• HART, Samuel Hopgood. Em Memória do Rev. G.J.R. Ouseley (In Memoriam to the Rev. G. J. R. Ouseley). Escrito em Ilfracombe (Inglaterra), 1952.

Informações: Ensaio biográfico sobre o Rev. Gideon Jasper Richard Ouseley, o qual foi um grande admirador e divulgador da mensagem e das obras de Anna Kingsford e Edward Maitland. Esse ensaio fez parte, como um anexo explicativo, de uma das edições do Evangelho dos Doze Santos, que é um texto apresentado ao mundo pelo próprio Rev. Ouseley, o qual afirma ter sido auxiliado (em sonhos e visões) por Anna Kingsford, Edward Maitland e outros. Nesse ensaio ele relata, entre outros pontos interessantes, a seguinte opinião do Rev. Ouseley:

“Quando lhe falei do meu interesse pelos ensinamentos de O Caminho Perfeito, ele disse que em sua opinião era “a melhor e mais brilhante das revelações que haviam sido dadas ao mundo”.

“Em carta publicada na revista Light, 1882, p. 475, ele descreveu O Caminho Perfeito como “o mais maravilhoso de todos os livros que apareceram desde a era cristã”.” 

Tradução: Arnaldo Sisson Filho e Luis Antonio de Souza.

A seguir temos o texto completo, em português:


EM MEMÓRIA DO REV. G. J. R. OUSELEY

Por Samuel Hopgood Hart

“Pelos seus frutos os conhecereis.” (Mateus, 7:20)

Conheci o Rev. Gideon Jasper Richard Ouseley em outubro de 1897, tendo ouvido falar dele como vegetariano, um oponente da vivissecção e um defensor entusiástico dos ensinamentos da falecida Dra. Anna Kingsford e Edward Maitland, conforme apresentado em suas Palestras sobre Cristianismo esotérico, publicadas sob o título de The Perfect Way, or, the Finding of Christ (O Caminho Perfeito, ou, a Descoberta de Cristo), nas quais eu também estava interessado. Estando na época em Brighton, onde ele morava, fui visitá-lo e fui muito bem recebido.

Ele confirmou tudo o que fui levado a acreditar dele e disse que também era abstêmio de bebida alcoólica e não fumante. Ele ponderou que “a causa direta da pobreza, da má saúde e da miséria social era o consumo de carne, o consumo de álcool e o tabagismo”. Como Anna Kingsford, ele viu na abolição do consumo de carne “o único meio eficaz para a redenção do mundo, seja no que diz respeito aos próprios homens ou aos animais”. O alimento verdadeiro e adequado para o homem, disse ele, eram frutas maduras (incluindo nozes), óleo puro de azeitonas, grãos e vegetais, que a Mãe Terra produz em abundância para o sustento de seus filhos.

Ele estava morando apenas com sua esposa, sua família cresceu e se dispersou. Dois gatos, no entanto, que ele considerava parte de sua família, não devem ser omitidos da casa. Eles eram seus companheiros constantes. Ele falava com eles, e eles o seguiam pela casa. Ele disse que eles eram seus únicos seguidores, todos os outros estavam contra ele e suas ideias. E as pessoas o viam como um “excêntrico”. Ele considerava os gatos como “os mais humanos de todos os animais”. Ele estava vestido como um clérigo e me disse que era um padre da Igreja Católica Apostólica, embora não estivesse no serviço ativo.

Sua vida foi dedicada à difusão dos ensinamentos de Anna Kingsford e Edward Maitland. Tivemos uma longa conversa, mas com alguma dificuldade por causa de sua surdez. Quando contei a ele sobre meu interesse nos ensinamentos do Caminho Perfeito, ele disse que, em sua opinião, era “a mais brilhante e melhor de todas as revelações que haviam sido dadas ao Mundo” (1), mas ele desacreditava que o mundo a aceitasse, porque “o mundo sempre rejeitou a Verdade; sempre crucificou Cristo e sua doutrina, e não o faria novamente?” De uma coisa, porém, ele tinha certeza: “A Igreja do futuro seria a Igreja do Caminho Perfeito.

Nenhuma mera organização eclesiástica, disse ele, seria capaz de perdurar por um prazo muito longo, caso se oponha aos princípios eternos de Justiça, Humanidade e Amor a todas as manifestações de Deus, quer sejam humanas ou não humanas. Ao se despedir, ele me deu alguns folhetos e panfletos que havia escrito e expressou a esperança de me ver novamente. Assim começou uma amizade que me foi de grande importância, e que agora me lembro com carinho.

Após a publicação do Evangelho dos Doze Santos (o qual será doravante aqui comentado), apareceu em Homens do Dia uma matéria de sua autoria “escrita por solicitação especial do Editor”, e nesse texto me baseei para obter informações sobre sua infância.

Afirma o texto que ele “nasceu em Lisboa em 15 de outubro de 1835, filho mais novo do falecido Sir Ralph Ouseley, K.C.B., que se mudou para a Irlanda com morte de seu pai, em 14 de maio de 1842, para morar com parentes protestantes. Ele foi educado na Universidade de Dublin, na qual se formou em 1858, e depois disso se casou. Tendo estudado terapêuticas, ele foi ordenado clérigo da Igreja da Inglaterra (Igreja Anglicana) pelo Bispo de Down e Connor, e nomeado Cura de Warrenpoint (Co. Down), 1861”.

Mas ele não permaneceu por muito tempo em uma Igreja na qual estivesse vivenciando uma falsa posição. Assim, em 1870, “tendo renunciado voluntariamente a todo consumo de carne, bebida forte e fumo, como incompatíveis com a humanidade e a verdadeira religião de Cristo, conforme ensinada por Ele e seus apóstolos”, foi recebido como sacerdote da Igreja Católica Apostólica, onde permaneceu até 1894, quando “devido à sua longa e crescente surdez que o impossibilitava de exercer o seu ministério, retirou-se para a Igreja do seu Batismo, sendo recebido pelo Prior da Igreja Carmelita de Nossa Senhora do Monte Carmelo, Kensington, Londres”, Igreja na qual permaneceu como leigo.

Pouco depois do nosso encontro, ele me escreveu: “Lembre-se, não sou Romanista, embora seja cristão, católico”. Antes de sua recepção na Igreja Católica, ele explicou plenamente ao Prior Carmelita suas opiniões sobre os ensinamentos do Caminho Perfeito, que de forma alguma ele abandonaria. O prior pediu para ver o livro e, o tendo lido, disse não encontrar nele nada contrário à fé da Igreja Católica. “Por que então”, perguntou o Rev. Ouseley, “a Igreja não ensina isso?” Ao que o Prior respondeu: “Você não tem a liberdade de dizer que esse é o ensinamento da Igreja Católica, mas você é livre para acreditar e tê-lo como uma opinião piedosa”.

Foi com tal entendimento que, em 1894, tornou-se membro da Igreja Católica Romana, encontrando, segundo ele: “tudo o que buscava, de certo modo, dentro daquela Igreja, e a fim de propagar sua própria revelação dentro de seus limites”. Seu desejo era “saturar e transmutar os próprios documentos fundamentais da Igreja com a doutrina e o humanitarismo do Caminho Perfeito. Ele iria “revisar os documentos fundamentais tradicionais, de modo a expressar esses ensinamentos em vez de ocultá-los”, mas ele “nunca seria o cabeça de um cisma, nunca”. Embora ele não fosse um sectário e odiasse ser considerado como tal, ele “trabalharia com todos os verdadeiros reformadores e bons homens que tentassem levar as pessoas a caminhos de retidão e tirá-los de seus hábitos bárbaros de comer carne, de bebidas fortes, e crueldade de todo tipo e espécie”.

