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Tradução: Daniel M. Alves
Revisão e edição: Arnaldo Sisson Filho

[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

(p. 63)

CAPÍTULO XXIII

 

SOBRE A REGENERAÇÃO (1)

 

1. (*) A DIFERENÇA entre o “Filho de Deus” e um mero profeta é que o primeiro já nasceu regenerado e é, portanto, referido como tendo “nascido de uma virgem”. (2)

            Mas a regeneração é a união da alma com o espírito, e não é um processo no qual o corpo participa.

            No “Batismo” Jesus recebeu o Éon (**), ou “Pomba”, e foi preenchido com o Espírito Santo, tornando-se um Médium para o Altíssimo.

            O Cristo é instruído de seu próprio interior e “não necessita de que ninguém lhe fale, pois ele sabe o que há no homem” [João 2:25]. Mas o adepto recebe do exterior, e é instruído por outros.

2. O adepto, ou “ocultista” é, na melhor das hipóteses, um cientista da religião, ele não é um “santo”.

Se o ocultismo fosse tudo, e contivesse a chave do céu, não haveria necessidade do “Cristo”. Mas o ocultismo, ainda que tenha consigo o “poder”, não possui nem o “reino” nem a “glória”. Pois esses são do Cristo.

O adepto não conhece o reino dos céus, e o “menor desse reino é maior do que ele” [Marcos 10:31]. “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça; e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” [Mateus 6:33]. Como Jesus disse de Prometeu, (3) “Não vos preocupeis com o amanhã. Aprendei com os pássaros do céu e os lírios do campo, e confie em Deus como esses o fazem” [Mateus 6:25-29].

Pois os santos têm fé; e o adepto, conhecimento. Se os adeptos do ocultismo ou da ciência do mundo físico bastassem

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ao homem, eu não teria lhes transmitido mensagem alguma. Mas as duas coisas não estão em oposição. Todas as coisas são suas, mesmo o reino e o poder, mas a glória é de Deus. Não ignore seus ensinamentos, pois vocês devem tudo conhecer. Use, portanto, de todos os meios para conhecer.

            Esse conhecimento é do homem, e advém da mente. Dirija-se, portanto, ao homem para aprendê-lo. “Se você quer ser perfeito, aprenda também essas coisas”.

            “Mas a sabedoria que é do alto, está acima de todas as coisas”. Pois um homem pode começar do interior, isto é, com a sabedoria, e a sabedoria é una com o amor. Abençoado é o homem que opta pela sabedoria, pois ela transforma todas as coisas. E outro homem pode começar do exterior, e aquilo que está no exterior (*) é poder.

            Para esse último haverá um espinho na carne. (1) Pois é difícil nesse caso alcançar o interior.

            Mas se um homem for primeiro sábio interiormente, ele receberá isso mais facilmente e por acréscimo. Pois ele nasceu novamente e é livre. Enquanto que o adepto tem que comprar sua liberdade a um alto preço.

            Apesar disso, peço-lhes que busquem; e nisso vocês também encontrarão.

            Mas eu lhes mostrei um caminho mais elevado que os deles. E, contudo, tanto Ismael como Isaac são filhos de um mesmo pai, e em todos os seus descendentes é a Sabedoria confirmada.

            Assim, nem eles estão errados, nem vocês desviados do reto caminho. A meta é a mesma; mas o caminho deles é mais difícil que o de vocês. Eles conquistam o reino pela violência – quando o conseguem – com muito sacrifício e sofrimento na carne.

            Mas desde o momento do Cristo dentro de você, (**) o reino é aberto aos filhos de Deus. Recebam o que puderem receber; vocês devem conhecer todas as coisas. E se vocês serviram sete anos pela sabedoria, não contem como perda servir sete anos também pelo poder.

            Pois se Raquel dá à luz o bem amado, Lia teve muitos filhos, e é abundantemente fértil. Mas seu olhar não é reto; ela olha em duas direções, e não busca apenas o que é do alto.

            Mas para vocês Raquel é dada em primeiro lugar, e talvez sua beleza possa ser o suficiente. Mas não estou dizendo que isso tenha que bastar; é melhor conhecer todas as coisas, pois se não se conhece tudo, como se poderia julgar todas as coisas? Pois de acordo com o que o homem conheceu, assim ele deve julgar.

            Irão vocês regenerarem-se no externo assim como no interno? Pois eles foram renovados no corpo, mas vocês na alma.

            É bom ser batizado no batismo de João, se um homem recebe também o Espírito Santo. Mas alguns não têm sequer o conhecimento de que há um Espírito Santo.

            Mas Jesus também, sendo ele mesmo regenerado no espírito, buscou pelo batismo de João, pois esse batismo levou-o a tornar-se completo em todas as coisas. E tendo isso cumprido, vejam, a “Pomba” desceu sobre ele.

            Se, então, vocês querem ser perfeitos, busquem

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tanto aquilo que está dentro como o que está fora; e o círculo do ser, que é a “roda da vida”, estará completa em vocês. (1)

 

notas

 

(63:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.

(63:1) Londres, junho de 1881. Recebida durante o sono, em resposta a um questionamento nosso a respeito da conveniência de se estudar a ciência oculta. E.M. Mencionado em Life of Anna Kingsford, Vol. II, pp. 97-98.

(63:2) I.e. sua própria alma purificada da contaminação da materialidade – sendo a alma sempre a “mãe” do homem místico ou interior. Ver “definições”, no Apêndice. E.M.

(63:**) N.T.: Éon – um termo que, dentro da literatura gnóstica, se refere a seres espirituais emanados de origem divina, e dos quais há múltiplas instâncias.

(63:3) Termo que significa pré-ocupação com o futuro. O alerta aqui é contra a ansiedade indevida e a inquietação por parte da alma enquanto trilha o caminho do dever, o que implicaria falta de confiança na providência divina. Ver Apêndice, nota J. E.M.

(64:*) N.T.: Por “aquilo que está no exterior” entende-se aí o conhecimento científico das coisas – tanto da ciência oculta, quanto da ciência do mundo físico.

(64:**) N.Ed.: Desde o momento em que o Cristo interior – “o Cristo em vós, a esperança da glória” do apóstolo Paulo [Colossenses 1:27] – se manifesta, ou é realizado.

(64:1) I.e., a carne é ela mesma o seu espinho. E.M.

(65:1) A interpretação acima acerca de Raquel e Lia, como nós posteriormente averiguamos, está de acordo com a Kabala. E.M. 

 

 

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