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Tradução: Daniel M. Alves
Revisão e edição: Arnaldo Sisson Filho

[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

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ILUMINAÇÕES

 

PRIMEIRA PARTE

 

CAPÍTULO I

 

SOBRE OS TRÊS VÉUS ENTRE O HOMEM E DEUS (1)

 

            1. (*) UM ANJO me deu em sonho um cálice dourado, como aqueles usados em rituais católicos, mas com três coberturas. Essas três coberturas, disse-me ele, representavam os três níveis dos céus: – pureza de vida, pureza de coração e pureza de doutrina.

            Logo em seguida, surgiu um grande templo, de estilo muçulmano, coberto por uma abóbada, e em sua entrada havia um grande anjo com uma veste branca que, com ar de comando, dirigia um grupo de homens empenhados em destruir e jogar na rua grande quantidade de crucifixos, bíblias, livros de oração, utensílios de altar e outros símbolos sagrados.

            Enquanto observava, um tanto escandalizada com o aparente sacrilégio, uma voz bradava de elevada altura no ar, com impressionante clareza: “Ele destruirá completamente todos os ídolos!” e a mesma voz, que parecia vir de ainda mais alto, gritou para mim: “Venha para cá e veja!”. Imediatamente pareceu-me que fui levantada pelos cabelos e levada bem acima da terra. (2) De repente surgiu no meio do ar a visão de um homem de aspecto majestoso em trajes antigos, rodeado por uma multidão de adoradores ajoelhados. No começo achei estranha a aparição dessa figura, mas enquanto eu olhava atentamente para ela, ocorreu uma mudança em sua face e em suas vestes, e eu achei que reconheci Buddha – o Messias da Índia. Mal eu tinha me convencido disso, quando uma grande voz, como a de milhares de vozes gritando em uníssono, bradou aos adoradores:

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            “Fiquem de pé: – Adorem somente a Deus!”. E mais uma vez a figura mudou, como se uma nuvem tivesse passado por ela, e agora ela pareceu assumir a forma de Jesus. Vi novamente os adoradores ajoelhados, e outra vez a poderosa voz bradou: “Levantem! Adorem somente a Deus!”. O som de sua voz era com o do trovão e notei que ecoava sete vezes. Sete vezes o brado reverberou, aumentando a cada ressoar, como que subindo de esfera para esfera. Então, de repente, caí pelo ar, como se a mão que me sustentava fosse tirada; e ao voltar à terra parei dentro do templo que tinha aparecido na primeira parte da minha visão. Na extremidade leste (*) do templo havia um grande altar, de cima e de traz do qual timidamente vinha uma bela luz branca, cujo brilho era limitado e obscurecido por uma cortina escura, suspensa da abóbada em frente ao altar. E o corpo do templo que, se não fosse pela cortina, estaria completamente iluminado, estava praticamente na escuridão, a qual era rompida apenas pelo brilho irregular de lamparinas quase expirando, penduradas aqui e ali na vasta cúpula.

            De pé, à direita do altar, estava o mesmo anjo alto que eu tinha encontrado antes na entrada do templo, levando em sua mão um incensório aceso. Então, ao perceber que ele olhava fixamente para mim, eu lhe disse: “Diga-me, que cortina é essa na frente da luz, e porque o templo está tão escuro?” Ele respondeu: “Este véu não é Um, mas são Três; e os três são: o Sangue, a Idolatria, e a Maldição de Eva. A você é dado retirá-los; tenha fé e seja corajosa; é chegada a hora”.

            A primeira cortina era vermelha e muito pesada; e com grande esforço consegui afastá-la e disse: “Retirei o véu do Sangue da frente de Vossa Face. Iluminai, ó Senhor Deus!”. Mas uma voz, que vinha de trás das dobras das duas cortinas que lá permaneciam, me respondeu: “Não consigo brilhar por causa dos ídolos”. E vejam , diante de mim uma cortina com muitas cores, tecida com todo o tipo de imagens, crucifixos, madonas, Velhos e Novos Testamentos, livros de oração e outros símbolos religiosos, uns estranhos e surpreendentes, como os ídolos da China e do Japão, outros belos, como os dos gregos e dos cristãos. E a cortina pesava como chumbo, pois estava espessa com bordados de ouro e prata. Mas, com as duas mãos, eu a rasguei e clamei: “Afastei os Ídolos da frente de Vossa Face. Iluminai, ó Senhor Deus!”.

            Agora a luz era mais clara e mais brilhante. Mas ainda diante de mim pendia um terceiro véu, todo em preto; e sobre ele estava esboçada uma imagem de quatro lírios em um único caule invertido, seus copos se abrindo para baixo. E, detrás desse véu, a voz

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me respondeu novamente: “Não posso brilhar por causa da Maldição de Eva”. Então, empreguei toda minha força e com grande determinação arranquei a cortina, gritando: “Removi a Maldição de Eva de diante de Vós. Iluminai, ó Senhor Deus!”.

            2. Já não havia mais um véu, mas uma paisagem, mais gloriosa e perfeita do que palavras podem descrever, um jardim de absoluta beleza, repleto de palmeiras, de oliveiras, de figueiras, de rios de águas límpidas e de gramados de um verde suave; ao longe, florestas e bosques emoldurados por montanhas coroadas de neve, e no cimo de seus brilhantes picos um sol nascente, cuja luz era a que eu tinha visto por detrás dos véus.

E ao sol, no alto, diáfanas formas brancas de grandes anjos flutuavam como nuvens pela manhã sobre a aurora. E abaixo, sob frondoso cedro, estava um elefante branco, carregando em seu assento dourado uma linda mulher vestida como uma rainha e usando uma coroa. Mas, enquanto eu olhava em êxtase – desejando olhar para sempre – o jardim, o altar e o templo foram afastados de mim, em direção ao Céu. Então, enquanto eu olhava para cima, a voz voltou, a princípio nas alturas, mas vindo em direção à terra a medida que eu ouvia. E vejam, diante de mim surge o branco pináculo de um minarete, ao redor e abaixo dele o céu estava todo dourado e vermelho, com a glória do sol nascente. Percebi que a voz agora era de um solitário muezim (*) em pé no minarete com as mãos erguidas e pregando em voz alta:

 

“Afastem o Sangue de vosso meio!

Destruam seus Ídolos!

Restaurem sua Rainha!

 

Logo em seguida uma voz, como a de uma infinita multidão, que parecia vir do alto, dos lados e de baixo dos meu pés – uma voz como um vento elevando-se desde as cavernas sob as montanhas até às mais elevadas e distantes alturas entre as estrelas – respondeu:

 

“Adorai somente a Deus!”

 

NOTAS

 

(1:1) Londres, março de 1981. Citado em Life of Anna Kingsford, Vol. II, pp. 21, 82.

(1:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.

(1:2) I.e., elevada à consciência espiritual, acima da consciência material. S.H.H.

(2:*) N.T.: Ou seja, na extremidade oriental, lugar em que usualmente se encontram os altares nos templos. O oriente representa a origem, a fonte de onde vem a luz, o Cristo, Deus.

(3:*) N.T.: Membro da mesquita que, por sua voz e personalidade, era escolhido para chamar os fiéis à oração.

 

 

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