Embora a “surdez prolongada e crescente” tenha sido a razão ostensiva dada na Notificação para sua aposentadoria do cargo oficial que ocupava na Igreja Católica Apostólica, ele foi, de fato, “suspenso” por causa de seus pontos de vista, “posto para fora da Igreja, com perda do salário clerical”, como ele colocou. Eles chamaram suas opiniões de “anticristãs”. Mas, no entanto, ele não deixou de se descrever como “um sacerdote da Igreja Católica Apostólica”, que ele disse, “ainda sou, o que se aplica igualmente à Igreja Católica terrena”. (2)

Cerca de treze anos antes de sua “suspensão”, ele fundou a “Ordem da Uni-fica-ação (The Order of At-one-ment) e Sociedade dos Templários Unidos”, tendo como Lema: “Um Deus, uma Religião, Vários Nomes, Várias Formas.” O nome da Ordem deveria ser entendido no sentido de esclarecer o entendimento popular e errôneo de fazer sofrer os inocentes no lugar dos culpados (NT: ou seja, da Salvação Vicária), ou seja, em seu sentido verdadeiro, literal e radical de reconciliação de ideias, coisas, pessoas ou sistemas opostos; uma unificação do humano com o Divino, e do Homem com Deus, pelo Espírito de Cristo dentro da Alma. A Ordem nunca teve muitos membros e há muito deixou de existir.

Além do Evangelho dos Doze Santos, escreveu muitos folhetos e panfletos sobre vários assuntos. Os principais livros ou folhetos escritos por ele foram:

  • O Livro Original de Gênesis (Segunda Edição, 1900).
  • Palingenesia: ou O Novo Nascimento da Terra (1884). Um livro dado em símbolo, e que não deve ser tomado literalmente.
  • Nova Luz sobre Velhas Verdades (1888). Um manual de Doutrina para uso do Clero, com um Discurso aos Leigos (de todas as denominações).
  • A Unidade, Dualidade e Trindade. Apresentando o Aspecto Feminino da Trindade. (3)
  • Uma Cesta de Fragmentos.
  • O Apocalipse de São João.
  • A Igreja do Futuro. (1896). Una, Sagrada, Divinamente Humana, Católica e Apostólica: Fundamentos da Religião, etc., para a união de todas as Igrejas.

Mas o principal de todos os seus escritos foi O Evangelho dos Doze Santos, que ensina o Panteísmo Cristão: “Por involução e evolução será realizada a salvação de todo o mundo; pela descida do Espírito à matéria, e a ascensão da matéria ao Espírito, através dos tempos.”

Foi publicado pela primeira vez por partes nas colunas do jornal The Lindsey & Lincolnshire Star. Essas partes foram concluídas no início de 1900 e, no final do ano seguinte, a primeira edição foi publicada e outras edições se seguiram. Em 1903 uma edição “revisada e ampliada” parece ter sido publicada, e em 1904 uma “Edição Nova e Completa” foi publicada, a última durante a vida do Rev. Ouseley. (4)

A esse Evangelho o Rev. Ouseley se referiu várias vezes como “O Evangelho dos Hebreus”, “O Evangelho Nazareno”, “O Evangelho dos Nazarenos”, “O Evangelho Essênio”, “O Evangelho dos Doze”, “O Evangelho dos Doze Santos” (como no título), “O Evangelho da Vida Perfeita” (como no subtítulo): “O Evangelho Original e Completo do Sagrado Cristo”, e por outras denominações.

Esse Evangelho foi recebido pelo Rev. Ouseley sob inspiração: “Em sonhos e visões da noite”, e em “Comunicação.” É uma tradução de um documento original em aramaico que pretende ser uma reconstrução e revisão da narrativa dos Evangelhos. Algumas partes dele foram incluídas na Palingenesia, onde foram descritas como “Fragmentos do Evangelho da Vida Perfeita”, que foram apresentados a ele (Rev. Ouseley) (5), “em sonhos e visões da noite”, quando “um púlpito parecia aparecer diante dele com certos manuscritos, e enquanto eram trocados ele lia os papéis então apresentados a ele. De manhã, anotava o que havia lido, lhe vinha à memória de uma só vez ou gradualmente, mas geralmente ao longo do dia. O fato de pela manhã sentir peso, etc., nos olhos, exatamente como se tivesse lido a noite toda, parecia-lhe uma prova de que alguma ação anormal estava em andamento.” Uma coisa é inquestionável, ele não poderia, sem a ajuda de algum Poder superior e acima do seu intelecto normal, ter escrito esse Evangelho, e que tal Poder era de natureza divina, é algo que fica evidenciado pelo seu conteúdo. No final do Evangelho estão estas palavras: “Glória a Deus por cujo poder e auxílio foi escrito.”

Logo após nosso encontro, ele me escreveu dizendo que não tinha “nenhum talento além do que eu podia ver naqueles livrinhos” que ele me dera, e que com o aumento da surdez e diminuição da visão ele se considerava “praticamente um homem morto”; mas, acrescentou, “tudo o que pudesse fazer, faria.” Menciono isso com o objetivo de chamar a atenção para o que, no momento em que escrevia esse Evangelho, ele considerava estar no limite de seus “talentos”; e a composição de seu Prefácio, de fato, não se compara favoravelmente com “aqueles livrinhos” acima mencionados.

Ele disse que recebeu a tradução do Evangelho vinda do Espírito, ou seja, por inspiração. Não se deve supor que o original do qual esse Evangelho é uma tradução, ou qualquer matéria suplementar que possa ter sido acrescentada a ele, seja de maior valor histórico do que os quatro Evangelhos, nenhum dos quais é histórico no sentido comumente suposto, uma vez que o objetivo de todos foi retratar “o drama divino da história espiritual do homem”, isto é, da Alma. Mas tem esta vantagem em relação as outros, que é ter escapado das mãos dos “corretores” e “corruptores”, com o que os demais sofreram.

Alguns anos atrás, o diretor de uma escola muito conhecida me disse que, para o benefício de seus alunos, ele tentou escrever uma vida de Jesus, baseando seu material no conteúdo dos quatro Evangelhos. Mas que desistiu da ideia por conta da impossibilidade de escrever a partir de uma vida de Jesus que não teria maior valor histórico.

Quando, mais tarde, entrou em contato com o ensinamento de O Caminho Perfeito, percebeu que o objetivo dos escritores dos Evangelhos não era registrar a história (como geralmente se entende), mas por meio de alegorias e parábolas, que muitas vezes assumiam a forma da história, velando e assim preservando ensinamentos vitais que de outra forma seriam, ou poderiam ser perdidos. Assim, embora a inclusão de eventos históricos nos Evangelhos não seja negada, os seus escritores, não obstante, escreveram não como historiadores, mas como professores de Mistérios Cristãos, e a história, se e na medida em que pudesse ser introduzida, foi adaptada, ou ajustada, para ensinar o Mistério pretendido.

