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XVI.

 

Culpa da Crucificação de Cristo Não Pesa Sobre os Judeus,

Mas Sobre o Sacerdotalismo

 

            Um exemplo típico dos métodos do Sacerdotalismo já foi apresentado em relação ao seu tratamento da “Mulher” do Édem. Outro exemplo, não menos instrututivo, é oferecido pelo seu tratamento dos judeus. Os judeus não foram os que crucificaram Cristo. Pois embora aqueles que o crucificaram fossem judeus, não foi como judeus, mas como sacerdotes, que eles o fizeram. Os judeus, ao contrário,

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o geraram e lhe forneceram seus apóstolos e discípulos: e eles “o ouviram alegremente, e o teriam forçado para torná-lo seu rei”, tão grandemente estavam eles cativados por seu puro e simples Evangelho de amor. Seus instintos eram suficientemente saudáveis. Porém, o Sacerdotalismo o assassinou, como tinha assassinado os profetas, seus irmãos, antes dele; e então, tendo, por seus próprios objetivos, o adotado como seu principal ídolo, porque o mundo o reverenciava, colocou todo o ódio de sua morte sobre os judeus, fazendo deles seu bode espiatório, um objeto de desprezo e uma ofensa à Cristandade. Ao mesmo tempo o Sacerdotalismo tomou para si mesmo o crédito por ter salvo o mundo, na medida em que o ofereceu em sacrifício, pretendendo de forma blasfematória que Deus era um amante de sangue inocente, que deveria ser aplacado pela morte de Seu próprio Filho, e gratificado por meio de uma apresentação de Si Mesmo e da Verdade que sistematicamente torna ridículo tudo o que está significado pelo termo Logos.

 

            E agora, se encontrando suplantado, diante da revolta do intelecto ao qual ele tão cruelmente ultrajou, pelo Sacerdotalismo rival da Ciência, até o máximo repúdio da intuição, de cuja queda ele próprio foi a causa, ele pode apenas relembrar a si mesmo do estratagema com o qual ele ousou condenar o próprio Jesus, que foi aquele de buscar por meio de demônios expulsar demônios, na esperança de recuperar o seu domínio perdido. E, consequentemente, sob a forma de um ritual expandido, ele avança em ainda cada vez maior materialidade, redobrando o apelo aos sentidos, consciente de sua total inabilidade de fornecer a interpretação que é a única que pode salvar a religião, e, que por falta da qual, não somente a religião, mas a própria Humanidade está perecendo.

 

            Contudo, jamais, nem por um momento, ele sonhou em restaurar àquela – a “Mulher”, a Intuição – por cuja sedução por ele mesmo todo o engano surgiu, não obstante as explícitas declarações de seus próprios livros sagrados de que tão somente por meio de sua restauração [da “Mulher”, a Intuição] pode o engano ser reparado. Não que o Sacerdotalismo iria se salvar por meio de tal restauração, conforme, possivelmente, ele astutamente suspeite. Pois

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aquilo que seria salvo é a Igreja e a verdade, enquanto que o Sacerdotalismo iria perecer completamente; vendo que somente ele não pode sobreviver à interpretação; e que “Ela é o interprete”.

 

            E se quisermos ainda outro exemplo da totalidade do eclipse no qual o Sacerdotalismo tem estado a respeito do significado dos dogmas da Igreja, esse deve ser encontrado em seu tratamento da própria doutrina a qual implica, e por essa época presente, na restauração em questão. Pois pela doutrina da “Assunção da Santíssima Virgem”, que agora foi promovida de uma “pia crença” a uma “matéria de fé”, prometida no presente pontificado [papado] na insígnia selecionada como seus símbolos, onde está significado precisamente aquele mesmo evento. (1)

 

            Isso porque ele significa a promoção, uma vez mais, ao seu apropriado lugar no “céu” do sistema intelectual do homem, dela, a “Mulher” Intuição, a qual depois de sua corrupção pelo Sacerdotalismo como o agente da Serpente no Édem, recuperou, de fato, seu estado “virginal” para ser a “Mãe” do Cristo, mas foi logo conduzida por seus adversários para o deserto, onde ela tem definhado desde então, esperando o tempo apontado para sua final reabilitação, quando pela voz de “Duas Testemunhas” de Deus, ela vindicará a si mesma e seu “Filho” por meio do ministério do Novo Evangelho da Interpretação, unicamente o qual pode salvar o mundo.

