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Capítulo 18

 

 

HPB na Europa (abril de 1885)

 

            HPB chegou à Europa em abril de 1885 e lá morou até o final de sua vida em maio de 1891. Embora tenham sido anos de grandes sofrimentos físicos, foi nesse período difícil que ela produziu seus trabalhos mais importantes: escreveu A Doutrina Secreta, A Voz do Silêneio e A Chave Para a Teosofia; criou uma nova revista, Lucifer, para a qual escreveu muitos artigos; fundou a Blavatsky Lodge em Londres e a Seção Esotérica, escrevendo as instruções para seus membros.

 

            Todo esse trabalho só pode ser realizado porque HPB contou com a ajuda de um pequeno grupo de pessoas que, não acreditando nas acusações do relatório Hodgson, permaneceram a seu lado auxiliando-a com trabalho, dinheiro e amizade.

 

            Em sua partida da Índia, em 31 de março de 1885, quando se preparavam para entrar no vapor, Subba Row a incentivou a continuar escrever A Doutrina, pedindo-lhe que enviasse semanalmente o que tivesse feito, para que ele fizesse notas e comentários. (Zirkoff, 7) Escrevendo para Vera Johnston, Hartmann relata que durante a viagem, em mar aberto, HPB “muito frequentemente recebia, de alguma maneira oculta, muitas páginas de manuscritos referentes à Doutrina Secreta, cujo material ela estava coletando na época.” (Zirkoff, 8)

 

            HPB chegou em Torre del Greco, na Itália, em 24 de abril de 1885. Sua saúde ainda era precária e ela sofreu intensamente de reumatismo durante esses meses por lá. Hartmann partiu em maio, ficando Bowajee e Mary Flynn com HPB. Em junho ela escreve para a Sra. Sinnett:

 

“Aqui estou eu. Para onde irei em seguida, não sei mais do que um homem no mundo da lua. O único amigo que tenho na vida e na morte é o pobre pequeno Bowajee D. Nath exilado na Europa; e o pobre querido Damodar – no Tibet. D. Nath fica ao pé de minha cama, acordado por noites inteiras, me mesmerizando, como prescrito por seu Mestre. Por que Eles ainda querem me manter com vida é algo estranho demais para eu compreender; mas Seus modos são e sempre têm sido – incompreensíveis.” (LBS, 100)

 

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            No final de julho os três foram para a Alemanha, via Roma e St. Cergues, na Suíça, de onde Mary Flynn retornou para a Inglaterra. Com a saúde fragilizada, Madame Blavatsky mudou-se para Würzburg, na Alemanha, onde chegou em 12 de agosto de 1885, acompanhada de Babajee. Ela escreve para a Sra. Sinnett:

 

“Não quero viver em qualquer um dos grandes centros da Europa. Mas eu preciso ter um quarto seco e aquecido, por mais frio que esteja do lado de fora, uma vez que nunca deixo meus aposentos (...) Eu gosto de Würzburg. É perto de Heidelberg e Nürenberg, e de todos os centros que um dos Mestres viveu, e é Ele quem aconselhou meu Mestre a me enviar para lá. (...) Então eu viverei para cumprir a vontade e os ditames do meu Mestre, ou melhor, deverei vegetar durante o dia e viver apenas durante a noite, e escrever pelo resto de minha vida (não) natural.” (LBS, 105)

 

            Além do problema de saúde, HPB também estava passando por uma época de grandes dificuldades financeiras. Seu sustento vinha principalmente das histórias que escrevia para jornais russos, sob o pseudônimo de Radda Bai. Felizmente Katkoff, o editor de suas histórias em russo, recém lhe pagara 4.000 francos que estava devendo, e esse dinheiro lhe permitiria viver algum tempo. HPB escreve para Sinnett, em agosto de 1885:

 