Isso não era nenhuma pia fraus (NT: no mau sentido dessa expressão do latim, que significa ‘uma mentira, ou fraude bem intencionada’), porque o ensinamento, e somente o ensinamento, era o objetivo e a intenção dos escritores, um fato que os próprios Evangelhos testemunham: “A carne (ou letra) para nada aproveita. As palavras que vos tenho falado são Espírito e são Vida”. As conversas registradas nos Evangelhos foram manifestamente introduzidas “para ilustrar e reforçar doutrinas particulares.” Infelizmente, não é algo suficientemente conhecido que nas Escrituras, processos espirituais que são aplicáveis a todos, são descritos e escondidos sob o disfarce de eventos históricos que precisam de uma chave espiritual para desvendar seu significado. Os pés dos discípulos não foram lavados por Jesus até que suas próprias vestes fossem colocadas de lado ou removidas (João, 13:1-15). O Rev. Ouseley encontrou nas palestras do Caminho Perfeito (“The Perfect Way lectures”), e outros escritos de Anna Kingsford e Edward Maitland, a chave necessária para a tarefa de tal remoção. (6)

Em uma Apologia escrita por Anna Kingsford pouco antes de sua morte, ela disse: “Iluminada pela Luz Interior (o Espírito Divino interior), percebi a falácia e a idolatria do Cristianismo popular, e desde aquela hora em que recebi o Cristo Espiritual em meu coração, resolvi não o conhecer mais segundo a carne. As velhas controvérsias históricas sobre os fatos, datas e fenômenos do Antigo e do Novo Testamento deixaram de me atormentar e me deixar perplexa. Percebi que minha alma não tinha nada a ver com eventos ocorridos nos planos físicos, porque esses não poderiam, por sua natureza, ser cognatos de necessidades espirituais.” (7) “A sabedoria celestial”, disse Thomas A. Kempis, “pisa com seus pés sobre todas as coisas inferiores ou mais baixas”, e ele testemunha a existência de “um maná escondido na doutrina de Cristo.”

Em seu Prefácio, o Rev. Ouseley afirma que O Evangelho dos Doze Santos, conforme recebido por ele, era uma tradução de “um dos mais antigos e completos fragmentos cristãos primitivos”, escrito em aramaico, e “usado na primeira Igreja Cristã, em Jerusalém”, e que esse era “o Evangelho original do qual os quatro foram mais ou menos copiados, com numerosas variações e omissões importantes.” A tradução, diz ele, lhe foi comunicada “em numerosas partes em diferentes momentos, por Emmanuel Swedenborg, Anna Kingsford, Edward Maitland e um padre de um século anterior que se chamava Placidus, da Ordem Franciscana, depois Carmelita”, que foram seus tradutores. (8) Ele também se refere a certas “manifestações espirituais” que, segundo ele, acompanharam a transcrição.

Cartas escritas por ele para mim confirmam o que foi dito acima. Em uma delas, ele fala de Placidus como “sentado ocasionalmente ao lado de sua cama e discutindo muitas questões.” Em outra, ele diz que “ele (o Evangelho) simplesmente fluiu através de mim o tempo todo, e eu sinto a direção do Espírito.”

Em outra, que Anna Kingsford e Edward Maitland haviam “revelado a ele pessoalmente, algumas restaurações dos escritos sagrados”, acrescentando “eu digo isso sem um pingo de hesitação, pois ela me apareceu em visão da forma mais clara possível (e ele também), e me deu um papel para ler que peguei na mão e li: Divulgue para o mundo, os meios virão. Nunca tive uma visão mais clara, tão nítida e vívida que cheguei até mesmo a procurar o papel que ela me deu, e aqui, agora, vieram os meios para essas publicações se concretizarem (em The Lindsey e Lincolnshire Star), e espero que o Editor publique ainda outras mais. Quem gostar pode agora reimprimir da Star em forma de livro.” (9)

Em outra, que “Ela (a tradução) foi dada principalmente por Edward Maitland e Anna Kingsford, e Swedenborg em parte, e um padre chamado Placidus (franciscano), e por meio de comunicações: e desejo declarar isso de forma clara e simples; e também quero dizer que não me foi dado em salas de sessões, mas em sonhos e visões da noite.”

Em outra: “Que Swedenborg, Maitland, Anna Kingsford, e também um monge Placidus O.S.F., que todos se combinaram para me transmitir o Evangelho, e bem neste período mais crítico, que isso é tão verdadeiro quanto seu nome é Hart, ou eu sou eu mesmo.”

Em outra, falou dos “amigos a cujo ditado escreveu (o Evangelho)”, dos quais, disse, “tenho tanta certeza quanto a minha própria existência e mais ainda, pois às vezes não sei quem sou ou quem eu era. Sei que fui amigo de Jesus.” (10)

O Rev. Ouseley sustentou que a Verdade Divina é revelada apenas de dentro. “Busque de dentro”, disse ele, “não procure nada de fora. Dentro está a verdadeira luz. Fora é perplexidade e escuridão. Todo conhecimento vem de dentro. Nada de fora.” Ele não conseguia entender por que os espíritas de seu tempo, muitos dos quais estavam prontos para aceitar como verdade qualquer coisa que viesse por meio de médiuns, desconsideravam ou ignoravam a revelação que lhe vinha de dentro. Pensamentos inspirados vinham a ele quando ele estava caminhando, “respirando o ar fresco da manhã.” “Eu saio”, disse ele, “e a inspiração vem. Eu carrego um caderno comigo.”

Em 1898 perdeu a esposa e no ano seguinte casou-se novamente. Sua segunda esposa sobreviveu a ele, tendo feito tudo o que podia para ajudá-lo em seus anos de declínio. Por natureza ele era ativo e sua mente era clara, mas em 1903, ele escreveu: “Ninguém há na terra tão deprimido, fechado e esmagado como eu estou. Fui expulso da Igreja por ser a favor do próprio Evangelho que os salvaria, e os reformadores de qualquer tipo me afastam igualmente por lhes trazer o dom do alto.”  Toda a minha vida, desde os dez anos de idade, não recebi nada além de perdas e negações de minha vontade de uma forma ou de outra, e agora sou um moribundo. Eu me sinto muito doente. Na maior  solidão. Agora tenho que tatear no escuro atrás das coisas, surdo e quase cego como estou. Anseio continuar e continuar, mas tudo está contra mim tudo, tudo, estou cansado da vida, solidão imensa, corpo e alma desgastados … meus olhos me forçam a desistir agora. Boa noite. Deus o abençoe.”

Outra causa de depressão foi a dor, tristeza e angústia que ele suportou por causa das maldades cometidas aos seus “irmãos sofredores”, os Animais. Embora surdo no plano externo, ele não era surdo espiritualmente, nem era cego espiritualmente. Ele ouviu os gritos dos Animais. Ele disse:

“Todas as noites fico acordado da forma mais infeliz. Eu sei que não passa um momento, em que centenas de minhas queridas criaturas, gatos, coelhos, cães e outros são brutalmente mortos por demônios em forma humana. Toda a vida é Una. Estou consciente dos sofrimentos, dos sofrimentos da terra, sempre consciente, mas especialmente à noite, e não posso descansar; e a mensagem para consertar ou mitigar tudo isso é rejeitada por homens cegos e surdos a ela. Eles não veem nem entendem. É o inferno para mim, a profundeza mais baixa do inferno. Eu não conheço tal coisa como dormir.”

