Índice Geral das Seções Índice da Seção Atual Índice da Obra Atual Anterior: IX - A “Mulher” Não é uma Mulher, Mas Sim a Alma e a Intuição Seguinte: XI - Verdadeira e Esotérica Doutrina da Encarnação Divina
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X.
A Queda, Ocasionada pelo Sacerdotalismo
Atuando sob Controle Satânico,
por Meio da
Perversão da Consciência Espiritual
1. (*) Para a Bíblia, então, em seu
sentido esotérico e divinamente pretendido, a “mulher” através da qual o homem
cai, e a “mulher” através da qual ele é redimido, são uma e a mesma coisa, a
diferença entre elas sendo apenas de condição. Nenhuma delas é uma mulher. Mas
ambas implicam aquele princípio no homem que, por ser de natureza e potência
feminina, a Bíblia chama de “a Mulher”: ou seja, a alma e sua faculdade de
intuição. Isso porque, como um livro da alma, a Bíblia trata de princípios e se
dirige à alma, provando, desse modo, que sua inspiração é de origem Celestial e
Divina.
2. O Sacerdotalismo, ao contrário disso, em razão
de sua falta de qualquer senso de coerência, de sua ignorância quanto aos
princípios e processos da alma, bem como do significado da simbologia da Bíblia,
tem – por meio de seu tratamento da “Mulher” – provado que sua inspiração é de
origem astral e infernal; uma vez que seus métodos tão exatamente reproduzem
aqueles das influências assim designadas.
E daí tem-se que, ao invés de ver que o processo da Redenção deve
necessariamente ser o exato inverso daquele da Queda, e que ambos devem ser
espirituais, e não pessoais, o Sacerdotalismo atribuiu a Queda a uma mulher, e
jogou toda a culpa da Queda sobre ela e seu sexo, marcando-a com o estigma da
inferioridade e da servidão, com o qual as mulheres têm, desde então,
sido
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amaldiçoadas, e ignorou
completamente o fato de que a Queda foi causada inteiramente pelo próprio
Sacerdotalismo, através de sua sistemática deturpação de tudo o que ela [a
Mulher] representa.
3. Assim sendo, ao invés de buscar – trabalhando em
prol do seu soerguimento – reparar os efeitos da Queda, o Sacerdotalismo a tem
mantido subjugada para que ela não pudesse ser reerguida, tornando-a, desse
modo, sua própria escrava desprezível.
E o Sacerdotalismo tem confundido e obscurecido ainda mais a
percepção do homem sobre a verdade a respeito da Mulher, primeiramente
tornando-a a mãe física do homem Jesus, ao invés da mãe espiritual do Cristo no
homem – relacionando absurdamente sua “virgindade” ao corpo, ao invés da alma,
corrompendo de forma blasfematória as concepções do homem, tanto em relação ao
método divino como em relação à sua própria natureza. E, mais ainda, ao
identificá-la com a Igreja, significando o próprio Sacerdotalismo, perverteu as
condenações do Apocalipse a respeito do Sacerdotalismo, transformando-as em
glorificação de si mesmo.
Pois, ainda que seja verdade que a “Mulher” – a quem a Escritura
exalta ao atribuir-lhe a redenção do homem – se refira, em um de seus aspectos,
à Igreja, não se refere à Igreja tal como constituída e definida pelo
Sacerdotalismo, mas sim à Igreja da coletividade das almas dos homens redimidos
do poder do Sacerdotalismo, por meio de sua própria restaurada intuição da
verdade, o que acarreta na exposição e derrocada do Sacerdotalismo.
4. A rejeição da Intuição pelo mundo de nossos dias
se deve, em grande parte, à crença de que ela afirmaria a posse de conhecimentos
adquiridos independentemente da experiência. No entanto, a definição que já foi
dada aqui quanto à natureza da Intuição aponta o erro dessa crença, mostrando
que ela está baseada em um completo equívoco.
Em razão desse equívoco e de suas conseqüências, o Sacerdotalismo tornou-se o
responsável por suprimir a verdade quanto a natureza da alma e sua pré-existência, suprimindo também a
verdade acerca das conseqüentes oportunidades da Alma adquirir conhecimentos por
meio da experiência. Pois aquilo que a intuição representa é precisamente aquele
conhecimento positivo que a alma adquiriu por meio da experiência, a respeito de
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Deus, do mundo e do homem, durante as longas eras
de seu passado como um ente individual.
Muito longe de ser um mistério, e muito longe de o conhecimento
assim adquirido, por meio de tal organon [instrumento], ser abominável, impensável, inacreditável ou mesmo
obscuro e ininteligível – crença cuja aceitação e afirmação
involve o suicídio intelectual e moral, que o Sacerdotalismo impõe aos
seus devotos – esse conhecimento da Intuição representa o próprio bom senso do
homem em sua modalidade mais elevada.
