• SISSON, Marina Villares Lenz Cesar. 
		Anna Kingsford e Helena Blavatsky.  
		
		Informações: 
		Esse texto está sendo 
		apresentado ao público, pela primeira vez, nesse site. 
		Contudo, 
		a maioria das informações nele contidas também se encontram nos 
		capítulos de nº. 12, 13 e 14, da obra A Esfinge Helena Blavatsky 
		– edição da autora, Brasília, 2003. 307 pp.  				 
		O texto Anna 
		Kingsford e Helena Blavatsky possui um caráter biográfico e 
		interpretativo, sobretudo a respeito das difíceis, porém interessantes, 
		relações da Dra. Anna Kingsford com a Madame Helena Blavatsky e a 
		Sociedade Teosófica, fundada por essa última. Segue o índice dos 
		capítulos e o texto completo:  
					
						
							| 
							 
									 							ANNA 
		KINGSFORD E HELENA BLAVATSKY  | 
						 
					 
		
		Marina Cesar Sisson 
		  
		
		ÍNDICE  
		
		
		
		1.      
		Introdução 
		
		
		
		2.      
		Edward Maitland: seu Grande Colaborador (1874) 
		
		
		
		3.      
		As Iluminações de Anna Kingsford (1874-1888) 
		
		
		
		4.      
		Os Hinos aos Deuses Gregos 
		
		
		
		5.      
		A Doutrina da Reencarnação (julho de 1881) 
		
		
		
		6.      
		Anna Kingsford Presidente da Loja de Londres (janeiro de 1883) 
		
		
		
		7.      
		A “Divina Anna” 
		
		
		
		8.      
		Sinnett e a Autoridade do “Budismo Esotérico” (julho de 1883) 
		
		
		
		9.      
		O Protesto de Anna Kingsford e a Eclosão da Crise (outubro de 1883) 
		
		
		
		10.  
		Carta do Mestre KH para a Loja de Londres (janeiro de 1884) 
		
		
		
		11.  
		A Discórdia é a Harmonia do Universo 
		
		
		
		12.  
		O Chohan Quer Anna Kingsford Dentro da ST 
		
		
		
		13.  
		A Distância Aumenta Minha Beleza (março de 1884) 
		
		
		
		14.  
		HPB Chega Inesperadamente a Londres (abril de 1884) 
		
		
		
		15.  
		A Sociedade Hermética 
		
		
		16. 
		Anna Kingsford e a Golden Dawn (1886-1887) 
		
		
		
		17.  
		Os Livros Sagrados de Hermes Trismegistus 
		
		
		
		18.  
		Re-velação 
		
		
		
		19.  
		Bibliografia 
		  
   
		
		 1. INTRODUÇÃO 
		Anna Kingsford foi uma 
		grande pioneira em sua época. Dotada de faculdades psíquicas e de um 
		intelecto brilhante, foi defensora incansável do vegetarianismo e uma 
		militante contra a vivissecção de animais. Foi porta-voz dos direitos 
		das mulheres, da doutrina da reencarnação e de uma nova interpretação 
		simbólica (e não histórica) das Escrituras cristãs. Após ter presidido a 
		Loja de Londres (LL) da Sociedade Teosófica (ST), fundou a Sociedade 
		Hermética. Escrevendo sobre Anna Kingsford, por ocasião de sua morte, 
		Helena Petrovna Blavatsky (HPB) reconhece suas imensas capacidades e o 
		valor de seu trabalho, assim se expressando:  
		
		“Poucas mulheres 
		trabalharam mais intensamente do que ela, ou em causas mais nobres; 
		nenhuma com mais sucesso na causa do humanitarismo. (...) Poucas 
		mulheres escreveram de forma mais gráfica, mais cativante, ou possuíram 
		um estilo mais fascinante. 
		
		“O campo de atividades 
		da Sra. Kingsford, entretanto, não estava limitado ao plano puramente 
		físico, ou mundano, da vida. Ela era uma teósofa, uma verdadeira teósofa 
		de coração; uma líder de pensamento espiritual e filosófico, dotada com 
		os mais excepcionais atributos psíquicos. (...) embora suas idéias 
		religiosas diferissem grandemente em alguns pontos da filosofia 
		oriental, permaneceu um membro fiel da Sociedade Teosófica e uma amiga 
		leal de seus líderes. Foi alguém cujas aspirações da vida inteira 
		estiveram sempre voltadas para o eterno e o verdadeiro. Uma mística por 
		natureza – das mais ardentes, para aqueles que a conheceram bem – ela 
		era, ao mesmo tempo, mesmo na opinião de materialistas e descrentes, uma 
		mulher extraordinária.” (CW IX, 89-90)  
		A Condessa de 
		Wachtmeister, descrevendo a visita de alguns dias que Anna Kingsford fez 
		a HPB em 1886, que estava então em Ostende, Bélgica, relata o embate 
		intelectual que as duas senhoras travavam, partindo de pontos de vista 
		aparentemente opostos e finalmente se encontrando:  
		
		“era interessante para 
		mim ouvir diferentes pontos da Doutrina Secreta sendo discutidos 
		dos pontos de vista oriental e ocidental do ocultismo. Os poderosos 
		intelectos dessas duas talentosas mulheres se envolviam em animadas 
		discussões, começando de pólos aparentemente opostos. Gradualmente, as 
		linhas de seus argumentos pareciam aproximar-se, até que finalmente se 
		fundiam em uma unidade. Novos tópicos então surgiriam, os quais seriam 
		disputados da mesma maneira magistral.” (Wachtmeister, 58)  
		
		            Sua linha de pensamento 
		adaptada ao Ocidente, orientada para o resgate da tradição cristã 
		esotérica do Ocultismo ocidental, bem como sua luta pelo vegetarianismo 
		e seu amor pelos animais atraíram a atenção do Grande Chohan, provocando 
		sua inusitada interferência na crise da Loja de Londres, como explicou o 
		Mestre KH em carta para Sinnett, em janeiro de 1884:  
		
		“eu mesmo estou 
		simplesmente cumprindo a vontade de meu Chohan (...) É suficiente que 
		você saiba que a sua luta contra a vivissecção e sua dieta estritamente 
		vegetariana, conquistaram completamente, para o seu lado, nosso austero 
		Mestre.” (MLcr-119, 406; ML-86)  
		Quem era esta mulher 
		que discutia de igual para igual com HPB e cujo trabalho cativou a 
		atenção do Maha Chohan? Esse artigo oferece uma resposta a essa 
		pergunta, apresentando um resumo da vida e dos trabalhos de Anna 
		Kingsford, principalmente focalizado em seu envolvimento com HPB e com a 
		Sociedade Teosófica. 
		
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		  2. EDWARD MAITLAND: SEU GRANDE COLABORADOR (1874)  
		
		Anna Bonus Kingsford 
		nasceu em 16 de setembro de 1846, na Inglaterra. Em 1867 casou-se com o 
		reverendo anglicano Algernon Godfrey Kingsford, com quem teve uma filha. 
		Para desgosto do marido, em 1870 entrou para a Igreja Católica. Entre 
		1872 e 1873 editou um jornal ligado aos direitos femininos. (CW
		IX, 439) Em 1873 conheceu Edward Maitland o qual veio a ser, com o 
		consentimento do reverendo Algernon, o acompanhante de Anna durante o 
		tempo que estudou Medicina em Paris, a partir de 1874. Para evitar 
		falatórios os dois se apresentavam como tio e sobrinha. 
          Anna tornou-se 
		vegetariana nesse período e sua tese de conclusão do curso foi sobre a 
		alimentação vegetariana para o ser humano. Posteriormente, ela foi 
		revisada e publicada sob o título de O Caminho Perfeito em Dieta (The 
		Perfect Way in Diet). O vegetarianismo e a luta contra a vivissecção 
		se tornaram causas que defendeu publicamente pelo resto de sua vida. (Godwin, 
		335). 
           Edward Maitland foi seu 
		grande companheiro de trabalho desde essa época até o fim de sua vida. 
		Ele também era dotado de faculdades psíquicas. O psiquismo de Maitland 
		era totalmente consciente, como um “datilografar automático”. (Godwin, 
		337) Em parte com o auxílio dessa faculdade ele escreveu dois livros. 
		Num deles, The Soul and How It Found Me [A Alma e como Ela me 
		Encontrou], ele descreveu suas experiências e sua nova visão 
		das realidades espirituais que essas experiências lhe deram.  
		
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		  3. AS ILUMINAÇÕES DE ANNA KINGSFORD (1874-1888)  
		
		Anna Kingsford tinha 
		faculdades psíquicas desde a infância. Na época do curso de Medicina, 
		começou a ter experiências contendo mensagens inspiradoras, às quais deu 
		o nome de “Iluminações”. Embora algumas fossem transmitidas por meio de 
		um ditado quando ela estava em transe, a maioria era recebida por visões 
		durante o sono natural, que ela descrevia assim que acordava. 
           Algumas das mensagens 
		vinham em resposta às suas próprias dificuldades, outras como uma 
		resposta imediata às perguntas mentais de Maitland, das quais muitas 
		vezes ela não tinha conhecimento. Freqüentemente não conseguiam 
		compreender as respostas no momento em que eram dadas, provando que elas 
		eram independentes de suas limitações mentais:  
		
		“Entretanto, cedo ou 
		tarde, elas nunca falharam em se demonstrar como sendo verdades 
		necessárias e evidentes, inalteravelmente fundamentadas na própria 
		natureza da existência; e nós nunca as aceitávamos e as utilizávamos até 
		que assim fossem demonstradas e reconhecidas por nós dois.” (Clothed, 
		xx)  
		
		Kingsford chamava 
		aquele que a inspirava de seu “gênio” e o descreve como um “anjo”, cujo 
		trabalho era “guiar, advertir e iluminar”. (Clothed, 36) 
		Numa de suas Iluminações, ela fala sobre a relação entre o gênio, Deus e 
		o homem:  
		
		“O homem é um planeta. 
		Deus – o Deus do homem – é seu sol, e a lua desse planeta é Ísis, seu 
		iniciador, ou gênio. O gênio existe para instruir ao homem e para lhe 
		dar luz. Mas a luz que ele dá é de Deus, e não dele mesmo. Ele não é um 
		planeta, mas uma lua, e sua função é iluminar os lugares escuros de seu 
		planeta. (...) 
		
		“O gênio é a lua para o 
		planeta homem, refletindo para ele o sol, ou Deus, dentro dele. Pois o 
		Espírito divino que anima e eterniza o homem, é o Deus do homem, o sol 
		que o ilumina.” (Clothed, 39) 
		
		Embora seu gênio 
		conhecesse seu futuro, nada lhe dizia, exceto que podia ter certeza que 
		teria problemas, pois “Nenhum homem jamais alcançou a Terra Prometida 
		sem ter atravessado o deserto”. (Clothed, 37) Ela diz: 
		
			
			“Meu gênio se parece 
		com Dante e, como ele, está sempre de vermelho. E tem um cáctus em sua 
		mão, o qual ele diz que é meu emblema. (...) Ele me pede para dizer que 
		a melhor arma contra os astrais [seres, entidades astrais] é a oração. 
		Oração significa o intenso direcionar da vontade e do desejo em direção 
		ao Alto; um propósito imutável de conhecer tão somente o mais Elevado. 
		(...) 
           “Devo informar-lhes que 
		o gênio nunca “controla” o seu cliente, nunca tolera que a alma saia do 
		corpo para permitir a entrada de um outro espírito. A pessoa controlada 
		por um astral ou elemental, ao contrário, não fala em seu próprio nome, 
		mas naquele do espírito que a controla (...) 
           “Outro sintoma, diz 
		ele, por meio do qual distinguir espíritos estranhos do seu próprio 
		gênio, é o seguinte: – o gênio nunca está ausente. Desde que a mente se 
		encontre em condições de ver, ele está sempre presente.” (Clothed, 
		36-37) 
		 
		
		Maitland diz que essas 
		Iluminações não eram o produto de qualquer estimulação artificial de 
		suas faculdades, ou da indução de qualquer estado anormal, seja por meio 
		de drogas, mesmerismo ou hipnotismo. Tudo o que se fazia era produzir as 
		condições internas favoráveis para a recepção dessas Iluminações. Assim, 
		elas eram o resultado:  
		
		“do intenso direcionar 
		da vontade e do desejo para o Alto, e de uma imutável resolução de não 
		ficar satisfeita com nada menos do que o mais Elevado, a saber, a 
		idéia central e mais profunda do fato ou doutrina a serem 
		interpretados”. (Clothed, xx)  
		
