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Tradução: Daniel M. Alves –
Revisão e edição:
Arnaldo Sisson Filho
[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

 

CAPÍTULO X

 

“Todos Vós Sois Irmãos”

 

            1. (*) TOMEMOS um exemplo significativo e muito abrangente da barreira que o Sacerdotalismo levantou entre o Budismo e o Cristianismo.

 

            2. Já foi mencionada anteriormente a ilimitada compaixão por todas as formas de vida ensinada por Buda. A mão de Seus sacerdotes jamais empunhou a faca sacrificial; nem nenhum budista é jamais encontrado entre aqueles que têm por negócio, direta ou indiretamente, o abate de animais.

 

            Os ofícios de soldado, de caçador, de açougueiro, de abatedor de animais, de pescador, de operador de vivissecção, de fabricante de armas e munições, de construtor de navios de guerra e de taberneiro estão fora da seara do Budismo como meios retos de ganhar a vida. Pois o primeiro dos cinco votos feitos pelo seguidor do Buda é o voto de não tirar a vida de qualquer homem ou animal.

 

(p.28)

            Agora, esse ensinamento de Buda é o resultado prático – traduzido em termos que o homem comum pode compreender e agir de acordo – daquela verdadeira e profunda doutrina do Panteísmo, que é a doutrina esotérica e real da Bíblia e de todas as Bíblias ou livros da Alma – uma doutrina que o Sacerdotalismo, ao negar a divindade da Substância, sempre distorceu e condenou.

 

            3. A doutrina do Panteísmo é apropriadamente assim definida: –

 

            4. “Todas as coisas são Deus em virtude de seus princípios constituintes; mas todas as coisas não são Deus quanto a estarem na mesma condição de Deus. Isso significa que, embora Deus seja a Entidade, a Entidade somente é Deus quando está em um estado de perfeição. Deus – o Deus que o homem possui dentro de si para um dia se tornar – é o produto da Evolução. Originando-se de Deus por meio da emanação, o homem retorna para Deus por meio da evolução. Assim sendo, sua finalidade está em seu começo”.

 

            5. Essa é a raiz da qual surgem, consciente ou inconscientemente, todos os esquemas e sistemas que buscam a unidade, a cooperação e a fraternidade na família humana. Essa é a rocha sobre a qual todos os preceitos humanos de Buda estão fundamentados; assim como o de não matar, mas sim ter respeito à vida, para cultivar uma mente irrestritamente amigável em relação a todos os seres, para preservar a vida e não ferir a ninguém, para não matar nenhuma vítima inocente na vã tentativa de reparar maus atos.

 

            Sua atitude em relação a toda vida encarnada foi a de compaixão ou amor. E o que é o amor senão “o reconhecimento do ser onipresente, a percepção de Deus nos outros.” (1)

 

            6. O que ganhou o Cristianismo com essa rejeição à doutrina divina do Panteísmo e com o desdenhoso isolamento de si mesmo em relação ao nobre ideal e à nobre prática da compaixão por tudo o que recebe o sopro da vida, que foram ensinados por Buda?

 

            O horrendo sistema sacrificial judeu, incansavelmente denunciado por Jesus e pelos Profetas, não sofreu mudanças quer em extensão, quer em propósito, mas apenas em relação à localização

(p. 29)

e ao departamento. Em toda sua rudeza e crueldade ele foi transferido, com a sanção e ajuda do Sacerdotalismo, do templo de uma civilização anterior para a estrutura social de uma civilização posterior, e sendo ali consolidado com o seu elemento apropriado – o sangue.

 

A Morte dos Inocentes

 

            7. Observe em todos os países que se alegam cristãos os numerosos laboratórios onde os vivissectores – aqueles verdadeiros alto-sacerdotes da ciência – que se intitulam “pesquisadores científicos”, cientificamente mutilam e maltratam os membros e órgãos de miríades de animais vivos, ou produzem, a partir dos corpos de animais doentes, repugnantes preparos para fortalecer o organismo humano, e tudo isso para o avanço do conhecimento e o soerguimento e auxílio da humanidade.

 

            Tudo isso enquanto os bispos e outros dignitários eclesiásticos – todos eles expoentes treinados e autoridades do Evangelho da Vida, da Pureza e do Amor – são condescendentes, aplaudem e aceitam esse trabalho infernal, ou ficam indiferentes.

 

            8. Observem nesses mesmos países o estado desastroso não somente da ciência, mas também dos hábitos alimentares; olhem aqueles horríveis templos dedicados aos que se alimentam de sangue e de carne, onde a fumaça dos odores [de sangue] e os gritos dolorosos incessantemente se elevam clamando aos céus.

