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XI.

 

Mistério da Redenção, e o Cristo como
o Supremo Resultado desse Mistério

 

 

            O “Novo Evangelho da Interpretação” efetivamente afasta a invenção eclesiástica – não menos monstruosa do que alheia às escrituras – que, deificando Jesus e o apresentando como Deus, o remove da categoria de humano e o identifica com o Ser Supremo, e representa de forma ímpia aquele Ser como morrendo na Cruz para satisfazer Sua própria ira implacável. No entanto, isso de fato mantém e reforça o símbolo que é sustentado pelo Sacerdotalismo como confirmação de tal doutrina. Pois ela apresenta o Credo como um epítome da história espiritual, não de qualquer ser individual, mas de todos aqueles que, sendo “filhos da Intuição”, se tornam, por meio disso, “filhos de Deus”, e o Credo reconta os estágios daquele processo de regeneração do qual o Cristo é a culminância, mostrando que esse processo se fundamenta na própria natureza do ser, e está aberto, portanto, igualmente para todos os homens.

 

            Mas, mesmo assim, não é a Jesus, o homem, que se devem honras divinas. Ele é somente o veículo da manifestação Divina, e apenas um dentre muitos desses veículos, a diferença entre os quais é unicamente de grau, sendo que a natureza e a história espiritual de todos eles é a mesma. Pois, onde quer que Deus encontre manifestação dentro e através do homem, lá, em Seu grau, está Cristo.

 

            “Reconhecendo plenamente aquilo que Jesus foi e fez, o “Novo Evangelho da Interpretação” apresenta a salvação como dependendo, não do que qualquer homem tenha dito ou feito, mas no que Deus perpetuamente revela. Pois, de acordo com o “Novo Evangelho”, a Religião não é uma coisa do passado, ou de qualquer época em particular; mas é uma sempre presente realidade, que ocorre a todo instante; a qual é para todo homem apenas uma e a mesma: – um processo completo em si mesmo para cada homem; e que para ele existe independentemente de qualquer outro homem. Desse modo ele reconhece como atores, nesse drama crucial da alma, somente duas pessoas, o próprio indivíduo e Deus.” (1)

 

            Da mesma maneira pela qual todos os outros homens são salvos, é salvo aquele que se tornou um Cristo. Sua função é mostrar aos homens o caminho, tendo ele próprio aprendido esse caminho através da experiência.

 

            Ao fazer isso, a “Nova Interpretação” reconcilia a religião com a razão, e a fé com o conhecimento, restaurando para esse fim os textos sagrados originais a partir dos quais a própria Bíblia foi escrita, obtendo-os diretamente da fonte primária e eterna depositária da gnose divina à qual eles pertencem, a Hierarquia da Igreja Celestial, a qual, na plenitude da época apontada, agora se encontra, uma vez mais, em aberta relação com a Terra. Tal é o caráter e a origem reivindicados pela exposição que segue do “Mistério da Redenção”:

 

            “Todas as coisas no Céu e na Terra são de Deus, tanto as invisíveis como as visíveis.

            Assim como é o invisível, também é o visível, pois não há linha divisória entre o espírito e a matéria.

            A matéria é espírito tornado exteriormente cognoscível pela força da Palavra [ou Verbo] Divina [o].

            E Deus renovará todas as coisas pelo amor, o material se resolvendo no espiritual, e haverá um novo Céu e uma nova Terra.

            Não que a matéria venha a ser destruída, pois ela veio de Deus, e é de Deus, indestrutível e eterna,

            Mas ela se recolherá ao interior e se resumirá em seu verdadeiro ser.

            Ela afastará a corrupção, e permanecerá incorruptível.

            Ela afastará a mortalidade, e permanecerá imortal.

            De modo que nada seja perdido da Divina substância.

            Ela era entidade material: e será entidade espiritual.

            Pois não há nada que possa sair da presença de Deus.

            Essa é a doutrina da ressurreição dos mortos: ou seja, a transfiguração do corpo.

            Pois o corpo, que é matéria, é apenas a manifestação do Espírito: e a Palavra [Verbo] de Deus a transmutará em seu ser interior.

            A vontade de Deus é o crisol alquímico: e a impureza que é depositada dentro dele é matéria.

            E a impureza se tornará ouro puro, sete vezes refinado – o próprio perfeito espírito.

