damodar apareceu em seu duplo astral, HPB estava em cima de uma cadeira, limpando os retratos dos Mestres. Quando Emma Coulomb, que era psíquica, o viu, levou um tremendo susto e largou a cadeira, o que fez com que HPB se desequilibrasse e caísse, machucando o joelho direito.

 

            Ao chegarem em Lahore Olcott, Damodar e a comitiva acamparam em tendas em frente ao Forte. Na madrugada do dia 20 de novembro, Olcott percebeu alguém entrando em sua tenda e tocando-o.

(p. 175)

Com medo, ele agarrou o intruso pelos braços e perguntou quem era e o que queria. Então ouviu uma voz suave e gentil lhe perguntando: “Você não me conhece? Não se lembra de mim?” (ODL III, 37)

 

            Era o Mestre KH. Olcott imediatamente o largou, juntou as mãos em saudação e tentou sair da cama, em sinal de respeito, mas o Mestre o impediu. Após lhe falar algumas frases, pegou sua mão esquerda e colocando os dedos de sua mão direita na palma da mão de Olcott, fez surgir um papel embrulhado num pano de seda. Depois o abençoou e saiu da tenda. (ODL III, 38) O bilhete precipitado na mão de Olcott dizia:

 

“Desde o início de seu período de provação na América, você esteve muito relacionado comigo, embora seu desenvolvimento imperfeito frequentemente o fez confundir-me com Atrya (...) o objetivo que tínhamos em vista, ao empreender minha viagem do Ashrum para Lahore, era lhe dar essa última prova substancial. Você não apenas me viu e conversou comigo, mas me tocou, minha mão apertou a sua e o KH da imaginação tornou-se o KH da realidade. Sua conduta céptica, frequentemente caindo num conservadorismo extremo tem séria e constantemente impedido seu desenvolvimento interno. Ela lhe fez suspeitar – às vezes cruelmente – de Upasika, de Borg, de Djual-K, e até mesmo de Damodar e D. Nath [Babajee], a quem você ama como filhos. Esse nosso encontro deve mudar radicalmente o estado de sua mente. Se não mudar, tanto pior para seu futuro; a verdade nunca vem como um arrombador, através de janelas gradeadas e portas blindadas com ferro.” (LMW 1st Series, 40)

 

            O Mestre KH voltou ao acampamento às 22h, quando conversou com Damodar e depois com Olcott, num local um pouco afastado, para evitar intromissões. (ODL III, 44) No dia 21 eles partiram para Jammu, hospedando-se numa casa do marajá do Kashmir. Durante o dia Olcott ia ao palácio para dar passes mesméricos no marajá e conversar sobre Vedanta.

 

            Na manhã do dia 25, quando Olcott acordou, percebeu que Damodar não estava em seu quarto. Após procurá-lo sem sucesso, um servo lhe informou que o vira saindo da casa, sozinho. Ao voltar para quarto, Olcott encontrou um bilhete do Mestre lhe dizendo para não se preocupar, pois Damodar estava sob sua proteção. (ODL III, 54) HPB escreve para Sinnett sobre Damodar:

 

(p. 176)

“Desapareceu! Fiquei pensando e também tive medo, é estranho pois faz apenas quatro anos que ele é um chela. KH é esperado por aqui ou pela redondeza por dois chelas que vieram de Mysore para O encontrar. Ele está indo para algum lugar, relacionado aos Budistas da Igreja do Sul. Será que nós o veremos? Eu não sei. Mas aqui há uma comoção entre os chelas. Bem, coisas estranhas andam acontecendo. Terremotos, e sol azul e verde; Damodar raptado pelos Mestres e o Mahatma vindo. E agora o que faremos no escritório sem Damodar! Oh deuses e poderes do Céu e do Inferno, não tínhamos trabalho e problemas suficientes! Bem, bem, SUAS vontades sejam feitas, não a minha. Sua, sempre na água fervendo, HPB”. (LBS, 72)

 

            HPB telegrafou para Olcott dizendo-lhe que não deixasse ninguém mexer na cama ou nas bagagens de Damodar e que ele logo retornaria. Na noite do dia 27 Damodar voltou, trazendo para Olcott “uma mensagem de um outro Mestre, que conheço bem”. (ODL III, 57) Em seu diário, ele escreveu:

 

“Damodar voltou parecendo exausto, mas mais firme e resistente que antes. Ele agora é realmente um novo homem. Me trouxe uma mensagem de Hilarion.” (LMW 2nd Series, 189)

 

            Chamamos a atenção para o fato que Olcott se refere ao Mestre Hillarion como um Mestre “que conheço bem”.

 

 

 

Condessa Constance Wachtmeister.

 

 

Índice Geral das Seções   Índice da Seção Atual    Índice da Obra Atual   Anterior: O Casal Coulomb Chega em Bombay   Seguinte: Anna Kingsford