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Tradução: Daniel M. Alves

Revisão e edição: Arnaldo Sisson Filho

[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

(p. 84) 

CAPÍTULO XXXIII

 

SOBRE O VERDADEIRO JESUS (1)

 

A DESCIDA da Cruz me é mostrada. Vejo Jesus carregado por José de Arimatéia para sua casa. A casa está ligada a um sepulcro, e Jesus é carregado para a casa onde eles fazem algo para revivê-lo, pois ele estava desmaiado, e não propriamente morto. As roupas foram colocadas na sepultura, mas não Jesus. Vejo uma ruptura do pericárdio, mas não um ferimento fatal no coração. Vejo claramente que ele não está morto. Não há lesão orgânica; e a ferida cicatriza como uma ferida comum sem produzir pus, e fazem incessante limpeza com água. Que clima adorável há ali! E quão curioso é o fato de que tenha havido um José tanto no nascimento como na crucificação!

A verdade sobre o nascimento de Jesus me é mostrada. Foi com toda certeza um nascimento comum. Vejo isso muito claramente. Os nomes estão todos alterados. O nome de nascimento de Jesus não é Jesus nem algo parecido. Nada é real como eu tinha pensado. Muito pouco acontece da forma que foi relatado. O episódio em que se perde e é encontrado no templo, e a alimentação dos cinco mil são alegorias cuja significação é espiritual. Os milagres do reavivamento da filha do dirigente e do filho da viúva são fatos reais. Jesus viu de forma clarividente que o primeiro não estava morto e que o corpo não foi seriamente afetado pela doença, de modo que a alma pôde retornar a ele. Pois doença é morte gradual, e quando a morte ocorre através dela a alma se libera completamente. No caso de morte violenta ou súbita a alma demora a se soltar e a separação é um longo processo.

No seu próprio caso Jesus instruiu seus amigos de antemão sobre o que fazer.

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José de Arimatéia era um amigo de Maria Madalena, e ela conseguiu para ele os óleos necessários. Vejo-a correndo com eles através do sepulcro para a casa. Jesus não estava organicamente morto de jeito nenhum, pois o coração jamais deixou de bater. Ele conhecia de antemão todos os detalhes do evento e tomou as providências necessárias.

Nem estava Jesus bem no terceiro dia. Ele ficou pelo menos dez dias em tratamento na casa de José. Três dias é um período místico, não tendo nenhuma relação com o tempo de fato. Todos em volta dele são mulheres exceto um, o velho homem. O nome de Jesus começa com M. Não vejo outras coisas além disso.

O adepto perfeito é aquele que encontrou, em si mesmo, a Pedra Filosofal de um espírito absolutamente sereno, e está em união com a Vontade Divina. Estando isento de agitação, a empatia e a compaixão são para ele simplesmente outros nomes para justiça, e, sendo incapaz da raiva, seu temperamento é sempre tranqüilo e equânime. Vejo agora falhas em Jesus que não tinha visto antes. Estou me referindo a Jesus como ele realmente foi, e não como é descrito pelos Evangelhos. São falhas do ponto de vista do Adepto. Mostram-me uma flor da paixão (1) como o emblema de seu caráter. Ele se sacrificou pelos outros, mas teria sido capaz de fazer mais do que fez se ele tivesse sido mais cuidadoso – especialmente com relação a sua alimentação. Sua tendência de ceder continuamente à indignação ou piedade o impediu de chegar mais alto. Ele se permitiu ser levado em demasia para fora de si mesmo para que alcançasse o mais elevado possível.

Vejo-o dar adeus a seus seguidores. É em uma colina que ele ascende, e desaparece de suas vistas, sumindo na nuvem ou neblina. Agora ele se torna um eremita. Vejo-o no deserto sozinho; e lá ele alcança a vida mais elevada que se constituiu em sua verdadeira ascensão.

Jesus era capaz de influenciar pessoas à distância por meio de uma emanação que ele projetava de si mesmo; de forma que não era necessário que ele estivesse morto quando se supõe que foi visto por Paulo.

Agora vejo alguém com ele em sua montanha. É João, escrevendo o Apocalipse que era ditado por Jesus. Jesus se recorda de todas as suas encarnações anteriores, e as sintetiza no Apocalipse, que é a história tanto da sua, quanto de toda alma que chega a perfeição. Nesse período ele é um homem bem velho.