            Ela não deixará nada para trás: mas será transformada na Divina imagem.

            Pois ela não é uma nova substância: mas sua polaridade alquímica é alterada, e ela é convertida.

            Mas a menos que fosse ouro em sua verdadeira natureza, ela não poderia se transformar no aspecto do ouro.

            E a menos que a matéria fosse espírito, ela não poderia se reverter ao espírito.

            Para produzir ouro, o alquimista deve ter ouro.

            Mas ele sabe ser ouro naquilo que os outros consideram impureza.

            Entrega-te à vontade de Deus, e te tornarás como Deus.

            Pois tu és Deus, se tua vontade for a vontade divina.

            Esse é o grande segredo: é o mistério da redenção.” (2)

 

            Mas o processo da redenção é complexo e multifacetado, tal como é o próprio homem, e possui muitas etapas, se constituindo numa escada. Todo esse processo, imenso como ele é, está dentro do homem. Essa escada é ao mesmo tempo da Evolução e da Regeneração – sendo involutiva e espiritual – por meio da qual o homem ascende “do pó do chão ao trono do Altíssimo”, a qual tem Cristo como seu ápice. Os passos são assim apresentados na “Nova Interpretação”, tendo por base a apresentação hebraica.

 

            “Agora, os membros do microcosmo são doze: três membros são do sentido, três da mente, três do coração, e três da consciência.

            Pois do corpo há quatro elementos; e o signo dos quatro é o sentido, no qual há três portais;

            O portal da visão, o portal da audição, e o portal do tato. (3)

            Renuncie à vaidade, e seja pobre: renuncie ao reconhecimento, e seja humilde: renuncie à luxúria, e seja casto.

            Ofereça a Deus um sacrifício puro: permita que o fogo do altar chegue a ti, e prove tua fortaleza.

            Purifique tua visão, tuas mãos, e teus pés: conduza o incensório da tua adoração aos recintos do Senhor; e que teus votos se dirijam ao Altíssimo.

            E para o homem magnético (4) há quatro elementos: e a cobertura dos quatro é a mente, na qual há três portais;

            O portal do desejo, o portal do trabalho, e o portal da iluminação.

            Renuncie ao mundo, e aspire às coisas do céu; trabalhe, não para a carne que perece, mas peça a Deus teu pão de cada dia: acautela-te das doutrinas que te desviam, e permita que a Palavra [Verbo] do Senhor seja tua luz.

            A alma também possui quatro elementos: e a morada dos quatro é o coração, no qual, do mesmo modo, há três portais;

            O portal da obediência, o portal da oração, e o portal do discernimento.

            Renuncie à tua própria vontade, e deixe que apenas a lei de Deus esteja dentro de ti: renuncie à dúvida: ore sempre e não fraqueje: também seja puro de coração, e verás a Deus.

            E dentro da alma há o espírito: e o Espírito é Uno, e, no entanto, ele possui, do mesmo modo, três elementos.

            E esses elementos são os portais do oráculo de Deus, que é a arca da aliança;

            O cajado, a hóstia e a lei:

            A força que dissolve, e transmuta, e profetiza: o pão do céu que é a substância de todas as coisas e o alimento dos anjos; a tábua da lei, que é a vontade de Deus, escrita com o dedo do Senhor.

            Se esses três estiverem dentro de teu espírito, então o Espírito de Deus estará dentro de ti.

            E a glória estará com o que se sacrifica, no sagrado lugar de tua oração.

            Esses são os doze portais da regeneração: através dos quais, se o homem entrar, ele terá o direito à árvore da vida. (5)

 

            A “Nova Interpretação”, contudo, não se restringe à apresentação hebraica. Ela reconhece a Oriental, a Egípcia e a Grega, e ao fazer isso demonstra ao mesmo tempo a verdade da definição que torna o Cristianismo uma síntese dos mistérios sagrados que já se encontravam no mundo, e repreende o Sacerdotalismo cristão por ter suprimido esses mistérios, uma supressão que tem sido feita ao ponto de acusá-los de “satânicas imitações com o objetivo de antecipadamente desacreditar o Cristianismo.” E isso foi feito pelo Sacerdotalismo, não obstante o reconhecimento conferido a esses mistérios por Jesus, conforme adiante será explicado, e conforme foi explicado por São Paulo na sua descrição de Moisés como considerando a repreensão do Cristo [Hebreus 12] como contendo riquezas maiores do que os tesouros do Egito – uma expressão que mostra que a sabedoria que Moisés aprendeu no Egito compreendia, e era, a doutrina do Cristo, a gnose suprimida pelo Sacerdotalismo.