Também estava preocupado com o futuro do Evangelho dos Doze Santos. O que seria dele depois de sua morte? Seu grande medo era que ele pudesse estar sob o controle daqueles que o suprimiriam, ou (como ele disse) “proteger do mundo o que lhe foi dado para a iluminação do mundo”; e ele temia ainda mais a mão do “corretor”, pois a correção significaria semear “joio” entre “a boa semente” com a qual comparou o texto do Evangelho que lhe foi dado para semear no mundo e “contradizer os pecadores.”

O que aconteceu no passado pode acontecer novamente, e aconteceria se esse Evangelho estivesse sob o controle dos materialistas, em cujas mãos “correção” seria “corrupção”. Ele acreditava que as verdadeiras riquezas do Evangelho haviam sido confiadas à sua guarda. Tais temores o levaram em 1904 a transferir para um amigo seus direitos autorais, com um pedido “para não o deixar cair nas mãos de ritualistas, sejam romanos ou anglicanos.”

Sustentava que a Festa dos Santos Inocentes não havia recebido da Igreja o seu devido desdobramento, pois “Herodes” (símbolo do materialismo) “matava os inocentes porque Jesus nasceu entre eles, procurando assim extingui-lo”, e todos os que aceitassem e abraçassem o ensinamento desse Evangelho seriam “Inocentes.”

Em 1905, ele escreveu: “Estou quase terminando e meu destino me espera. Eles estão prontos para me receber.” “O dia está escuro.” “Não há um versículo de Davi que descreva sua dor e lágrimas que não descreva exatamente como eu estou.”

Uma carta posterior, a última recebida dele, diz: “Estou quase enlouquecido por esse isolamento contínuo. Mas continuo o mesmo de sempre. Com amor permanente a ambos (11) e garantia de minha afeição. Atenciosamente, G. J. Ouseley.”

Em 9 de dezembro de 1906, ele faleceu em seu septuagésimo segundo ano. Uma Nota sobre ele apareceu na revista Light (5 e 12 de janeiro de 1907). E agora que ele descanse em paz com o conhecimento de que sua vida de auto sacrifício pela Verdade e pela Humanidade, uma vida sem ambição, honrarias ou desejo por qualquer ganho mundano não foi vivida em vão, pois, “Onde Moram a Misericórdia, o Amor e a Piedade, Ali Também Habita Deus.”

No final, ele me disse que: “Foi sua infelicidade ter nascido com grandes ideias e incapacidade de realizá-las como desejaria, enquanto ele havia feito o melhor e gasto tudo, absolutamente tudo, no trabalho.” Ele subiu o caminho para o alto enfrentando adversidades, frustrações e decepções. Tais foram os seus passos na escada de Deus que vai da terra ao céu. Enquanto ele semeou em lágrimas, ele não se desviou da adesão à Verdade revelada a ele de dentro. Para alguém como ele, a vida não pode terminar em fracasso; só pode terminar com “A Canção do Triunfo do Céu”:

“Em suas bocas um salmo vitorioso, em suas mãos um manto e uma palma.”

A filosofia de vida do Rev. Ouseley era (em suas próprias palavras) a seguinte:

“Como o Sol vem do Oriente e brilha até o Ocidente, surgindo das trevas e se pondo nas trevas novamente, assim também é o homem. Quando ele vem das trevas é que ele brilhou antes, quando ele vai para as trevas é para que ele possa brilhar novamente onde você não vê. Assim, o homem fez antes, tal como vive agora, e ele vai para seu descanso por um tempo e volta à vida.

Desse modo, através de muitas vidas e experiências, ele é aperfeiçoado, e quando é perfeito, é feito coluna no templo de Deus, e não entra nem sai mais. Ele não morre mais, visto que a morte não tem mais domínio sobre os que são perfeitos. Repetidamente o homem nasce nesse e em outros mundos, até que sua alma seja purificada de todo mal e aperfeiçoada em todo bem.

Não se maravilhe, então, que eu disse, você deve nascer de novo da água e do fogo (e o que isso significa você sabe). Aqueles que fizeram o mal vão para o castigo corretivo por um período, e aqueles que fizeram o bem vão para a felicidade por um período, e quando perfeitos eles vão para a vida eterna. Deus é justo, e a cada um é dado o que merece.

Na mesma medida que semeiam, eles também ceifarão, e cada um vai para o seu próprio lugar, que preparou para si e para o qual está apto, até que chegue a sua hora e outro lugar lhe seja dado para mais aperfeiçoamentos. E somente aqueles que persistirem na maldade até o fim morrerão, eles se apagarão como uma vela e se apagarão como uma chama.” (Das “Sugestões” do Rev. Ouseley, mencionadas na nota 2).

Como todas as Sagradas Escrituras, “O Evangelho dos Doze Santos” é místico e, para uma correta compreensão, deve ser interpretado assim. Seu valor está no ensinamento, o qual pela vestimenta é velado. Rev. Ouseley o descreveu como “A Verdadeira História da Vida Perfeita. Para entender o ensinamento, a vestimenta deve ser levantada ou removida. Então, nas palavras do Talmud, “a falsidade passa, mas a verdade permanece.”

Em todos os mistérios sagrados, as parábolas são usadas como vestimentas para a Verdade que está oculta em sua própria expressão. Em um dos “Ditos de Jesus”, conforme registrado nos Papiros de Oxirrinco (NT: Que contém fragmentos do Evangelho de Tomé), nos é dito: “O que está oculto de ti será revelado a ti. Pois não há nada oculto que não venha a ser manifesto, nem sepultado que não seja ressuscitado.”

Aos que ocultaram “a chave do conhecimento” Jesus disse: “Vós mesmos não entrastes e aos que entravam não abristes”. Em última análise, “a própria verdade é indizível, salvo de Deus para Deus.” Como afirmado no Evangelho dos Doze Santos: “A verdade una e absoluta está somente em Deus. Aos homens se revela a Verdade, segundo sua capacidade de compreender e receber.” “Busque”, disse Anna Kingsford, “o significado proficiente (NT: justo, veraz, adequado) do Universo manifestado e da Palavra escrita, e você encontrará apenas seu sentido místico.” Diz Thomas A. Kempis: “Para alguns” (os literalistas) “Eu falo coisas comuns. Aos outros em grande luz revelo mistérios.” “Minhas palavras são Espírito e Vida e não devem ser avaliadas pelo sentido do Homem.” “Eles (os profetas) entregam a carta, mas Tu explicas o significado das coisas seladas. Eles clamam com palavras, mas Tu dás entendimento ao que ouve.”

No final do Evangelho dos Doze Santos, lemos: “Para os que creem no Espírito e não na letra que mata, as coisas aqui relatadas são verdadeiras como Verdades Espirituais, para outros são como um conto sem importância.” Não foi sem um profundo significado que Jesus disse: “Levante a pedra” do Ser que habita (ao nível do Espírito), “e lá você Me encontrará.” “Fenda a madeira” da consciência inferior e externa, “e lá estou eu.” (12) O “Filho de Deus no homem” deve ser levantado para o entendimento correto e da Sagrada Escritura. Jesus disse “aos paralíticos” e há muitos assim: “Levanta-te e toma o teu leito.”

