Índice Geral das Seções Índice da Seção Atual Índice da Obra
Anterior: XVII - Sobre os Deuses
Seguinte: XIX - Sobre a Origem do Mal, e a Árvore como o Modelo da
Criação
[Tradução: Arnaldo Sisson Filho. Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]
(p. 48)
Capítulo XV
Sobre os Mistérios Gregos (1)
Na celebração dos mistérios de Phoibos Apollo era proibido comer
qualquer coisa sobre a qual o fogo terrestre houvesse passado. Portanto,
toda a comida de seus devotos era preparada ao sol, e seu sacrifício
principal consistia em frutas das altas árvores, amadurecidas pelos
raios do sol.
Estavam associados com esses mistérios de Apollo aqueles de Zeus
e Hera, o Rei e a Rainha, pois tanto o homem como a mulher são admitidos
ao mais elevado; e também porque Eva e Adão, sendo desse modo iniciados,
se alimentavam somente de frutos não cozidos;
e, em um dos sentidos históricos da alegoria, Eva e Adão foram os
primeiros Mensageiros. Era, portanto, uma ofensa a Phoibos e Zeus, que
seus devotos comessem qualquer coisa pela qual tivesse passado o fogo,
ou qualquer vinho fermentado. Seu vinho era o puro suco da uva bebido
fresco, e seu pão era ázimo (sem fermento ou levedura) e preparado ao
sol.
Os últimos Mensageiros precisam ser iniciados, como foram Eva e
Adão, nesses mais internos e mais elevados mistérios da perfeita
humanidade, o qual se constitui na mais elevada de todas as castas, e
intitulam àqueles que os atingiram a sentarem-se nos assentos dourados.
(2)
Esses mistérios tem também um significado interno, que não é
difícil de descobrir.
Nos mistérios de Phoibos e Zeus, o iniciado atingiu à condição de
um grande Hierofante. (“Veja! Eu te conto todas as coisas.”) Ele era
iluminado pelo “sol”, e estava no quarto circulo interior de espíritos,
o qual é aquele dos Cristos de Deus.
(3) Para esse círculo
interior Jesus de Nazaré visou passar após seu ressuscitar, como estava
implícito quando ele disse: “Não mais beberei da uva até que eu beba seu
novo sangue no reino
de Deus.”
(p. 49)
Nos mistérios de Hermes, o segundo círculo – O Deus que guarda a
Alma – era proibido comer qualquer criatura que tivesse vida, ou,
melhor, que tivesse olhos que vissem.
(4) Pois Hermes é o
Vidente. Seus devotos partilhavam somente alimentos vegetais, que podiam
ser cozidos com fogo terrestre, e de vinho, que podia ser fermentado.
A seguir, na ordem, havia as orgias de Her, que surgiu do mar; e nessas
os iniciados podiam comer peixe que fosse realmente peixe, com
barbatanas e escamas, mas assado no fogo, não cru. Por essa razão, como
aquela Deusa é o Anjo da Harmonia, ou da Doce Canção, comer peixe
tornou-se um símbolo de amor e união fraternais; e dois pequenos peixes
juntos eram o modelo místico de crianças pequenas vivendo juntas em
unidade ou caridade.
(5) Pois os peixes nadam
em pares; e Ele que pescava homens, os atraiu para si por meio do amor.
E todos os pescadores estavam sob a proteção da Rainha do Mar. Há duas
verdades místicas que pertencem aos mistérios de Maria, a Estrela do
Mar; e elas são, em seu sentido interior, os dois peixes que Jesus deu à
multidão. Sobre isso depois eu falarei mais, quando lhe falar sobre as
doze cestas de pão. Pois essas são as cestas que as doze virgens
carregavam nas orgias divinas.
Nos mistérios de Baco era permitido ao círculo externo que
comesse, se de fato desejassem, toda a carne salva dos impuros. Isto é,
poderiam comer de todos os animais limpos dos campos e os pássaros do
ar. Essa era a quarta e a mais inferior das castas. Porém, os devotos de
Iaco (o Baco místico), tendo conhecimento sobre todos os ritos mais
elevados, abstiveram-se destas coisas, embora as permitissem para a
multidão, que apenas participavam corporalmente dos ritos. Porque nenhum
daqueles que eram devotos de Dionísio (ou Iaco) não eram iniciados nos
ritos de Demeter e Afrodite. E por essa razão havia como substitutos aos
mistérios de Dionísio aqueles de Ceres, a Mãe Terra, nos quais o uso de
carne era totalmente proibido. Por esse motivo também não se ouve falar
sobre os mistérios de Baco, a não ser com relação ao vinho, seja
fermentado ou não; pois o significado interior de seus ritos tinha
relação com a verdade e com o significado das coisas. As orgias de Ceres
e Baco eram, assim, unidas, a Deusa sendo honrada em seu pão, e o Deus
em seu cálice da verdade. Pois, nessas orgias, esses são corpo e
espírito, sólido e fluido, externo e interno, eles abrangem todas as
coisas na terra e no céu.