“Quanto a mim – estou decidida a permanecer sub rosa [no secreto]. Posso fazer muito mais permanecendo na sombra do que me tornando novamente proeminente no movimento. Deixe-me ficar escondida em lugares ignorados e escrever, escrever, escrever e ensinar a quem quiser aprender. Uma vez que o Mestre me força a viver, deixe-me agora viver e morrer em relativa paz. É evidente que Ele ainda quer que eu trabalhe pela ST, uma vez que Ele não me permite fazer um contrato com Katkoff – que colocaria pelo menos 40.000 francos por ano no meu bolso – para escrever exclusivamente para sua revista e seu jornal. (...) Quem do público sabe que após ter trabalhado e dado minha vida para o progresso da Sociedade por mais de dez anos, eu fui forçada a deixar a Índia – como uma mendiga, literalmente uma mendiga dependendo da gratificação do The Theosophist – (minha própria revista, fundada e criada com meu próprio dinheiro!!) para meu sustento diário. Eu – sendo apresentada como uma impostora mercenária, uma

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trapaceira por amor ao dinheiro, quando nunca pedi ou recebi um centavo por meus fenômenos, quando muito do meu próprio dinheiro, ganho com meus artigos russos, foi doado, quando por cinco anos eu abri mão do ganho com Ísis e da renda do The Theosophist para sustentar a Sociedade. E agora – generosamente me cedem 200 rúpias mensais daquela renda para me salvar de passar fome na Europa, e por isso sou censurada por Olcott em quase que toda carta.” (LBS, 112)

 

            Numa carta para Sinnett em outubro de 1885 ela relata outras dificuldades com Adyar:

 

“Você ouviu, eu suponho, do primeiro tapa na cara que eu recebi em Adyar? Sem me consultar, eles, assim parece, dispuseram de meu Theosophist e tiraram meu nome até mesmo da página de rosto. (...) Nunca mais uma linha de minha pena aparecerá na revista, propriedade de meu sangue da qual fui privada de um modo tão sem pudor (...) E agora o público e os inimigos dirão – “Mad. B. foi realmente chutada para fora da Sociedade – até mesmo a edição e propriedade de sua revista foram tiradas dela. Sua culpa foi completamente reconhecida em Adyar.” AMEN.” (LBS, 121)

 

            Quando Sinnett foi visitar HPB em setembro ela ainda não conseguira retomar o trabalho da Doutrina Secreta. Mas em outubro ela lhe escreveu:

 

“Estou muito ocupada com a D. Secreta. A coisa de Nova Iorque (querendo dizer as circunstâncias sob as quais Ísis Sem Véu foi escrita) se repetiu – apenas muito mais nítida e melhor. Começo a pensar que será ela que provará nossa inocência. Tamanhas imagens, panoramas, cenas, dramas antidiluvianos, e tudo mais! Nunca vi ou escutei tão bem.” (Sinnett 1886, 303)

 

            Em outubro de 1885 a Condessa Wachtmeister foi visitar a família Gebhard, em Elberfeld, na Alemanha e ficou sabendo que HPB estava enferma e sentindo-se muito só em Würzburg. Por sugestão da Sra. Gebhard, escreveu para HPB oferecendo-se para ir passar algumas semanas com ela, mas HPB lhe respondeu agradecendo e recusando a oferta. Porém, quando a condessa já estava de partida de Elberfeld, chegou um telegrama de HPB pedindo-lhe que fosse encontrá-la.

 

 

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Constance Wachtmeister (outubro de 1885)

 

            Constance Georgina Louise Bourbel de Monpinçon nasceu em 28 de março de 1838, em Florença, Itália. Em 1863 casou-se com seu primo, o conde Wachtmeister, com teve um filho, o conde Axel Raoul. Após três anos, o casal mudou-se para Estocolmo onde, em 1868, o conde foi nomeado Ministro das Relações Exteriores. Após a morte do marido, em 1871, ela ainda viveu vários anos na Suécia. Em 1879 a condessa começou a investigar o Espiritismo e em 1881 filiou-se à Sociedade Teosófica. (CW VI, 448)

 

            Quando a condessa chegou em Würzburg, atendendo ao telegrama de HPB, recebeu uma calorosa recepção. Madame Blavatsky lhe pediu desculpas pela súbita mudança e explicou que inicialmente não queria que ela fosse para lá porque tinha apenas um quarto, e também porque:

 