		Kingsford nunca disse 
		ser uma médium ou uma clarividente no sentido comum dessas palavras. Ela 
		se intitulava uma profetisa e assim explicava seu dom:  
		
		“Não tenho quaisquer 
		poderes ocultos, e nunca aleguei possuí-los. Nem sou, no sentido comum 
		da palavra, uma clarividente. Sou apenas uma “profetisa” – alguém que vê 
		e sabe intuitivamente, e não pela utilização de qualquer faculdade 
		treinada. Tudo que recebo vem a mim por “iluminação”, como para Proclus, 
		para Jâmblico, para todos aqueles que seguem o método platônico. E esse 
		“dom” nasceu comigo, e foi desenvolvido por uma regra e uma conduta 
		especiais de vida. Ele é, me foi dito, o resultado de uma iniciação 
		anterior num nascimento passado (...) Minha iniciação foi greco-egípcia 
		e, assim sendo, recordo a verdade primariamente na linguagem e segundo o 
		método dos mistérios de Baco, que são de fato a fonte e o padrão 
		imediatamente precedentes dos mistérios da Igreja Católica Cristã.” (Clothed, 
		xxii)  
		
		Essas Iluminações, 
		recebidas ao longo de 14 anos, foram publicadas por Edward Maitland após 
		a morte de Anna Kingsford, com o título de Vestida de Sol [Clothed 
		With the Sun], em referência à alegoria da alma iluminada, que é 
		representada no Apocalipse como “uma mulher vestida de sol, tendo a 
		lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas em sua cabeça.” 
		(Apoc., 12:1) Para eles a mulher, na Bíblia, era o símbolo da 
		alma e da intuição – o princípio feminino no homem. 
           Kingsford e Maitland 
		eram profundamente cristãos, mas incapazes de aceitar uma interpretação 
		literal da Bíblia, ou o dogmatismo das igrejas. Para eles o Cristianismo 
		era apenas uma das religiões da Antigüidade, cujos mistérios ensinavam 
		as mesmas verdades sobre o destino da alma. As Iluminações confirmaram 
		suas hipóteses, pois nelas os Evangelhos eram quase totalmente 
		alegóricos – eles são uma descrição do destino da alma:  
		
		“A religião não é 
		histórica, e de modo algum depende de fatos passados. (...) Jesus não 
		era o nome histórico do iniciado e adepto cuja história é relatada. É o 
		nome que lhe foi dado na iniciação. (...) As Escrituras dizem respeito à 
		alma, e não aos sentidos externos. Toda a história de Jesus é um 
		conjunto de alegorias, as coisas que ocorreram a ele sendo usadas como 
		símbolos.” (Clothed, 86)  
		
		Cristo não é uma 
		pessoa, mas o estado de um homem regenerado, no qual a alma se tornou “una 
		com o Espírito Divino”. (Godwin, 338) E Jesus era um homem 
		que havia realmente vivido e realizado esse estado de união, um iniciado 
		cujo nome ela só conseguia ver a primeira letra – a letra “M”. (Clothed, 
		85)  
		
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		  4. 
		OS HINOS AOS DEUSES GREGOS  
		
		Mas nem todas as 
		Iluminações vinham numa linguagem estritamente cristã. Anna Kingsford 
		tinha visões de deuses gregos, que brilhavam como prata, e que lhe 
		ditavam arrebatados hinos, de uma beleza e de uma profundidade poética 
		impressionantes:  
		
		“1. Como uma luz 
		movendo-se entre o céu e a terra; como uma nuvem branca assumindo muitas 
		formas; 
		
		“2. Ele desce e se 
		eleva, guia e ilumina, transforma-se de pequeno para grande, de 
		brilhante para sombreado, da imagem opaca para a névoa diáfana. 
		
		“3. Estrela do Oriente 
		conduzindo os Magos: nuvem de cujo seio a sagrada voz fala: de dia, uma 
		coluna de vapor, de noite uma chama brilhante. 
		
		“4. Eu vos contemplo, 
		Hermes, Filho de Deus, matador de Argus, arcanjo, que conduzes o cetro 
		do conhecimento, pelo qual são medidas todas as coisas no céu ou na 
		terra.” (Clothed, 150)  
		
		O Hino ao 
		Deus-planeta, Iacchos, e às Divindades Elementais, foi dado em 
		sonho, no início de março de 1881, à medida que ela passava “com um 
		grupo de iniciados, através de um vasto templo egípcio”. (Godwin, 
		338) O tema principal do Hino ao Deus-planeta é o êxodo místico, 
		ou a libertação da alma do domínio do corpo, onde o Egito simboliza o 
		corpo, e Israel representa a alma. (Clothed, 154)  
		
		“1. Oh Pai Iacchos; Vós 
		sois Senhor do Corpo, Deus manifesto na carne; 
		
		“2. Duas vezes nascido, 
		batizado com fogo, vivificado pelo espírito, instruído em coisas 
		secretas embaixo da terra: 
		
		“3. Que vestes os 
		chifres do carneiro, que montas sobre um asno, cujo símbolo é a videira 
		e o novo vinho é vosso sangue; 
		
		“4. Cujo Pai é o Senhor 
		Deus das Hostes; e cuja Mãe é filha do Rei. 
		
		“5. Evoi Iacchos, 
		Senhor da iniciação; pois por meio do corpo é a alma iniciada.” (Clothed, 
		154) [Evoi: grito de invocação dos Mistérios de Baco.]  
		
		Os Hinos às 
		Divindades dos Elementos são dedicados aos quatro grandes Gênios ou 
		Anjos de nosso planeta, que são os espíritos dos elementos do macrocosmo 
		e do microcosmo, representando os quatro estados “da carne, do 
		intermediário, do humano e do divino (...) E as rodas de seu reino 
		quádruplo englobam toda a terra”. (Clothed, 163) O primeiro 
		hino é dedicado a “Hephaistos o Rei-Fogo, cujo símbolo é o leão 
		vermelho, Senhor da serpente, da chama e das partes secretas da terra”. 
		(Clothed, 160) 
            O segundo é um hino 
		dedicado a Deméter:  
		
		“1. (...) justa 
		Mãe-Terra (...) cujas mãos estão plenas de fartura e bênção. 
		
		“2. Anjo do cadinho 
		[provação], guardiã dos mortos, que constróis e destróis, que agregas e 
		dissolves, que fazes brotar vida da morte, e transformas todos os 
		corpos. 
		
		“3. (...) de vosso 
		ventre eles vieram, e para vós eles retornam, Oh Mãe do nascimento e do 
		sono! 
		
		“4. Que fazes o volátil 
		tornar-se fixo, e o real tornar-se aparente, quer no grande ou no 
		pequeno, quer no externo ou no interno.” (Clothed, 161-162)  
		
		O terceiro hino é 
		dedicado a “Poseidon, Senhor das Profundezas, Mestre da 
		substância de todas as criaturas, que exibe a face de um anjo, pois ele 
		é o Pai das Almas”. (Clothed, 162) E o quarto é para 
		Pallas Athena, “virgem de olhos azuis, Senhora do Ar, com cabeça 
		de águia, que dás a todos os corpos o alento da vida: mãe Imaculada da 
		palavra da profecia, símbolo da essência divina”. (Clothed, 
		163)  
		
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		da página  
		
		  5. 
		A DOUTRINA DA REENCARNAÇÃO (JULHO DE 1881)  
		
		Pouco antes de deixar 
		Paris, Kingsford e Maitland descobriram Ísis Sem Véu, e souberam 
		da existência da Sociedade Teosófica (ST). Embora achassem Ísis 
		desorganizada e desnecessariamente agressiva, estavam atônitos e 
		encantados por encontrar outras pessoas realizando um trabalho paralelo 
		ao deles. Indo a Londres, entraram em contato com espíritas, com 
		pesquisadores psíquicos e com membros da ST Britânica. Em meados de 
		1881, proferiram várias palestras, que foram publicadas no início de 
		1882 como O Caminho Perfeito; ou, a Descoberta de Cristo [The 
		Perfect Way; or, The Finding of Christ]. (Godwin, 339) 
           Esse livro causou 
		grande polêmica no meio espírita, não tanto por apresentar um enfoque 
		simbólico e não histórico do Cristianismo, mas principalmente por sua 
		defesa da reencarnação. Mesmo nos meios espíritas da época não havia um 
		consenso quanto a essa questão que gerava um debate quase permanente. 
		Até então, os defensores mais fortes da doutrina da reencarnação eram os 
		médiuns da escola francesa de Allan Kardec; e na Inglaterra, Lady 
		Caithness, Anna Blackwell, Francesca Arundale, Isabel de Steiger e 
		também o espírito Ski, que costumava falar através da Sra. 
		Hollis-Billing. Contra eles estava a maioria dos médiuns ingleses e 
		americanos, como P.B. Randolph, Stainton Moses e Emma Hardinge Britten. 
           É importante notar que 
		a idéia da reencarnação não era uma idéia corrente na Sociedade 
		Teosófica dos primeiros tempos. A própria HPB, durante a primeira parte 
		de sua carreira pública, como em Ísis Sem Véu, parecia negar a 
		doutrina da reencarnação. Somente mais tarde, quando já morava na Índia, 
		é que HPB passou a se declarar publicamente a favor dessa doutrina. 
		Olcott afirma que ele, pelo menos, não conhecia a doutrina da 
		reencarnação:  
		
		“Naturalmente, não é da 
		minha conta porque ela não nos foi ensinada (...) Não acredito que o 
		mistério da incongruência dos ensinamentos de Nova Iorque de 1875, e os 
		posteriores na Índia possa ser explicado, pelo menos a ponto de 
		satisfazer aqueles que atacam o problema do ponto de vista da crítica 
		literária: para aqueles que têm o poder de levantar o véu e estudar a 
		questão a partir do interno, essa dificuldade desaparece. Mas não se 
		pode esperar que estudantes limitados ao plano físico recebam como sendo 
		conclusivas as explicações de alunos avançados da Loja Branca. A 
		conclusão que cheguei há muito tempo é a de que essa questão deve 
		simplesmente ser deixada como um mistério.” (ODL V, 38)  
		Não há dúvidas de que 
		Olcott realmente não havia sido ensinado sobre a reencarnação. Mas, e 
		com relação à Madame Blavatsky? William Judge afirma que, embora ela 
		realmente não ensinasse ao público a doutrina da reencarnação 
		durante essa época em Nova Iorque, “ela de fato a ensinou para 
		mim e para outros, naquela época como agora. (...) HPB me falou muitas 
		vezes, pessoalmente, da real doutrina da reencarnação, compelida pelo 
		caso da morte de minha própria filha; portanto, eu sei o que ela 
		conhecia e acreditava”. (Judge, 119) 
           Numa carta de março de 
		1875, para Corson, HPB se posiciona contra a reencarnação da maneira 
		como os kardecistas a concebiam. (Corson, item 10). Eugene 
		Corson, que publicou as cartas de HPB para seu pai, comenta sobre as 
		razões da reencarnação não ser então ensinada por HPB:  
		
		“Ela [a reencarnação] 
		era a idéia dominante em todo o Oriente. Era quase a nota tônica da 
		filosofia de Platão. O neo-platonismo de Plotino e Proclus está repleto 
		dela. (...) 
		