 

            Embora descreva o próprio processo de regeneração em termos derivados dos mistérios hebraicos, a “Nova Interpretação” celebra os supremos resultados daquele processo em um ritual que pertence aos mistérios gregos – que é uma das várias similaridades recuperadas pela “Nova Interpretação”. Trata-se de um hino devotado ao “Primeiro dos Deuses”, ou o Elohim criativo, o Espírito de Sabedoria, conforme representado por seu “Anjo”, o “Anjo do Sol”, e representante “daquela luz que Adonai criou no primeiro dia”, sob sua designação grega de Febo Apolo. Como se verá, este hino exala tanto o espírito como a letra da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, de tal modo que indica, inequivocamente, a identidade, em substância e origem, dos mistérios hebraicos e cristãos com os outros mistérios e escrituras sagradas da antiguidade. E, como também veremos, seu tema é a divindade potencial do homem como ser humano, e não a divindade exclusiva de um dado indivíduo humano em particular.

 

Hino a Febo

 

            “Forte e adorável és tu, Febo Apolo, trouxestes vida e cura em tuas asas, coroastes o ano com tua generosidade, e destes o espírito da tua divindade aos frutos e às coisas preciosas de todos os mundos.

            Onde estaria o pão da iniciação dos filhos de Deus, se tu não tivesse feito o milho florescer, ou o vinho de seu cálice místico, se tu não tivesse abençoado a vinha?

            Muitos são os anjos que servem nas cortes das esferas celestiais: mas tu, Mestre da Luz e da Vida, és seguido pelos Cristos de Deus.

            E teu sinal é o sinal do Filho do Homem nos céus, e do Justo tornado perfeito;

            Cujo caminho é como uma luz brilhante, brilhando mais e mais até a mais interna glória do dia do Senhor Deus.

            Teu estandarte é vermelho carmesim, e teu símbolo é um cordeiro branco-imaculado, e tua coroa é de puro ouro.

            Aqueles que reinam contigo são os Hierofantes dos mistérios celestiais; pois a vontade deles é a vontade de Deus, e eles conhecem como eles são conhecidos.

            Esses são os filhos da esfera mais interna; os Salvadores dos homens, os Ungidos de Deus.

            E o nome deles é Cristo Jesus, no dia de sua iniciação.

            E diante deles todo joelho se dobrará, tanto das coisas do céu e como das coisas da Terra.

            Eles são produto de grande tribulação, e são colocados para sempre à direita de Deus.

            E o Cordeiro, que está no meio das sete esferas, lhes dará de beber do rio da água vivente.

            E eles comerão da árvore da vida, que está no centro do jardim do reino de Deus.

            Eles são teus, Ó Grande Mestre da Luz; e esse é o domínio que a Palavra [Verbo] de Deus te designou desde o princípio:

            No dia em que Deus criou a luz de todos os mundos, e separou a luz das trevas.

            E Deus chamou a luz de Febo, e as trevas Deus chamou de Píton.

            Agora, havia trevas antes da luz, como a noite antecedeu a aurora.

            Esses são a noite e a manhã do primeiro ciclo dos Mistérios.

            E a glória desse ciclo é como a glória dos sete dias; e aqueles que nele habitam são sete vezes refinados;

            São os que purificaram a vestimenta da carne nas águas viventes;

            E transmutaram tanto o corpo como a alma no espírito, e se tornaram virgens puras.

            Pois eles foram compelidos pelo amor a abandonar os elementos externos, e a buscar o mais interno, que é indiviso, chegando mesmo à Sabedoria de Deus.

            E Sabedoria e Amor são Unos.” (6)

 

NOTAS

 

(1) The Perfect Way (O Caminho Perfeito), I, 42.

(2) Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), II, ix.

(3) O paladar e olfato sendo considerados modos de toque.

(4) Ou seja, a parte magnética ou astral do homem, que é considerada uma pessoa ou sistema em si mesmo.

(5) Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), II, v.

(6) Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), II, xi.

 

 

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