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Tradução: Daniel M. Alves –
Revisão e edição:
Arnaldo Sisson Filho
[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

(p. 25)

CAPÍTULO IX

 

PUREZA, a Tônica Principal da Religião

 

            1. (*) CHEGAMOS agora a um ponto [na trajetória evolutiva da alma] em que a religião comumente passa a ser um fator de relevância prática na vida do homem. Como poderá o homem – como um ser humano que vive num mundo de sentidos – superar o sofrimento e a tristeza nascida de sua passagem por esse mundo e conduzir a sua existência da melhor forma possível, e, tornando-se consciente de sua natureza divina, estabelecer relações diretas e palpáveis entre si mesmo e Deus? “Fazendo a Vontade de Deus”, assim responde a religião.

 

            Como a Vontade Divina somente pode ser aprendida individualmente por meio da alma, e a alma somente pode perceber e transmitir aquela Vontade em sua inteireza e verdade quando ela própria está íntegra e pura, segue-se que o cerne de toda a Religião está sintetizado na idéia da Pureza, e a única forma de salvação é sua prática no mais alto grau dentro do sistema e da alma do homem. (1) Desse modo o propósito imediato da religião – quando digna desse nome – foi sempre de alguma forma estimular o homem em direção à pureza de vida, e a diferença entre um sistema religioso vivo e um morto

(p. 26)

é que o primeiro visa constantemente a purificação daquela vida interior e real do homem, a qual é a alma, enquanto que a segunda passou a se contentar com um padrão superficial de moralidade, a ser observado somente pelo homem externo.

 

            2. Agora, uma das mais deploráveis características do Sacerdotalismo é sua habitual intolerância a todas as outras formas de fé e sistemas religiosos, a despeito de sua antiguidade, autenticidade, semelhanças fundamentais e credibilidade.

 

            O Sacerdotalismo não os vê como amigos, mas como rivais e inimigos; que não devem ser entendidos, apreciados e – ao menos em parte – assimilados, mas que devem ser ignorados, depreciados e contestados.

 

            Essa atitude é justificada pelo Sacerdotalismo como sendo zelo por seus próprios princípios particulares, mas isso, na verdade, não é nada mais que intolerância nascida da ignorância. Contudo, essa é uma atitude que no longo prazo é fatal para a existência do próprio Sacerdotalismo, por conter em si um elemento de autodestruição.

 

“A Luz da Ásia”, e –

 

            3. Exatamente essa atitude em relação àquele sistema religioso em particular denominado de Budismo, que precedeu o advento do Cristianismo por cerca de cinco ou seis séculos, tem sido algo próximo de uma atitude suicida ao real sucesso do Cristianismo, tendo se provado desastrosa para sua capacidade de influenciar a todos, exceto aos ignorantes e elementares, aos preconceituosos, e às classes conservadoras ainda dominadas pelo Sacerdotalismo.

 

            Pois o fato é que a doutrina de Buda, com suas Quatro Nobres Verdades, e seu Nobre Óctuplo Caminho, sua ilimitada compaixão em relação a toda a vida senciente, seu lógico ensinamento ético de desenvolvimento através da conquista de si mesmo e da autocultura, sua simples e não obstante profunda análise do sofrimento e da tristeza com o método da libertação desses estando disponível a todos, sua regeneração completa da mente, seus elevados código de moralidade e padrão de tolerância, paz e caridade – essa doutrina é a indispensável precursora e intérprete da doutrina de Cristo. Em resumo, não são dois Evangelhos, mas

(p. 27)

dois aspectos, o externo e o interno, de um mesmo Evangelho. Pois o Budismo encontra sua tradução e complementação no Cristianismo, e o Cristianismo encontra sua concepção e seu alicerce no Budismo.

 

“A Luz do Mundo”

 

            4. Visto dessa forma, o Cristianismo, como religião, assume a obra de aperfeiçoar o homem em seu coração, a partir daquele grau de regeneração parcial a que o Budismo, como filosofia, já o conduziu em sua mente; e assim o Cristianismo descreve e trata apenas dos estágios finais de todo o grande trabalho.

 

            Se isso fosse reconhecido, as sérias deficiências referentes às bases, e aquelas falhas racionais, intelectuais e morais que confrontam os estudantes ponderados e imparciais do sistema cristão, seriam amplamente reconhecidas, e um passo adiante seria dado em direção à reabilitação, enquanto um todo vivo, da tão mutilada fé.

 

            Quão pouco conhecem o Cristianismo aqueles que conhecem somente um Jesus histórico, e deixam de levar em conta o caminho de Buda, como uma escada que deve ser subida para que se alcance o estado de Jesus!

 

NOTAS

 

(25:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.

(25:1) Para adaptar a frase de Henry David Thoreau, há em nossos dias escolas de ocultismo e volumes sobre o misticismo, mas há poucos místicos. Quantos desses professores e escritores sequer começaram a compreender que a indulgência em tais desejos como os que se expressam no apetite pelas carnes, pelo álcool e pelo tabaco – para citar apenas três desejos luxuriosos do corpo – são inimigos do crescimento e da purificação da alma? No entanto, a eliminação de tais impurezas, como Buda indicou, é um passo preliminar e essencial no caminho da regeneração até mesmo do mais elementar dualismo entre o corpo e a mente.

 

 

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