Um dos primeiros atos de Jesus após sua ressurreição foi “abrir as Escrituras” para dois de seus discípulos, Cleofas e outro a quem ele se juntou no caminho de Jerusalém para Emaús. Esses discípulos ele encontrou “raciocinando juntos” sobre as coisas que haviam acontecido ultimamente; e imediatamente “expôs-lhes em todas as Escrituras as coisas concernentes a Si mesmo”, e os culpou por sua “loucura” e por sua “lentidão de coração por crer em tudo o que os profetas haviam falado.” (13)

Seu próprio raciocínio em conjunto implica uma limitação da consciência aos planos mentais externos e inferiores, onde são vistas apenas “as sombras da tumba.” Assim foram seus olhos espirituais “bloqueados.” Seu “coração” era “lento”, uma lentidão que indicava falta de compreensão espiritual. Foi por esse motivo que o “raciocínio conjunto” dos dois discípulos foi considerado “loucura.” Mas “enquanto ele falava com eles pelo caminho, e enquanto ele lhes abria as Escrituras”, uma mudança veio sobre eles, “seus corações queimavam dentro deles”, e seus olhos espirituais foram abertos. Eles acordaram e o conheceram. Ele era conhecido por eles no “partir do Pão” da Verdade Divina, que é o alimento da alma.

E na abertura de seus olhos espirituais, aquele a quem, portanto, eles conheciam exteriormente, “Desapareceu de sua vista”, e eles foram capazes de testemunhar: “O Senhor ressuscitou de fato!”

“A maioria dos erros dos materialistas”, disse Anna Kingsford, “surgem da compreensão de localidades e coisas materiais, quando deveriam entender condições e princípios.” A letra da Escritura é apenas a sombra da Verdade Divina. A Sombra que, como disse Tennyson, “se senta e me espera no deserto.”

“A sombra encapuzada da cabeça aos pés, que guarda as chaves de todos os credos.”

“Aqueles”, disse Buda, “que confundem a sombra com a substância e a substância com as sombras, nunca chegam à Realidade, mas seguem objetivos falsos. Aqueles que conhecem a substância como substância e a sombra como sombra, chegam à Realidade e seguem objetivos corretos.” (Dhammapada).

Por que certos ensinamentos estão escondidos sob a letra? Por que, pode-se perguntar, Jesus, como os outros grandes Mestres, ensinou a multidão em parábolas? A resposta é que os Mistérios não podem ser ensinados pelos culpados de sangue, nem podem, exceto como “palavras obscuras”, ser dados àqueles da multidão que vivem como animais carnívoros. Sobre isso, o Evangelho dos Doze Santos é explícito:

“Aqueles que participam dos benefícios que são obtidos prejudicando as criaturas de Deus, não podem ser justos”, nem podem “aqueles cujas mãos estão manchadas de sangue, ou cujas bocas estão contaminadas com carne”, tocar coisas sagradas ou ensinar os mistérios do Reino, nem estão aptos para receber os mistérios superiores, “porque o coração deste povo está endurecido.” (14)

A época em que o Rev. Ouseley viveu não era “nenhuma era de ‘fé’.” Era materialista e anticristã. A maldade foi legalizada. Havia materialismo na ciência e materialismo na religião. O Rev. Ouseley “não se atreveu a desistir da revelação que lhe foi feita”, e ele temia que o ensinamento o qual ele defendia e para a promulgação do qual ele dedicou sua vida fosse, após sua morte, suprimido. Pessoas perdidas no prazer, não comprariam escritos místicos.

Ele não tinha fé na democracia ou no governo democrático. Ele não era um adorador do Deus Demos. Vox populi não era para ele Vox Dei. “A democracia”, disse ele, “está podre”, “os reformadores ignoram a religião”, “a religião é repulsiva para todos nestes dias.” Referindo-se a membros de sociedades humanitárias que têm objetivos com os quais ele simpatiza, ele disse: “Sou o único entre todas esses reformadores que defende Deus e a Religião. Todo os demais têm suas ideias sem Deus.” “Nem tudo o que eu disse, nem o dobro, estou convencido, jamais despertará a consciência de um povo amortecido pelo materialismo.”

Mas o Rev. Ouseley não estava sozinho em condenar o Socialismo Ateísta: pois em seu Potentiae Signorum é declarado pelo autor que nenhuma nação pode votar a si mesma fora da Jurisdição do Espírito de Deus, mesmo pelo maior dos mandatos, sem votar em si mesma também fora da Jurisdição de Sua proteção e Graça. Há uma divindade maior do que aquela do povo. A igualdade deve ser buscada construindo-se para o alto.

A teologia para ele era “religião científica”. O Rev. Ouseley compreendia as verdades internas ensinadas pelos fundadores das grandes religiões. Ele sabia, como disse Buda, que “todos os Budas ensinam a mesma verdade.” Ele trouxe consigo das longas eras do passado, o conhecimento que ele havia adquirido em encarnações anteriores. Ele disse:

“Encontro surgindo através da minha presente existência tendências e reminiscências: (a) Uma tendência a usar o fogo, o sol, etc., como símbolos da Divindade. (b) Reminiscências ocasionais da adoração egípcia e uma forte parcialidade com os gatos. (c) Uma tendência à filosofia indiana e ideias budistas, que não vêm como uma coisa nova, mas como algo que eu já conhecia antes. (d) Uma tendência a certas práticas judaicas, aversão à carne suína e outros animais “impuros”, e ainda mais desde que passei a renunciar completamente ao consumo de carne. (e) Uma tendência a usar cerimoniais e símbolos católicos cristãos, que para mim são símbolos de uma fé mais antiga, e ainda mais católica. Ele acreditava que: (a) Em uma de suas encarnações passadas, ele era um sacerdote mago e adorava a Deus pelo fogo. (b) Na seguinte ele era uma sacerdotisa de Ísis, envolvida em ritos egípcios. (c) Na próxima ele era um monge budista. (d) Na seguinte ele era um sumo sacerdote judeu. (e) E na sua última, um bispo católico na Espanha.”

São reminiscências como essas que explicam sua “forte inclinação para o catolicismo” na religião e, em particular, suas “fortes tendências e simpatias inexplicáveis com o judaísmo, por um lado, e o budismo, por outro”, que ele via “unidos em uma Religião Católica”, e ele ansiava pelo tempo em que “os ensinamentos éticos de Buda e Jesus serão universalmente compreendidos e seguidos.”

Os ritos e cerimônias da Igreja Católica, da Igreja Grega e da Igreja da qual era então sacerdote eram para ele “símbolos que consagravam verdades eternas; Verdades que a Igreja, caindo do Espírito que dá Vida à letra carnal que mata, deixaram de revelar.” Ritos e cerimônias em si não eram nada além de sua significação. Aquilo que é verdade, é verdade sem autoridade; e o que é falso, a autoridade não pode tornar verdadeiro.

No Evangelho dos Doze Santos lemos: “Deus, que é puro Espírito e permeia tudo, não considera as formas e ritos, mas os corações que os oferecem.” “Sob todas as religiões e ritos externos, há apenas uma religião subjacente a todos, até mesmo a religião do Espírito da Verdade.”