“Meus hábitos provavelmente não são os seus. Se você viesse para cá, eu sabia que você teria que suportar muitas coisas que poderiam lhe parecer desconfortos intoleráveis. É por isso que decidi recusar sua oferta e lhe escrevi nesse sentido; mas depois que minha carta foi postada o Mestre falou comigo e disse que era para eu lhe dizer que viesse. Eu nunca desobedeço uma palavra do Mestre e lhe telegrafei imediatamente. Desde então estou tentando tornar o quarto mais habitável. Comprei um grande biombo que dividirá o quarto, de modo que você ficará com um lado e eu com o outro, e espero que você não fique desconfortável demais.” (Wachtmeister, 13)

 

            Em carta para Sinnett, a condessa revela que foi ao encontro de HPB apenas por “um senso de dever e gratidão”, assumindo “a tarefa de aliviar seus problemas e sofrimentos da melhor forma que pudesse” (Sinnett 1886, 317) a pedido de sua amiga, Mary Gebhard. E lhe confessa que nessa época estava sinceramente predisposta contra HPB, pois ouvira muitos comentários ruins a seu respeito e ainda não tivera nenhuma experiência pessoal com ela:

 

“Tendo ouvido os rumores absurdos que circulavam contra ela [HPB] e segundo os quais era acusada de praticar magia negra, fraude e trapaça, fiquei atenta e a tratava com espírito calmo e tranquilo, decidida a dela nada receber de natureza oculta sem

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prova suficiente, para me tornar positiva, manter meus olhos abertos e ser justa e verdadeira em minhas conclusões. O bom senso não me permitiria acreditar na sua culpa sem prova, mas se essa prova tivesse sido apresentada, meu sentimento de honra não permitiria que eu permanecesse numa Sociedade na qual a fundadora praticasse a trapaça e o embuste. Minha disposição de espírito me inclinava para a investigação e eu estava ansiosa por descobrir a verdade.

            “De um ponto de vista mundano, Madame Blavatsky é uma mulher infeliz, caluniada, sob suspeita e injuriada; mas examinada de um ângulo superior, tem dons extraordinários e nenhuma difamação pode privá-la dos privilégios de que é dotada e que consistem no conhecimento de muitas coisas só conhecidas de poucos mortais e no intercâmbio pessoal com certos adeptos orientais.” (Wachtmeister, 21)

 

            Sobre suas conclusões após esse primeiro contato pessoal com HPB, bastaria dizer que ela morou e colaborou com Madame Blavatsky até sua morte. Para a condessa HPB foi:

 

“... uma amiga e instrutora que fez mais por mim do que qualquer outra pessoa no mundo, que ajudou a me mostrar a verdade, e que me indicou o caminho para testar e conquistar o eu – com todas suas pequenas fraquezas – e a viver mais nobremente para ser útil e para o bem dos demais.” (Wachtmeister, 72)

 

            A presença da condessa em Würzburg foi essencial para que HPB retomasse o trabalho de escrever a Doutrina Secreta. Como continuavam os rumores sobre HPB como impostora etc., Sinnett resolveu escrever sua biografia, como um modo de tentar contrabalançar esses falatórios adversos. Seu título inicial era Memoirs (Memórias). Entretanto, HPB não aprovava a ideia. A condessa escreve para Sinnett, em 7 de fevereiro de 1886:

 

“Estamos tendo terríveis tempestades por aqui nesses dias e no momento a Madame é firmemente contrária à publicação de suas Memoirs enquanto ela for viva. Toda sua família é contra isso (...) eles temem muito que os inimigos dela possam reviver antigos escândalos de família e brigas e que eles terão que sofrer por isso. (...) Durante o curto tempo que estou aqui, têm chovido ataques sobre a Madame de todos os lados. Me parece inacreditável como

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uma pessoa pode ter tantos inimigos rancorosos. Suponho que seja, em grande medida, porque ela deixa sua língua solta, ferindo as susceptibilidades das pessoas, sem ter essa intenção ou pensar nas consequências. É verdade que seu Mestre lhe disse que se ela consentisse em viver, teria que passar por amargas provações e tudo se voltaria contra ela; mas, vendo o que vejo e sabendo o que sei, acredito que haveria um positivo perigo em publicar suas Memoirs esse ano.” (LBS, 285)

 

            Logo depois a condessa lhe escreve novamente, especificando três pontos que HPB não queria que fossem incluídos:

 

