Sobre
Interpretações dos Símbolos |
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Anna Kingsford e Edward Maitland
Adão
e Eva
“Eva –
a Consciência moral da Humanidade – sujeita a Adão – a Força Intelectual – “de
onde advém em abundância todo tipo de mal e confusão, uma vez que seu desejo é
direcionado a ele, e ele rege sobre ela até agora. Mas o final predito pelo
Vidente não está distante.”” (Veja a Iluminação “A Respeito da Interpretação
das Escrituras Místicas”, Vestida com
o Sol, Pt. l, N°. V.) – S.H.H.
“Adão”, “Eva”, “Cristo”, “Maria” e o Restante – Simbolizam os
Vários Elementos Espirituais que Constituem o Indivíduo e Seus Estados.
O tópico de sua segunda palestra (…) foi a segunda cláusula do
Credo: “E em Cristo Jesus, Seu único Filho, nosso Senhor; que é concebido pelo
Espírito Santo, nascido da Virgem Maria”.
Com relação a essa cláusula, ela disse que ao insistir na
significação esotérica como sendo a única verdadeira e de valor, estamos
simplesmente revertendo ao costume antigo e original.
É a aceitação do Credo em seu sentido exotérico [ou externo] e
histórico que é realmente moderna. Pois todos os Mistérios Sagrados eram
originalmente vistos como espirituais, e apenas quando eles passaram das mãos de
iniciados devidamente instruídos para aquelas do ignorante e do vulgar é que
eles se tornaram materializados e degradados ao nível em que atualmente se
encontram.
A verdade esotérica desse artigo do Credo pode ser entendida
somente por meio de um conhecimento anterior, primeiro, da constituição do homem
e, em seguida, do significado dos termos empregados na formulação da doutrina
religiosa.
Essa doutrina denota um conhecimento perfeito da natureza humana,
e os termos pelos quais ela é expressa – “Adão”, “Eva”, “Cristo”, “Maria” e o
restante – simbolizam os vários elementos espirituais que constituem o
indivíduo, os estados pelos quais ele passa, e a meta que ele finalmente alcança
no percurso de sua evolução espiritual.
Pois, como São Paulo diz: “essas coisas são uma alegoria” (Gálatas 4:24); e para compreendê-las é
necessário conhecer os fatos aos quais elas se referem. Conhecendo esses fatos,
não temos nenhuma dificuldade de reconhecer a origem de tal representação e de
aplicá-la a nós mesmos.
Assim, “Adão” é o homem meramente externo e mundano, ainda que
desenvolvendo no devido tempo a consciência de “Eva” ou a Alma – pois a alma é
sempre a “Mulher” – tornando-se um ser dual constituído de matéria e espírito.
Como “Eva”, a Alma cai sob o domínio desse “Adão”, e tornando-se
impura através da sujeição à matéria, dá nascimento a Caim, que, representando a
natureza inferior, é descrito como cultivando os frutos do chão.
Mas, como “Maria”, a Alma readquire sua pureza e é descrita como
sendo virgem, no que diz respeito à matéria e, se polarizando para Deus,
torna-se mãe de Cristo ou o Homem Regenerado, o qual tão somente é o Filho Único
de Deus e Salvador do homem no qual ele é gerado. Razão pela qual Cristo é tanto
o processo como o resultado do processo. Assim sendo, ele não é “o Senhor”, mas
“nosso Senhor”. O Senhor é Adonai, a Palavra, subsistindo eternamente no céu; e
Cristo é sua contraparte no homem”.
[Edward
Maitland, The Life of Anna Kingsford (A
Vida de Anna Kingsford), vol. II, pp. 197-198.]
Alma Pura e Espírito Divino, Água
(Virgem Maria) e Espírito Santo
“Assim a alma é ao mesmo tempo Filha, Esposa e Mãe de Deus. Ela é
quem esmaga a cabeça da Serpente. E da alma triunfante surge o Homem Regenerado,
o qual, como o produto de uma alma pura e do espírito divino, é referido como
sendo nascido da água (Maria) e do Espírito Santo.
As afirmações de Jesus para Nicodemos são explícitas e
conclusivas quanto à natureza puramente espiritual tanto da entidade designada
como "Filho do Homem", quanto do processo da sua geração. Esteja encarnado ou
não, o "Filho do Homem" está necessariamente sempre “no Céu” – seu próprio
“reino interior”. Do mesmo modo os termos que descrevem sua paternidade são
destituídos de qualquer referência física. “Virgem Maria” e “Espírito Santo” são
sinônimos, respectivamente, de “Água” e do “Espírito”; e esses, novamente,
denotam os dois constituintes de todo ser regenerado, que são sua alma
purificada e o espírito divino. De modo que o dito de Jesus – “Vós deveis nascer
novamente da Água e do Espírito”, foi uma declaração, primeiro, de que é
necessário para cada um nascer da maneira na qual se diz que ele mesmo nasceu;
e, segundo, que a narrativa do Evangelho acerca do seu nascimento se trata,
realmente, de uma apresentação, dramática e simbólica, da natureza da
regeneração”.