Isto porque se trata daquela verdade que no mais íntimo de seu coração ele
sempre sentiu e almejou, e quase acreditou, mas a qual – devido ao véu de sangue
lançado pelos seus sacerdotes, tanto sobre o universo como sobre a sua própria
visão – ele se tornou incapaz de ver. Pois ela é aquela perfeita verdade e
perfeita bondade que, não fosse pela afirmação dos sacerdotes em sentido
contrário, o homem teria acreditado se tratar de Deus.
5. E é por meio da “mulher”, a Intuição, que o
homem alcança seu bom senso [em inglês: common sense], nesse que é seu nível mais
elevado. E que esse seja, com toda verdade, seu nível mais elevado, é porque a
conclusão que ele compreende é a concordância entre, não apenas de todos os
seres humanos, mas entre todas as partes do ser humano.
E sendo isso, ele é a concordância, ao mesmo tempo, do Homem Completo, e do
homem íntegro, do homem sadio e, nesse sentido – como só ele pode ser – do homem
lúcido. Pois ele é a conclusão, não de uma maioria, por maior que ela possa ser, constituída de homens rudimentares em razão de sua falta
de desenvolvimento, ou de homens mutilados pela supressão daquela metade
essencial do sistema humano, a intuição.
Não se trata, portanto, da conclusão alcançada por seres humanos “subjugados sob
o altar” e “na prisão” de seus elementos inferiores; não por uma maioria de
trogloditas espirituais enterrados profundamente nas cavernas da materialidade e
incapazes de aspirar para além do inferior e do corpóreo. É, sim, a conclusão do
homem substancial e real; do homem emancipado, livre e desenvolvido em relação à
consciência de todas as múltiplas esferas e modalidades do Ser, de onde a
infinita e eterna Plenitude Se diferencia e Se distribui
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no universo para
tornar-se individualizada no ser humano. Ela é a conclusão, em suma, do homem
que, reconhecendo Deus tanto como a Força quanto como a Substância da
Existência, O reconhece igualmente como Pai e Mãe, e tem, nesse sentido,
buscado, pelo desenvolvimento em si mesmo de todos os princípios, propriedades,
qualidades e atributos, respectivamente masculinos e feminos,
do Ser, tornar-se realmente – visto que espiritualmente – o que foi descrito
com "feito à imagem de Deus, homem e mulher" [Gênesis 1:27],
adicionando ao intelecto, a intuição, à mente, a consciência moral, e à vontade,
o amor – representando assim, ao mesmo tempo, o Humano Completo e a Deidade
Completa.
6. Tal é o bom senso [common sense], e tais
são os resultados, acrescidos ao homem através dela, a mulher mística das
Escrituras, tão desprezada e rejeita pelos sacerdotalismos do mundo, tanto da religião como da ciência;
desde que ele observe as condições prescritas em relação a ela.
7. Essas condições são aquelas que, por serem
indispensáveis para que o homem alcance sua própria perfeição, são atributos do
Cristo. Como quando se diz que “ele vem atando o seu burrico à videira, e o
filho da sua jumenta à videira seleta, e lava suas roupas em vinho e a sua
vestidura em sangue de uvas” [Gênesis 49:11]. Assim montado e assim purificado, ele cavalga como
rei em triunfo para dentro da cidade sagrada de seu próprio sistema regenerado.
Pois aquele a quem essas metáforas representam é a união dos dois modos da
mente, o Intelecto e a Intuição, em um espírito puro. Ao preencher essas
condições, o homem se tornar, como é dito: “tu és sacerdote para sempre, segundo
a ordem de Melquisedeque” [Hebreus 17:7]. Pois aquilo que essas metáforas denotam é a união das
duas modalidades a mente, o Intelecto e a Intuição, em um espírito puro. Ao
preencher essas condições o homem se torna “um sacerdote para sempre na ordem de
Melquisedeque” [Hebreus 17:7]. Pois aquilo que esse nome implica é o perfeito
equilíbrio entre essas duas faculdades, como o rei e a rainha do sistema mental
do homem.
Ao possuir uma mente como essa, o homem tem “a mesma mente que estava em Cristo
Jesus” [Filipenses
2:5], e é “ungido de Deus”, estando repleto do Espírito, e não mais sujeito às
limitações da matéria. E estando assim reconstituído dos elementos de seu
sistema – sua substância e sua vida – em sua condição divina, uma vez que pura,
ele é descrito como sendo
“renascido da
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água e do espírito”, e tendo por pais a “Virgem Maria
e o Espírito Santo”, e como sendo ao mesmo tempo filho de Deus e do Homem, e
sendo portanto “Deus-Homem”. Pois o ser assim divinamente gerado no homem é Deus
tornando-se homem, e homem permanecendo Deus. Tal e tão simples, óbvia, razoável
e divina, quando interpretada em seu sentido verdadeiro, é a doutrina que o
Sacerdotalismo tornou a um só tempo incompreensível e blasfematória.
