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Tradução: Daniel M. Alves
Revisão e edição: Arnaldo Sisson Filho

[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

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CAPÍTULO III

 

SOBRE A PROFECIA DA IMACULADA CONCEIÇÃO (1)

 

1. (*) ESTOU na beira da praia. A lua acima está cheia. Sopra em meu rosto uma suave e cálida brisa, como a do vento do verão. O seu aroma é o do sal da brisa do mar. Ó, Mar! Ó, Lua! De vós receberei o que procuro! A história da Imaculada Conceição de Maria, da qual sois símbolos, me contareis!

            2. É uma alegoria de estupendo significado! Alegoria com a qual a Igreja de

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Deus está a tanto tempo familiarizada, e que, no entanto, nunca penetrou seu verdadeiro significado. Tal como o fogo divino que envolveu o Arbusto sagrado, e o Arbusto, apesar disso, permaneceu firme e resistiu.

            3. Contudo, houve alguém que compreendeu e interpretou corretamente a parábola da Imaculada Conceição; e ele a encontrou através de NÓS, por meio da luz de seu próprio intenso amor, pois ele era o discípulo do amor, e seu nome ainda é João – o Bem-amado – o Vidente do Apocalipse. Pois ele, na visão da mulher vestida com o sol, apresentou o verdadeiro significado da Imaculada Conceição. Pois a Imaculada Conceição não é outra coisa senão a profecia a respeito dos meios pelos quais o Universo será, finalmente, redimido.

            Maria – o mar do espaço ilimitado – Maria, a Virgem, ela mesma nascida imaculada e sem manchas, do ventre das eras, (1) no tempo devido (*) trará à existência o homem perfeito, o qual redimirá a raça. Ele não é um só homem, mas dez mil vezes dez mil, o Filho do Homem, que superará os limites da matéria, e o mal, que é o resultado da materialização do espírito. Sua Mãe é espírito, seu Pai é espírito e, no entanto, ele próprio está encarnado. Mas como, então, ele superará o mal e restaurará a matéria à condição de espírito? Pela força do amor. É o amor que é o poder centrípeto do Universo; é por meio do amor que toda a criação retorna ao seio de Deus.

            A força que projetou todas as coisas é a vontade, e a vontade é o poder centrífugo do universo. A vontade sozinha não poderia superar o mal que resulta das limitações da matéria; mas ele será superado no final pela empatia, que é a percepção de Deus nos outros – o reconhecimento do ser onipresente. Isso é amor. E é com as crianças do espírito, com os servos do amor, que o dragão da matéria entra em guerra.

            4. Agora, se o mundo já está ou não forte o suficiente para suportar isso, não sabemos. Não é a primeira vez que revelamos essas coisas aos homens. Uma antiga heresia, amaldiçoada pela Igreja, surgiu de uma inspiração verdadeira; pois os discípulos são sempre mais fracos do que o mestre, e eles não possuem seu discernimento espiritual. Falo dos gnósticos. Para o Mestre dos gnósticos revelamos a verdade da Imaculada Conceição. Contamos a ele que Emanuel deveria ser o Deus-Homem que, transcendendo as limitações da matéria, deveria eliminar o mal da materialização por meio da

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força do amor, e deveria ver, ouvir, falar e sentir como se ele fosse puro espírito, e tivesse aniquilado os limites da matéria.

            Isso, então, ele ensinou; mas aqueles que ouviram seu ensinamento, aplicando suas palavras somente ao Jesus enquanto indivíduo, afirmaram que Jesus não teve nenhum corpo material, mas que ele era uma emanação de natureza espiritual; um Éon (*) que, sem substância ou ser verdadeiro na carne, usou uma imagem ilusória, um tipo de fantasma, no mundo dos homens.

            Cuidado para que de modo semelhante não sejais também desencaminhados. É tão difícil para os homens serem espirituais. Para nós é igualmente difícil nos darmos a conhecer sem mistérios. A Igreja não conhece a origem de seus dogmas. Surpreende-nos, também, a cegueira dos ouvintes, que de fato ouvem, mas não têm olhos para ver. Falamos em vão – não discernis as coisas espirituais. Sois tão materializados que percebeis somente o material. O Espírito vem e vai; ouvis o som de sua voz: mas não podeis dizer para onde vai nem de onde vem.

            Tudo que é verdadeiro é espiritual. Nenhum dogma da Igreja é verdadeiro se parecer possuir um significado físico. Pois a matéria perecerá, e tudo que a ela pertence, mas a Palavra do Senhor continuará a existir para sempre. E como ela poderia perdurar se não fosse puramente espiritual, uma vez que, ao perecer a matéria não mais seria compreensível? Digo-lhe mais uma vez, e em verdade – nenhum dogma é real se não for espiritual. Se for verdadeiro e, contudo, lhe parecer ter uma significação material, saiba que não o resolveu. É um mistério: busque sua interpretação. Aquilo que é verdadeiro é tão somente para o espírito.

 

NOTAS

 

(7:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.

(7:1) Este “produto supremo da percepção da alma acerca de sua própria natureza e destino”, que se provou “uma reapresentação (junto com a interpretação) do dogma da Imaculada Conceição de Maria”, foi recebido e escrito em um transe, em Paris, na noite de 25 de julho de 1877, tendo sido a vidente transportada em espírito até a beira do mar, mas mantendo com o corpo uma conexão suficiente para poder escrever. As mudanças de pessoa, do singular para o plural, devem-se à influência dominante que em alguns momentos fala como uma unidade e em outros como uma pluralidade – “o NÓS denota a Hierarquia da Igreja celestial e invisível” (ver Life of Anna Kingsford, Vol. I, pp. 194-197). S.H.H.

(8:1) As eras, das quais a personificação é Anna: “Anna é o ano recorrente, o Tempo, do qual nasce Maria, a alma, a Mãe de Deus” (ver No. XLII, Sobre Deus). “A alma nascida do Tempo (Anna)” (ver No. XLVIII, Parte 1, Sobre os Mistérios Cristãos). S.H.H.

(8:*) N.T.: Sobre o “tempo devido” vide a imagem dada pelo Apóstolo, ao usar a analogia do herdeiro, em Gálatas 4:1-4: “enquanto o herdeiro é menor, embora dono de tudo, em nada difere de um escravo. Ele fica debaixo de tutores e curadores até a data estabelecida pelo pai. Assim também nós, quando éramos menores, estávamos reduzidos à condição de escravos, debaixo dos elementos do mundo. Quando, porém, chegou o tempo devido, enviou Deus o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei”.

(9:*) N.T.: Éon – um termo que, dentro da literatura gnóstica, se refere a seres espirituais emanados de origem divina, e dos quais há múltiplas instâncias.

 

 

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