E além do círculo de Dionísio, havia ainda outro – aquele de
(p. 50)
um Deus que também de fato tinha as suas orgias, mas essas eram
proibidas, salvo em certas nações violentas e em tempos bárbaros. Pois,
nos mistérios de Ares, o Homem da Guerra, eles ofereciam sacrifício e
comiam carne humana e carne de cavalo, o qual também guerreava junto com
o homem. Isso porque esse círculo está fora do reino dos círculos
quádruplos, e pertencia aos animais de rapina. E sua estrela é vermelha,
assim como o sangue dos que foram mortos. Mas as orgias de Ares, aquele
de cabeça de Carneiro, por nenhum homem eram celebradas, salvo na
guerra; e aquele que conhecia o Deus não poupava sua vida, mas
livremente sacrificava a si mesmo (na guerra). Porque era uma abominação
comer no altar de Ares em tempo de paz.
Contudo, Ares tinha também seu significado interior – Ó
Conhecimento, vós sois difícil de acessar! O Cavalo (que é o símbolo do
intelecto) morreu por vós, e o Guerreiro está trespassado. Vós sois o
Homem da Guerra, e de ferro são as rodas de vossa biga!
As Escrituras Hebraicas descrevem o Senhor Jeová, ou Logos, como
operando como Espírito do quinto círculo, quando elas falam de Deus como
um Homem de Guerra. E o Livro da Sabedoria (xviii, 15) assim O
representa. Pois a Palavra Divina assume muitas formas, aparecendo
algumas vezes como um, algumas vezes como outro, de Seus Sete Anjos, ou
Elohim. Esses são apenas Sete; porque esse número compreende todos os
Espíritos de Deus. De modo que quando o sétimo é ultrapassado, a oitava
inicia novamente, e a mesma série de processos é repetida fora, como
reflexos das mesmas Sete Luzes – tornando-se, pela distância, cada vez
mais fracas.
Veja que acima de todas as coisas tu ensines a doutrina das
Castas. Os Cristãos cometeram um sério erro ao exigir a mesma regra para
todas as pessoas. As castas são como escadas pelas quais se pode
ascender do mais baixo para o mais elevado. Elas são, apropriadamente,
graus espirituais, e não tem nenhuma relação com a condição externa da
vida. Como todas as outras doutrinas, aquela das castas tem sido
materializada. As castas são em número de quatro, e correspondem à
natureza quádrupla do homem.
Os Daimons, Anjos da Guarda, ou Gênios pertencem à ordem dos Serafins,
ou Serpentes da Luz, os quais circundam e surgem da esfera suprema. Daí
a ideia da serpente como um anjo caído, os astrais sendo serpentes de
fogo, surgindo do Hades, ou – o material e astral – mundo inferior, o
qual é o anverso (ou reverso) do superior.
Vênus, ou Afrodite, é a Harmonia celestial – aquele unificador
poder de simpatia que purifica, ilumina e embeleza. A Maçã em sua mão é
o Cosmos (significando o mundo sustentado e redimido pelo Amor).
(p. 51)
A Coruja, sagrada para Palas, e o Gato, sagrado para Hermes, são
modelos do Vidente. Pois Sabedoria e Compreensão podem ver coisas nos
lugares escuros.
A Pilhagem (ou Roubo) dos Egípcios tem uma referência secundária
quanto à apropriação de seus mistérios sagrados pelos hebreus. A
principal referência é sobre o enriquecimento e edificação da alma por
meio de lições obtidas pelas experiências do corpo, simbolizado como
Egito.
O Ar, Palas é a descendência de Éter (Ether), Júpiter, ou
Substância original, em seu aspecto masculino. O Éter é universalmente
difundido, penetrando todos os lugares, ou, melhor dizendo, impossível
de ser excluído de qualquer lugar. Os átomos giratórios dos mais densos
sólidos se movimentam (giram, revolvem) no éter, assim como fazem os
planetas no espaço. Em certo sentido, Éter
é
o espaço.