Como cristão, ele usou a terminologia cristã. As palestras do Caminho Perfeito demonstram que o cristianismo é “uma síntese simbólica das verdades fundamentais contidas em todas as religiões.” As grandes religiões do mundo são como línguas de Deus, todas falando a mesma linguagem. Assim foi no dia de Pentecostes, quando “a Lei de Cristo” foi pregada à multidão, “cada um ouvindo a palavra na sua própria língua em que nasceu.”

Seitas e denominações cristãs hoje divergem sobre doutrinas que, na maioria das vezes, elas não entendem. O Evangelho dos Doze Santos foi escrito para pessoas de todas as religiões, como também para pessoas de nenhuma religião em particular. Declara que “Deus suscitou testemunhas da verdade em todas as nações e em todas as épocas, para que todos possam conhecer a vontade do Eterno, e cumpri-la, e depois disso, entrar no Reino para ser governantes e obreiros do Eterno.” (15) “No meio de vós está Aquele que não conheceis: Ele batiza com o Fogo do Sagrado.”

É importante ter em mente que enquanto as almas dos Justos se tornam veículos da manifestação Divina, todos os escritos inspirados são coloridos pelo caráter ou mentalidade do instrumento ou meio através do qual eles vêm. Eles não devem ser considerados infalíveis em cada palavra. A inspiração do Espírito não implica necessariamente infalibilidade de expressão, porque nenhum homem é totalmente isento de erros. No Evangelho dos Doze Santos lemos que mesmo entre os profetas depois de terem sido ungidos pelo Espírito Santo, foi encontrada “a palavra do erro”: “pronunciação do pecado” e “injustiça.” (16)

O Rev. Ouseley insistiu que: “Para uma mensagem divina, sua própria verdade é a melhor evidência de inspiração genuína”; que é “a inspiração do Divino através do organismo espiritual plantado no homem para esse propósito.” A inspiração tem seu nascimento em Deus. “Aos homens a Verdade se revela de acordo com sua capacidade de compreendê-la e recebê-la.”

O Rev. Ouseley foi o instrumento escolhido para a recepção e edição de O Evangelho dos Doze Santos, e não é surpreendente encontrar nele um ensinamento harmonizado com sua própria mentalidade. A verdade do ensinamento ali contido é a melhor evidência de sua aptidão para ser o instrumento para sua recepção e promulgação. Ele considerou O Evangelho dos Doze Santos como a verdadeira base para o ensinamento do Caminho Perfeito, e quando um opositor disse que era “provável popularizar o ensinamento desse livro”, sua resposta foi; “Isso me mostra que estou no caminho certo.” Assim, encontramos grande ênfase na doutrina da Dualidade Divina. (17) Ele não conseguia entender por que Deus deveria ser adorado apenas como um Deus masculino, todo “Pai” e não “Mãe”, quando Ele é “Nosso Pai-Mãe”. Ele disse: “Os homens devem ver e reconhecer o Divino na mulher, e adorar a Deus como a Mãe Divina, bem como o Pai.”

É lamentável que não haja em nossa língua um pronome para expressar tal dualidade. A doutrina da Trindade implica uma Dualidade na Unidade. Na Unidade reside Vida Original de Força Celestial (“Deus Pai”) e Ser Original de Substância Celestial (“Deus Mãe”); e essa Dualidade Espiritual se manifesta como “Deus Espírito Santo”, por procissão através de seu Verbo, Logos ou Filho, “O Filho Unigênito de Deus”, que, como tal, se torna a Terceira Pessoa da Trindade Celestial.

A Vida e Substância do Eterno são dadas e derramadas através do “Filho”, para a criação, sustento e redenção do Universo. A Criação e Salvação do Mundo é assim alcançada “Pela Descida do Espírito à Matéria, e a Ascensão da Matéria ao Espírito através dos tempos”, e tal é o ensinamento do Evangelho dos Doze Santos, como de todas as grandes religiões: “O Cordeiro de Deus” é “sacrificado desde a fundação do mundo.” (18)

Encontramos também neste Evangelho um mandamento de Jesus de que “nos amemos uns aos outros e a todas as criaturas de Deus, estando Deus em todas as criaturas. As crianças devem ser “criadas nos caminhos da justiça, não comendo carne, nem bebendo bebida forte, nem ferindo as criaturas que Deus entregou nas mãos do homem para proteger.” Que Jesus veio ao mundo para acabar com os sacrifícios sangrentos e o comer carne é explícito: “Para isso vim ao mundo, a fim de eliminar todas as ofertas de sangue e o comer da carne dos animais e das aves que são mortos pelos homens.” “Eu vim para acabar com os sacrifícios e festas de sangue.”

Uma das perguntas feitas a Jesus em seu julgamento diante de Caifás, e destinada a causar sua condenação, foi: “Abolis os sacrifícios da lei e o comer carne?” Muitos exemplos são dados da bondade de Jesus para com os animais e de sua oposição a todas as formas de crueldade e injustiça. Na Parábola do Filho Pródigo, não é dito que nenhum “bezerro gordo” teria sido morto (NT: como a leitura literal afirmaria) para receber o filho em seu retorno para casa. (19) Também a doutrina da Reencarnação é definitivamente ensinada por Jesus como o meio pelo qual o homem é “aperfeiçoado pelo sofrimento.” “Mudanças de vida para o aperfeiçoamento das almas.” Tendo assim se tornado “purificado por meio de muitos nascimentos e experiências”, o homem não morrerá mais, nem nascerá mais, pois a morte não tem mais domínio sobre ele. Nesse ensinamento não há nenhum Cristianismo de “bode expiatório”. Não há perdão ou remissão de pecados por “expiação vicária” (NT: expiação de culpas ou pecados no lugar de outro): “Para pecados contra a lei de Deus não pode haver remissão senão por arrependimento e emenda.”

Muitos exemplos poderiam ser dados para mostrar a harmonia que existia entre o ensinamento encontrado no Evangelho dos Doze Santos e a mentalidade de seu destinatário. O Rev. Ouseley levantou certas objeções às “Escrituras como elas são”, das quais O Evangelho dos Doze Santos está livre. Embora ele nunca tenha se desviado do ensino de Anna Kingsford e Edward Maitland, ele se opôs a algumas das parábolas encontradas nos Evangelhos Canônicos sendo usadas ou empregadas por eles como ilustração. Ele ressaltou que “algumas dessas parábolas, se tomadas literalmente, ensinam errado.”

Enquanto ele considerava o ensinamento de Anna Kingsford e Edward Maitland como “a verdade em substância”, ele desejava que fosse baseado “em fundamentos mais sólidos do que as Escrituras como elas são.” (20)

Ele colocou o caso assim: “Eu coloco como um cânone absoluto, ou regra, que nenhuma narrativa ou parábola ou outro escrito que, tomado literalmente, inculque falsidade, ou crueldade, ou injustiça, ou opressão, pode ter sido dado pelo Espírito de Deus ou o Bem, ou pode ser usado com segurança para servir de base para a Verdade Espiritual superior, por qualquer modo de interpretação, sendo falso em si mesmo (seja no plano físico ou moral) e fora de harmonia com os ensinamentos indubitáveis do Espírito da Verdade.”

