Índice Geral das Seções Índice da Seção Atual Índice da Obra
|
[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]
(p. 1)
ILUMINAÇÕES
PRIMEIRA PARTE
CAPÍTULO I
SOBRE OS TRÊS
VÉUS ENTRE O HOMEM E DEUS (1)
1. (*) UM ANJO me deu em sonho um cálice dourado, como
aqueles usados em rituais católicos, mas com três coberturas. Essas três
coberturas, disse-me ele, representavam os três níveis dos céus: – pureza de
vida, pureza de coração e pureza de doutrina.
Logo em seguida, surgiu um grande templo, de estilo muçulmano, coberto por uma
abóbada, e em sua entrada havia um grande anjo com uma veste branca que, com ar
de comando, dirigia um grupo de homens empenhados em destruir e jogar na rua
grande quantidade de crucifixos, bíblias, livros de oração, utensílios de altar
e outros símbolos sagrados.
Enquanto observava, um tanto escandalizada com o aparente sacrilégio, uma voz
bradava de elevada altura no ar, com impressionante clareza: “Ele destruirá
completamente todos os ídolos!” e a mesma voz, que parecia vir de ainda mais
alto, gritou para mim: “Venha para cá e veja!”. Imediatamente pareceu-me que fui
levantada pelos cabelos e levada bem acima da terra. (2) De repente surgiu no meio do ar a
visão de um homem de aspecto majestoso em trajes antigos, rodeado por uma
multidão de adoradores ajoelhados. No começo achei estranha a aparição dessa
figura, mas enquanto eu olhava atentamente para ela, ocorreu uma mudança em sua
face e em suas vestes, e eu achei que reconheci Buddha
– o Messias da Índia. Mal eu tinha me convencido disso, quando uma grande voz,
como a de milhares de vozes gritando em uníssono, bradou aos adoradores:
(p. 2)
“Fiquem de pé: – Adorem somente a Deus!”. E mais uma vez a figura mudou, como se
uma nuvem tivesse passado por ela, e agora ela pareceu assumir a forma de Jesus.
Vi novamente os adoradores ajoelhados, e outra vez a poderosa voz bradou: “Levantem! Adorem somente a Deus!”. O
som de sua voz era com o do trovão e notei que ecoava sete vezes. Sete vezes o
brado reverberou, aumentando a cada ressoar, como que subindo de esfera para
esfera. Então, de repente, caí pelo ar, como se a mão que me sustentava fosse
tirada; e ao voltar à terra parei dentro do templo que tinha aparecido na
primeira parte da minha visão. Na extremidade leste (*) do templo havia um
grande altar, de cima e de traz do qual timidamente vinha uma bela luz branca,
cujo brilho era limitado e obscurecido por uma cortina escura, suspensa da
abóbada em frente ao altar. E o corpo do templo que, se não fosse pela cortina,
estaria completamente iluminado, estava praticamente na escuridão, a qual era
rompida apenas pelo brilho irregular de lamparinas quase expirando, penduradas
aqui e ali na vasta cúpula.
De pé, à direita do altar, estava o mesmo anjo alto que eu tinha encontrado
antes na entrada do templo, levando em sua mão um incensório aceso. Então, ao
perceber que ele olhava fixamente para mim, eu lhe disse: “Diga-me, que cortina
é essa na frente da luz, e porque o templo está tão escuro?” Ele respondeu:
“Este véu não é Um, mas são Três; e os três são: o Sangue, a Idolatria, e a
Maldição de Eva. A você é dado retirá-los; tenha fé e seja corajosa; é chegada a
hora”.
A primeira cortina era vermelha e muito pesada; e com grande esforço consegui
afastá-la e disse: “Retirei o véu do Sangue da frente de Vossa Face.
Iluminai, ó Senhor Deus!”. Mas uma voz, que vinha de trás das dobras das
duas cortinas que lá permaneciam, me respondeu: “Não
consigo brilhar por causa dos ídolos”. E vejam só, diante de mim uma cortina com muitas cores, tecida com
todo o tipo de imagens, crucifixos, madonas, Velhos e Novos Testamentos, livros
de oração e outros símbolos religiosos, uns estranhos e surpreendentes, como os
ídolos da China e do Japão, outros belos, como os dos gregos e dos cristãos. E a
cortina pesava como chumbo, pois estava espessa com bordados de ouro e prata.
Mas, com as duas mãos, eu a rasguei e clamei: “Afastei os Ídolos da frente de
Vossa Face. Iluminai, ó Senhor Deus!”.
Agora a luz era mais clara e mais brilhante. Mas ainda diante de mim pendia um
terceiro véu, todo em preto; e sobre ele estava esboçada uma imagem de quatro
lírios em um único caule invertido, seus copos se abrindo para baixo. E, detrás
desse véu, a voz
(p. 3)
me respondeu
novamente: “Não posso brilhar por causa da Maldição de Eva”. Então, empreguei
toda minha força e com grande determinação arranquei a cortina, gritando:
“Removi a Maldição de Eva de diante de Vós. Iluminai, ó
Senhor Deus!”.
2. Já não havia mais um véu, mas uma
paisagem, mais gloriosa e perfeita do que palavras podem descrever, um jardim de absoluta beleza, repleto de
palmeiras, de oliveiras, de figueiras, de rios de águas límpidas e de gramados
de um verde suave; ao longe, florestas e bosques emoldurados por montanhas
coroadas de neve, e no cimo de seus brilhantes picos um sol nascente, cuja luz
era a que eu tinha visto por detrás dos véus.
E ao sol, no alto, diáfanas formas brancas de grandes
anjos flutuavam como nuvens pela manhã sobre a aurora. E abaixo, sob frondoso
cedro, estava um elefante branco, carregando em seu assento dourado uma linda
mulher vestida como uma rainha e usando uma coroa. Mas, enquanto eu olhava em
êxtase – desejando olhar para sempre – o jardim, o altar e o templo foram
afastados de mim, em direção ao Céu. Então, enquanto eu olhava para cima, a voz
voltou, a princípio nas alturas, mas vindo em direção à terra a medida que eu
ouvia. E vejam, diante de mim surge o branco pináculo de um minarete, ao redor e
abaixo dele o céu estava todo dourado e vermelho, com a glória do sol nascente.
Percebi que a voz agora era de um solitário muezim (*) em pé no minarete com as mãos
erguidas e pregando em voz alta:
“Afastem o Sangue de vosso meio!
Destruam seus Ídolos!
Restaurem sua Rainha!”
Logo em seguida uma voz, como a de uma infinita multidão,
que parecia vir do alto, dos lados e de baixo dos meu pés – uma voz como um
vento elevando-se desde as cavernas sob as montanhas até às mais elevadas e
distantes alturas entre as estrelas – respondeu:
“Adorai somente a Deus!”
NOTAS
(1:1) Londres,
março de 1981. Citado em Life of Anna Kingsford, Vol. II, pp. 21, 82.
(1:*) N.T.: Essa
numeração indica os parágrafos no original, em inglês.
(1:2) I.e.,
elevada à consciência espiritual, acima da consciência material. S.H.H.
(2:*) N.T.: Ou seja, na
extremidade oriental, lugar em que usualmente se encontram os altares nos
templos. O oriente representa a origem, a fonte de onde vem a
luz, o Cristo, Deus.
(3:*) N.T.: Membro da mesquita que, por sua voz e personalidade, era
escolhido para chamar os fiéis à oração.
Índice Geral das Seções Índice da Seção Atual Índice da Obra