		“A única explicação que 
		me vem à mente é que ela ficou em silêncio, como o fez em tantas outras 
		coisas naquela época. Ela deveria estar consciente de que isso seria 
		repugnante aos espíritas americanos, e eu não sei se mesmo hoje é aceita 
		por eles. Também não acredito que seja aceita na Inglaterra. A maioria 
		dos espíritas não são filosoficamente inclinados e não se preocupam em 
		olhar além do mero fato da inter-relação entre os dois mundos. (...) 
		Minha opinião é que ela permaneceu em silêncio, do mesmo modo como 
		silenciou em outras questões, que foram extensamente elaboradas em seus 
		escritos posteriores.” (Corson, item 27)  
		Sinnett chegou em 
		Londres, vindo da Índia, para publicar seu livro O Mundo Oculto 
		em fins de março ou começo de abril de 1881. O livro foi publicado em 
		junho desse ano e ele retornou para a Índia em 04 de julho. Durante esse 
		período que esteve em Londres, Sinnett encontrou-se com Anna Kingsford e 
		Edward Maitland. Os três ficaram até tarde da noite discutindo a questão 
		da reencarnação – eles a favor e Sinnett contra. (Credo, 5) 
          Porém, um ano após 
		isso, Sinnett publica na revista The Theosophist de maio de 1882, 
		uma crítica literária sobre O Caminho Perfeito, onde demonstrava 
		ter passado a aceitar a doutrina da reencarnação. Isso, é claro, causou 
		surpresa a Kingsford e Maitland, ao lembrarem do quanto ele havia sido 
		enfático em negá-la, no ano anterior. Escreve Kingsford numa carta para 
		Lady Caithness: 
		
		“O próprio crítico 
		literário – o Sr. Sinnett – que escreve com tanta pseudo-autoridade no
		The Theosophist, no intervalo de um ano, alterou completamente 
		suas visões em pelo menos uma questão importante – me refiro à 
		reencarnação. Quando veio nos ver a um ano atrás, em Londres, ele 
		veementemente negou aquela doutrina e afirmou, com imensa convicção, que 
		eu estava completamente enganada em meu ensinamento referente a ela. Leu 
		uma mensagem de Ísis Sem Véu para me contestar e discutiu 
		longamente sobre a questão. Ele não havia então recebido quaisquer 
		instruções de seu Guru indiano sobre ela. Agora ele foi assim instruído, 
		e escreveu uma longa carta ao Sr. Maitland reconhecendo a verdade da 
		doutrina que, depois que nos encontrou, foi ensinado.” (Shirley, 
		15)  
		
		Para Kingsford foi o 
		fato dela ter exposto a reencarnação em O Caminho Perfeito que 
		havia “provocado” uma reação dos Adeptos, que conseqüentemente teriam se 
		decidido a expor essa doutrina. Em janeiro de 1883, numa carta a 
		Sinnett, o Mestre KH lhe aconselha a escrever para Massey dizendo que 
		isso não era verdade, uma vez que ele já havia sido ensinado sobre a 
		reencarnação a partir de julho de 1881, vários meses antes do livro de 
		Kingsford ser publicado. Entretanto, o fato é que isso ocorreu após sua 
		longa discussão com Kingsford e Maitland. O Mestre KH diz:  
		
		“Apenas permita-me 
		dar-lhe um aviso. Um incidente agora tão trivial, que parece ser apenas 
		a inocente expressão de vaidade feminina, pode, se não for corrigido de 
		uma vez, produzir conseqüências muito maléficas. Numa carta da Sra. 
		Kingsford para o Sr. Massey, condicionalmente aceitando a presidência da 
		S. T. Britânica, ela expressa sua crença – ou melhor, o aponta como um 
		fato inegável – que, antes da aparição de O Caminho Perfeito, 
		ninguém “sabia o que a escola oriental realmente sustentava quanto à 
		reencarnação”; e acrescenta que “vendo o quanto foi exposto naquele 
		livro, os adeptos estão se apressando em abrir seus próprios tesouros” 
		(...) Então escreva, meu bom amigo, a verdade ao Sr. Massey. Diga-lhe 
		que você possuía a visão oriental da reencarnação vários meses antes que 
		o trabalho em questão tivesse aparecido – uma vez que foi em julho (18 
		meses atrás) que você começou a ser ensinado sobre a diferença entre a 
		reencarnação à la Allan Kardec, ou 
		renascimento pessoal – e a da mônada espiritual.” (MLcr-101, 
		342-343; ML-57)  
		Além da crítica 
		literária de Sinnett, um artigo de Hume, contendo a publicação de mais 
		algumas cartas dos Mahatmas, sob o título de Fragmentos de 
		Verdade Oculta, e um editorial de HPB (CW IV, 119) o qual 
		ela, privadamente, atribuiu ao Mestre KH, começaram a mostrar que os 
		Adeptos, afinal, também estavam ensinando a reencarnação. Essa mudança 
		de atitude causou polêmica na Loja de Londres, levando Massey a pedir a 
		HPB que explicasse e esclarecesse a questão. 
           Madame Blavatsky, 
		então, argumentou que, na verdade, havia duas maneiras de falar sobre o 
		destino de um indivíduo. Do ponto de vista mais exotérico [externo], 
		dado em Ísis, estava correto dizer que uma pessoa nunca 
		reencarna. Porém, desde um ponto de vista mais elevado, uma 
		individualidade o faz. Para ilustrar isso ela apresentou o esquema 
		esotérico [interno] dos sete princípios do ser humano. 
           Segundo esse esquema os 
		três princípios inferiores que compõem o Corpo, ou o “Ego 
		terreno”, sempre morrem. Os dois princípios seguintes compõem a Alma, 
		ou o “Ego pessoal”. Eles são destruídos após algum tempo e só 
		reencarnam sob circunstâncias especiais, conforme escrito em Ísis Sem 
		Véu. Finalmente, os dois princípios restantes que constituem o 
		Espírito, ou “Mônada Espiritual”, são eternos e indestrutíveis. Esse 
		esquema pode ser melhor compreendido observando-se o quadro abaixo:  
		
			
				| 
				 
				GRUPO I  | 
				
				 
				ESPÍRITO  | 
			 
			
				| 
				 
				7. Atma 
				– “Espírito Puro”. 
				
				6. Buddhi 
				– “Alma Espiritual ou Inteligência”.  | 
				
				 
				Mônada 
				Espiritual 
				ou “Individualidade” – e seu veículo. Eterna e 
				indestrutível.  | 
			 
			
				| 
				 
				GRUPO II  | 
				
				 
				ALMA  | 
			 
			
				| 
				 
				5. Manas 
				– “Mente ou Alma Animal”. 
				
				4. Kama-rupa 
				– “Desejo” ou Forma “Passional”.  | 
				
				 
				Mônada Astral 
				– ou o Ego pessoal e seu veículo. Sobrevive ao 
				Grupo III e é destruída depois de um tempo, a menos que 
				reencarne, como foi dito, sob circunstâncias excepcionais.  | 
			 
			
				| 
				 
				GRUPO III  | 
				
				 
				CORPO  | 
			 
			
				| 
				 
				3. Linga-sharira 
				– “Corpo Vital ou Astral”. 
				
				2. Jiva 
				– “Princípio de Vida”. 
				
				1. Sthula-sharira 
				– “Corpo”.  | 
				
				 
				Composto 
				Físico, ou o “Ego terreno”. Os três morrem juntos 
				invariavelmente. (CW IV, 185)  | 
			 
		 
		
		 Início 
		da página  
		
		  6. 
		ANNA KINGSFORD PRESIDENTE DA LOJA DE LONDRES (JANEIRO DE 1883)  
		Em 1882, a Sociedade 
		Teosófica Britânica estava em crise. Alguns de seus membros, ainda 
		fervorosos espíritas, não aceitavam as críticas de HPB ao movimento 
		espírita, e outros queriam provas da existência dos Mestres. Seu 
		presidente, Wyld, havia renunciado. Pensando em ter mais seções dentro 
		da ST, entre elas uma seção católica, Massey convidou Kingsford para 
		juntar-se a eles. Ela, de início, entretanto, não aceitou o convite, 
		pois tinha uma imagem bastante negativa da ST, conforme podemos ler nas 
		palavras de Maitland: 
		
		“nós já sabíamos o 
		bastante da ST, sua origem, motivos e métodos para não acreditar nela. 
		Seus prospectos originais cometiam a flagrante inconsistência de 
		declarar absoluta tolerância da Sociedade a todas as formas de religião 
		e, depois, afirmar que um objetivo principal era a destruição do 
		Cristianismo. Seus fundadores também a comprometeram com a rejeição da 
		idéia de um Deus, pessoal ou impessoal, e isso ao mesmo tempo em que a 
		chamaram Teo-sófica.” (Credo, 11)  
		Realmente, numa 
		circular feita para divulgação da ST, em maio de 1878, quando seus 
		objetivos ainda não tinham a formulação atual, se lia:  
		
		“Os objetivos da 
		Sociedade são vários. (...) A Sociedade ensina e espera que seus membros 
		exemplifiquem pessoalmente as mais elevadas moralidade e aspiração 
		religiosa; oponham-se ao materialismo da ciência e a toda forma de 
		teologia dogmática, especialmente a cristã, que os Chefes da Sociedade 
		consideram como particularmente perniciosa; tornar conhecido nas nações 
		ocidentais, os fatos há muito suprimidos sobre as filosofias 
		religiosas orientais, sua ética, cronologia, esoterismo, simbolismo; 
		contrapor-se, tanto quanto possível, aos esforços dos missionários de 
		iludir aos assim chamados “Infiéis” e “Pagãos” com relação à real origem 
		e dogmas do Cristianismo e aos efeitos práticos dos últimos sobre o 
		caráter público e privado nos assim chamados países civilizados”. (CW 
		I, 376-377)  
		Maitland diz que essa 
		questão não foi adiante nesta época, mas:  
		
		“ficamos surpresos ao 
		saber que Mary [nome que Anna Kingsford recebeu de seu gênio] foi 
		reconhecida pelos misteriosos chefes da ST como “a maior mística 
		natural de nossos dias, e com incontáveis idades adiante da grande 
		maioria da humanidade”.” (Credo, 11-12)  
		Anna Kingsford 
		finalmente aceitou sua indicação para presidente da Sociedade Teosófica 
		Britânica após lhe terem dito “enfática e inequivocamente que nenhuma 
		forma de obediência aos Mahatmas, a HPB ou a qualquer outra pessoa, real 
		ou não, me seria exigida, mas apenas aos Princípios e Objetivos da ST”. 
		(Credo, 19) 
           Sob indicação de Massey, 
		ela foi eleita presidente da ST Britânica, em 7 de janeiro de 1883, com 
		Maitland e Wyld como vices. Como nessa ocasião ela ainda estava na 
		França, somente assumiu suas funções após 20 de maio, quando retornou a 
		Londres. Um dia antes da posse de Kingsford, Sinnett recebeu uma carta 
		do Mestre KH, onde lhe advertia que este seria o ano em que as 
		sociedades seriam provadas e o resultado dependeria, portanto, do seu 
		trabalho coletivo:  
		
		“Quatro europeus foram 
		colocados em provação há doze meses; dos quatro – apenas um, você, se 
		mostrou merecedor de nossa confiança. Este ano as Sociedades, ao 
		invés de indivíduos, que serão testadas. O resultado dependerá de seu 
		trabalho coletivo e o Sr. Massey engana-se ao esperar que eu esteja 
		preparado para me juntar à heterogênea multidão de “inspiradores” da 
		Sra. K. Deixe-os permanecer sob suas máscaras de São João Batista e 
		aristocratas bíblicos semelhantes. Desde que estes últimos ensinem 
		nossas doutrinas – por mais que misturadas com adições alheias – um 
		grande ponto terá sido ganho.” (MLcr-101, 342; ML-57)  
		Anna Kingsford procurou 
		realmente se empenhar em seu trabalho pela Loja de Londres, a fim de que 
		se tornasse um corpo verdadeiramente influente e ativo, saindo da crise 
		em que se encontrava. Para tanto, ela acreditava que seria importante 
		que um dos objetivos especiais da Loja de Londres, a “reconstrução da 
		religião numa base científica, e da ciência numa base religiosa; e a 
		elaboração de um perfeito sistema de pensamento e regras de vida” (Ransom, 
		196) também fosse aplicada ao Cristianismo e não apenas ao Hinduísmo e 
		ao Budismo. Ela escreve, em maio: 
		
		“Farei o máximo ao meu 
		alcance para tornar nossa Loja de Londres um corpo realmente influente e 
		científico. . . . Além disso, nós não queremos nos comprometer apenas 
		com o Orientalismo, mas com o estudo de todas as religiões 
		esotericamente, e especialmente àquele da nossa Igreja Católica 
		ocidental. Teosofia é igualmente aplicável a tal estudo; mas o 
		Orientalismo só pode se relacionar ao Brahmanismo e ao Budismo.” (Credo, 
		14)  
		Em outra carta ela diz:  
		
			“Tenho um plano que 
		sinceramente espero ter, de algum modo, os meios pare colocá-lo em 
		prática na próxima primavera. Trata-se de dar palestras em um dos 
		auditórios em Londres sobre “Cristianismo Esotérico”. Eu explicarei o 
		significado verdadeiro e oculto das doutrinas católicas – tanto quanto 
		isso for possível, é claro – e o significa interno de todos os mitos 
		sagrados. Já elaborei um esboço a partir de um pequeno esquema que, se 
		puder se realizado, irá, estou segura, fazer mais pela nossa Teosofia do 
		que qualquer quantidade de livros publicados.” (Credo, 14)  
		 
		Em junho, a pedido de 
		Anna Kingsford, os membros decidiram alterar o nome de Sociedade 
		Teosófica na Grã-Bretanha, para Loja de Londres da Sociedade Teosófica, 
		a exemplo dos movimentos maçônicos que eram um corpo único com várias 
		subdivisões em Lojas.  
		
