Índice Geral das Seções   Índice da Seção Atual   Índice da Obra   Anterior: XXI - Sobre o “Homem de Poder”   Seguinte: XXIII – Sobre a Regeneração

 

 

Tradução: Daniel M. Alves
Revisão e edição: Arnaldo Sisson Filho

[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

(p. 60)

CAPÍTULO XXII

 

SOBRE O “TRABALHO DO PODER” (2)

 

 1. (*) VOCÊ me perguntou se o Trabalho do Poder é difícil, e se está ao alcance de todos.

2. Está, potencialmente e em algum momento, ao alcance de todos, mas não na prática e no presente.

Para recuperar o poder e a ressurreição, um homem deve ser um Hierarca; isto é, ele deve ter alcançado a idade mágica de trinta e três anos. Essa idade é alcançada tendo-se realizado os Doze Trabalhos, passados os Doze Portais, conquistados os Cinco Sentidos, e obtido o domínio sobre os Quatro Espíritos dos elementos. Ele deve ter nascido Imaculado, ter sido batizado com a Água e o Fogo, ter sido tentado no Deserto, e ter sido crucificado e sepultado. Ele deve ter sofrido as Cinco Chagas na

(p. 61)

Cruz, e deve ter respondido o enigma da Esfinge.

            Quando isso é realizado, ele está livre da matéria, e jamais voltará a ter um corpo fenomênico.

3. Quem alcançará tal perfeição? O Homem que é sem medo e sem concupiscência; aquele que tem coragem para ser absolutamente pobre e absolutamente casto.

Quando não faz diferença alguma para você ter ou não ter ouro, ter ou não ter uma casa e terras, ter fama mundial ou ser um rejeitado – então você é pobre voluntariamente. Não é necessário não possuir nada, mas é necessário não se apegar a nada.

Se não faz diferença para você ter ou não ter uma esposa ou um marido, e ser ou não ser celibatário, então você está livre da concupiscência. Não é necessário ser virgem; mas necessário é não dar importância à carne.

Não há nada tão difícil quanto alcançar esse equilíbrio. Quem de vocês consegue abrir mão de seus bens sem arrependimento? Quem de vocês nunca é consumido pelos desejos da carne?

Mas quando você tiver cessado tanto de desejar acumular quanto de arder em desejos, então terá o remédio em suas próprias mãos, e o remédio é desagradável, amargo e uma terrível provação. Apesar disso, não tenha medo.

Negue (*) os cinco sentidos e, em especial, o paladar e o tato.

O poder está dentro de você, se tiver a vontade de alcançá-lo.

Os Dois Assentos à Mesa Celestial estão vagos, (1) se você se vestir com o Cristo. (**)

Não coma nada que esteja morto. Não tome bebida fermentada. Torne vivos todos os elementos de seu corpo. Mortifique os membros que são ligados à terra.

Tome teu alimento cheio de vida, e não permita que o toque da morte passe sobre ele.

Você me compreende, mas recua. Lembre-se que sem auto-sacrifício não há poder sobre a morte.

Renuncie ao tato. (*) Não procure prazer corporal na comunhão sexual; deixe que o desejo seja magnético e da alma. Se você cede ao corpo, perpetua o corpo, e o fim do corpo é deterioração.

Mais uma vez você me compreende, mas recua. Lembre-se que sem auto-sacrifício e sem autocontrole não há poder sobre a morte.

Negue (*) primeiro o paladar, e ficará mais fácil negar (*) o tato. Pois ser virgem é o coroamento da disciplina.

Eu te mostrei o caminho excelente, (***) e esse é a Via Dolorosa. Julgue se a ressurreição é digna da paixão; julgue se o reino é digno da obediência; e julgue se o poder é digno do sofrimento. Quando a hora de seu chamado chegar, você não mais hesitará.

4. Quando um homem alcançou o poder sobre seu corpo, o processo de

(p. 62)

provação não é mais necessário.

            O Iniciado está sob um voto; o Hierarca é livre. Jesus, por essa razão, veio comendo e bebendo; pois tudo lhe era lícito. Ele tinha superado a provação, e tinha libertado sua vontade. Pois a finalidade do teste e do voto é a polarização.

            Quando o fixo é volatilizado, o Mago está livre. Mas antes de Cristo tornar-se Cristo ele estava submisso; e sua iniciação durou trinta anos.