A Alma, Perséfone, é a filha da Terra, Demeter ou Movimento e de Éter,
Zeus ou Repouso, respectivamente o visível e o invisível. Para aquele
que conhece os mistérios de Demeter ou Ceres, o alimentar-se de carne é
uma abominação.
Esses mistérios continham, entre outras coisas, a relação da alma
com os elementos pelos quais está envolvida por dentro e por fora
–
a saber, pelo movimento e matéria pelo lado de fora, e pelo repouso e
espírito pelo lado de dentro. Portanto, Demeter e seus mistérios são de
profunda importância, e estão relacionados aos segredos mais internos.
Como a força que faz com que o espírito se torne manifestado como
matéria ou terra, ela é a Mãe-Terra e o poder pelo qual ocorre a
germinação. Constituindo tudo o que é fixo e sólido, ela é criação, ou
manifestação através da ação ou movimento, o invisível tornado visível.
E a ela é devido o fenomênico ou ilusório, pelo qual sua filha Perséfone
– ou a alma – é atraída para fora e para baixo. Ilusão, o corpo “ígneo”
ou elétrico gerado pelo movimento, e operando como um véu para ocultar a
realidade interna, é Maya e Glamour (Fascínio, Atração); e a alma, ao
seguir esse, é arrastada a Hades por seu regente Plutão (o Deus
especialmente dos ricos, eles próprios ilusórios como produtos da
terra). Comendo a Maçã Mística (a “Maçã” de Eva), o volátil torna-se
alquimicamente fixo, a alma é incorporada ao corpo e, pelo menos em
parte, materializada, e não é mais “virgem” ou pura, porque está casada
à carne e aos sentidos. Devido à súplica de sua mãe, que temia sua total
imersão na matéria, e consequente perdição final, Zeus concede que ela
possa dividir sua existência entre os dois mundos ou condições, a
terrena e a celestial, sendo – enquanto no inferior – Rainha das Sombras
ou daqueles que dormem, estando inconscientes das coisas espirituais.
(p. 52)
Assim, o corpo volátil ou astral, o qual é a imediata
manifestação da alma, é o filho – ou produto – do Movimento; e o
Movimento é o filho do Tempo (Cronos ou Saturno) e da Substância, a qual
é Rea, ou o Espírito Santo em seu aspecto feminino. Esta última é a
Grande Mãe, a original Panteia. A produção do corpo material pela
fixação das partículas do corpo volátil vem da reversão (ou inversão)
dos polos daquelas partículas, por meio da tendência para o externo da
vontade do indivíduo, e sua separação, ou divergência, da vontade Divina
ou central.
A força pela qual Zeus, o espírito central, produz a alma ou
corpo etéreo, e o qual também a alma usa para projetar-se ainda mais
longe, é a mesma força pela qual o sistema é transmutado e aspirado
outra vez para seu centro Divino e tornado volátil. A força é uma só, é
a vontade e a direção que são várias.
Em um sentido, Perséfone é o grão de trigo; Ceres, o solo; e
Hades, a escuridão que esconde o grão, até que, sob a influência solar,
ele emerge e retorna à luz. Foi devido a um mal entendido dos mistérios
de Ceres, e do significado verdadeiro da ressurreição do corpo, que o
costume de queimar os mortos foi abandonado e trocado pelo de
enterrá-los.
Os Deuses dos elementos, Atenas (ar), Posseidon (água), Hefaistos
(fogo), e Demeter (terra), estão entre os maiores, e estão perto do
trono, tendo poder (alcance) universal, na medida em que seu império é
universal.
(6)
Notas
(1)
– Londres 27 de março de 1881. Recebido em sonho.
(2)
– Ver n°. 22 e também a obra
Sonhos e Histórias de Sonhos,
nº. 9.
(3)
– Compare, Hino a Phoibos, Parte
2, nº. 11.
(4)
– Compare, Exortação de Hermes a seus Neófitos, Parte 2, nº 12, (2).
(5)
– Compare, Hino de Afrodite,
Parte 2, nº. 14, (2).
(6)
– Ver Parte 2, nº. 13, parte 2, e Apêndice, nota R.
Índice Geral das Seções Índice da Seção Atual Índice da Obra
Anterior: XVII - Sobre os Deuses
Seguinte: XIX - Sobre a Origem do Mal, e a Árvore como o Modelo da
Criação