		 Início 
		da página  
		
		  7. 
		A “DIVINA ANNA”  
		
		Entretanto, o desejo de 
		Anna Kingsford de transformar a Loja de Londres num “corpo realmente 
		influente e científico”, não comprometido “apenas com o 
		Orientalismo, mas com o estudo de todas as religiões esotericamente”, 
		dando especial ênfase ao estudo “da nossa Igreja Católica ocidental” 
		(Credo, 14), era algo que não agradava HPB que tinha uma 
		conhecida implicância com o Cristianismo dogmático, tendo uma 
		preferência particular pela filosofia oriental. 
           Como já mencionamos, 
		Anna Kingsford foi uma grande pioneira humanitária de sua época, 
		especialmente em sua luta pelo vegetarianismo e pela defesa dos animais, 
		enquanto que Madame Blavatsky não era nem mesmo vegetariana. Isso 
		acrescentava mais um ponto de tensão entre elas. 
           Além do fato de que as 
		linhas de trabalho de Anna Kingsford não eram as que mais agradavam à 
		Madame Blavatsky, Kingsford se considerava uma profetiza, porta-voz de 
		uma nova era e de um novo evangelho, e com um conhecimento que ela dizia 
		ser superior àquele que HPB recebia, uma vez que era obtido diretamente, 
		sem intermediários, em suas Iluminações, enquanto a Sociedade Teosófica:  
		
		“afirmava que suas 
		doutrinas eram derivadas de fontes que, mesmo que tivessem existência 
		real – uma questão da qual não tínhamos nenhuma prova – não podiam ser 
		comparadas com aquelas das quais as nossas eram derivadas, enquanto que 
		a doutrina em si mesma era palpavelmente inferior, até o ponto em que 
		havia sido revelada, e isso tanto no conteúdo quanto na forma.” (Credo, 
		11)  
		Talvez essa seja a 
		origem do apelido irônico com que HPB se referia a ela em suas cartas 
		particulares para Sinnett: “divina Anna”. (LBS, 44) Embora 
		publicamente Madame Blavatsky não demonstrasse seus sentimentos em 
		relação a Anna Kingsford, em suas cartas para Sinnett ela os extravasava 
		livremente, revelando suas críticas: “Eu era, desde o começo, contra 
		sua nomeação, mas tive que segurar minha língua, uma vez que é a escolha 
		de KH e que Ele percebe sementes tão maravilhosas nela, que Ele até 
		mesmo desconsidera suas críticas pessoais arrogantes acerca Dele.” (LBS, 
		60). Ou, referindo-se à escolha dela por Massey: 
		
		“não foi ele, e 
		somente ele que propôs e a elegeu como a única possível 
		Salvadora da Sociedade Teos. Britânica? Bem, agora agradeça a ele e 
		fique com ela para que os transforme todos numa geléia [um grupo amorfo, 
		sem identidade]. É claro que ela irá lhe adular mais do que nunca. Eu 
		sei que isto irá acabar com um escândalo.” (LBS, 22)  
		O fato é que a “divina 
		Anna” também incomodava HPB em outros aspectos bem mais pessoais. Anna 
		Kingsford era uma mulher de rara beleza. Maitland descreve a primeira 
		vez que a encontrou com as seguintes palavras: 
		“Alta, esbelta e de 
		formas graciosas. De aparência agradável e requintada. Brilhante e 
		jovial em expressão. O cabelo longo e dourado, mas as sobrancelhas e os 
		cílios escuros, e os olhos fundos e de cor castanho-claro, ora 
		sonhadores, ora penetrantes. A boca harmoniosa, carnuda e perfeitamente 
		formada. A larga sobrancelha proeminente e precisamente talhada. O nariz 
		delicado, ligeiramente curvado, e proeminente apenas o suficiente para 
		dar personalidade à face. E o vestido um tanto excêntrico, como se 
		tornava sua aparência. Anna Kingsford parecia, à primeira vista, mais 
		como uma fada do que humana, mais criança do que mulher. Pois embora na 
		verdade tivesse vinte e sete anos, ela mal aparentava dezessete, e 
		parecia particularmente feita para ser cuidada, mimada e satisfeita, e 
		de modo algum para ser tomada seriamente.” (Shirley, 12)  
		Tamanha beleza parecia 
		também incomodar Madame Blavatsky que nessa época já tinha a saúde 
		comprometida e estava bastante obesa. Ela deixa isso claro pela maneira 
		como descreve a aparência física e o modo de vestir de Anna Kingsford. 
		HPB havia pedido a Sinnett um retrato dela, pois não a conhecia 
		pessoalmente, mas, pouco depois lhe escrevia dizendo que Kingsford 
		lhe havia sido mostrada:  
		“Diga, por que ela 
		estava usando um vestido que parecia com “o pelo preto e amarelo das 
		zebras da criação do Rajá do Kashmir?” E é verdade que usava rosas 
		em seu cabelo “o qual é como um pôr de sol flamejante, amarelo dourado”? 
		E por que – piedade! Por que ela tinha “suas mãos e braços pintados de 
		preto, bem preto — até os cotovelos?” ou eram luvas? e mais, é 
		verdade que naquela noite ela trazia uma bolsa de metal brilhante a sua 
		frente, com fivelas e guizos e mais alguma coisa, e “tilintantes brincos 
		de lua crescente” – simbólicos do crescente brilho da “Loja de Londres”? 
		Essa lua tomou luz emprestada do Satélite. (...) Mas por que – por que
		ela, a “mística do século” tinha que usar tantas jóias! Como pode 
		confabular com os deuses invisíveis quando se parece “com uma vitrine de 
		uma joalheria inglesa em Delhi”? Bem, eu penso também tê-la visto, e 
		gostaria de ter o seu retrato para comparar. Pois ela me foi 
		mostrada. Não é alta, fina na cintura mas larga nos ombros, e muito 
		bonita, bochechas ligeiramente rosadas e com lábios bem vermelhos, e um 
		nariz que fica mais largo quando ela fala, do que quando está em 
		repouso? Seus olhos são azul claro. Ela é fascinante; mas então, 
		por que fazer seu lindo cabelo ficar parecido com “a mitra de um Dugpa 
		Dashata-Lama”? Bem, tudo isso é besteira. Estou extremamente triste, e 
		não tenho ânimo para brincar.” (LBS, 51-52)  
		
		 Início 
		da página  
		
		  8. SINNETT E A AUTORIDADE DO “BUDISMO ESOTÉRICO” 
		(JULHO DE 1883)  
		Em julho de 1883, Anna 
		Kingsford fez sua primeira aparição pública como presidente da Loja de 
		Londres, numa reunião para recepcionar Sinnett, que havia recém chegado 
		da Índia e publicado seu segundo livro – Budismo Esotérico. Sua 
		chegada e a publicação do livro modificaram completamente a Loja de 
		Londres, pois ele chegava com o status de alguém que estava em 
		contato com os Mestres. À volta do casal Sinnett reuniu-se um grupo de 
		pessoas para estudar o livro, e a Loja passou uma resolução de que 
		deveria se devotar “principalmente ao estudo da filosofia oculta como 
		ensinada pelos Adeptos da Índia com quem o Sr. Sinnett tem estado em 
		comunicação”. (Ransom, 187) 
           Kingsford e Maitland 
		também se dedicaram ao estudo da obra Budismo Esotérico. O 
		principal ponto criticado por eles era o fato de terem que aceitar uma 
		autoridade, independentemente da compreensão, pois, desse modo, estariam 
		criando um novo “sacerdotalismo” em relação a esses homens divinizados 
		denominados Mahatmas. (Credo, 17) Na verdade, eles não 
		negavam a possibilidade da existência de tais Seres evoluídos, mas 
		questionavam o método de como verificar se eles eram realmente Seres 
		dessa estatura. Maitland escreveu a esse respeito:  
		
		“Pois, assim como 
		somente aqueles que possuem o espírito de Cristo, em alguma medida, 
		podem reconhecer o Cristo, do mesmo modo apenas aqueles que são, eles 
		mesmos, em alguma medida adeptos, podem reconhecer os Adeptos. E mesmo 
		que o ensinamento em questão tenha vindo da fonte alegada, qual a 
		garantia de que ele não tenha passado, na transmissão, por uma mudança 
		suficiente para o deturpar?” (Credo, 16)  
		Essas diferenças de 
		postura começaram a criar uma situação difícil dentro da Loja de 
		Londres. Sinnett reclamava com HPB, a qual não podia compreender como os 
		Mestres tinham Kingsford em tão alta consideração, uma vez que “a 
		Sra. K. não acredita e, se acredita, não se importa nem um 
		pouco com os Irmãos.” (LBS, 48) Porém, Madame Blavatsky 
		logo começou a suspeitar que, por detrás da escolha da “divina Anna”, 
		não estava apenas o Mestre KH, mas também seu Superior, o Grande Chohan:  
		
		“Por que o Mahatma KH 
		teria imposto sobre a sua Sociedade um tal emplastro como parece ser a 
		Sra. K., uma criatura arrogante, fútil e opiniática, um monte de 
		presunção ocidental – “Deus” sabe, eu não. Eu acredito que o Chohan 
		interferiu subitamente, como ele não raro faz. E agora vai haver uma 
		bela confusão.” (LBS, 64)  
		
		 Início 
		da página 
		
		  9. O PROTESTO DE ANNA KINGSFORD E A ECLOSÃO DA CRISE 
		(OUTUBRO DE 1883)  
		Até então, o conflito 
		na Loja de Londres estava restrito aos seus bastidores. Entretanto, em 
		outubro de 1883, Maitland leu na Loja um discurso de Kingsford contendo 
		duras críticas. O conflito interno começava a se exteriorizar, e surgiu 
		um movimento pedindo que ela saísse da presidência da Loja. Anna 
		Kingsford, então, escreve uma longa carta a HPB, expondo seus pontos de 
		vista, e pedindo que os submetesse ao Mestre KH. Nessa carta ela se 
		posiciona contra o sentimento de idolatria e submissão sem 
		questionamento, que os membros, liderados por Sinnett, estavam nutrindo 
		pelos Mestres. Ela achava que, além de que isso “deve ser 
		desagradável aos próprios Mahatmas” (LBS, 70), esse tipo de 
		sentimento estava criando para a Sociedade uma aparência de seita, o que 
		era prejudicial para um movimento que pretendia atrair a atenção de 
		líderes de pensamento:  
		
		“Isso é “insensato” 
		porque num país “onde o olhar da crítica e da ridicularização hostil 
		permanece fixo sobre qualquer novo movimento”, é “manifestamente 
		imprudente nossa Sociedade apresentar-se diante do mundo sob a aparência 
		de uma Seita, tendo chefes a quem se conferem poderes super 
		humanos de grandeza”. Tudo isso levou o Standard a nos chamar de 
		“uma Sociedade fundada sobre os alegados feitos de certos impostores 
		indianos.” [itálico no original] “Esse incidente e outros episódios 
		similares têm aborrecido e preocupado” a ela. Por mais que estime o Sr. 
		Sinnett, ela pensa que “ele está cometendo um erro em aplicar neste 
		país uma política idêntica à que está sendo seguida pela Sociedade 
		na Índia. Ela será fatalmente destruidora de todas as nossas esperanças 
		de atrair a atenção dos líderes de pensamento (...) e ciência, cuja 
		cooperação seria inestimável para nós” etc., etc., etc.” (LBS, 
		70)  
		Para Kingsford a base 
		da Sociedade deveria ser a de uma escola filosófica, “constituída 
		sobre as bases herméticas antigas, seguindo métodos científicos e 
		processos exatos de razão, independentes de qualquer autoridade absoluta 
		de um tipo exterior, embora aceitando com reverência ensinamentos de 
		fontes competentes”. (LBS, 70) Na Índia, onde o conhecimento 
		sobre os Adeptos era algo comum, tal política poderia estar bem, mas em 
		Londres essa conduta levaria a Sociedade:  
		
		“a ser considerada, por 
		um lado, como demonstrando uma credulidade e uma ignorância fora do 
		comum acerca dos métodos científicos; e, por outro, como um sistema que 
		apresenta – para a mente protestante – uma impressionante semelhança ao 
		sistema católico de mentores e confessores, com a requerida submissão do 
		catecúmeno em relação a seu guru ou Mahatmas.” (LBS, 70)  
		Para HPB e outros 
		chelas, como Subba Row, uma tal posição era um desrespeito 
		inaceitável em relação aos Mestres, que lhes causava indignação:  
		