“... primeiro a criança adotada, pois há muitas pessoas que podem trazer à luz desagradáveis segredos de família sobre esse ponto – também a Madame ter viajado tanto usando roupas de homem (...) e, por último, nenhuma menção sobre os Mahatmas, Seus nomes já foram suficientemente profanados.” (LBS, 176)

 

            Ainda em fevereiro surgiu mais uma razão para HPB pedir a Sinnett que ele pelo menos postergasse a publicação das Memoirs. Um russo conhecido de sua família, Solovyoff, que nessa época já se voltava contra ela, começou ameaçá-la com a acusação de bigamia, pois ele dizia que:

 

“... o Sr. Blavatsky não está morto, mas é um “charmoso centenário” que achou apropriado se esconder por anos na propriedade de seu irmão – daí as falsas notícias de sua morte. Imagine o resultado se você publica as Memoirs e se ele realmente estiver vivo e eu – não for viúva!! (...) se isso for verdade (...) e nós falando o tempo todo dele, como se estivesse no Devachan [no Céu, morto] (...) isso nos trará problemas sem fim.” (LBS, 179-180)

 

            Contudo, em agosto ela já não se opunha à publicação do livro, apenas ao nome, uma vez que:

 

“Não é uma autobiografia, nem uma biografia, mas simplesmente fatos esparsos, coletados e reunidos. Muita coisa estará errada nele (...) Você É ACONSELHADO a chamá-lo – “Alguns Incidentes na Vida de Mad. Blavatsky” coletados de várias fontes – algo desse tipo.” (LBS, 216)

 

            O livro foi publicado logo depois com o título sugerido por HPB. Em maio de 1886, HPB deixou Würzburg planejando ir para Ostende, na Bélgica. Antes de viajar enviou o que havia escrito da Doutrina Secreta para Subba Row, em Adyar. No caminho fez uma visita

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aos Gebhards, em Elberfeld, na Alemanha. Lá escorregou no assoalho do quarto, torcendo o tornozelo e machucando a perna, sendo obrigada a ficar com os Gebhards.

 

            Ainda em maio, sua irmã Vera e a filha foram encontrá-la em Elberfeld. Em 8 de julho, as três partiram para Ostende de onde, no dia 14, sua irmã e a sobrinha voltaram para a Rússia. A condessa, que havia ido à Suécia, só voltou em agosto para Ostende. HPB escreve para a irmã, logo após sua partida:

 

“Terei que me compenetrar agora que estou sozinha; e, ao invés de um inquieto judeu errante, me transformarei num “caranguejo eremita”, num monstro marinho petrificado, encalhado na praia. Eu irei escrever e escrever – é o meu único consolo! Ai de mim! Felizes são as pessoas que podem andar. Que vida, estar sempre doente – e, ainda por cima, sem pernas...”. (Letters of H.P. Blavatsky, X)

 

 

Mary Gebhard

 

            A família Gebhard foi fundamental para o desenvolvimento do trabalho teosófico na Alemanha. Gustav Gebhard tinha várias atividades: era banqueiro, tinha uma fábrica de seda e também era cônsul da Pérsia. Sua esposa, Mary, tinha uma genuína inclinação para o Ocultismo e foi uma discípula de Eliphas Levi até a morte desse, em 1875. Nessa ocasião, Mary começou a procurar outras conexões ocultas. Tendo ouvido sobre a Sociedade Teosófica escreveu para Olcott e, após uma troca de cartas, filiou-se à ST. (CW VI, 434) O casal Gebhard teve seis filhos e uma filha, e quase todos entraram para a ST.

 

            Em julho de 1884 quando HPB, Olcott e Mohini estavam na Europa, foi organizada a Germania Theosophical Society na casa dos Gebhards, sendo W. Hübbe-Schleiden o presidente, Mary a vice e seu filho mais velho, Franz, o secretário. Em agosto de 1884, HPB passou algum tempo na casa deles, com vários teosofistas como Mohini, Bertram Keightley e Francesca Arundale. Elberfeld se tornou um ponto de encontro para teosofistas.

 

            O terceiro filho, Arthur Gebhard, morou muitos anos em Nova Iorque e foi muito amigo de W.Q. Judge. Fazia frequentes visitas

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à Europa e, numa dessas, em setembro de 1886, escreveu um “Manifesto” junto com Mohini, criticando a atuação de Olcott na presidência da ST. HPB escreveu uma resposta defendendo Olcott, que não foi publicada em vida, mas apenas em 1931, por Jinarajadasa, sob o título de O Programa Original da ST.