Como exemplo, ele se referiu à “lenda de Caim e Abel”, que, tomada literalmente, “inculca a imoralidade de sacrificar vidas inocentes para propiciar uma Divindade irada.” Outro exemplo encontra-se na Parábola do Filho Pródigo e a matança do “bezerro cevado”, acima referida. (NT: vide a nota 19)

Não se deve supor que o Rev. Ouseley desconsiderou “as Escrituras como elas são”, pois, em um de seus folhetos, “Uma Nação Regenerada”, tendo expressado sua opinião como acima, ele disse: “As Escrituras contêm a Palavra de Deus, mas muitas vezes interpolada e transformada pelo erro do homem, seja por acidente ou desígnio. Devemos jogar fora o ouro ou desprezá-lo por causa da escória misturada com ele? Fazendo isso, devemos ser tolos, não sábios.”

No que diz respeito a Anna Kingsford e Edward Maitland, sua missão não era revisar parábolas, mas interpretá-las. O objetivo de sua colaboração provou ser “a restauração da Filosofia esotérica do Ocidente, e assim a interpretação da religião cristã e de outras assemelhadas.” Foi-lhes dito: “Chegou a hora de abrir as Bíblias do mundo, e sua própria missão designada era a de abrir as Bíblias do Ocidente”, Bíblias que, em seu sentido esotérico, tratam não de Coisas Materiais, mas de Realidades Espirituais, as quais sendo realidades Místicas, exigem uma consideração Mística.

O deles deveria ser “um Evangelho de interpretação.” Nada de novo seria contado. O que era antigo, seria interpretado. Cristo Jesus deveria ser “elevado.” A perfeição ou não da forma em que a Verdade Divina foi expressa, não era sua preocupação; e ninguém em nosso tempo foi melhor qualificado do que eles para interpretar “as Escrituras como elas são.” Que o Evangelho dos Doze Santos será uma ajuda para uma correta compreensão das Escrituras é minha convicção, sempre tendo em mente o conhecido ditado: “Quem quiser comer a polpa da noz deve quebrar a casca.”

Para o escritor deste Evangelho, como será notado, a previsão de Jesus foi cumprida. Ele disse aos seus discípulos: “Eles os expulsarão das sinagogas porque não conheceram o Pai na verdade, nem a mim.” E se for perguntado quem são seus discípulos, a resposta é dada assim: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros, e mostrardes misericórdia e amor a todas as criaturas de Deus.”

Tenhamos em mente as seguintes palavras registradas nas “Novas Palavras de Jesus” (nos Papiros de Oxirrinco): “Disse Jesus: Que aquele que busca não cesse de buscar até encontrar, e quando encontrar ficará perplexo, e perplexo ele alcançará o Reino, e tendo alcançado o Reino ele descansará.”

SAMUEL HOPGOOD HART.
The Round House,
Ilfracombe, Devon, Inglaterra
22 de fevereiro de 1952.

NOTAS

(1) Em uma carta à Light (1882, p. 475) ele descreveu O Caminho Perfeito como “o mais maravilhoso de todos os livros que surgiram desde a era cristã.”

(2) Para o Rev. Ouseley, a Igreja Cristã compreendia “os eleitos da humanidade na Unidade do Corpo de Cristo”, “Uma Santa Igreja Católica e Apostólica: a Testemunha de toda a Verdade, e o Receptor e Doador da mesma: Gerado do Espírito e Fogo de Deus: Alimentado pelas águas, sementes e frutos da terra: Que reúne os eleitos em uma comunhão mística, e unifica a humanidade com Deus.” Assim, embora as ovelhas de Deus não sejam todas de um rebanho, há apenas um rebanho e um pastor, e o Espírito de Cristo dentro de nós abrirá a porta para todos. “Os eleitos” são “uma família em Deus.” Há um Deus em tudo. Foi com tal conhecimento que Jesus falou de “Meu Pai e seu Pai”, “Meu Deus e seu Deus.” O mistério de Cristo Jesus deve se repetir no homem. Sob o título “Drama dos Últimos Dias”, o Rev. Ouseley escreveu “Uma Sugestão” que foi publicada no The Theosophist de março de 1884, o editor daquele jornal considerou-o “bom demais para ser perdido.” Nela ele se referiu a diferentes Igrejas, Denominações, Seitas e Associações, algumas das quais são repreendidas pelo Messias, “que personifica o Espírito da Verdade”, por seus erros, enquanto outras são denunciadas por suas grosseiras trevas e ensinos malignos. Por outro lado, Filósofos e todos os que buscam a Verdade são instruídos que “toda a verdade está somente em Deus, e Deus é a Verdade”: e que “Por meio das coisas que são visíveis e criadas, eles podem conhecer as coisas invisíveis de Deus, o incriado e eterno” e estes são admoestados a “Abster-se de comer carne, de embriaguez, de derramamento de sangue e de toda crueldade para com qualquer criatura viva, isso faça, e sereis ensinados por Deus.” Das Igrejas repreendidas por seus erros, apenas algumas da Igreja de Roma se arrependem, e por seu Papa, que é abandonado pelo resto, confessam ao Messias: “Nós nos assentamos sobre os fundamentos antigos, mas não revelamos as verdades antigas; temos as chaves do céu, mas nós mesmos não abrimos a porta nem permitimos que outros desejassem entrar. A nós foi dada a Luz, mas nós a escondemos em um lugar escuro, e aqueles que clamavam por mais luz nós perseguimos e contamos como hereges, e causamos a morte de muitos em nossa cegueira. E mesmo agora, ó, Mestre, nós quase Te rejeitamos novamente, mas pela misericórdia do Eterno ouvimos as doutrinas santas e verdadeiras que uma vez Tu deste em parábolas, mesmo as doutrinas dos tempos antigos dadas novamente, o vinho novo de Teu Reino; e finalmente nossos olhos sendo abertos e nossos ouvidos destampados, nós voltamos para Ti.”

(3) Em “O Credo dos Eleitos” declaramos nossa crença em “Um Deus Pai e Mãe Todo-Poderoso; de cuja substância são as gerações do Céu e da Terra”: e no Evangelho dos Doze Santos somos muitas vezes lembrados do aspecto Feminino e Masculino da Divindade, ambos manifestados no caráter de todo homem perfeito. Nas Escrituras é declarado que “o homem não existe sem a mulher”, e que “a mulher não existe sem o homem” no Senhor – isto é, quando “Cristo Jesus Filho de Deus, nosso Senhor, que foi concebido do Espírito Santo, e nascido de Maria”, manifesta-se em nós. Ele, que é espiritual, é transformado na imagem divina. Anna Kingsford (sob iluminação) disse: “Vocês são dois, o homem com a mulher, e ela com ele, nem homem nem mulher, mas uma criatura.” O intelecto (homem) e a intuição (mulher) estão unidos em Deus. A intuição é puramente espiritual e não tem nada a ver com a experiência adquirida através dos sentidos corporais. “Toda mônada da Substância Divina tem a potência de dois, como Deus é dois em um.”

(4) Em 1923, uma edição, com introdução e notas pelo falecido Rev. E. F. Undy, um sacerdote da Igreja Católica Liberal, foi publicado. Nenhuma outra edição foi publicada desde então. O Sr. Undy foi o autor de “O Cristianismo Original no Evangelho dos Doze Santos.”

(5) Em seu Prefácio à Palingenesia, o Rev. Ouseley se referiu a si mesmo como “A vidente”, e o livro foi escrito “Por Teósofo, um ministro dos Santos, e Ellora, uma Vidente do Santuário”, manifestamente pseudônimos adotados pelo Rev. Ouseley (considerando-se uma dualidade) para anonimato.