 

            Nem é essa a plena medida da cegueira do Sacerdotalismo, mesmo em relação a esse simples ponto. Representando, como o faz a Intuição, a Substância como o princípio feminino em Deus e no Universo, e a alma – que é Substância individuada – como o princípio feminino no homem, a doutrina da Assunção implica a divindade destas e, portanto, a natureza Panteística das reais doutrinas da Igreja, da Bíblia e de Cristo. E são precisamente esssas doutrinas, Panteísmo e a divindade da Substância, as quais o Sacerdotalismo

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tem mais furiosamente anatemisado como heresia. Enquanto isso ele tem privado tanto a doutrina da Assunção, como sua doutrina-irmã da Imaculada Conceição – ambas, em seu verdadeiro e pretendido significado, puramente espirituais e denotando verdades indestrutíveis – de todo significado espiritual ou racional, por meio de sua aplicação dessas doutrinas à pessoa a quem ele tem tomado como a mãe física do veículo físico do Cristo, ou seja, a mãe física do homem Jesus.

 

            Pois “assim como a Imaculada Conceição é a fundação dos mistérios, assim é a Assunção o seu coroamento. Pois todo o objetivo e a finalidade da evolução cósmica é precisamente esse triunfo e apoteose da alma. No mistério apresentado por esse dogma nós contemplamos a consumação de todo o esquema da criação – a perpetuidade e glorificação do ego humano individual. O túmulo – a consciência material e astral – não pode reter a imaculada Mãe de Deus. Ela se eleva aos céus; ela assume a divindade. Em sua própria pessoa ela é levada para a câmara do Rei. De ponta a ponta o mistéria da evolução da alma – a história, por assim dizer, da humanidade e do drama cósmico – está contida e encenada no culto da Santíssima Virgem Maria. Os atos e as glórias de Maria são o único supremo assunto dos mistérios sagrados”. (1)

 

            Como essa exposição prova, foi assim providencialmente ordenado que a Igreja não tenha tido que confiar em mãos oficiais, tanto para a promulgação como para a explicação dessa sua suprema doutrina. E em tal fato devem ser vistas as letras manuscritas sobre os muros e paredes, anunciando ao Sacerdotalismo que seu reinado está terminando e que seu reino sendo dado para outro: – para Ela a quem, sob as ordens de seus mestres, os demônios dos abismos profundos, ele tão persistentemente perseguiu, e reprimiu, a destinada destruidora dele mesmo e de seus mestres, ou seja, a “Mulher” Intuição.

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E assim por fim será realizada a dispensação por tanto tempo prometida e tão ardentemente aguardada, chamada em sua homenagem de “Era da Mulher”. No que diz respeito à aproximação dessa era já há sinais, para a leitura dos quais não há necessidade de qualquer faculdade mística, de tão evidentes que são esses sinais para todos. Mas eles também englobam aquilo que transcende em muito o visível. E é como uma antecipação de suas mais elevadas realizações que a Nova Interpretação assim anuncia a si mesma: –

 

 

            “Os dias do Evangelho da Manifestação estão chegando ao fim: é chegado o Evangelho da Interpretação.

            De modo que o homem, o que manifesta, deixará sua posição; e a mulher, a que interpreta, trará luz ao mundo. (...)

            E tem início seu reino; o dia da exaltação da mulher. (...)

            Todas as coisas são vossas, ó Mãe de Deus: todas as coisas são vossas, ó Vós que vos elevastes do Mar; e Vós tereis domínio sobre todos os mundos”. (1

 

            Pois o mar do Apocalipse é aquele “mar de problemas” para a alma, o mar do Astral, tão somente transcendendo o qual ela alcança o paraíso do Celestial, onde para os que têm fé “não há mais mar”. Pois “a cabeça da serpente foi esmagada”; e, tendo se tornado “virgem” no que diz respeito à materialidade, o homem entra no gozo do “estado duplo”, estando constituído em todos os aspectos essenciais de espírito puro e alma pura.

 

NOTAS

 

(60:1) Vide The Perfect Way (O Caminho Perfeito), vi, 39.

(61:1) Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), I, xlviii.

(62:1) Clothed with the Sun (Vestida com o Sol), I, ii (parte 2).

 

 

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