 

            Rudolf, o quarto filho, acompanhou Olcott em seu retorno à Índia, em outubro de 1884. Os dois mais novos, os gêmeos Hermann e Walter, tiveram destinos trágicos. Ambos se suicidaram: Hermann em março de 1881 e Walter em 10 de abril de 1886. (CW VI, 436) No caso de Walter, HPB responsabilizou Babajee pelas condições que o induziram a cometer suicídio.

 

 

Krishnaswami, ou Babajee, ou Darbhagiri Nath

 

            O verdadeiro nome de Babajee, também conhecido como Bowajee, Bawajee ou Darbhagiri Nath, era S. Krishnaswami. Ele juntou-se ao pequeno de grupo de trabalhadores da ST ainda em Bombay, entre 1880 e 1881, a pedido do Mestre KH, de quem era um discípulo em provação. Nessa época, ele abandonou seu nome original, denominando-se Babajee. (Eek 1978, 537)

 

            Posteriormente passou a usar o nome Darbhagiri Nath. Ao ser questionado sobre as mudanças de nome, Babajee explicou que era um costume entre seu povo mudar o nome quando se tornavam sannyases ou místicos, ou mesmo alunos de místicos. (LBS, 340)

 

            Há uma certa confusão em torno do nome Darbhagiri Nath porque esse era o “nome místico” de um outro chela do Mestre KH, chamado Gwala K. Deb. Em 1882, o Mestre KH queria que Deb e K. Pillai, um chela em provação, fossem encontrar Sinnett em Simla. Entretanto, Deb nessa ocasião estava no Tibet e não podia ir em seu corpo físico. Babajee então consentiu que seu corpo físico fosse usado por Deb nessa missão. Após o término da experiência oculta, Babajee continuou a usar o “nome místico” de Deb, ou seja, Darbhagiri Nath. (Eek 1978, 538)

 

            Babajee trabalhava como assistente de Damodar e também mudou-se para Adyar quando a Sede foi transferida para lá. Juntamente com Subba Row e Damodar, ele divide a responsabilidade por “dois terços dos “mayas” do Sr. Hodgson” durante sua investigação em Adyar. Quando HPB

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deixou a Índia, em março de 1885, C.W. Leadbeater se oferecera para acompanhá-la. Entretanto Babajee insistiu em vir para a Europa com ela, e foi seu devotado auxiliar e companheiro por vários meses.

 

 

O Relatório Final da SPR

 

            Nos últimos dias de dezembro de 1885 o relatório final da SPR foi publicado. Nas conclusões desse relatório os Mahatmas eram uma invenção de HPB, realizada com o auxílio de cúmplices como os próprios Coulombs. Os fenômenos paranormais seriam tão somente truques realizados por meio de prestidigitação ou outras formas de trapaça. O relatório conclui:

 

“De nossa parte, nós não a consideramos como o arauto de sábios ocultos, nem como uma aventureira vulgar; pensamos que ela atingiu um título, para nos lembrarmos permanentemente, de uma das mais perfeitas, engenhosas e interessantes impostoras na história.” (Ransom, 214)

 

            Em carta para Sinnett, HPB comenta sobre o relatório, revelando seu estado de espírito:

 

“Bem – eu positivamente não encontrei nada de novo no que se refere ao meu humilde ser. Mas muito a seu respeito e de outros. Mais do que nunca, eu reconheci a mão – que guia a coisa toda; aquela mão que, tendo agarrado firmemente os eruditos membros de Cambridge pelos seus narizes, os conduz – para onde? (...) Eu sou um velho limão espremido, física e moralmente, que serve apenas para limpar as unhas do velho Nick e, talvez, para escrever 12 ou 13 horas por dia a Doutrina Secreta sob ditado, para assumir a paternidade, quando (se) publicada, de sua autoria e suas ideias nas quais meu estilo literário e galicismos serão detectados. Que sou chamada nele “publicamente e por escrito” falsificadora umas 25 vezes, trapaceira, impostora etc. e, ainda por cima, uma espiã russa – tudo isso c’est de l’histoire ancienne [é a velha história]. Mas há aspectos bem novos nele.” (LBS, 134)