E agora vejo a pele de pantera de Baco, motivo pelo qual Jesus recebeu o nome de “Rabbi Ben Panther”, e porque se dizia que ele era filho de uma Pantera. É um jogo de palavras com Pan e theos, e significa todos os deuses. A pele da pantera

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representava a vestimenta, ou atributos, de todos os deuses, atributos que Jesus, como “Filho de Deus”, era considerado como possuidor.

É-me mostrado que apenas pouco de real valor nas Escrituras. Elas são como um amontoado de argila, relativamente moderna, com umas pepitas de ouro aqui e ali. O anjo que eu vi anteriormente, e que nos disse para queimar a Bíblia, (1) agora a põe no fogo, e dali emergem umas poucas páginas de um material original e divino. Todo o resto é interpolação ou alteração. Esse é o caso tanto do Velho Testamento como do Novo, Isaías e os profetas. Isaías é uma grande mistura. Está repleto de fragmentos de várias fontes, simplesmente ali reunidas. O livro do Gênesis é uma grande parábola; assim como todas as lendas sobre as peregrinações e guerras de Israel. Tudo está misturado com ficção. Moisés não escreveu nada disso. E o mesmo vale para todos os livros da Lei e dos profetas. Tudo foi construído dessa maneira. Aqui e ali há um pedaço original da antiga Revelação, mas esses estão amplamente intercalados por adições e embelezamentos, comentários e adaptações para as épocas feitos por copistas e intérpretes. E quando o anjo nos disse para colocar a Bíblia no fogo, ele queria dizer separar o ouro das impurezas e da argila.

Quanto aos evangelhos, eles são quase que inteiramente alegóricos. A religião não é histórica, e de forma alguma depende de acontecimentos passados. Pois, a fé e a redenção não dependem daquilo que qualquer homem fez, mas daquilo que Deus revelou. Jesus não foi o nome histórico do iniciado e adepto cuja estória é relatada. É o nome que lhe foi dado na iniciação. (2) Seu nascimento, a maneira que ocorreu, o episódio em que ele se perdeu e foi encontrado por seus pais no templo, e o ficar três dias na tumba – tudo é alegórico, bem como a história de sua Ascensão. As Escrituras são dirigidas à alma, e não fazem nenhum apelo aos sentidos externos. Toda a história de Jesus é um aglomerado de parábolas, sendo que as coisas que lhe ocorreram foram usadas como símbolos. Desse modo, a Crucificação representa os sofrimentos da alma; a Ressurreição sua transmutação; e a vida e Ascensão são uma profecia do que é possível para o homem.

O verdadeiro evangelho original é aquele de João. Os outros vieram muito depois, e todos foram escritos muito depois do tempo de Jesus. Jesus escreveu grande parte do Apocalipse pelas mãos de João, enquanto esse se sentava com ele na montanha. Isso ocorreu muitos anos depois de sua “Ascensão”, como o seu desaparecimento na colina foi designado. O Apocalipse foi antes uma recuperação do que uma composição original

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de Jesus. A vida de Jesus nos Evangelhos está composta pelas vidas de todos os divinos instrutores antes dele, e representa o melhor que o mundo possuía, bem como o melhor que o mundo possui em si mesmo por alcançar. E ela é, portanto, uma profecia. A vida escrita de Jesus sintetiza todos os instrutores que vieram antes dele, e as possibilidades que a humanidade algum dia alcançará.

Os “belos pés dos mensageiros nas montanhas” são os primeiros raios do sol nascente da salvação vindoura, vista pelos observadores em alturas espirituais – os “pastores que guiam seus rebanhos” – até mesmo seus corações e pensamentos puros. São eles os que enxergam das “montanhas” o Deus vindouro, o qual é a demonstração da divindade que está na humanidade, enquanto o mundo abaixo está envolto pela escuridão.

 

NOTAS

 

(84:1) Londres, 22 de Março de 1881. Falado em transe. Vide também Cap. XXIV. Mencionado em Life of Anna Kingsford, Vol. II, p. 4.

(85:1) N.T.: Flor de uma trepadeira de regiões quentes. A palavra “paixão” em seu nome não se refere à paixão amorosa, mas à paixão de Jesus na cruz. Por exemplo, os 72 filamentos radiais (ou coroa) representam a Coroa de Espinhos. As dez pétalas representam os apóstolos fiéis. Os três estigmas representam os três pregos e as 5 anteras representam as 5 chagas.

(86:1) Em uma visão recebida algum tempo antes. E.M.

(86:2) Vide Parte II, Cap. XI, “Hino a Febo, v. 9.

 

 

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