		“Ontem recebi uma carta 
		de três jardas de comprimento da Sra. K. com sua comunicação 
		confidencial; primeiro fruto da bondade de KH! Bem, isso é Carma do 
		Chohan. Seja lá como for, de Subba Row até Brown, todos aqui estão 
		indescritivelmente chocados com este panfleto ou esta crítica tão 
		insolente e impertinente de Maitland. Ela pede que KH a torne “o 
		apóstolo na Europa da Filosofia Esotérica Oriental e Ocidental”!!!!!” 
		(LBS, 63)  
		HPB continua sua carta 
		dizendo que, de acordo com o Mestre KH, esse já havia avisado a Sinnett 
		que, a menos que ele criasse uma Seção secreta e também a presidisse, “enquanto 
		que a Sra. K. seria o lindo e cintilante cartaz da “Loja”, 
		representando o Cristianismo Esotérico ou qualquer outra tolice – eles
		(os Mahatmas) não teriam mais nada a ver com membros 
		ingleses.” (LBS, 64) E que, sob ordens do Mestre M., Subba 
		Row estava se encarregando de escrever uma resposta às críticas de 
		Kingsford. Essa resposta, entretanto, só foi publicada três meses 
		depois, no final de janeiro de 1884. Enquanto isso, HPB não continha 
		suas críticas e continuava a reclamar junto a Sinnett e a seu Mestre, 
		até que Ele lhe ordenou a ficar quieta. Ela assim escreve a Sinnett, em 
		novembro 1883:  
		“pois eu sabia todo o 
		tempo que fêmea esnobe insuportável era “a divina Anna”. Eu sabia, e o 
		repeti e continuei protestando do início ao fim, até que meu PATRÃO M. 
		me chamou de “chata” e uma “fêmea de visão curta” (...) e me ordenou a 
		“calar a boca”, uma elegante expressão que ele pegou, eu creio, do 
		estoque de palavras ianques de Olcott. Ainda assim, ele nunca disse que 
		eu estava errada, mas simplesmente que a Kingsford vestida de zebra 
		havia sido escolhida pelo teu protetor e guia KH, e que ELE sabia o que 
		Ele estava fazendo – apesar de tudo. Bem, eu supus que fosse uma de suas 
		costumeiras sinuosas experiências com a natureza humana, e assim 
		calei a boca. Mas agora minha língua está mais uma vez livre. Ótimos 
		acontecimentos!” (LBS, 65-66)  
		Mas, poucos dias 
		depois, ela escreve para Sinnett: “Estamos fritos, tanto você quanto 
		eu. (...) estamos fritos além de qualquer redenção”. (LBS, 
		69) Seu plano de tirar de cena a “divina Anna” – “uma criatura 
		egoísta, fútil e mediunística, que gosta demais de adulação, 
		vestidos e jóias cintilantes para ser do tipo certo” (LBS, 
		69) – havia falhado completamente, pois os Mestres haviam decidido que 
		ela era necessária para o movimento e deveria permanecer. Com esses 
		sentimentos em relação à “divina Anna”, HPB lhe respondeu com uma 
		“longa, polida e, pelo que eu imaginava, diplomática carta”. (LBS, 
		71) Porém, para sua tristeza:  
		
		“eu mal havia acabado 
		de copiar minha carta (inglês corrigido por Mohini), uma operação 
		realizada no meu melhor papel e com minha caneta nova, que me tomou toda 
		uma manhã, em detrimento de, e negligenciando outros trabalhos, quando o 
		seguinte ocorreu. Minha carta de 8 páginas – foi silenciosamente 
		rasgada, uma página após a outra, por meu PATRÃO!! Sua grande mão 
		aparecendo na mesa debaixo do nariz de Subba Row (que queria que eu 
		escrevesse de um modo bem diferente) e Sua voz dizendo um cumprimento em 
		Telugú, o qual não devo traduzir, embora Subba Row parecesse me traduzir 
		com grande júbilo. “KH quer que eu escreva de um modo diferente” – era a 
		ordem. Eles (os Patrões) confabularam e decidiram que a “divina Anna” 
		deve ser agradada. Ela é necessária para eles; ela é um 
		maravilhoso paliativo (seja lá o que for nesse mundo que essa 
		palavra signifique nesse caso!) e eles pretendem usá-la. Ela deve 
		ser levada a permanecer como a presidente auréola, e você o 
		presidente núcleo (ou nucleático?). Vocês devem ver um ao outro 
		como os dois pólos, oportunidade guiada por Mestres, traçando 
		finalmente o verdadeiro meridiano entre vocês dois, para [o bem da] a 
		Sociedade. Agora, não imagine que eu ri ou caçoei. Estou num estado de 
		mudo e impotente desespero – pois dessa vez estou perdida, se entendi o 
		que eles pretendem! (LBS, 71)  
		Como entender que uma 
		mulher que se referia com pouca veneração ao Mestre KH, pudesse receber 
		esse tratamento? A essas reclamações de HPB, Djual Khool simplesmente 
		lhe respondeu:  
		
		“As palavras de uma 
		mulher, ferida em sua vaidade física, brava por não chamar a atenção do 
		Mestre (KH) são menos que uma brisa passageira. Ela pode dizer o que 
		quiser. Os membros cumpriram seu dever protestando, como fizeram, ela 
		saberá melhor agora, mas ela deve permanecer, e o Sr. Sinnett deve se 
		tornar o líder e presidente do círculo interno.” (LBS, 71)  
		Madame Blavatsky teve 
		que “lhe escrever, em conseqüência, e dizer para ela todos os tipos 
		de piedosas e mentirosas congratulações que eu não sinto”. (LBS, 
		72) E, se o fez, foi apenas porque devia obediência a seu Mestre, pois 
		ela própria era claramente contrária, como escreve:  
		
		“Deixe o Carma disso 
		cair sobre meu PATRÃO (“Boss”) – pois eu tenho sido única e 
		exclusivamente seu instrumento e agente sem responsabilidade em tudo 
		isso. E suponho que Mahatma KH atuou em primeiro plano e meu Patrão, em
		segundo, como de costume. E como você diz, eu tenho apenas que 
		obedecer.” (LBS, 72)  
		E, abaixo dessa frase o 
		Mestre M. precipitou o seguinte comentário: “Exatamente, pois essa é a 
		melhor política”.(LBS, 72) No final da carta, para tranqüilizar 
		Sinnett, o Mestre M. também precipitou a mensagem abaixo:  
		
		“Sinnett Sahib – você 
		não deve estranhar. Nós temos o bem de todo o Movimento e da Sociedade 
		no coração. Mesmo os desejos da maioria não devem prevalecer – os 
		sentimentos da minoria menos iluminada também têm que ser consultados. 
		Deve chegar o dia em que tudo será melhor compreendido. Enquanto 
		isso a akhu tenta fascinar KH com seu retrato!” (LBS, 73) 
		[Akhu: Inteligência, entre os egípcios. (Glosario Teosofico, 
		27)] 
		
		 Início 
		da página  
		
		  10. CARTA DO MESTRE KH PARA A LOJA DE LONDRES 
		(JANEIRO DE 1884)  
		O clima era cada vez 
		mais tenso. Aproximadamente em 9 de dezembro de 1883, Anna Kingsford e 
		Maitland publicam um panfleto com severas críticas ao livro de Sinnett,
		Budismo Esotérico. Logo após essa publicação, Kingsford 
		recebe um telegrama do Mestre KH dizendo “Permaneça presidente”. 
		(CW VI, xxiv) O Mestre KH também mandou um telegrama com o 
		mesmo teor para Sinnett e uma carta que, embora escrita no dia 7 de 
		dezembro, ele declara ter recebido em janeiro de 1884. Nela, o Mestre 
		diz que havia chegado a hora de Sinnett provar sua boa vontade, seguindo 
		seus conselhos, pois era o desejo de seu Superior, o Grande Chohan, que 
		Anna Kingsford permanecesse como presidente. Escreve o Mestre KH:  
		
		“Em uma de suas cartas 
		recentes para a “V.S.” [Velha Senhora, HPB], você expressa sua prontidão 
		em seguir meu conselho em quase tudo que eu pudesse lhe pedir. Bem – o 
		tempo chegou para você provar sua boa vontade. E como, nesse caso 
		específico, estou simplesmente executando a vontade de meu Chohan, 
		espero que você não experimente demasiada dificuldade em compartilhar de 
		meu destino, agindo – como eu estou agindo. A “fascinante” Sra. K. tem 
		que permanecer como presidente – jusqu’ au nouvel ordre [até nova 
		ordem]. (...) Explicações detalhadas seriam uma tarefa por demais longa 
		e tediosa. É suficiente que você saiba que sua luta contra a vivissecção 
		e sua dieta estritamente vegetariana conquistaram completamente, para o 
		lado dela, nosso austero Mestre. Ele liga menos do que nós para qualquer 
		expressão ou sentimento de desrespeito externo – ou mesmo interno – aos 
		“Mahatmas”. Deixe-a cumprir seu dever para com a Sociedade, ser 
		verdadeira aos seus princípios e todo o resto virá no seu devido tempo. 
		Ela é muito jovem, e sua vaidade pessoal e outras falhas femininas devem 
		ser deixadas para o Sr. Maitland e o coro grego de seus admiradores.” (MLcr-119, 
		406; ML-86)  
		E o Mestre anexa a essa 
		uma outra carta, para ser lida numa reunião geral da Loja de Londres, a 
		respeito da qual comenta Virginia Hanson: “É uma das cartas mais 
		importantes do livro, no que diz respeito à Sociedade Teosófica – 
		especialmente no Ocidente”. (MLcr-120, 409; ML-85) 
		Nessa, o Mestre KH começa dizendo que havia mandado os dois telegramas 
		notificando Sinnett e Kingsford que ela deveria permanecer como 
		presidente, e que esse não era apenas o desejo dele e do Mestre M., mas 
		a vontade expressa do próprio Maha Chohan:  
		
		“A eleição da Sra. 
		Kingsford não é uma questão de sentimentos pessoais entre nós e aquela 
		Senhora, mas baseia-se inteiramente na conveniência de ter na direção da 
		ST, num local como Londres, uma pessoa bem adaptada para o padrão e 
		aspirações de um público (por enquanto) ignorante (das verdades 
		esotéricas) e, portanto, malicioso. Também não é questão que tenha a 
		menor importância se a dotada presidente da “Loja de Londres” da Soc. 
		Teos. nutre sentimentos de reverência ou desrespeito para com os 
		humildes e desconhecidos indivíduos que estão na direção da Boa Lei 
		Tibetana – ou para com o autor da presente, ou qualquer de seus Irmãos – 
		mas antes uma questão de se a mencionada Senhora está capacitada para o 
		propósito que todos nós temos em nossos corações, a saber, a 
		disseminação da VERDADE através de doutrinas esotéricas, transmitidas 
		por qualquer canal religioso, e a atenuação do materialismo crasso e dos 
		preconceitos e ceticismo cegos.” (MLcr-120, 409; ML-85)  
		O Mestre KH continua a 
		carta dizendo que concordava com a Sra. Kingsford, quando essa dizia que 
		o público ocidental deveria ver a ST como uma Escola Filosófica 
		constituída sobre uma base Hermética, uma vez que esse público, nunca 
		tendo ouvido falar do Sistema Tibetano, tinha uma noção muito pervertida 
		acerca do Sistema Budista Esotérico, e que:  
		
		“Desse modo, e até esse 
		ponto, nós concordamos com as observações contidas na carta escrita pela 
		Sra. K para Madame B. [Blavatsky], com o pedido a essa última para 
		“submeter a KH”; e lembraríamos a nossos membros da “LL”, com referência 
		a isso, que a Filosofia Hermética é universal e não sectária, 
		enquanto que a Escola Tibetana sempre será considerada, por aqueles que 
		conhecem pouco, ou nada, sobre ela, como mais ou menos marcada pelo 
		sectarismo. Uma vez que a primeira não está ligada a nenhuma casta, cor 
		ou credo, nenhum amante da sabedoria Esotérica pode ter qualquer objeção 
		ao nome o que, de outro modo, poderia sentir se a Sociedade à qual ele 
		pertence fosse rotulada com uma denominação específica pertencente a uma 
		dada religião. Filosofia Hermética adapta-se a qualquer crença e 
		filosofia e não colide com nenhuma. Ela é o oceano sem limites da 
		Verdade, o ponto central para onde fluem e onde se encontram todos os 
		rios, assim como todos os riachos – estejam suas fontes no Oriente, 
		Ocidente, Norte ou Sul. Assim como o curso do rio depende da natureza de 
		sua bacia, assim o canal para a comunicação do Conhecimento precisa 
		adaptar-se às circunstâncias à sua volta. (...) 
		