 

            Entre as novidades estava a de que Babula, seu fiel servo, que não conhecia uma única letra em inglês, era apontado como o autor das cartas do Mestre de HPB. Outra era que Mohini, Babajee, Bawani Row,

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Damodar etc., eram todos apresentados como sendo seus cúmplices e mentirosos. Para HPB a acusação foi um duro golpe. Ainda com a saúde fragilizada, ela escreve para sua irmã que teria que voltar à Índia, para defender-se:

 

“Tudo mudou. Um vento hostil está soprando sobre nós. Que cura, que saúde será possível para mim? Terei que voltar rapidamente para o clima que é fatal para mim. Não há como evitar. Ainda que eu pagasse por isso com a morte, preciso esclarecer esses esquemas e calúnias porque não é apenas a mim que eles prejudicam: eles abalam a confiança das pessoas em nosso trabalho e na Sociedade, à qual eu dei toda a minha alma. Então, como posso ligar para a minha vida? Eles nos escrevem que em Madras, Bombay e Calcutá os muros das ruas estão cobertos com milhares de cartazes: ‘Queda de Madame Blavatsky; suas Intrigas e Fraudes Descobertas’ – e assim por diante.” (Letters of H.P. Blavatsky, VII)

 

            Quando Sinnett lhe questionava se os Mestres, com todo o poder que possuíam, não haviam interferido e alterado o resultado porque queriam que ela fosse julgada culpada, HPB lhe respondeu:

 

“Não; você está errado, se pensa que são os Mestres que querem que as pessoas acreditem que sou culpada. Ao contrário; embora incapazes de me ajudar diretamente, pois não ousam interferir com meu carma, eles são justos demais para não desejar me ver defendida por todos aqueles que honestamente sentem que sou inocente. Aqueles que o fazem, apenas ajudam os seus carmas, aqueles que não – colocam uma mancha nele. O que Eles querem é apenas mostrar que fenômenos sem a compreensão das condições filosóficas e lógicas que os produzem – são fatais e sempre se tornarão desastrosos.” (LBS, 113)

 

            Em 8 de maio de 1986, aniversário de 105 anos da morte de HPB, a SPR publicou uma nota anunciando um estudo feito pelo Dr. Vernon Harrison, um perito em falsificações. Sua conclusão é que Madame Blavatsky foi injustamente condenada pelo relatório de 1885. Na introdução ao artigo, o editor observa que Harrison é um membro da SPR, mas não da ST, e que, quer os leitores concordem ou não com as conclusões de Harrison, a SPR espera que:

 

“... daqui em diante, os teosofistas e, na verdade, todos aqueles que se preocupam com a reputação de Helena Petrovna Blavatsky, passem

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a nos olhar sob uma luz mais complacente.” (Harrison, 286)

 

            Em seu estudo, Dr. Vernon Harrison reexaminou o relatório escrito por Richard Hodgson principalmente quanto ao aspecto da caligrafia, e concluiu:

 

“À medida que o exame detalhado desse relatório avança, ficamos cada vez mais conscientes que, enquanto Hodgson estava preparado para usar qualquer evidência, por mais trivial ou questionável que fosse, para comprometer H.P.B., ele ignorava toda evidência que poderia ser usada em favor dela. Seu relatório está permeado de afirmações tendenciosas, conjecturas expostas como realidades ou fatos prováveis, depoimentos sem corroboração de testemunhas que não são nomeadas, seleção de evidências e inequívoca falsidade.

            “Como um investigador, Hodgson é tendencioso e deficiente. Seu caso contra Madame H.P. Blavatsky não está provado.” (Harrison, 309)

 

            Harrison continua suas conclusões dizendo que não poderia exonerar o comitê da SPR da responsabilidade de publicar um relatório tão ruim, sem checar as conclusões de Hodgson ou mesmo fazer uma leitura crítica de seu relatório. Analogamente, o Conselho da ST tinha responsabilidade, pois se tivesse permitido que HPB se defendesse, tanto Hodgson quanto a SPR estariam em apuros.

