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(p. 60)
CAPÍTULO XXII
SOBRE O
“TRABALHO DO PODER” (2)
1. (*)
VOCÊ me perguntou se o Trabalho do Poder
é difícil, e se está ao alcance de todos.
2. Está, potencialmente e em algum momento, ao alcance
de todos, mas não na prática e no presente.
Para recuperar o
poder e a ressurreição, um homem deve ser um Hierarca;
isto é, ele deve ter alcançado a idade mágica
de trinta e três anos. Essa idade é alcançada tendo-se realizado os Doze
Trabalhos, passados os Doze Portais, conquistados os Cinco Sentidos, e obtido o
domínio sobre os Quatro Espíritos dos elementos. Ele deve ter nascido Imaculado,
ter sido batizado com a Água e o Fogo, ter sido tentado no Deserto, e ter sido
crucificado e sepultado. Ele deve ter sofrido as Cinco Chagas na
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Cruz, e deve ter respondido o enigma da
Esfinge.
Quando isso é realizado, ele está livre da matéria, e jamais voltará a ter um corpo fenomênico.
3. Quem alcançará tal perfeição? O Homem que é sem medo e sem
concupiscência; aquele que tem coragem para ser absolutamente pobre e
absolutamente casto.
Quando não faz diferença alguma para você ter ou não ter ouro, ter ou não ter uma casa e terras, ter
fama mundial ou ser um rejeitado – então você é pobre voluntariamente. Não é
necessário não possuir nada, mas é necessário não se apegar a nada.
Se não faz diferença para você ter ou não ter uma esposa ou um marido, e
ser ou não ser celibatário, então você está livre da concupiscência. Não é
necessário ser virgem; mas necessário é não dar importância à carne.
Não há nada tão difícil quanto alcançar esse equilíbrio. Quem de vocês
consegue abrir mão de seus bens sem arrependimento? Quem de vocês nunca é
consumido pelos desejos da carne?
Mas quando você tiver cessado tanto de desejar acumular quanto de arder
em desejos, então terá o remédio em suas próprias mãos, e o remédio é
desagradável, amargo e uma terrível provação. Apesar disso, não tenha medo.
Negue (*) os cinco sentidos e, em especial, o paladar e o tato.
O poder está dentro de você, se tiver a vontade de alcançá-lo.
Os Dois Assentos à Mesa Celestial estão vagos, (1)
se você se vestir com o Cristo. (**)
Não coma nada que esteja morto. Não tome bebida fermentada. Torne vivos
todos os elementos de seu corpo. Mortifique os membros que são ligados
à terra.
Tome teu alimento cheio de vida, e não permita que o toque da morte passe
sobre ele.
Você me compreende, mas recua. Lembre-se que sem auto-sacrifício não há
poder sobre a morte.
Renuncie ao tato. (*) Não
procure prazer corporal na comunhão sexual; deixe que o desejo seja magnético e
da alma. Se você cede ao corpo, perpetua o corpo, e o fim do corpo é
deterioração.
Mais uma vez você me compreende, mas recua. Lembre-se que sem
auto-sacrifício e sem autocontrole não há poder sobre a morte.
Negue (*) primeiro o paladar, e ficará mais fácil negar
(*)
o tato. Pois ser virgem é o coroamento da disciplina.
Eu te mostrei o caminho excelente, (***) e esse é a Via Dolorosa. Julgue se a ressurreição é digna da paixão; julgue se o reino é
digno da obediência; e julgue se o poder é digno do sofrimento. Quando
a hora de seu chamado chegar, você não mais hesitará.
4. Quando um homem alcançou o poder sobre seu corpo, o
processo de
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provação não é mais
necessário.
O Iniciado está sob um voto; o Hierarca é livre.
Jesus, por essa razão, veio comendo e bebendo; pois tudo lhe era lícito. Ele
tinha superado a provação, e tinha libertado sua vontade. Pois a finalidade do
teste e do voto é a polarização.
Quando o fixo é volatilizado, o Mago está livre. Mas antes de Cristo tornar-se
Cristo ele estava submisso; e sua iniciação durou trinta anos.