		“Portanto é evidente 
		que os métodos do Ocultismo, embora no principal sejam imutáveis, ainda 
		assim têm que se conformar às diferentes épocas e circunstâncias. O 
		estado da sociedade inglesa como um todo – muito diferente daquela da 
		Índia, onde nossa existência é um assunto de crença comum e, por assim 
		dizer, inerente na população, e em vários casos de positivo conhecimento 
		– requer uma política muito diferente na apresentação das Ciências 
		Ocultas. O único objetivo pelo qual esforçar-nos é o melhoramento da 
		condição do HOMEM por meio da difusão da verdade adaptada aos vários 
		estágios de seu desenvolvimento e àquele do país em que ele habita e 
		pertence. A VERDADE não tem marca de propriedade e não sofre por causa 
		do nome sob o qual ela é promulgada – desde que o referido objetivo seja 
		alcançado.” (MLcr-120, 409; ML-85)  
		
		 Início 
		da página  
		
		 
					 11. 
		A DISCÓRDIA É A HARMONIA DO UNIVERSO  
		Para o Grande Chohan, 
		os dois – Sinnett e Kingsford – eram necessários, justamente por serem 
		desiguais, por serem como “os dois pólos calculados para manter todo 
		o corpo em harmonia magnética, uma vez que o criterioso emprego de ambos 
		criará um excelente campo intermediário, que não seria obtido por 
		qualquer outro meio; um corrigindo e equilibrando o outro”. (MLcr-120, 
		411; ML-85) E o Mestre KH continua falando da importância da 
		diversidade de opiniões, da liberdade de pensamento, da “harmoniosa 
		discordância” pois, a discórdia é a “verdadeira harmonia do 
		universo”, e que esse era o segredo do sucesso da ST na Índia:  
		
		“Eu quase não 
		precisaria salientar como o arranjo proposto está calculado para 
		conduzir a um harmonioso progresso da “L.L. S.T.”. É um fato 
		universalmente aceito que o maravilhoso sucesso da Sociedade Teosófica 
		na Índia é devido inteiramente ao seu princípio de sábia e respeitosa 
		tolerância às crenças e opiniões dos outros. Nem mesmo o Presidente 
		Fundador tem o direito de, direta ou indiretamente, interferir com a 
		liberdade de pensamento do mais humilde dos membros, e menos ainda 
		procurar influenciar sua opinião pessoal. É apenas na ausência dessa 
		generosa consideração que até mesmo a mais pálida sombra de diferença 
		arma buscadores da mesma verdade, de outro modo sérios e sinceros, com o 
		ferrão de escorpião do ódio contra seus irmãos, igualmente sinceros e 
		sérios. Vítimas iludidas da verdade distorcida, eles esquecem, ou nunca 
		souberam, que a discórdia é a harmonia do universo. Assim, na Sociedade 
		Teosófica, do mesmo modo que nas gloriosas fugas do imortal 
		Mozart, cada parte vai incessantemente ao encalço da outra, em 
		harmoniosa discordância, nos caminhos do progresso Eterno, para 
		encontrar e finalmente se fundir, no limiar do objetivo perseguido, em 
		um harmonioso todo, que é a linha mestra na natureza. A Justiça 
		Absoluta não diferencia entre os muitos e os poucos.” (MLcr-120, 
		412; ML-85) 
		Assim sendo, embora 
		agradecendo à maioria dos teosofistas da Loja de Londres pela lealdade a 
		eles, Instrutores invisíveis, era preciso lembrar que a Sra. Kingsford: 
		
		“também é leal e
		verdadeira – àquilo que ela acredita ser a Verdade. E como 
		ela é assim leal e verdadeira às suas convicções, por menor que 
		seja a minoria que a apoie no presente momento, a maioria, liderada pelo 
		Sr. Sinnett, nosso representante em Londres, não pode, com justiça, 
		atribuir-lhe a culpa, a qual (...) assim o é apenas aos olhos daqueles 
		que forem por demais severos. Todo teosofista ocidental deveria aprender 
		e recordar, especialmente aqueles que pretendam ser nossos seguidores – 
		que em nossa Fraternidade todas as personalidades submergem numa idéia – 
		direito abstrato e absoluta justiça prática para todos. E que, embora 
		nós não possamos dizer como os cristãos “retribua o mal com o bem” – nós 
		repetimos com Confúcio “retribua o bem com o bem; para o mal – JUSTIÇA”. 
		Assim os teosofistas que pensam do mesmo modo que a Sra. K. – mesmo que 
		eles se opusessem, sem tréguas, a algum de nós pessoalmente – são 
		merecedores de tanto respeito e consideração de nossa parte e de seus 
		membros companheiros com visões opostas (enquanto eles forem sinceros), 
		quanto aqueles que estão prontos, junto com o Sr. Sinnett, a seguir 
		incondicionalmente apenas nossos ensinamentos especiais.” (MLcr-120, 
		412; ML-85)  
		No início de fevereiro, 
		o telegrama foi mostrado à Loja e Anna Kingsford confirmada na 
		presidência. Como a situação na LL ainda estava confusa e as duas 
		facções não estavam conseguindo chegar à harmonia pedida na carta, os 
		membros decidiram postergar a eleição, esperando a vinda de Olcott e 
		Mohini a Londres, para ajudar a resolver a questão, a qual, disse o 
		Mestre KH, embora “dolorosa para alguns, e cansativa para outros,
		ainda assim é melhor isso do que se a velha calma paralítica tivesse 
		continuado”. (MLcr-121, 413; ML-84)  
		
		 Início 
		da página  
		
		  12. 
		O CHOHAN QUER ANNA KINGSFORD DENTRO DA ST 
		Tentando achar uma 
		solução que permitisse que ela continuasse seu trabalho na Loja de 
		Londres, Anna Kingsford propôs a criação de duas Seções. Uma seria 
		formada pelos membros que quisessem seguir os ensinamentos dos Mahatmas, 
		e também reconhecê-los como seus Mestres, com Sinnett como presidente. A 
		outra encorajaria o estudo do Cristianismo Esotérico e também do 
		Ocultismo ocidental, do qual ele surgiu. Essa última seria conhecida 
		como Seção Católica, e seria presidida por ela. Nessa proposta, os 
		membros poderiam atender livremente às reuniões das duas Seções. (Ransom, 
		197) Essa idéia era próxima ao que os Mestres queriam, com a criação de 
		dois grupos dentro da Loja de L, uma vez que o Grande Chohan “que 
		nunca interfere em nada teosófico, menos ainda europeu” (LBS, 
		90) desejava que Kingsford ficasse dentro da Sociedade, tendo seu espaço 
		de trabalho preservado:  
		
		“Não sei o que é que o 
		Mestre ordenou Olcott a fazer. Ele guardou segredo sobre sua 
		instrução e não diz nada. Mas estou certa de que nem mesmo o Chohan a 
		imporia à Sociedade contra a vontade da maioria. Deixe-a fundar 
		uma sociedade separada da sua (...). Agora meu Patrão quer que ela 
		permaneça como presidente – uma vez que o Velho Chohan está apaixonado 
		pelo seu vegetarianismo e seu amor pelos animais – mas não 
		necessariamente da sua Sociedade. O Chohan a quer dentro da 
		Sociedade, mas não consentiria em forçar a opinião ou voto de um único 
		membro da LL. Ele não influenciará o último deles, pois então ele 
		não seria melhor que o Papa, que pensa que pode obrigar a uma obediência 
		inquestionável e depois evitar que caia sobre si mesmo os carmas da 
		pessoa. Isso é o que o Patrão acabou de me dizer para lhe escrever. 
		Portanto, é melhor você se preparar e buscar o conselho e a opinião de 
		cada membro que pensa como você, e estar pronto para se dividirem em 
		duas Sociedades, pois isto é o que o Coronel tem que fazer – me foi 
		dito.” (LBS, 81-83)  
		
		 Início 
		da página  
		
		  13. 
		A DISTÂNCIA AUMENTA MINHA BELEZA (MARÇO DE 1884)  
		HPB, Olcott, Mohini, 
		Padshah e o serviçal indiano Babula partiram da Índia em 20 de fevereiro 
		de 1884, chegando a Marselha em 13 de março. Ela não queria ir. Ainda na 
		Índia, em carta para Sinnett, de janeiro de 1884, lhe contou que só 
		havia concordado em viajar para a Europa com a seguinte condição:  
		
		“Não preciso, não 
		devo e não irei a Londres. Faça o que quiser. Nem mesmo vou me 
		aproximar de lá. Mesmo que meu Patrão tivesse me ordenado isso – penso 
		que preferiria enfrentar seu desagrado – e desobedecê-lo.” (LBS, 
		74)  
		Já na França, em março, 
		HPB recebeu tantos convites insistentes para que fosse a Londres, que 
		acabou respondendo-os na forma de uma circular, agradecendo aos 
		convites, mas recusando-os, pois sua saúde não permitiria que ela fosse 
		a Londres. Além disso, HPB escreve nessa circular:  
		
		“E qual seria a 
		utilidade de minha ida a Londres? Que bem poderia eu fazer a vocês em 
		meio a seus fogs misturados com as venenosas evaporações da 
		“civilização superior”? (...) Estou eu adequada para tais pessoas 
		civilizadas como todos vocês? Em apenas sete minutos e um quarto, me 
		tornaria perfeitamente insuportável para vocês, ingleses, se eu tivesse 
		que transportar para Londres minha enorme e feia pessoa. Eu lhes 
		asseguro que a distância aumenta minha beleza, a qual eu logo perderia 
		se estivesse próxima.” 
		(Letters 
		of HPB, VI)  
		Para Sinnett HPB também 
		escreveu que Olcott e Mohini, com as instruções que tinham dos Mestres 
		M. e KH, respectivamente, eram as pessoas adequadas para resolver a 
		questão, pois:  
		
		“Eu faria o oposto. Eu 
		não poderia (especialmente em meu atual estado de nervos) ficar por lá e 
		ouvir calmamente as espantosas novidades (...) de que Sankara 
		Charya era um teísta e que Subba Row não sabe do que está 
		falando, sem que isso me mande de uma vez para a morte; (...) De fato eu 
		não tenho mesmo vontade de ir para a Inglaterra. Eu amo todos vocês de 
		longe, eu poderia odiar alguns de vocês da L.L. se tivesse que ir 
		até lá. Você não entende por que? Você não pode compreender, com 
		tudo o que sabe a meu respeito e da verdade (essa última é 
		ignorada apenas pelos que não querem vê-la), que seria para mim um 
		indizível sofrimento ver como os Mestres e sua filosofia são ambos mal 
		interpretados?” (LBS, 78)  
		
		Em 5 de abril de 1884, 
		pela manhã, Olcott partiu de Paris para Londres, deixando HPB que 
		declarava não ter a menor condição ou desejo de ir a Londres, pois 
		estava com seus nervos fragilizados pela tensão acumulada nos meses em 
		que o caso Kingsford-Sinnett vinha se arrastando:  
		
		“Como posso encarar uma 
		Sociedade onde alguns de seus membros nutrem tais pensamentos 
		insultantes e os expressam por escrito? É por isso que não posso 
		ir a Londres. Se fosse seguir os ditames da minha afeição por vocês 
		dois, e o meu desejo de me relacionar pessoalmente com membros tão 
		encantadores como a Sra. e a Srta. Arundale, o Sr. Finch, o Sr. Wade e 
		outros, eu conheço os resultados. Ou eu iria saltar, rasgando o 
		céu e o inferno na primeira oportunidade, ou teria que explodir como uma 
		granada. Não posso manter a calma. Secretei e acumulei bílis por 
		mais de seis meses durante esse embroglio Kingsford-Sinnett; 
		segurei minha língua e fui forçada a escrever cartas civilizadas 
		que são agora vistas como “correspondência simpática e encorajadora”. Eu 
		– não importa o que tenha acontecido, e o quanto sofri dessa coléres 
		rentrés [raiva reprimida]; minha doença atual é mais do que 
		parcialmente devida a eles. Bem, não nasci para uma carreira 
		diplomática. Eu entornaria o caldo – e não faria bem algum – de qualquer 
		modo, não até que toda a coisa seja decidida e o equilibre 
		théosophique est retabli [o equilíbrio teosófico seja 
		restabelecido].” (LBS, 81)  
		