 

            Na opinião de Harrison, “Madame H. P. Blavatsky foi a ocultista mais importante que apareceu diante da SPR para ser investigada; e nunca uma oportunidade foi tão desperdiçada.” (Harrison, 309) Na conclusão de seu artigo, Harrison cita Madame Blavatsky afirmando:

 

“Que as elaboradas, mas mal orientadas buscas de informações do Sr. Hodgson, sua precisão simulada, que consome uma infinita paciência sobre trivialidades e é cega para os fatos de importância, seu raciocínio contraditório e sua múltipla incapacidade de lidar com problemas tais como os que ele se empenha em resolver, serão expostos por outros escritores no devido tempo – eu não tenho dúvidas.” (Harrison, 310)

 

            E Harrison encerra o artigo dizendo: “Eu peço desculpas a ela por termos levado um século para demonstrar que ela escreveu a verdade.” (Harrison, 310)

 

 

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O Pequeno Homem Falhou

 

            A publicação do relatório pode ter sido um dos motivos que fez com que Babajee alterasse sua conduta em relação a HPB. Quando a condessa foi morar com HPB, ela encontrou Babajee muito infeliz, pensando em ir embora. Ela percebeu que ele estava se sentindo ferido e com inveja de Mohini, que estava em Londres fazendo vários trabalhos, enquanto ele estava isolado com HPB. (LBS, 278) Então, por sugestão da condessa e com o consentimento de HPB, Babajee foi passar algum tempo em Elberfeld, com os Gebhards.

 

            Entretanto, Babajee passou a exercer uma influência sobre os Gebhards no sentido de desacreditar HPB, sugerindo-lhes que as cartas dos Mestres por eles recebidas eram falsas e lhes dizendo que ela “não conhecia nada dos ensinamentos esotéricos; Ísis estava cheia de erros ridículos; e do mesmo modo meus [de HPB] artigos do The Theosophist.” (CW VII, 50)

 

            Além disso, ele começou a escrever cartas para HPB insultando-a. A condessa, que cuidava da correspondência, lhe escreveu pedindo que parasse com isso, e avisando que não mais entregaria a HPB cartas desse teor. Então Babajee lhe escreveu, implorando que ela viesse imediatamente a Elberfeld ou ele estaria perdido, pois “o Guardião do Umbral havia vindo a ele, e que eu e somente eu poderia salvá-lo, que todos os Gehhards não poderiam fazer nada por ele; que eu, devida a meus poderes psíquicos, poderia ajudá-lo”. (LBS, 278)

 

            Assustada, a condessa telegrafou para Mary Gebhard, perguntando se era realmente necessário que ela fosse a Elberfeld. A resposta veio: “Sim”, e a condessa partiu imediatamente. Ao chegar, a Sra. Gebhard lhe disse que Babajee estava bem, e que ele só queria “forçá-la a vir aqui, porque ele disse que Mad. B. [Blavatsky] quer psicologizá-la.” (LBS, 278) Na conversa particular com a condessa, Babajee comportou-se como um louco, gritando, batendo na mobília, dizendo que detestava HPB, que queria destruí-la e à ST.

 

            Quando a condessa lhe perguntou o porquê desse sentimento com relação a HPB, ele respondeu: “em primeiro lugar porque ela havia profanado os Mestres ao associá-los com os fenômenos, e em segundo lugar porque ela o havia insultado diversas vezes (e, eu diria, ferido sua vaidade).” (LBS, 279) Ele também disse que nunca mais voltaria para HPB e que tentaria impedir que Mohini o fizesse.

 

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            A condessa retornou a Würzburg, preocupada com a influência que Babajee estava exercendo sobre os Gebhards e com a confusão que estava ameaçando fazer. Após alguns dias ele escreveu para HPB, mostrando arrependimento, chamando-a de “Querida e respeitada Mãe”. (LBS, 336)

 

            Uma explicação para o episódio é dada pela condessa a Sinnett, escrevendo que a atitude de lunático de Babajee, devia ter sido causada por uma magia que sua avó, uma feiticeira, havia jogado nele. (LBS, 282) E que HPB havia achado, entre os livros dela que Babajee cuidava:

 

“... um manuscrito sobre magia negra escrito numa caligrafia desconhecida – não a dele, contendo com muita precisão todas as fórmulas e os diferentes mantras a serem usados. Esse ela confiscou por ser muito perigoso para ser deixado em suas mãos. Madame B. diz que a ética de Babajee vem de seus livros em Tamil, que alguns são bons, mas outros completamente falsos e em oposição aos ensinamentos dos Mestres”. (LBS, 283)

