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Tradução: Daniel M. Alves

Revisão e edição: Arnaldo Sisson Filho

[Embora o texto em inglês seja de domínio público, a tradução não é. Esse arquivo pode ser usado para qualquer propósito não comercial, desde que essa notificação de propriedade seja deixada intacta.]

 

 

(p. 120)

CAPÍTULO XLVIII

 

SOBRE OS MISTÉRIOS CRISTÃOS (1)

 

Parte 1

 

            1. (*) OS dois termos da história da criação ou evolução estão formulados pela Igreja Católica em dois preciosos e fundamentais dogmas. Esses são – primeiro, a Imaculada Conceição da Abençoada Virgem Maria; e, segundo, a Assunção da Abençoada Virgem Maria. (2)

            Pela doutrina do primeiro somos intimamente iluminados a respeito da criação da alma, que é gerada no ventre da matéria e, contudo, desde o primeiro momento de sua existência é pura e incorrupta.

            O pecado vem através do elemento material e intelectual, porque esses pertencem à matéria. Mas a alma, que é do celestial, e pertence a condições celestiais, é livre do pecado original. “Salém, que é do alto, é livre, e é a mãe de todos nós. Mas Agar” – a contraparte astral e intelectual – “é escrava cativa, tanto ela como seu filho”.

            A alma, nascida do tempo (Anna), é, todavia, concebida sem mácula de corrupção ou decadência, porque sua essência é divina. (3) Contida na matéria, e trazida ao mundo por meio da matéria, ela, no entanto, não pertence a ele, pois de outro modo não poderia ser mãe de Deus. Em seu seio é concebida aquela brilhante e sagrada luz – o Nucléolo – que nela habita desde o princípio, e que, sem intercurso com a matéria, nela germina e manifesta a si mesma como a clara imagem da inefável e eterna personalidade.

            Ela dá individualidade a essa imagem. Nela e através dela essa é

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focalizada e polarizada em uma perpétua e auto-subsistente pessoa, ao mesmo tempo Deus e homem. Mas se ela não fosse imaculada – se qualquer mistura de matéria entrasse em sua substância integral – tal polarização do Divino não poderia ocorrer.

            O ventre em que Deus é concebido deve ser imaculado; a mãe da Deidade deve ser “sempre-virgem”.

            Ela cresce desde o começo até o final da infância bem próxima de Anna; de criança ela se transforma numa donzela – verdadeiro modelo da alma – se desenvolvendo, aprendendo, crescendo e aprimorando a si mesma através da experiência. Mas nisso tudo ela se mantém divina em sua essência, e não contaminada, ao mesmo tempo filha, esposa e mãe de Deus.

2. Assim como a Imaculada Conceição é a base dos mistérios, a Assunção é o coroamento dos mistérios. Pois, todo o objetivo e finalidade da evolução cósmica é precisamente esse triunfo e apoteose da alma.

No mistério representado por esse dogma, observamos a consumação de todo o esquema da criação – a perpetuação e glorificação do ego humano individual. O túmulo – a consciência material e astral – não pode deter a imaculada Mãe de Deus. Ela se eleva aos céus; ela assume a divindade. Em sua própria pessoa ela é erguida aos aposentos do Rei. Desde o começo até o fim, o mistério da evolução da alma – isto é, a história da humanidade e do drama cósmico – está contido e representado no culto da Abençoada Virgem Maria. Os atos e as glórias de Maria constituem, por excelência, o supremo tema dos sagrados mistérios.

 

Parte 2 (1)

 

3. É necessário, com relação aos Mistérios, fazer distinção entre o não-manifestado e o manifestado, e entre o

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macrocosmo e o microcosmo. Esses últimos, contudo, são idênticos, na medida em que o processo do universal e do individual é um só.

            4. Maria é a alma, e como tal a matriz do princípio divino – Deus – tornado homem por meio da individualização, através da descida ao “ventre da Virgem”. Mas os sete princípios do espírito universal estão envolvidos nessa concepção; pois é através de sua operação na alma que ela se torna capaz de polarizar a divindade.

            5. [Esse é o aspecto secreto da semana Mosaica da Criação, cada dia dessa semana denota a operação de um dos Sete Elohim criativos ou Potências Divinas envolvidas na elaboração do microcosmo espiritual.]

