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Tradução: Daniel M. Alves
Revisão e edição: Arnaldo Sisson Filho

[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

(p. 9)

CAPÍTULO IV

 

SOBRE A REVELAÇÃO (1)

 

            TODAS as iluminações verdadeiras e valiosas são re-véu-ações, ou re-velações. Guarde bem o significado dessa palavra. Não pode haver nenhuma iluminação verdadeira ou valiosa que destrua distâncias e exponha os detalhes das coisas.

            Olhe para esta paisagem. Contemple como suas montanhas e florestas estão banhadas com suave e delicada névoa, que meio encobre e meio revela suas formas e tons. Veja como essa névoa, como um delicado véu, envolve as distâncias e mescla as bordas da terra com as nuvens do céu!

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            Como ela é bela, quão ordenada e salutar a sua adequação e a delicadeza de seu apelo aos olhos e ao coração! E quão falso seria aquele sentido que desejasse rasgar esse véu sobreposto, para trazer para perto os objetos longínquos, e reduzir tudo a um primeiro plano, no qual tão somente os detalhes fossem aparentes, e todos os contornos nitidamente definidos!

            A distância e a névoa fazem a beleza da Natureza: e nenhum poeta desejaria contemplá-la de outra forma que não fosse através desse adorável e modesto véu.

            E assim como é na natureza exotérica (exterior), assim também é na natureza esotérica (interior). Os segredos de cada alma humana são sagrados e conhecidos apenas por ela mesma. O ego é inviolável, e sua personalidade é de sua própria prerrogativa para sempre.

            Portanto, regras matemáticas e fórmulas algébricas não podem ser forçadas no estudo das vidas humanas; nem as personalidades humanas podem ser tratadas como se fossem meras cifras ou quantidades aritméticas.

            A alma é muito sutil, muito imbuída de vida e vontade para um tratamento como esse.

            Podemos dissecar um cadáver; podemos analisar e classificar componentes químicos; mas é impossível dissecar ou analisar qualquer coisa viva.

            No momento que ela é assim tratada ela escapa. A vida não é passível de dissecação.

            A abertura do santuário sempre o encontrará vazio: o Deus se foi.

            Uma alma pode conhecer seu próprio passado, e pode ver em sua própria luz: mas ninguém pode ver isso por ela se ela mesma não puder vê-lo.

            Nisso está a beleza e santidade da personalidade.

            O ego é centralizado em si mesmo e não difuso; pois a tendência de toda evolução é na direção da centralização e da individuação.

            E a vida é tão diferenciada, tão belamente variada em sua unidade, que nenhuma rígida formulação de lei matemática pode aprisionar sua diversidade.

            Tudo é ordem: mas os elementos dessa ordem se harmonizam por meio de suas infinitas diversidades e gradações.

            Os verdadeiros mistérios sempre ficaram satisfeitos com a harmonia da natureza: eles não buscaram arrastar distâncias para primeiros planos; ou dissipar a névoa da montanha, em cujo âmago o sol é refletido.

            Pois essas sagradas névoas são os meios da luz, e os que glorificam a natureza.

            Então a doutrina dos mistérios é verdadeiramente re-véu-ação – um velar

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e um re-velar daquilo que não é possível ao olho contemplar sem violar toda a ordem e santidades da natureza.

            Pois a distância e os raios visuais, causando as diversidades de próximo e distante, de perspectiva e nuances que se fundem, de primeiro plano e horizonte, fazem parte da ordem e seqüência naturais: e a lei expressa em suas propriedades não pode ser violada.

            Pois nenhuma lei jamais é quebrada.

            Os tons e aspectos da distância e da névoa realmente podem variar e se dissolver, de acordo com a qualidade e a quantidade de luz que cai sobre elas: mas elas estão sempre lá, e nenhum olho humano pode anulá-las ou aniquilá-las.

            Mesmo as palavras, ou até mesmo as imagens, são símbolos e véus. A própria verdade não pode jamais ser proferida, a não ser de Deus para Deus.

 

NOTAS

 

(9:1) Em casa, 27 de novembro, 1885. Recebido durante o sono. Referido em Life of Anna Kingsford (Vida de Anna Kingsford), vol. II, p. 246.

 

 

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