 

            Vejam os matadouros, as casas de abate privadas, os açougues; os serviços de processamento de carne, os veículos para transporte de gado, os ranchos de criação intensiva, os mercados de animais de criação, e todos os mal cheirosos exércitos e agências ligadas ao abate, por meio dos quais uma imensa hoste de criaturas sensíveis e inofensivas é continuamente forçada a nascer apenas para que lhes seja tirada a vida de forma violenta e muitas vezes agonizante. Tudo isso para a inútil e, na verdade, prejudicial satisfação de um desejo grosseiro que não é nem normal, nem necessário e nem humano.

 

Suas Mãos Estão Cheias de Sangue

 

            9. Reflitam sobre o trabalho dos que colocam armadilhas, dos caçadores da indústria de peles, dos caçadores de aves enquanto prosseguem com suas rondas selvagens e devastadoras em meio às criaturas selvagens livres,

(p. 30)

das planícies e das florestas, para que mulheres insensatas possam cobrir e aviltar suas feminilidades com peles saqueadas e patéticas plumagens daqueles cuja fonte de existência é a mesma que a de todos eles. Como se alguém pudesse escolher aquecer e adornar o corpo unicamente às custas de endurecer e desfigurar os sentimentos compassivos da alma!

 

            10. Observem o mais vil de toda a irmandade do sangue, o “caçador por esporte” que mata pelo simples prazer do ato, quando ele promove a insensível ruína e a destruição de seus irmãos menores [sub-humanos], aqueles peludos e emplumados milagres de beleza e de formas pacientemente desenvolvidos e nutridos no seio da grande mãe.

 

            11. A igreja intitulada com o nome de Cristo jamais repudiou ou sequer mostrou desaprovação a esse pecado mortal contra o princípio e o caminho do Cristo, e que é também uma perversão desse princípio e desse caminho.

 

            Ela chegou até o ponto de ser incapaz de reconhecer esse pecado mortal e essa perversão como ofensas contra a Lei daquele Deus que ela declara ser Amor, e de reconhecê-los como uma afronta aos padrões de decência e de moralidade comuns.

 

            Os filiados a essa igreja, tanto leigos como sacerdotes – com algumas honrosas exceções – não hesitaram em tirar proveito material dessas coisas, ou em honrar esses modernos torturadores e destruidores da vida, tal como o fizeram com seus progenitores da Inquisição.

 

O Sacerdotalismo, na verdade, não pode repudiar o derramamento de sangue inocente para fins egoístas, pois ele mesmo, ao negar ao homem o único meio verdadeiro de salvação tanto da alma como do corpo – a regeneração por meio da purificação e reforma de si mesmo – instituiu, em seu lugar, a inacreditável e revoltante doutrina do sacrifício substitutivo ou redenção vicária, e com isso construiu sua teologia sobre fundamentos que ultrajam a verdadeira natureza do homem e insultam qualquer concepção da natureza da Deidade que vá além da mais baixa e mais antropomórfica.

 

“Não Matarás”

 

            12. Uma civilização cuja religião oficial tem como seu princípio fundamental uma tal distorção da divina e universal doutrina do Sacrifício,

(p. 31)

e possui tais práticas como resultado de suas crenças, não é uma civilização na qual a semente da paz, nacional ou internacional, jamais possa estabelecer raízes seguras.

 

            Do derramamento sistemático de sangue animal até o derramamento em massa de sangue humano, o passo sempre será curto, rápido e inevitável. E o espetáculo oferecido pela cristandade no ano de 1915, com seis de suas maiores e três ou quatro de suas menores potências envolvidas na mais aterradora guerra de destruição e derramamento de sangue já registrado – uma guerra na qual os primeiros quinze meses de luta resultaram no massacre de cerca de cinco milhões de seres humanos – é um espetáculo no qual, entre outras instituições perversas, a do Sacerdotalismo encontra o seu coroamento e sua mais terrível condenação. (1)

 

O que a separação da imaculada, desarmada, desapaixonada e enobrecedora doutrina do Budismo custou ao Cristianismo, deixemos que a história sangrenta e atormentada de sua igreja e de seu mundo conte por si mesma.

 

NOTAS

 

(27:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.

(28:1) Clothed With the Sun (Vestida Com o Sol), Parte I, nº. 3.

(31:1) É de grande relevância o fato de que praticamente a única potência não cristã envolvida nessa guerra seja a Turquia, cuja fé, o Islamismo, sempre teve a distinção verdadeiramente sacerdotal de ser promulgada pela força da autoridade, pela perseguição e pelo derramamento de sangue. Seu Profeta também teve uma sucessão sacerdotal.

 

 

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