		 Início 
		da página  
		
		  14. HPB CHEGA INESPERADAMENTE A LONDRES (ABRIL DE 1884) 
		
		William Judge, que 
		havia ficado com Madame Blavatsky em Paris, para ajudá-la com a 
		Doutrina Secreta, descreve que na noite de 5 de abril, quando 
		estavam sentados conversando, sentiu “o velho sinal de uma mensagem 
		do Mestre, e vi que ela estava escutando.” (Caldwell, 172) 
		HPB então lhe disse que o Mestre acabara de lhe ordenar que fosse para 
		Londres pelo expresso das 7:45h da noite seguinte, e ficasse por lá 
		apenas um dia, retornando no seguinte. Assim, inesperadamente, 
		obedecendo a ordens, embora confessando que não estava entendendo, ela 
		partiu para Londres no dia 6 de abril, ficando hospedada com os Sinnett. 
            No dia marcado para a 
		eleição, 7 de abril, Maitland propôs a reeleição de Anna Kingsford, mas 
		apenas um ou dois membros apoiaram a proposta. Sinnett então propôs 
		Finch, que foi eleito pela maioria. Olcott sugeriu ao grupo de Kingsford 
		que formassem uma nova Loja, que seria chamado de “Sociedade Teosófica 
		Hermética” – o que foi aceito. (ODL III, 97) 
           Depois de resolvido o 
		ponto mais delicado, eles passaram para a discussão da noite. Olcott 
		tentou harmonizar as diferenças de opinião, mas sem muito sucesso, e o 
		clima tornou-se tenso. Então HPB entrou inesperadamente na reunião, 
		sentando-se no fundo da sala, ao lado de Archibald Keightley, que era um 
		membro novo e ainda não a conhecia pessoalmente. Ele descreve que, no 
		momento em que alguém lá na frente aludiu a alguma ação de Madame 
		Blavatsky, a robusta senhora a seu lado confirmou, dizendo em voz alta: 
		“É isso mesmo.” Nesse ponto, a reunião virou uma confusão e 
		Mohini correu para jogar-se aos pés de HPB. (Caldwell, 175) 
            C.W. Leadbeater, que 
		também era um membro novo e estava presente nessa reunião, descreve que 
		uma robusta senhora, vestida de preto, havia entrado e sentado no fundo 
		da sala. Após alguns minutos, demonstrando impaciência com a falta de 
		progresso das discussões, ela pulou de seu assento e gritou num tom de 
		comando militar: “Mohini!”, saindo para o corredor. Então:  
		
		“O altivo e sério 
		Mohini veio correndo por aquela longa sala, na maior velocidade e, assim 
		que alcançou o corredor, jogou-se incontinente, com sua face no chão, 
		aos pés da senhora de preto.” (Leadbeater, 36)  
		
		Muitas pessoas 
		levantaram-se, confusas, não sabendo o que estava acontecendo. Mas logo 
		depois Sinnett, que também havia ido até o fundo, voltou e anunciou:  
		
			
			“Permitam-me apresentar 
		à Loja de Londres como um todo – Madame Blavatsky! 
           “A cena que se seguiu 
		era indescritível; os membros freneticamente alegres e, contudo, ao 
		mesmo tempo, meio amedrontados, se juntaram à volta de nossa grande 
		fundadora, alguns beijando suas mãos, vários ajoelhando-se diante dela, 
		e dois ou três soluçando histericamente.” (Leadbeater, 37) 
		 
		
		Ela então foi conduzida 
		à plataforma onde, após ouvir explicações sobre o caráter insatisfatório 
		da reunião, a encerrou e reuniu-se com os dirigentes. Relata Leadbeater 
		que, após ouvir explicações de Kingsford e Sinnett, ralhou com ambos, 
		como se fossem dois estudantes e fez com que dessem as mãos, numa 
		demonstração de que suas diferenças haviam se encerrado! (Leadbeater, 
		37) 
           Como já vimos 
		extensamente, os sentimentos de HPB estavam longe de serem imparciais e 
		isentos, como aparentam ser na narrativa de Leadbeater. Após a reunião, 
		Madame Blavatsky voltou para a casa dos Sinnett, e ficou em Londres por 
		uma semana, antes de voltar a Paris. 
           O episódio acima 
		narrado, em que Mohini atira-se aos pés da Madame Blavatsky, é muito 
		interessante. Ele apresenta aspectos que dificilmente podemos entender 
		completamente, pois estão na alçada da vida do Ocultismo, e não da vida 
		comum. Isso porque, ainda em outubro de 1883, quando o Mestre decidiu 
		que no ano seguinte Mohini iria a Londres com Olcott para ajudar a 
		resolver a questão da Loja de Londres, HPB escreveu a Sinnett, 
		alertando-o para o fato de que não deveria considerar o Mohini que ele 
		havia conhecido como o mesmo que estaria em Londres: 
		
		“Em 17 de fevereiro 
		Olcott provavelmente partirá para a Inglaterra para tratar de vários 
		assuntos, e Mahatma KH envia seu chela, sob o disfarce de Mohini 
		Mohun Chatterjee (...). Não cometa o erro, meu querido patrão, de tomar
		o Mohini que você conheceu pelo Mohini que irá. Há mais de uma 
		Maya nesse mundo, da qual nem você, nem seus amigos e o crítico 
		Maitland são sabedores. O embaixador será investido de uma vestimenta 
		interna, bem como de uma vestimenta externa. Dixit.” (LBS, 
		65)  
		
		Do mesmo modo que HPB 
		havia alertado Sinnett de que não considerasse Mohini como sendo o 
		Mohini usual, o Mestre KH manda uma carta ao próprio Mohini, em março de 
		1884, lhe dizendo algo semelhante com relação à Madame Blavatsky e lhe 
		orientando como deveria se comportar. Ele lhe diz que como as aparências 
		eram importantes, especialmente entre os europeus, era necessário 
		impressioná-los externamente antes que uma impressão interna, regular e 
		duradoura, ocorresse. Por essa razão, o Mestre orienta Mohini que quando 
		HPB chegasse a Paris:  
		
		“você irá encontrá-la e 
		recebê-la como se estivesse na Índia e ela fosse sua própria mãe. 
		Você não deve ligar para a multidão de franceses e outros. Você tem que
		impressioná-los; e, se o Coronel lhe perguntar por que, você lhe 
		responderá que é o homem interior, o ocupante interno que você 
		está saudando, não HPB, pois você foi avisado por nós nesse sentido. E 
		saiba, para sua própria edificação, que Alguém muito superior a mim 
		gentilmente concordou em inspecionar toda a situação, sob o disfarce 
		dela, e então visitar, através do mesmo canal, ocasionalmente, Paris e 
		outros locais onde membros estrangeiros possam residir. Você irá 
		saudá-la desse modo ao vê-la e ao despedir-se dela, durante todo o tempo 
		em que estiver em Paris – independente de comentários e de sua 
		própria surpresa. Isso é um teste.” 
		(LMW, 
		2nd S., 111)  
		Como vimos, HPB acabou 
		inesperadamente indo a Londres e Mohini encontrou-a lá, e não em Paris, 
		mas obedeceu literalmente às instruções de seu Mestre, jogando-se aos 
		seus pés para saudá-la como faria com sua mãe na Índia. Ou, quem sabe, 
		para saudar ao “Ocupante” interno que ali poderia estar.  
		
		 Início 
		da página 
		
		  15. 
		A SOCIEDADE HERMÉTICA  
		Em 9 de abril a Loja 
		Hermética foi organizada, com Olcott e Mohini presentes. (Ransom, 
		198) Entretanto, o problema não ficou resolvido pois poucos dias após a 
		criação da Loja Olcott resolveu editar uma nova regra pela qual as 
		filiações múltiplas ficavam proibidas. Isso significava, na prática, que 
		os membros da Loja Hermética não poderiam freqüentar as reuniões da Loja 
		de Londres, e assim se beneficiar das instruções lá oferecidas e 
		vice-versa. Essa decisão transtornou os planos para a Loja Hermética e, 
		em 22 de abril, o grupo de Kingsford decidiu devolver a carta 
		constitutiva e formar uma sociedade independente da Sociedade Teosófica. 
		(Ransom, 198) 
           Maitland diz que Olcott 
		teria feito essa regra, que proibia a filiação múltipla, seguindo 
		conselhos de Sinnett. (Credo, 24) Talvez seja a isso que o Mestre 
		KH esteja se referindo nesta passagem abaixo, onde repreende Sinnett:  
		
		“Então você nega 
		que jamais tenha havido qualquer rancor em você contra K. [Kingsford]. 
		Muito bem; chame-o de qualquer outro nome que quiser; ainda assim foi 
		um sentimento que interferiu com a estrita justiça, e fez O. [Olcott] 
		cometer um erro ainda pior do que o que ele já havia cometido – mas 
		que foi permitido seguir seu curso, pois se adequava aos nossos 
		propósitos, e não causou nenhum grande mal, a não ser para ele mesmo – 
		que foi tão mesquinhamente desdenhado por isso.” (MLcr-126, 424;
		ML-62)  
		Em 9 de maio a 
		Sociedade Hermética foi fundada e logo se provou um grande sucesso, com 
		as palestras de Anna Kingsford enchendo grandes salões. No final de 
		1884, Kingsford e Maitland saíram da Loja de Londres, mas não 
		abandonaram a ST, permanecendo ligados a Adyar. Anna Kingsford e HPB 
		ainda se encontraram em duas outras ocasiões, em julho de 1884 e em 
		outubro de 1886. Esse último encontro foi o de Ostende, narrado pela 
		Condessa de Wachtmeister e já citado na Introdução desse artigo. 
            A Sociedade Hermética 
		funcionou regularmente, sobretudo com palestras de Anna Kingsford e 
		Maitland, até o início de 1887, quando o estado de saúde dela já estava 
		muito debilitado. Ela tinha problemas pulmonares crônicos e acabou 
		morrendo de tuberculose, aos 42 anos, em 22 de fevereiro de 1888. (Godwin, 
		335) 
           Após sua morte, 
		Maitland publicou dois livros em nome de Anna Kingsford. O primeiro, “O 
		Credo do Cristianismo, e Outros Discursos e Ensaios sobre Cristianismo 
		Esotérico” é composto de várias de suas palestras na Sociedade 
		Hermética. O outro, como já vimos em As Iluminações de Anna Kingsford, 
		é a compilação de suas Iluminações obtidas durante quase 14 anos, e que 
		recebeu o título de “Vestida de Sol, o Livro das Iluminações de Anna 
		(Bonus) Kingsford”. 
           Podemos agora avaliar 
		melhor porque a Sociedade Teosófica perdeu uma grande oportunidade de se 
		transformar naquilo que os Mestres tanto almejavam: um centro onde 
		diferentes tradições pudessem conviver harmoniosamente, colocando em 
		prática a tolerância que é a base do seu 1° Objetivo. Não há dúvidas de 
		que, caso Anna Kingsford tivesse permanecido ativa dentro da Loja 
		de Londres, como queria o Grande Chohan, isso teria marcado o início de 
		uma abertura inédita na ST. Pois, como o Mestre KH escreveu:  
		
		“a Filosofia 
		Hermética é universal e não sectária, enquanto que a Escola Tibetana 
		sempre será considerada (...) como mais ou menos marcada pelo 
		sectarismo. (...) Filosofia Hermética adapta-se a qualquer crença e 
		filosofia”. (MLcr-120, 409; ML-85)  
		No entanto, a Sociedade 
		Teosófica seguiu outro caminho, muito menos universal, e acabou 
		desenvolvendo uma doutrina própria, com um perfil e uma terminologia 
		bastante orientais, que passou a ser denominada de “Teosofia”. Assim 
		sendo, não é estranho que o próprio Mestre KH – que seguindo a vontade 
		do Chohan interferiu na crise da Loja de Londres – tenha feito um severo 
		alerta quanto aos caminhos que estavam sendo seguidos pela ST 
		escrevendo, em 1900, na última carta conhecida com a caligrafia dos 
		Mestres:  
		
		“A ST e seus membros 
		estão lentamente manufaturando um credo. Diz um provérbio tibetano: 
		‘credulidade gera credulidade e termina em hipocrisia’.” (LMW 1st 
		S., 99) 
		Não há dúvidas, 
		portanto, de que a Sociedade Teosófica perdeu uma grande oportunidade de 
		se transformar naquele centro de vanguarda do pensamento que os Mestres 
		tanto almejavam, especialmente no Ocidente. Um centro onde essas duas 
		facções pudessem conviver harmoniosamente, demonstrando, na prática, a 
		tolerância pregada no 1° Objetivo. Como bem notou P. Washington:  
		
