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XVI.

 

Estado Atual do Mundo: Vivissecção,

a Total Extinção da “Mulher,” Intuição

 

 

            Como acontece no mundo físico, assim também no mundo espiritual. A iluminação sucede ao obscurecimento, e somente quando o ponto mais baixo foi atingido, e a escuridão e o frio são os mais intensos, o dia e o ano renascem. Tal é o momento do advento da “Nova Interpretação”.

 

            O estado espiritual do homem depende daquele da “mulher”, sua intuição. Corrompida como ela possa estar, enquanto ela sobrevive, ele ainda é, espiritualmente, homem. Sua extinção é a extinção da humanidade. Representando somente a força, seja ela física ou intelectual, o homem é demônio.

 

            Aqui reside a diferença quanto ao nível espiritual entre a presente idade e a sua predecessora, a “idade das trevas”. A Inquisição, com a hoste de horrores que a acompanharam e a seguiram, marcou o ponto mais baixo de degradação ao qual, até então, a Queda havia levado o homem. O homem acreditou nos especialistas da religião, os sacerdotes, quando eles lhe disseram que Deus deveria ser aplacado e as almas salvas pela tortura e massacre de todos que discordassem dele quanto à opinião religiosa e, em seguida, passou a devastar o mundo com ferro e fogo, fogueira e roda de tortura, circundando mares e terras em busca de vítimas.

 

            O real objetivo, aquele dos instigadores e beneficiários, os poderes ocultos do mal já descritos, era a sua própria gratificação. Mas, para o mundo, a Inquisição foi salva de demarcar o ponto absolutamente mais baixo de degradação, devido ao seu motivo. Esse era a alma. O homem ainda reconhecia a alma, mesmo com sua intuição corrompida, como ela havia se tornado.

 

            Foi reservado para a nossa época superar a marca da Inquisição e atingir a profundeza mais baixa, aquela que significa a total rejeição da alma e a extinção da intuição. Os “três véus” que, como “três espíritos diabólicos”, estão sempre saindo da boca do dragão, para impedir que o homem tenha a visão de Deus, nunca foram tão densos, tão pesados, tão firmemente estabelecidos como agora. Seus nomes são “Sangue”, “Idolatria”, e “Maldição de Eva”. E eles significam: o primeiro, que o homem se torne completamente carnívoro no corpo e na alma, insistindo no sangue para a salvação de ambos; o segundo, no homem reconhecendo apenas a matéria, o corpo e a aparência, e sacrificando o espírito, a alma e a realidade em prol desses últimos; e o terceiro, a completa negação e extinção da intuição e de tudo que é significado pela “mulher”, nos planos mental, moral e espiritual no homem.

 

            Revoltando-se contra o Sacerdotalismo, o homem imaginou que ao renunciar à religião ele tinha escapado dos sacerdotes. Mas havia alguém que sabia mais, e que tomou suas medidas convenientemente. Esse foi o próprio pai da ordem dos sacerdotes. Ele teve apenas que dar a palavra de ordem e, em seguida, um novo tipo de sacerdote surgiu, uma nova classe de sacerdotes foi instituída.

 

            A bandeira da religião foi trocada por aquela da ciência, e tudo continuou como antes, nenhum aspecto essencial da doutrina ou da prática sendo mudado, mas somente os acessórios. E bem como antes o homem acreditou em seus sacerdotes, os especialistas da religião, quando eles lhe disseram que era necessário para a cura das almas que deveriam ter plena liberdade para torturar e massacrar aqueles seus co-irmãos que diferissem dele em opiniões religiosas, assim também agora o homem tem acreditado em seus sacerdotes, os especialistas da ciência, quando eles lhe dizem que é necessário para a cura dos corpos que devam ter plena liberdade para torturar e massacrar aqueles seus co-irmãos que diferem dele em forma e complexão e grau de evolução.

 

            O pecado típico dessa época é a prática chamada Vivissecção. Aquilo que a Inquisição foi para a época que passou, o laboratório fisiológico é para a presente época – o indicador do nível espiritual do homem desse período. E enquanto que o indicador antes apontava para um grau acima de Zero, ele agora aponta para Zero.

