Índice Geral das Seções   Índice da Seção Atual   Índice da Obra   Anterior: Capítulo 10   Seguinte: Capítulo 12

 

 

Tradução: Daniel M. Alves –
Revisão e edição:
Arnaldo Sisson Filho
[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

 

CAPÍTULO XI

 

            1. (*) VOLTANDO-NOS à consideração do livro que o Sacerdotalismo transformou no arsenal para a fundamentação de seus princípios, a Bíblia, o livro menos compreendido e mais pomposamente adorado na Europa, a primeira coisa a ser questionada é que ele – e qualquer outra escritura, antiga ou moderna – é a Palavra ou Revelação de Deus para o homem tão somente na medida em que se dirija e se relacione ao homem real, que é a Alma.

 

            Não importa qual foi sua origem no tempo e no espaço, ou quem foram seus escritores e compiladores, ou quanta autoridade e veneração

(p. 32)

foram investidas e atribuídas à sua letra e forma por meio do costume. O que de fato importa é que ele deveria atender adequadamente as necessidades e aspirações da alma, que são sempre interiores e subjetivas e estão relacionadas, primária e essencialmente, com processos, estados e princípios, e apenas secundária e alegoricamente, com coisas, eventos e pessoas.

 

            Um fato real observado pelos sentidos, que acontece a uma pessoa ou a várias pessoas em um dado tempo e local não é, por si mesmo, uma verdade divina por mais extraordinário que seja, ou mesmo, necessariamente, qualquer evidência de verdade divina, embora ele possa servir como uma ilustração da aplicação de princípios divinos, que são por sua natureza noumênicos, universais e substanciais.

 

“A Letra Mata”

 

            2. Ao limitar a si mesmo descendo do pensamento para a linguagem, da idéia para o símbolo, a revelação ou religião deve, de fato, ter um cenário fenomênico para obter reconhecimento de algum tipo em um mundo objetivo. Mas, na mesma proporção em que a parte fenomênica e material do homem não é o verdadeiro e permanente ego, é somente a verdade ou princípio dentro desse cenário que tem significância, e tudo o mais é secundário em relação a isso.

 

            O cenário é relativamente verdadeiro ou falso de acordo com sua capacidade de revelar ou ocultar a jóia. A verdade em religião, sendo sempre metafísica, é da alma e para a alma, e não para os sentidos. O único manto adequado que ela pode vestir no reino terrestre e ao mesmo tempo manter sua pureza celestial é o véu da poesia e a veste do misticismo.

 

            É inegável, contudo, que tal veste ainda assim deixaria a verdade religiosa mais ou menos invisível para a maioria da humanidade; e, na verdade, uma apresentação como a aqui delineada pode ser compreendida apenas por aqueles que já alcançaram algum grau de desenvolvimento intelectual e espiritual. Mas não é questionável que, para as massas, uma vestimenta adicional da presença Divina é necessária por meio de alegorias, parábolas, símbolos ou hieróglifos, de modo que possa sempre haver

(p. 33)

uma correspondência da verdade em qualquer plano que eles possam se encontrar no momento. No entanto, a imagem jamais deve usurpar o lugar de Deus, ou a sombra ser um substituto para a substância, para que a religião na degenere na idolatria.

 

“O Espírito Dá a Vida”

 

            3. Agora, é exatamente esse desvio para a idolatria que, mais do que qualquer outra coisa, caracteriza o tratamento que o Cristianismo e a Bíblia receberam das mãos dos seus guardiões eclesiásticos, desde aquele convertido, porém reconhecidamente sacerdotalista que foi Paulo, e daí em diante.

 

            Como depositários das verdades espirituais eles as materializaram a ponto de se tornarem quase irreconhecíveis. Para doutrinas que são inteiramente místicas foram dadas leituras completamente físicas, e a possibilidade de qualquer outra leitura foi negada.

 

            Os testemunhos internos da razão e do entendimento foram depostos e substituídos pela tradição e pela autoridade. A concordância e a obediência mecânicas substituíram a fé e o conhecimento nascido da intuição.

 

            Pessoas são veneradas no lugar dos princípios espirituais que elas representam. A história e a biografia de outras pessoas tomaram o lugar do autoconhecimento e da emancipação. A crença e a credulidade se tornaram mais importantes que a conduta e o esforço. A cruz obscureceu o Cristo. E quanto ao mundo fora da Igreja é suficiente dizer que em sua adoração ao materialismo ele reflete fielmente o estado de idolatria que existe dentro da ordem sacerdotal.

 

NOTA

 

(31:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.

 

 

Índice Geral das Seções   Índice da Seção Atual   Índice da Obra   Anterior: Capítulo 10   Seguinte: Capítulo 12