Todas as coisas são lícitas ao Hierarca; pois ele
conhece a natureza e o valor de tudo.
5. Quando os elementos do corpo são dotados de poder,
eles são mestres dos espíritos elementais, e podem
subjugá-los. Mas enquanto ainda estão aprisionados, eles são escravos dos
elementais, e os elementais têm poder sobre eles.
Agora, Hefesto (*) é um destruidor,
e o sopro do fogo é o toque da morte.
O fogo que passa
pelos elementos de seu alimento, priva-o de seu espírito vital, resultando em um
cadáver ao invés de uma substância viva. E não só isso, mas também
o espírito do fogo entra nos elementos do seu corpo, e introduz em todas
as suas moléculas uma ânsia que exaure e um ardor compulsivo, lhe impelindo à
concupiscência e ao desejo carnal.
O espírito do fogo
é um espírito sutil, um espírito penetrante, que se dissemina, e que entra na
substância de toda matéria sobre a qual atua. Quando, portanto, você traz essa
substância para dentro do seu organismo, leva com ela o espírito do fogo, e o
assimila junto com a matéria da qual esse espírito se tornou
parte.
Eu lhe falo de coisas elevadas. Se você vai se tornar um homem de poder,
deve tornar-se mestre do fogo.
O homem que busca ser um hierofante, não deve habitar em cidades. Ele
pode começar sua iniciação em uma cidade, mas nela não pode completá-la. Pois
ele não deve respirar o ar morto e queimado. Na cidade você respira o ar sobre o
qual a chama passou; você respira o fogo, e ele consome o seu sangue.
O homem que busca todo o poder deve ser um andarilho, um habitante dos
campos, dos pomares e das montanhas. Ele deve buscar o sol, e o alento da noite.
Deve comungar com a lua e as estrelas, e manter contato direto com as grandes
correntes elétricas do ar não-queimado, e com a grama e com o solo não
pavimentado do planeta. É
em lugares não freqüentados, ou em terras como aquelas do Oriente, em regiões em
que as abominações da Babilônia são desconhecidas, e onde a corrente magnética
entre o céu e a terra é forte – que o homem que busca o poder, e que realizará o
Grande Trabalho, deve completar sua iniciação.
6. O número do microcosmo humano é treze; quatro
para
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o corpo externo,
quatro para o corpo sideral, quatro para a alma, e um para o Espírito Divino.
Pois, embora o Espírito seja Trino, ele é Um, e não pode ser senão Um; porque
ele é Deus, e Deus é Um. Por esse motivo, na Santa Ceia – na
qual os
Magos simbolizam o Banquete do Microcosmo – há doze componentes apóstolos e um
Cristo. Mas se um dos componentes for desobediente e traidor, o Espírito é
sufocado e sobrevém a morte.
notas
(60:*) N.T.: Essa numeração
indica os parágrafos no original, em inglês.
(60:2) Londres, dezembro de 1880. Recebida durante
o sono. Este capítulo “refere-se a almas de tal modo adiantadas que estão muito
perto de se desvincular da materialidade e de não mais precisar das lições da
vida terrena” (Carta, datada de 8 de agosto de 1890, de E.M. para a Sra. T.) Vide Life of Anna Kingsford, Vol. I, pp.
408-410. S.H.H.
(61:*) N.Ed.: Negar, no
sentido de não ceder à ilusão e à gratificação dos sentidos.
(61:1) Ver Capítulo XVIII, “Sobre os Mistérios
Gregos”. Ver também, Sonhos e Estórias de Sonhos, Capítulo IX,
“O Banquete dos Deuses”.
(61:**) N.Ed.: Parece
perfeita a correspondência com a imagem do Apocalipse, que dá o titulo à obra das Iluminações de Anna
Kingsford: a “mulher vestida com o sol” (Apoc.
12:1), a alma vestida com o Cristo, o sol da consciência espiritual.
(61:***) O
Caminho Perfeito, que também é o título da obra magna de Kingsford e
Maitland.
(62:*) N.T.: Na mitologia
grega: Deus do Fogo, dos metais e da metalurgia; conhecido como o artesão
divino. Corresponde a Vulcano na mitologia romana.
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