8. Não foi apenas do processo indispensável a
outros que Jesus falou quando Ele disse, como por exemplo
a Nicodemus: “Deveis nacer
novamene da água e do Espírito”. Nisso declarou como
Ele próprio foi gerado. Pois “água e o Espírito”, “água e o
sangue”, “Espirito e Noiva”, “Espírito de Deus se
movendo sobre a face das águas”, “Virgem Maria e Espírito Santo” – todos esses
são apenas diversas maneiras de significar o mesmo dualismo existente no Ser, o
dualismo da Força e da Substância, em virtude do qual Deus é igualmente Pai e
Mãe, e criação e redenção se dão pela geração.
Os dois aspectos são igualmente Espírito, pois de
nenhum outro modo poderia haver relação harmônica entre eles. E sendo espírito
eles são substância viva, e sendo substância viva eles
são chamados de “sangue” – significando o sangue divino da vida divina, a vida
que é Deus, mesmo o próprio ser de Deus, que Deus está sempre emanando por igual
para a criação, a sustentação e a redenção do universo.
E é em consonância com essa vida e substância espirituais que o
amado Apóstolo, que é o único que as compreende e as registra – aquele a quem no
fim o Cristo, como Filho da “Mulher”, a Intuição, entrega sua "Mãe” – contempla
verter do lado perfurado de seu Mestre, o “Cristo interno”, e não o Cristo
“segundo a carne”, como aquele expoente dos místicos e ocultistas, o Apóstolo
Paulo, declara claramente.
9. Agora, com relação à regeneração, é necessário
dizer o que segue: – Por se dar a partir de fora do corpo, o processo deve ser realizado, pelo menos em
grande parte, enquanto no corpo.
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E por ser longa e gradual, ela se estende por
muitas vidas terrenas. A doutrina da multiplicidade das vidas terrenas,
anteriormente chamada de transmigração e de retorno das almas, e agora de
reencarnação, era universal nas Igrejas pré-cristãs, e está implícita ao longo
de toda a Bíblia, sendo que algumas vezes também explicitamente.
Mas o Sacerdotalismo, ao assumir o estilo e o título de cristão, achou
conveniente ocultá-la e refutá-la. A razão disso não é difícil de achar, agora
que a fonte e os motivos que inspiram o Sacerdotalismo estão revelados. A
reencarnação é a condição para a regeneração, tornando-a possível ao
oferecer as oportunidades necessárias de experiência. E a regeneração se dá por
meio da purificação interior, sendo esse o segredo e o método do Cristo. Mas os
controladres do Sacerdotalismo queriam
sangue para si mesmos. Assim, a regeneração foi
engavetada para dar espaço para a sua substituição. Como os seres infernais
sabiam, e o evento se provou verdadeiro, dê aos homens um Deus que ame o sangue,
e eles inundarão a terra com sangue para Sua glória. Pois, “assim como no céu” –
a concepção do homem acerca de Deus – “também na terra”. O homem sempre se fez
segundo a imagem na qual ela faz de seu Deus.
10. Não que a doutrina do sacrifício seja falsa, mas
somente aquela do sacrifício vicário. Pois, como diz o novo Evangelho da
Interpretação, enfatizando e reforçando o velho Evangelho da Bíblia – não há tal
coisa como uma redenção vicária, pois ninguém pode redimir a um outro por meio
do derramamento de sangue inocente. A justiça não pode ser saciada com a punição
do inocente pelo culpado, mas na verdade, o inocente é com isso duplamente
ultrajado.
Nenhum homem pode assumir o pecado de outro, nem deve ele pagar pela
transgressão de seu irmão; mas cada um deve carregar seu próprio pecado, e ser
purificado por sua própria correção. Remover o sofrimento do homem é remover
seus meios de redenção. Tão somente se, através do próprio sofrimento, ele se
arrepender, poderá receber perdão. “A alma que peca, ela própria morrerá”, e
nenhuma outra em seu lugar. E ele não se libertará do estado de ser no qual
pecou –
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até ter pago o último
vintém; porém retornará a esse estado, repetidamente, até que tenha conquistado
sua própria salvação, e não esteja mais propenso a pecar. É por isso que, "desde
Adão até Cristo”, desde a Queda até a Redenção, há tantas "gerações". Elas são
os degraus para o progresso do próprio homem. É verdade que o homem,
considerado como a personalidade exterior, não sabe que ele está pagando
pelas faltas de suas vidas passadas. Nem tampouco ele propriamente está fazendo
isso; pois como personalidade exterior ele não tem vidas passados, sendo
renovado a cada nova encarnação.
Mas o homem considerado com a individualidade interior conhece isso e sua
responsabilidade existe na medida em que ele negligencia ou atenta ao
conhecimento, que é a voz da consciência falando nele. Tal sacrifício constitui
também um ato de unificação. Pois por meio dele o homem se torna uno com o
Espírito Divino dentro dele, alcançado após longo tempo o estado de Cristo. E o
princípio em virtude do qual isso ocorre nele, e o processo correspondente, são
ambos “Cristo”. Pois por Cristo se representa não apenas uma pessoa, uma posição
e um estado espiritual, mas também um princípio e um processo. De modo que,
mesmo que o homem seja salvo por “Cristo”, ele não é salvo vicariamente, no
sentido eclesiástico.
NOTA
(33:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.
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