 

            Com toda essa confusão envolvendo Babajee, Sinnett, que o havia conhecido em 1882, quando o outro chela, Gwala Deb, havia usado o corpo de Babajee para visitá-lo em Simla, e que pensava que Babajee era o outro Darbhagiri Nath, começou a questionar a validade da duplicidade do nome. HPB então lhe explica que realmente existia “um verdadeiro Db. Nath, um chela, que está com o Mestre KH pelos últimos 13 ou 14 anos”. (LBS, 170) E que a fraude de Babajee:

 

“... não está no fato dele assumir o nome, pois era o nome de mistério escolhido por ele quando se tornou chela do Mestre; mas em se aproveitar de que meus lábios estavam fechados; das concepções errôneas das pessoas sobre ele, de que ele, esse atual Babajee, era um ELEVADO chela, quando era apenas um chela em provação (...) Você fala de “fraudes” mistérios e ocultamentos nos quais você “nunca deveria estar envolvido”. Muito fácil de falar por alguém que não está sob o compromisso de qualquer juramento ou voto. Eu gostaria que você, com suas noções europeias de veracidade e “código de honra”, e mais isso e aquilo, fosse submetido à provação por uma quinzena.” (LBS, 170)

 

            Portanto, explica HPB a Sinnett, Babajee tinha o direito de usar o nome Dharbagiri Nath, mas não de abusar da posição e tomar atitudes que apenas o verdadeiro D. Nath poderia assumir, pois ele era apenas

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um reflexo desse verdadeiro D. Nath. E lhe revela acerca dela mesma que:

 

“Eu também me tornei um reflexo muitas vezes e durante meses; mas nunca abusei disso, tentando impingir meus esquemas pessoais sobre aqueles que confundiam HPB da Rússia com o elevado Iniciado de “xxx” para quem às vezes ela era como um telefone. E é por isso que os MESTRES nunca retiraram Sua confiança em mim, enquanto que todos os outros (com a exceção de muito poucos) assim o fizeram. Minha posição é simplesmente infernal, HORRÍVEL – porque eu, como uma europeia e tendo sido educada, tanto quanto qualquer outra pessoa, com as noções mundanas de verdade e honra – tenho que aguentar as aparências de completa fraude e enganação em relação aos meus melhores amigos – aqueles a quem eu mais amo e honro. Mas esse é o resultado de servir ao Oculto e ter que viver no mundo profano e público.” (LBS, 174)

 

            Babajee continuava com os Gebhards, exercendo grande influência especialmente sobre Mary e seu filho mais velho, Franz, colocando-os contra HPB. Em 10 de abril Walter Gebhard foi encontrado morto em sua cama, com um tiro, aparentemente sem qualquer razão. HPB escreve a Babajee:

 

“Os demônios da fúria, da vingança, rancor e ódio deixados por você na casa deles se fixaram no pobre rapaz que você se gabou de influenciar tão eficazmente, e fizeram seu trabalho. Não foi seu irmão gêmeo, que cometeu suicídio há cinco anos atrás, que o influenciou. (...)

            “Uma carta dos Mestres teria lhes aconselhado a manter Walter longe de sua casa, sem dar qualquer razão para isso – e os Gebhards teriam obedecido ao conselho, se eles não tivessem sido levados a acreditar, por alguém que eles consideravam e reverenciavam como um chela do Mahatma KH., e que viveu dez anos com ele – como eu descobri tarde demais – que “nenhum Mahatma se importaria com os filhos de teosofistas, pouco ligando se eles viveram ou morreram” etc.; e que quase sem nenhuma exceção – todas as notas e cartas recebidas por eles dos Mestres eram – na melhor das hipóteses – produzidas por elementais e, ocasionalmente, fraude de HPB.” (LBS, 300)

 

(p. 285)

            Logo após a morte de Walter, Babajee voltou para a Índia, sem aparecer mais na história teosófica. O Mestre KH comenta a respeito dele para Leadbeater: “O pequeno homem falhou e colherá sua recompensa.” (LMW 1st Series, 82)

 

 

 

George R. S. Mead.

 

 

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