 

            De acordo com o representado pelo tipo de intelecto mais reconhecido nessa época, a consciência espiritual do homem está extinta. Depois de ser grosseiramente corrompida, a “mulher” nele foi completamente suprimida; Deus, a alma, a responsabilidade moral, tudo que a intuição representa, são tidos como nada e negados. Tão somente o corpo é levado em conta, e a vivissecção é flagrantemente o símbolo dessa negação.

 

            Em prol desse novo culto, a Cristandade – ostensivamente assim chamada, em sinal de sua veneração por uma humanidade que devido aos seus milagres de simpatia e auto-sacrifício aos demais, foi considerada divina – tornou-se fortemente impregnada em todos os lugares com salas de tortura onde, ano após ano, miríades e miríades de criaturas, altamente organizadas, profundamente sensíveis, inofensivas, saudáveis, e de outro modo felizes, são submetidas aos mais excruciantes e prolongados tormentos que a mente humana pode conceber, e a habilidade científica projetar e infringir. E isso na hipótese, reconhecidamente remota, de encontrar desse modo alguma medida de alívio dos sofrimentos que, por sua própria ignorância, insensatez ou perversidade, os homens trouxeram sobre si mesmos.

 

            E essas coisas são feitas, não pelo rudimentar, pelo bárbaro, pelo selvagem, pelo alienado, pelo feiticeiro, pelo excluído, e numa afronta às leis; mas sim pelo educado e de posição social elevada, sob a sanção e permissão das leis e sob a proteção da polícia; seus perpretadores sendo prezados e incentivados, e também honrados como benfeitores de sua espécie.

 

            E as igrejas chamadas cristãs, praticamente em sua totalidade, têm permanecido passivas e mudas, nenhuma igreja de maior expressão erguendo sua voz em protesto. Ao mesmo tempo – apenas com um punhado de exceções, desprezadas e zombadas como sendo “enfadonhas” – seus membros apóiam tais práticas, ansiosos por aceitar seus alegados ganhos, sem levar em consideração o custo em sofrimento para suas vítimas; sem levar em consideração a degradação de seus perpretadores; sem levar em consideração, também, ao consentirem com tais iniqüidades, os princípios que eles declaram ser seus, ou sua total incompatibilidade com qualquer coisa que possa ser chamada humana ou divina.

 

            E durante todo esse tempo o pai da ordem dos sacerdotes observa e exulta ao ver seu esquema favorito, porque o mais eficaz, para depravar a concepção ao mesmo tempo de Deus e de humanidade – a doutrina, conforme apresentada pelos sacerdotes, da salvação vicária [por meio de outro] – sendo tão fielmente reproduzido na esfera da ciência. E o verdadeiro método de salvação, seja da alma, seja do corpo – aquele da regeneração por meio da autopurificação e do autoaperfeiçoamento – sendo excluído da esfera da religião, tanto quanto da esfera da ciência, e sem qualquer diminuição da degradação causada ao homem, ou da satisfação para o pai da ordem dos sacerdotes e sua prole.

 

            O Sacerdotalismo, enquanto isso, encontra sua recompensa na consciência de ter servido tão bem aos seus mestres, no sentido que ele finalmente cumpriu seu objetivo último ao eclipsar a fé que adotou e que fingiu prezar, usando o nome de Cristo não para destruir, mas para promover as obras do maligno, estabelecendo uma sociedade humana sobre a ética do inferno, povoando a terra com seres perversos em lugar de seres realmente humanos, e colocando para ser adorado um demônio ao invés de Deus.

 

            Pois o que senão inferno é uma condição de coisas na qual os mais fortes e mais astuciosos são livres, por seus próprios fins egoístas, para cruelmente torturar aos mais fracos e mais singelos? O que senão demônios são os que fazem ou consentem em fazer isso? E o que senão um demônio é o ser que estimula e aprova isso? Contudo, tal é o ser que a Cristandade de nossos dias, julgada não por suas palavras, mas por suas ações – que é o único critério verdadeiro – tem exaltado e colocado no lugar de Deus, “de modo que Ele, como Deus, sentou no templo de Deus, mostrando que Ele é Deus”. Que o homem chame a si mesmo do modo que fôr, teísta ou ateísta, aquilo ao qual ele torna sua norma de conduta é para ele Deus; e segundo tal imagem é ele mesmo feito. Essa é uma conclusão da qual não há forma de escapar.