(6) Em um livro recentemente publicado, The Drama of the Soul, de S. B. Best, a chave espiritual da “interpretação mística dos Evangelhos” foi usada com bons resultados para explicar “As Iniciações Interiores do Mestre Jesus.” Muita luz sobre a interpretação das Escrituras também será encontrada em The Logia or Sayings of the Master, do falecido Rev. Todd Ferrier, o fundador da The Order of the Cross, e em outros de seus escritos. Ele renunciou ao cargo de pastor de uma capela congregacional em Macclesfield para ganhar liberdade para ensinar o Cristianismo do Caminho Perfeito.

(7) Vida de Anna Kingsford (Terceira Edição), Vol. II, pág. 328.

(8) Rev. Undy (ver nota 4, ante) sem questionar o modo de recepção pelo Rev. Ouseley do Evangelho, questiona se as quatro pessoas nomeadas como comunicadores do mesmo para ele foram os tradutores do mesmo para o inglês, por causa de sua ignorância da língua aramaica. Tal raciocínio pode, penso eu, ser falacioso. No caso de Anna Kingsford e Edward Maitland, embora nenhum deles conhecesse o aramaico, ambos alegaram ter vivido na época e conheceram Jesus, caso em que ambos naquela vida deviam conhecer o aramaico. No que diz respeito aos outros dois comunicadores, não vejo razão para duvidar da exatidão da declaração do Rev. Ouseley.

(9) No jornal Star, as contribuições (por I.O.M.A.) são descritas como “Reminiscências do Mestre, por um Discípulo”, “Sendo fragmentos selecionados do Evangelho da Vida Perfeita por um dos Doze.”

(10) Durante a vida do Rev. Ouseley, considerei isso como uma comunicação confidencial cuja sinceridade não poderia ser posta em dúvida, assim como sua possibilidade não poderia ser questionada por qualquer um que acredite em reencarnação. Ele me disse que se lembrava bem de Jerusalém, embora nunca tenha estado lá nesta encarnação. Mais adiante, faz referência a algumas de suas encarnações anteriores e à sua tendência nesta encarnação “a certas práticas judaicas.”

(11) A referência inclui minha esposa.

(12) De um dos “Logia” ou “Ditos de Jesus” (Papiros de Oxirrinco): também registrado em O Evangelho dos Doze Santos. Foi a essa mística “Madeira”, “Madeira Sombria”, que Dante se referiu nos versos iniciais de seu Inferno. (Veja a tradução de Cary).

(13) Os profetas nem sempre estavam certos. A “loucura” dos discípulos foi que eles creram “em tudo o que os profetas haviam falado.” Se eles tivessem ouvido os ditames de seus corações ao invés do raciocínio de suas mentes, seus olhos Espirituais não teriam sido “impedidos”. Em outro dos “Ditos de Jesus” (no Oxyrhynchus Papyri), Jesus disse: “Minha alma se entristece pelos filhos dos homens, porque eles são cegos em seus corações e não veem”, e no Evangelho Canônico é afirmado que Jesus advertiu seus seguidores a ter “cuidado com os falsos profetas que vêm como ovelhas, mas por dentro são lobos desvairados.” Eles seriam conhecidos “pelos seus frutos.”

(14) Em 1937 foi publicado um Evangelho intitulado O Evangelho da Paz de Jesus Cristo pelo Discípulo João, editado por Edmond Szekely, e “traduzido diretamente da língua aramaica, falada por Jesus e seu amado discípulo João”, a tradução foi feita por Edmond Szekely e Purcell Weaver. Em seu Prefácio, o Editor diz: “O conteúdo deste livro é apenas um fragmento dos manuscritos completos que existem em aramaico na biblioteca do Vaticano, e em eslavo antigo na Biblioteca Real dos Habsburgos”, e esses textos em aramaico e eslavo antigo foram comparados pelo Editor. Este “fragmento trata em sua maior parte das obras de cura de Jesus”, muitas das quais foram afetadas por métodos agora conhecidos como curas naturais. Ali está registrado que Jesus disse: “Quem mata, mata a si mesmo; e quem come a carne de animais mortos, come do corpo da morte. Pois em seu sangue cada gota de seu sangue se transforma em veneno, e sua morte se tornará sua morte.” A ordem contra a matança é insistida o tempo todo, e o consumo de todos os alimentos mortos é condenado.

(15) Ver nota 2.

(16) Ver nota 13.

(17) Ver nota 3.

(18) O significado disso é que Deus “de cuja substância são as gerações do Céu e da Terra”, por Seu ato de autoimolação na Criação, torna-se “crucificado, morto e sepultado.” O selo do sepulcro é quebrado no Homem Regenerado. Em O Caminho Perfeito lemos: “A Divindade desce às condições e distribui-se por Si mesma para ser a Vida e Substância do universo, tanto para sua criação, sua sustentação e sua redenção”, O sangue do Cordeiro de Deus é Amor, e Amor é “o sangue de Deus” que redime, sendo a redenção do Espírito da Matéria que é a sepultura do Espírito. O processo de redenção é completado no homem no caráter de Cristo Jesus, em que o homem se torna regenerado e um “Filho de Deus”, bem como “Filho do Homem.” A masculinidade é levada para a Divindade. É descrito na história evangélica da vida de Jesus que, como ali relatada, é a vida típica do Homem Regenerado, a Regeneração, que é o novo nascimento nos planos superiores de consciência, deve ser precedida pela purificação interior da Alma. A alma deve tornar-se “Virgem” antes que o nascimento de Cristo Jesus possa ocorrer, “Cristo Jesus, o Filho de Deus, nosso Senhor, foi concebido do Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria” ou alma purificada através do envolvimento Vida divina ou elemento de amor que se ergue de dentro, e o Homem, assim regenerado, “ressuscita dos mortos” e “ascende aos céus e está sentado à direita de Deus.” Jesus disse: “Em verdade, em verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.”

(19) As Escrituras, que foram escritas no vernáculo, nem sempre devem ser entendidas literalmente e isso à parte de qualquer interpretação mítica que possa ter estado na mente do escritor; e a referência nesta parábola ao “bezerro gordo”, é um exemplo. A expressão deve ser entendida em sentido figurado ou metafórico, e não literalmente. Dr. Harnish, em seu livro Jehoshua Nazir diz: os essênios que eram todos não carnívoros, pois “todos os alimentos cárneos e gorduras animais eram considerados por eles uma abominação aos olhos de Deus” (p. 187), tinham “um fundo” que, em caso de necessidade, poderia ser utilizado; caso contrário, qualquer suprimento de comida necessário poderia ser obtido na despensa da comunidade, que era conhecida como “o bezerro gordo”, sobre o qual as demandas eram feitas, e esvaziar o que era descrito figurativamente como “matar o bezerro gordo” (p. 185). A expressão, portanto, significava nem mais nem menos do que esvaziar a despensa.

(20) O ensinamento de Anna Kingsford e Edward Maitland não foi baseado em nenhuma Escritura. Eles negavam autoridade seja de livro, pessoa ou instituição, por mais sagrada, exaltada ou venerável, como base ou fundamento para seu ensino. Seu apelo foi para o entendimento espiritual dentro do homem: “O Espírito dentro de você é Divino, é Deus.”