6. Diz-se que a Abençoada Virgem Maria é a filha, esposa e mãe de Deus. Mas, do mesmo modo que a energia espiritual tem duas condições, uma de passividade e uma de atividade – sendo essa última chamada de Espírito Santo – diz-se que o Esposo de Maria não é o Pai, mas o Espírito Santo, esses termos significando, respectivamente, as modalidades estáticas e dinâmicas da Deidade. Isso porque o Pai denota a imobilidade, a força, passiva e potencial, no qual todas as coisas são – subjetivamente.

            Mas o Espírito Santo representa a vontade em ação – a energia criativa, o movimento e a função geradora.

            Dessa união da vontade Divina em ação – o Espírito Santo – com a alma humana, resulta o Cristo, o Homem-Deus e nosso Senhor. E através de Cristo, o Espírito Divino, por meio do qual ele é gerado, flui e opera.

            7. Na trindade do não-manifestado, a grande profundeza, o oceano de infinitude – Sofia (Sabedoria) – corresponde a Maria, e tem por esposo a energia criativa da qual é gerado o Manifestador, Adonai, o Senhor. Essa “Mãe” está em igual posição ao Pai, sendo primordial e eterna.

            Na manifestação a “Mãe” é derivada, sendo nascida do Tempo (Anna), e tem por Pai o Deus-Planeta – que para nosso planeta é Iacchos, Joaquim (Joachim), ou Jacó (Jacob) – (1) de modo que a paternidade da primeira pessoa da Trindade é tão somente vicária. A Igreja, portanto, por ser uma Igreja do manifestado, trata de

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Maria (substância), sob este aspecto apenas, e por isso não a específica como estando em igual posição ao primeiro princípio. Sendo não-derivada no não-manifestado, ela não tem relação com o tempo.

 

NOTAS

 

(120:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.

(120:1) Paris, 12 de Fevereiro de 1882. Mencionado em Life of Anna Kingsford, Vol. II, pp. 98-99.

(120:2) Esse segundo dogma ainda não foi promulgado. Ver The Perfect Way, V, 43, n. 13. E.M. [N.T.: Tal dogma foi, mais de meio século depois desses escritos, promulgado pelo Papa Pio XII, em 1º de novembro de 1950.]

(120:3) Ver Parte I, Cap. III, “Sobre a Imaculada Conceição”, e Cap. XLII, “Sobre Deus”.

(121:1) Em casa, 18 de agosto de 1883. A Sra. Kingsford assim prefacia esta mensagem em seu diário:–

“Quão admiravelmente a Igreja nos ajuda em questões de Teosofia! Quando me encontro em dúvida acerca da Ordem Divina, ou sobre funções no reino humano, apelo instintivamente à doutrina da Igreja Católica, e sou, de imediato, colocada no reto caminho. Penso que nunca teria entendido claramente a Ordem e a Função da Alma se não fosse pelo ensinamento católico a respeito da Mãe de Deus; nem teria compreendido o Método da Salvação pelos Méritos de nosso Princípio Divino, não fosse pela doutrina da Encarnação e da Redenção”.

Contudo, entre a doutrina católica em seu verdadeiro e interno significado e aquela doutrina que foi apresentada ao mundo, ela reconhecia a existência de uma absoluta diferença, defendendo firmemente à máxima que diz: “A Igreja tem toda a verdade, mas os padres a materializaram, transformando a si mesmos e a seus seguidores em idólatras.” E.M. Mencionado em Life of Anna Kingsford, Vol. II, pp. 133-135.

(122:1) Ps. xxiv, 6; cxxxii, 2, 5, etc. Ver Apêndice, “Definições”. Toda entidade cósmica, seja um sistema, planeta, ou pessoa, é constituída de uma certa porção de Divindade, segregada e designada para ser sua vida e substância. Esses nomes designam aquela individuação específica da deidade universal na qual nós e nosso planeta consistimos. Maria, por conseguinte, como a alma humana aperfeiçoada, é “filha” do Deus-Planeta, exatamente como seu “filho” Cristo, o espírito humano aperfeiçoado, é filho do Deus-Planeta. A alma é, ao mesmo tempo, “filha, mãe e esposa de Deus”, assim como a mulher é, a ao mesmo tempo, filha, mãe e esposa do homem. E.M. 

 

 

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