 

            E isto também é positivo e verificado fato: – Aquilo no que o homem torna esse mundo para os demais, não importa quão pequenos e pobres sejam eles, naquilo ele torna o próximo mundo para ele mesmo. Pois os infernos, da mesma forma que os céus, têm sido abertos de modo que nada possa estar faltando para tornar a “Nova Interpretação” um evangelho de redenção. Os mais bem vindos, uma vez que foram mais endurecidos, como recrutas dos abismos do inferno, são aqueles que tiveram seu treinamento nos laboratórios fisiológicos.

 

            E como o homem, quer seja teísta ou ateísta, deve ter um Deus, assim também ele deve ter um credo, e os artigos no credo de uma Cristandade dada à vivissecção são da seguinte maneira: Ao invés de haver uma e única fonte, e essa uma fonte divina, para todas as coisas boas e verdadeiras, o universo está tão perversamente constituído que o moralmente errado é o cientificamente certo e o praticamente útil; e os fins divinos – tal como a arte de curar – devem ser alcançados por meios infernais – tal como a prática de torturar. Não são as mentes mais elevadas que são as mais qualificadas para a investigação da enfermidade e o auxílio aos que sofrem, mas sim os corações mais duros; e as pessoas apropriadas para ensinar em assuntos de religião e de moral são os especialistas da ciência física, que renunciaram à própria idéia de tais coisas como sendo quimeras.

 

            O poder [a força] é o certo; o fim justifica os meios; não há limites morais para a auto-satisfação, mas é legítimo buscar sua própria vantagem a despeito da compaixão, da piedade e da justiça, e do custo para os demais seres sencientes. O homem não tem deveres quer em relação àqueles que são incapazes de defender seus próprios direitos, ou em relação à sua própria natureza mais elevada. Não é o caráter mas a forma que faz o homem.

 

            A cabeça é tudo, o coração é nada; os sentidos são tudo, a consciência é nada; o corpo é tudo, a alma nada; desumanidade é humanidade; e não o amor, mas o si mesmo, o si mesmo ou ego corporal é o tudo e por tudo no ser, e a gratificação daquele ser o cumprimento de toda a lei natural; o verdadeiro caminho de evolução é pela degradação moral; a prática do que mais baixo deve ser a regra para o mais elevado; e a humanidade deve ser beneficiada por aquilo que é supremamente subversivo da humanidade, mesmo ao ponto da demonização do homem.

 

            Tal a condição, como demonstrado por sua aceitação da Vivissecção, de imbecilidade mental, moral e espiritual a que a Cristandade foi reduzida por seus sacerdotalismos, quer religioso, quer científico.

 

            E que tenha sido criada a ocasião, pelos Poderes do Bem, para tornar conhecido o “Novo Evangelho da Interpretação”, o qual há de restaurar ao homem o conhecimento de Deus, é porque Eles olham para esse momento como a última, porque a pior, tentativa dos poderes do mal para abolir Deus.

 

            A Queda tendo chegado ao seu nível mais profundo, a Redenção é indispensável se a humanidade deve de algum modo ser salva. E, enquanto que a queda consistiu na perda do equilíbrio mental do homem, por meio da supressão de toda uma metade de seu sistema intelectual, ou seja, a feminina – e a perda de equilíbrio mental constitui insanidade – a redenção consistirá na restauração do equilíbrio mental do homem, por meio da reposição dessa metade suprimida, para a recuperação de sua sanidade. “Pois o homem não está sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor” em toda a divina Humanidade; a Humanidade que é, espiritualmente, tanto homem como mulher, desenvolvida, equilibrada, e unida em um espírito puro.

 

 

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