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Tradução: Daniel M. Alves –
Revisão e edição:
Arnaldo Sisson Filho
[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

 

CAPÍTULO XII

 

“Tais Coisas São uma Alegoria”

 

            1. (*) TODOS os mistérios sagrados da Bíblia cristã e de qualquer outra Bíblia do mesmo tipo têm um propósito em comum – demonstrar ao homem como ele pode avivar, aprimorar e desenvolver a alma dentro dele de tal modo que ela possa se tornar uma perfeita imagem da Alma Universal, reconstituída à semelhança de Deus.

 

            E assim, estórias como a da Criação, da Queda, do Exílio, do Dilúvio, do Êxodo e do Cativeiro no Velho Testamento, e a da Encarnação,

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da Paixão, da Crucificação, da Ressurreição, da Ascensão e da Vinda do Espírito Santo no Novo Testamento, são todas alegorias e indicam estágios daquele supremo trabalho – com seus muitos níveis de crescimento espiritual e realização – o qual abrange desde “Adão” até o “Cristo”.

 

            Todos esses estágios, bem como cada um deles, devem ser vividos e completados, não apenas pelo típico Homem Regenerado de qualquer época, mas também dentro de cada ser humano – em todos os planos de seu ser – que se tornará um Filho de Deus e uno com seu Divino Pai.

 

            2. Dois desses atos fundamentais no drama divino da Alma – sendo um de natureza preliminar e o outro de natureza consumatória – o Êxodo e a Crucificação, podem ser tomados como exemplos, uma vez que se aplicam não somente à alma individual sob o cativeiro da matéria, mas também à alma coletiva, ou verdadeira Igreja de Cristo, sob o jugo do Sacerdotalismo.

 

            3. No Êxodo de Israel da terra de Egito está representado o definido afastamento da alma das coisas dos sentidos e do domínio do corpo em direção a sua distante herança divina.

 

            Ao deixar, por vontade própria, o “Éden”, a alma permite que a natureza corpórea se torne seu controlador e opressor no reino da materialidade, aqui representado pelo Egito, até que seu estado como entidade independente se torne deplorável e precário ao extremo.

 

            No entanto, mesmo em seu momento de maior escuridão, a alma – como o filho pródigo saturado (1) – recupera um conhecimento de seu verdadeiro

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ser e ouve a voz profética da intuição dentro dela, impelindo-a em direção ao caminho único da autolibertação.

 

            Somente por meio do repetido disciplinar e subjugar – ou do “tormento das pragas” – desse corpo, sob cujo domínio ela tanto se escravizou, pode a alma, por fim, conquistar a liberdade de seu cativeiro. E quando, após um longo período, na “noite” da passividade da natureza terrestre, ela parte do dilacerado corpo, ela “rouba dos Egípcios”, ao tomar para sua futura subsistência o conquistado valioso acervo e tesouro da experiência e do sofrimento adquirido durante sua estadia no corpo.

 

            Guiada pelo espírito do entendimento ela atravessa o severo mar da purificação, no qual seus últimos perseguidores, das forças de suas passadas associações maléficas, são engolidos.

 

            Embora ainda longe de estar regenerada, mas com a face voltada na direção da terra prometida de seu verdadeiro lar, a alma avança em meio ao deserto purgatorial das provações e das tentações – não menos reais por serem de natureza astral – para além das quais se encontram as alturas da liberdade espiritual e da realização divina. Desse modo pode o corpo sem vida da história ser trazido de volta à vida, como uma verdade vital a ser contemplada e vivida na experiência de cada ser humano.

 

“Erga-se, Ó Alma, e Voe

 

            4. De forma análoga, isso também ocorre com o conteúdo da doutrina do Panteísmo, conforme definida anteriormente, a qual é simbolizada no drama da Crucificação. A cruz na qual o Ser Divino está suspenso e sofre é a Árvore da Vida no centro do Jardim da Criação. Portanto, o característico Homem de Deus, ao submeter-se à crucificação, exemplifica a universal crucificação de Deus no mundo, um processo indispensável para a purificação e subseqüente redenção tanto do homem como do mundo.

 

            A crucificação não é somente de um único Homem Característico, mas de todo o Homem Característico em todas as épocas. E não apenas os homens dessa classe, mas todo homem, segundo o seu nível, deve carregar o fardo e morrer a morte da cruz para ganhar a coroa

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da vida eterna. Pois, dentro de sua própria natureza cada homem deve tomar sua cruz e nela oferecer o sacrifício de seu ser terreno a seu ser espiritual, da vontade corpórea à vontade divina, bem como a de si mesmo ao próximo.

 

            Sem tal oblação interior não pode haver remissão dos pecados. O mundo cuidará para que a crucificação seja realizada na esfera externa, pois ele sempre ignorantemente crucifica o Cristo, tanto como um Indivíduo quanto como um Ideal.

 

            Mas o sacrifício apenas se completa quando o homem, reconstituindo a si mesmo em sua condição divina, por meio da eliminação de toda tendência egoísta e desejo terreno, renuncia absolutamente sua vontade pela Vontade Divina e, assim, manifesta a vida de Cristo aos outros, de modo a atrair suas aspirações e direcionar seus esforços para a realização desse estado.

 

“Opere a Sua Própria Salvação”

 

            5. “Pois aqueles de nós que conhecem e vivem a vida interna são salvos, não por qualquer Cruz no Calvário mil e oitocentos anos atrás, não por qualquer derramamento de sangue, não por qualquer paixão vicária de lágrimas, flagelo e lança, mas pelo Cristo Jesus, o Deus conosco, o Emanuel do coração, nascido, operando trabalhos portentosos e oferecendo oblação em nossas próprias vidas, em nossas próprias pessoas, redimindo-nos do mundo e fazendo-nos filhos de Deus e herdeiros da vida eterna” (1)

 

NOTAS

 

(33:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.

(34:1) Em sua significação cósmica a parábola do Filho Pródigo demonstra o desabrochar para o interesse do Espírito e Substância de Deus, e mesmo em face ao velamento daquela Vida espiritual na mais densa materialidade e na mais grosseira forma. Mas isso se dá para que ela possa atuar com sua vontade e operar o seu caminho de volta para a “Casa do Pai”, aperfeiçoada através do sofrimento e da experiência. O incidente do “irmão mais velho” sugere que o Espírito que não desce à criação e obtém a maestria sobre a matéria tem os atributos e poderes divinos latentes ou potenciais ao invés de ativos e realizados na matéria.

(36:1) The Perfect Way, Palestra IV, parágrafo 32.

 

 

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