		“O conflito entre 
		Blavatsky e Kingsford era tanto pessoal quanto doutrinário. Duas 
		mulheres fortes (...) estavam fadadas a entrar em conflito. (...) 
            “Essa foi uma 
		oportunidade perdida. As duas mulheres tinham forças diferentes que 
		poderiam ter sido complementares. Se 
		Anna tinha vantagem sobre HPB na aparência, posses e posição social, HPB 
		tinha o controle de uma organização internacional. Mas as diferenças 
		foram longe demais. Elas são descritas pela própria Anna em termos de 
		ocultistas orientais versus místicos ocidentais, e esse conflito 
		ainda causaria freqüentes divisões dentro da Sociedade nos anos 
		seguintes. Enquanto HPB rejeitava Kingsford como sendo uma médium comum, 
		no livro de Anna sua rival era uma ocultista — e ocultistas estão bem 
		abaixo na escala religiosa, em contato com o mundo dos espíritos apenas 
		indiretamente. 
            “Pouco antes de sua 
		própria morte, Anna K. afirmou ter sonhado que encontrou HPB no céu 
		budista. Blavatsky ainda estava fumando seus desagradáveis cigarros, mas 
		assim o fez somente após pedir humildemente permissão para o próprio 
		patrão de Anna, Hermes (...). A cena é apropriadamente simbólica: a 
		divisão entre as crenças ocidentais e orientais; a primeira, mas de modo 
		algum a última rebelião daqueles que sentiam que a Teosofia estava se 
		inclinando demais em direção ao Oriente e abandonando a tradicional fé 
		cristã. Esse não era, de acordo com seus críticos, um sinal de 
		universalidade religiosa, mas de uma ardorosa adoção de um credo 
		estrangeiro.” (Washington, 77-78)  
		
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		da página  
		
		  16. ANNA KINGSFORD E A GOLDEN DAWN (1886-1887)  
		A interpretação que 
		Kingsford e Maitland fizeram das Escrituras cristãs naturalmente fez com 
		que se interessassem pela Cabala, onde encontraram grandes semelhanças 
		com as Iluminações de Kingsford. Isso os levou a uma relação com o barão 
		Giuseppe Spedalieri, discípulo e editor literário de Eliphas Levi. 
		Encontrando-se com ele em 1887, quando visitava a França, Maitland 
		recebeu alguns manuscritos de Eliphas Levi e a sua cópia do tratado de 
		Trithemius, De Septem Secundeis. Posteriormente, Maitland passou 
		esse material para Wynn Westcott, o qual o editou como Ritual Mágico 
		do Sanctum Regnum. (Godwin, 345) 
           Westcott era ligado à 
		ordem secreta e oculta conhecida como S.R.I.A. ou Societas 
		Rosicruciana in Anglia, da qual faziam parte Bulwer Lytton, John 
		Yarker (que em 1877 havia concedido a HPB um diploma maçônico) e Samuel 
		L. MacGregor Matthers. Westcott e Matthers foram também os principais 
		fundadores da Golden Dawn, que inicialmente se apresentava como uma “ordem 
		não maçônica, aberta a homens e mulheres”, a qual se intitulava “Os 
		Estudantes Herméticos da G.D.” (Godwin, 223) 
           Tanto Westcott quanto 
		Matthers eram muito ativos na Sociedade Hermética de Kingsford. Matthers 
		deu duas palestras, uma sobre Cabala e outra sobre Alquimia, e durante o 
		ano de 1886 trabalhou na tradução de um livro que Maitland e Kingsford 
		haviam consultado no Museu Britânico. Quando publicado sob o título 
		The Kabbalah Unveiled [A Cabala Sem Véu], o livro foi 
		dedicado aos dois. 
           De acordo com o 
		biógrafo de Matthers, Colquhoun, provavelmente foi sob a influência de 
		Anna Kingsford que Matthers se tornou um feminista, pelo menos no que 
		diz respeito a questões ocultas, insistindo para que as mulheres fossem 
		admitidas na Golden Dawn em igualdade de condições com os homens. Mas as 
		semelhanças entre a Golden Dawn e Kingsford vão muito além disso:  
		
		“Pode-se entender muito 
		melhor a Golden Dawn após se conhecer o trabalho de Kingsford e Maitland. 
		Seus rituais evocaram o mesmo universo iniciático que as Iluminações de 
		Anna Kingsford haviam descrito: um universo cuja mitologia era Egípcia, 
		Cabalística, Eleusiana e Cristã (Rosacruz). Era um complemento prático 
		para os ensinamentos teóricos e morais de O Caminho Perfeito.” (Godwin, 
		362)  
		
		 Início 
		da página  
		
		  17. OS LIVROS SAGRADOS DE HERMES TRISMEGISTUS  
		Em 1884, Kingsford e 
		Maitland publicaram uma tradução de A Virgem do Mundo de Hermes 
		Mercurius Trismegistus, que continha textos herméticos muito raros. 
		Além do fragmento que dá o título, contém: “Asclépios sobre 
		Iniciações”, “Definições de Asclépios” e “Fragmentos”, 
		que inclui os “Fragmentos do Livro de Hermes a seu Filho Tatios”, 
		“Fragmentos dos Escritos de Hermes a Ammon” e “Vários 
		Fragmentos Herméticos”. Desse último citamos a Parte III:  
		
		“Por isso
		a visão incorpórea sai do corpo para contemplar a beleza, 
		elevando-se e adorando, não a forma, nem o corpo, nem a aparência, mas 
		aquilo que por trás de tudo, é calmo, tranqüilo, substancial e imutável; 
		aquilo que é tudo, sozinho e uno, aquilo que é por si mesmo e em si 
		mesmo, semelhante a si mesmo, e sem variação.” (Virgin, 151)  
		Os livros sagrados de 
		Hermes continham as leis, ciência e teologia do Egito, e os sacerdotes 
		diziam que eles haviam sido escritos durante o reinado dos Deuses, que 
		precedeu àquele de seu primeiro rei, Menes. Havia quatro livros 
		que, subdivididos, compunham 42 volumes. Eles eram guardados no recinto 
		mais sagrado do templo, e apenas os sacerdotes de uma ordem superior 
		tinham permissão de consultá-los. Nas grandes procissões religiosas os 
		livros de Hermes eram reverentemente carregados. (Virgin, i)  
		
		“Os principais 
		sacerdotes levavam os dez volumes relacionados às emanações dos Deuses, 
		à formação do mundo e à divina anunciação de leis e regras para o 
		sacerdócio. Os profetas carregavam quatro, tratando de astronomia e 
		astrologia. O líder dos músicos sagrados carregava dois, contendo os 
		hinos aos Deuses e máximas para guiar a conduta do rei, as quais o 
		cantor deveria saber de cor. A antigüidade e santidade desses hinos 
		egípcios era tal que Platão afirmou que eles eram atribuídos a Ísis, e 
		que se acreditava que teriam dez mil anos de idade. Os servidores do 
		templo levavam mais dez volumes, contendo formas de oração e regras para 
		os oferecimentos, festivais e procissões. Os outros volumes tratavam de 
		filosofia e ciências, incluindo anatomia e medicina.” (Virgin, i)  
		O imperador romano 
		Severus reuniu todos os escritos sobre os Mistérios e os queimou no 
		túmulo de Alexandre o Grande; e Diocleciano destruiu todos os livros 
		relacionados com a Alquimia. Os renomados livros de Hermes estiveram 
		perdidos por 15 séculos. Nos primeiros séculos do Cristianismo, Hermes 
		era considerado um revelador inspirado e seus escritos considerados a 
		teologia que havia sido passada para Moisés. Essa opinião foi aceita até 
		a Renascença por vários estudiosos, os quais consideravam os livros de 
		Hermes como a fonte das iniciações Órficas e da filosofia de Pitágoras e 
		Platão. (Virgin, ii) 
            Embora haja críticos 
		contrários a essas conclusões, eles reconhecem uma grande semelhança 
		entre essas doutrinas e as do Cristianismo e reconhecem, portanto, que o 
		Cristianismo não era algo completamente novo quando surgiu, mas um 
		desenvolvimento ou uma reformulação de uma doutrina há muito 
		pré-existente. (Virgin, viii) 
            Maitland explica que o 
		método Hermético para a obtenção da perfeição em qualquer plano – 
		físico, intelectual, moral ou espiritual – é a pureza:  
		
		“Não apenas tendo, mas
		sendo consciência, o homem é homem e é capaz de perceber na 
		medida em que for puro; a pureza completa implicando numa percepção 
		total, até mesmo de ter a visão de Deus, como os Evangelhos o afirmam. 
		Na mesma proporção ele também tem poder. O Hermetista plenamente 
		iniciado é um mago, ou um homem de poder, e pode realizar o que para o 
		mundo parecem milagres, e isso em todos os planos – físico, intelectual, 
		moral e espiritual – pela força de sua própria vontade. Mas seu único 
		segredo de poder é a pureza, do mesmo modo que sua única motivação é o 
		amor.” (Virgin, xv)  
		As doutrinas herméticas 
		falam da intuição como o modo essencial para o homem entrar em contato 
		com seu ser mais essencial e permanente – a alma – e dela obter 
		conhecimento das coisas divinas que obteve em épocas distantes de seu 
		passado. A doutrina dos múltiplos renascimentos da alma num corpo físico 
		e a doutrina da responsabilidade pelos frutos de suas ações também estão 
		presentes nos ensinamentos Herméticos.  
		
		 Início 
		da página  
		
		  18. RE-VELAÇÃO  
		A curta vida de Anna 
		Kingsford gerou muitos frutos, que ainda estão ao alcance das pessoas em 
		suas obras, onde ela revela, através de suas Iluminações e filosofia, um 
		caminho para o Oculto. É um valioso legado para aqueles que se dedicarem 
		a trilhá-lo. Algo que ela mesma intuiu quando, poucos dias após a 
		fundação da Sociedade Hermética, escreveu:  
		
		“O que realmente 
		buscamos é reformar o sistema cristão e começar uma nova Igreja 
		Esotérica. Uma vez que isso se inicie, poderá prosseguir 
		indefinidamente, como acontece com a Igreja Exotérica. (...) Algumas 
		vezes penso que as verdades e conhecimentos que possuímos são tão 
		elevados e tão profundos que essa época ainda não está preparada para 
		recebê-los, e que tudo que nos será possível fazer será formulá-los em 
		algum livro, ou livros, para deixá-los como um legado ao mundo quando 
		tivermos partido.” (Credo, 28)  
		Concluímos esse artigo 
		sobre Anna Kingsford e suas relações com Helena Blavatsky, citando uma 
		de suas Iluminações, “Sobre a Revelação”, onde se destaca a beleza, 
		profundidade e poesia da mensagem:  
		
		“Todas as iluminações 
		verdadeiras e valiosas são re-véu-ações, ou re-velações. Marque o 
		significado dessa palavra. Não pode haver nenhuma iluminação verdadeira 
		ou valiosa que destrua distâncias e exponha os detalhes das coisas. 
		
		“Olhe para esta 
		paisagem. Contemple como suas montanhas e florestas estão banhadas com 
		suave e delicada névoa, que meio encobre e meio revela suas formas e 
		tons. Veja como essa névoa, como um delicado véu, envolve as distâncias 
		e mescla as bordas da terra com as nuvens do céu! 
		
		“Quão belo é, quão 
		ordenada e completa a sua adequação e a delicadeza de seu apelo aos 
		olhos e ao coração! E quão falso seria aquele sentido que desejasse 
		destruir esse véu sobreposto, para trazer para perto os objetos 
		longínquos, e reduzir tudo a um primeiro plano, no qual apenas detalhes 
		fossem aparentes, e todos os contornos fossem nitidamente definidos! 
		
		“A distância e a névoa 
		fazem a beleza da Natureza: e nenhum poeta desejaria contemplá-la de 
		outra forma que não fosse através desse adorável e modesto véu. 
		
		“E assim como na 
		natureza exotérica, assim é com a natureza esotérica. (...) 
		
		“Assim, a doutrina dos 
		mistérios é verdadeiramente re-véu-ação – um velar e um re-velar 
		daquilo que não é possível para o olho contemplar sem violar toda a 
		ordem e santidades da natureza. 
		
		“Pois a distância e os 
		raios visuais, causando as diversidades do próximo e do distante, de 
		perspectivas e nuances que se fundem, de horizontes e primeiros planos, 
		são parte da ordem e seqüência naturais: e a lei expressa em suas 
		propriedades não pode ser violada. 
		
		“Pois nenhuma lei 
		jamais é quebrada. 
		
		“Os tons e aspectos da 
		distância e da névoa realmente podem variar e se dissolver, de acordo 
		com a qualidade e a quantidade de luz que cai sobre elas: mas elas estão 
		sempre lá, e nenhum olho humano pode anulá-las ou aniquilá-las. 
		
		“Mesmo as palavras, 
		mesmo as figuras são símbolos e véus. A própria verdade não pode ser 
		jamais proferida, a não ser de Deus para Deus.” (Clothed, 9-11)  
		
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		da página  
		
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