            Todas as coisas são lícitas ao Hierarca; pois ele conhece a natureza e o valor de tudo.

5. Quando os elementos do corpo são dotados de poder, eles são mestres dos espíritos elementais, e podem subjugá-los. Mas enquanto ainda estão aprisionados, eles são escravos dos elementais, e os elementais têm poder sobre eles.

Agora, Hefesto (*) é um destruidor, e o sopro do fogo é o toque da morte.

O fogo que passa pelos elementos de seu alimento, priva-o de seu espírito vital, resultando em um cadáver ao invés de uma substância viva. E não só isso, mas também o espírito do fogo entra nos elementos do seu corpo, e introduz em todas as suas moléculas uma ânsia que exaure e um ardor compulsivo, lhe impelindo à concupiscência e ao desejo carnal.

O espírito do fogo é um espírito sutil, um espírito penetrante, que se dissemina, e que entra na substância de toda matéria sobre a qual atua. Quando, portanto, você traz essa substância para dentro do seu organismo, leva com ela o espírito do fogo, e o assimila junto com a matéria da qual esse espírito se tornou parte.

Eu lhe falo de coisas elevadas. Se você vai se tornar um homem de poder, deve tornar-se mestre do fogo.

O homem que busca ser um hierofante, não deve habitar em cidades. Ele pode começar sua iniciação em uma cidade, mas nela não pode completá-la. Pois ele não deve respirar o ar morto e queimado. Na cidade você respira o ar sobre o qual a chama passou; você respira o fogo, e ele consome o seu sangue.

O homem que busca todo o poder deve ser um andarilho, um habitante dos campos, dos pomares e das montanhas. Ele deve buscar o sol, e o alento da noite. Deve comungar com a lua e as estrelas, e manter contato direto com as grandes correntes elétricas do ar não-queimado, e com a grama e com o solo não pavimentado do planeta. É em lugares não freqüentados, ou em terras como aquelas do Oriente, em regiões em que as abominações da Babilônia são desconhecidas, e onde a corrente magnética entre o céu e a terra é forte – que o homem que busca o poder, e que realizará o Grande Trabalho, deve completar sua iniciação.

6. O número do microcosmo humano é treze; quatro para

(p. 63)

o corpo externo, quatro para o corpo sideral, quatro para a alma, e um para o Espírito Divino. Pois, embora o Espírito seja Trino, ele é Um, e não pode ser senão Um; porque ele é Deus, e Deus é Um. Por esse motivo, na Santa Ceia – na qual os Magos simbolizam o Banquete do Microcosmo – há doze componentes apóstolos e um Cristo. Mas se um dos componentes for desobediente e traidor, o Espírito é sufocado e sobrevém a morte.

 

notas

 

(60:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.

(60:2) Londres, dezembro de 1880. Recebida durante o sono. Este capítulo “refere-se a almas de tal modo adiantadas que estão muito perto de se desvincular da materialidade e de não mais precisar das lições da vida terrena” (Carta, datada de 8 de agosto de 1890, de E.M. para a Sra. T.) Vide Life of Anna Kingsford, Vol. I, pp. 408-410. S.H.H.

(61:*) N.Ed.: Negar, no sentido de não ceder à ilusão e à gratificação dos sentidos.

(61:1) Ver Capítulo XVIII, “Sobre os Mistérios Gregos”. Ver também, Sonhos e Estórias de Sonhos, Capítulo IX, “O Banquete dos Deuses”.

(61:**) N.Ed.: Parece perfeita a correspondência com a imagem do Apocalipse, que dá o titulo à obra das Iluminações de Anna Kingsford: a “mulher vestida com o sol” (Apoc. 12:1), a alma vestida com o Cristo, o sol da consciência espiritual.

(61:***) O Caminho Perfeito, que também é o título da obra magna de Kingsford e Maitland.

(62:*) N.T.: Na mitologia grega: Deus do Fogo, dos metais e da metalurgia; conhecido como o artesão divino. Corresponde a Vulcano na mitologia romana.

 

 

Índice Geral das Seções   Índice da Seção Atual   Índice da Obra   Anterior: XXI - Sobre o “Homem de Poder”   Seguinte: XXIII – Sobre a Regeneração