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Tradução: Daniel M. Alves
Revisão e edição: Arnaldo Sisson Filho

[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

(p. 55)

CAPÍTULO XX

 

SOBRE A GRANDE PIRÂMIDE E AS INICIAÇÕES ALI REALIZADAS (1)

 

VEJO a Grande Pirâmide e posso lhe falar sobre ela. Meu gênio me diz que o número de pirâmides no Egito corresponde ao número de mistérios dos Deuses. Ninguém ainda descobriu com exatidão o propósito da maior delas. Foi construída apenas para servir às iniciações. Vejo um candidato e sete ou oito hierofantes andando em procissão, com tochas, através das passagens. Cada passagem representa um mistério, a principal delas levando à “câmara do rei”, a qual representa os mistérios maiores. A “câmara da rainha” representa os mistérios menores. A arca na câmara do rei é uma medida representando o padrão da perfeita Humanidade [perfeição Humana]. E, nessa arca o candidato era colocado em sua iniciação final.

            Parece-me que eu mesma já estive lá em uma ocasião. Minhas sensações com relação a isso são como uma memória. Ela não foi construída para ser uma profecia, mas pode servir como uma profecia. Nela estão simbolizadas todas as Viagens pelo Deserto, isto é, a história da alma no deserto do corpo. Ao representar a alma do indivíduo, ela também representa a alma da raça, e desse modo é realmente uma profecia.

            O novo nascimento tem lugar na câmara do rei. É o último estágio. Uma pessoa pode ser iniciada diversas vezes em várias encarnações; mas ela é regenerada de uma vez por todas. O “batismo” tinha lugar na câmara da rainha. Ele pertencia aos mistérios menores. Ele não é nem iniciação, nem regeneração, mas purificação. Há quatro estágios a serem vencidos antes da iniciação final. Eles correspondem aos quatro elementos: terra, fogo, água e ar; os quais, respectivamente, dizem respeito às quatro divisões correspondentes da natureza humana – o corpo, o fantasma ou perispírito [invólucro da alma, corpo astral], a alma e o espírito, que são os quatro rios do Éden. E o candidato deve ser testado e provado em cada um deles pelo “tentador”.

            O iniciado era acompanhado por sua madrinha ou “mãe”, que era uma sacerdotisa ou Sibila. O segredo central dos Mistérios era

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a árvore da vida no meio do jardim. Imortalidade, o segredo da Transmutação, ou da transformação da “água” (substância) em “vinho” (espírito). Tal façanha, apenas “Issa” – filho de Ísis – ou Jesus, é capaz de realizar. Ó segredo incompreensível, quem te compreenderá! Uma alma, como já foi dito, pode ser iniciada mais de uma vez, em diversas vidas, mas apenas uma vez regenerada. Pois ela – a alma – pode somente uma vez ser nascida do espírito, ou “sabedoria”. Ser regenerado é nascer para a vida espiritual, e ter unificado a vontade individual à Vontade Divina.

            Essa união das duas vontades constitui o casamento espiritual, a realização do qual está representada nos Evangelhos na parábola das bodas [casamento] de Caná na Galiléia. Esse casamento Divino, ou a união das vontades humana e Divina, é indissolúvel; daí a idéia da indissolubilidade do casamento humano. E na medida em que é um casamento do espírito do homem com aquele de Deus, e do espírito de Deus com o do homem, é um duplo casamento.

            Vejo a cerimônia de fato sendo realizada. O hierofante representa o Espírito Divino; e ele e o candidato estão um diante do outro e, com os braços entrecruzados, seguram um nas mãos do outro. Uma alma pode ser parcial e momentaneamente iluminada pelo Espírito; o Espírito pode mesmo descer sobre um indivíduo, tornando-o um profeta, e partir deixando-o não-regenerado, e fora do reino de Deus – como aconteceu com João Batista. Mas é tão somente o casamento Divino que se constitui na regeneração, o sacramento do eterno casamento. Em conseqüência dessa união íntima a própria alma renasce, e seus recessos mais íntimos são divinamente iluminados. Acerca de um casamento dessa natureza, os Patriarcas eram ignorantes. A ligação deles com o Espírito era eventual e breve, sendo, portanto, representada como o viver em concubinato.

            Temos aqui a razão porque a Taça é negada aos leigos. “De qualquer árvore”, foi dito ao Adão não-iniciado, “podes colher livremente. Mas da árvore do conhecimento não podes colher”. O vinho é o espírito da verdade interior, cujo entendimento dá a vida eterna; e a isso o povo não pode ainda alcançar. Eles podem receber apenas o pão, que representa somente o elemento da substância. Esse, contudo, também contém o espírito, embora não manifestado e não reconhecido.

            Vejo agora a pirâmide distintamente. No que diz respeito aos seus construtores, ela foi inteiramente construída para as iniciações. Nesses cerimoniais o Junco tinha um importante papel, bem como nos mitos sagrados em geral. Assim, Moisés foi posto em um cesto de junco.

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A divindade hindu Kartikya foi abrigada na infância por juncos. Os mistérios de Ceres, ou Deméter, eram carregados em cestos de junco, chamados canephorae; e o estágio final da iniciação de Jesus está localizado em Caná. Um junco também foi colocado em sua mão, por ocasião de sua condenação. E a virgem, na iniciação do casamento sagrado, também levava um junco com um copo [de flor]. Isso porque o junco simboliza o espírito, tanto por ser uma vara reta, quanto por crescer dentro e para fora da água, a qual simboliza a alma. Na Índia o Lótus tem o mesmo significado. Eu percebo que Jesus foi iniciado nos mistérios da Índia e do Egito, muito tempo antes dele ter encarnado como Jesus, e parece-me que ele tenha sido um brâmane.

            Os egípcios e os hindus parecem ser da mesma raça, tendo seus mistérios em comum. Pois me é mostrado um indivíduo de cada povo montando juntos em um elefante. Ambos os países foram colonizados na mesma época a partir do Tibet, e daí se originam (1) todos os mistérios. No Egito as iniciações eram geralmente realizadas em pirâmides e templos. Na Índia e na Palestina elas eram realizadas debaixo da terra, em cavernas. Em Caná da Galiléia, há uma grande caverna, que era usada para esse fim, com um salão de “banquetes”.

            Estou contando as pirâmides. Vejo trinta e seis, mas penso que há mais. (2)

 

NOTAS

 

(55:1) Londres, 22 de março de 1881. Falado em transe. Citado em Life of Anna Kingsford – Vol. II, p. 3.

(57:1) Aqui está indicada mais uma explicação para a parábola do Dilúvio. Tibet, como Tebas, significa Arca; e se, como há muito se supõem, O Tibet foi em algum momento a única morada do conhecimento espiritual no mundo, e centro de onde foi difundido, pode ser dito acerca dos antigos mistérios tibetanos, assim como dos integrantes da Arca [de Noé]: “Por eles toda a terra foi coberta”. [Gênesis 9:19] São dignos de nota os fatos de que o Tibet é o mais elevado planalto do globo, e que a palavra Ararat é idêntica à palavra Arhat, o termo hindu para o topo da realização espiritual. E.M.

(57:2) Quanto ao método da recuperação dessas recordações, veja a nota no final do capítulo XXXII.

 

 

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