[Anna Kingsford e Edward Maitland, The Perfect Way; or, the Finding of Christ
(O Caminho Perfeito; ou, a Descoberta de
Cristo), p. 143]
Atrativo tanto ao Lado
Intelectual, quanto ao Lado Devocional
“Em uma época como a de nossos dias, que se
caracteriza por pesquisas que tudo abrangem, análises
exaustivas e críticas abundantes, nenhum sistema religioso
pode perdurar, a menos que seja atrativo tanto ao lado
intelectual, quanto ao lado devocional da natureza humana.
Atualmente a fé da cristandade está perecendo por conta de
um defeito radical no seu método de apresentação, através do
qual ela é levada a um perpétuo conflito com a ciência; e
uma tarefa esgotante e indigna é imposta aos seus
seguidores, de um incessante esforço a fim de acompanhar os
avanços das descobertas científicas, ou as oscilações da
especulação científica. O método por meio do qual aqui se
tenta eliminar a incerteza e insegurança, assim engendradas,
consiste no estabelecimento destas duas posições:
(1) Que os dogmas e símbolos da Cristandade são
substancialmente idênticos àqueles dos demais sistemas
religiosos pretéritos; e
(2) Que o verdadeiro plano das crenças religiosas
reside, não onde a Igreja o colocou até agora – no sepulcro
da tradição histórica, entre os ossos ressecados do passado
– mas sim no vivo e imutável Céu, em direção ao qual aqueles
que desejam verdadeiramente encontrar o Senhor devem, em
coração e mente, ascender. “Por que procurais o vivo entre
os mortos? Ele não está aqui, ele ascendeu”. Isto é, o
verdadeiro plano da crença religiosa não é, por assim dizer,
o objetivo e físico, mas o subjetivo e espiritual.”
(pp. 6-7) [Anna Kingsford e Edward Maitland. The
Perfect Way; or, the Finding of Christ (O Caminho
Perfeito; ou, a Descoberta de Cristo).
Segunda
edição, primeira nos EUA, revisada e ampliada: Esoteric
Publishing Company, Boston, 1988. 358 pp.]
Bíblia Apresenta Queda e Redenção das
Almas Sob a Forma de Símbolos e Parábolas
“Se apenas uma vez pudermos ler a Bíblia com a visão não
obscurecida pelo véu de sangue, e não distorcida pelo preconceito, então todo o
seu mistério – o mistério de nossa queda e de nossa redenção – torna-se claro
como o céu sem nuvens. Pois, então, podemos identificar como algo que ocorre em
nossas próprias almas todo o processo, desde o começo até o fim, que a Bíblia,
do Gênesis até o Apocalipse, apresenta sob a forma de símbolos e parábolas,
precisamente como fez Nosso Senhor ele mesmo”. [Anna Kingsford e Edward
Maitland, Addresses and Essays on Vegetarianism (Palestras e Ensaios sobre o Vegetarianismo), capítulo O Vegetarianismo e a Bíblia, p. 221].
Bíblia, Coleção de
Parábolas Sobre a História da Alma: Pessoas, Povos, Animais etc, são
Símbolos
–
Materializar os Símbolos é Cometer Idolatria
“A Bíblia, em síntese, pode ser definida como uma coleção de
parábolas narrando a história da Alma, desde sua primeira descida na matéria,
até o seu retorno final para sua condição original de puro espírito. E como a
Alma passa pelo mesmo processo quer se trate de uma só ou de muitas – seja uma
pessoa, uma igreja, uma raça, ou mesmo o universo como um todo – a narrativa que
descreve, ou a parábola que representa a história de um, igualmente o faz para
todos. E os mesmos termos, que são três em número, abrangem todo o processo.
Esses termos são Geração, Degeneração e Regeneração, e esses,
portanto, sendo aplicados à Alma, são o tema da Bíblia, conforme agora
mostraremos, e não a história física, ou qualquer pessoa ou povo seja lá qual
for, muito embora sejam descritos em termos derivados de pessoas ou de um povo.
E tomar tais pessoas, povos ou um outro símbolo por qualquer outra coisa que não
sejam os seus apropriados papéis de símbolos, e ignorando o seu verdadeiro
significado, e dar-lhes a honra devida apenas àquilo que de fato eles significam
trata-se, em linguagem bíblica, de cometer idolatria.
Pois, ao assim proceder, nós materializamos mistérios
espirituais, e conferimos à Forma a consideração devida apenas à Substância.
Onde quer que compreendamos como coisas Sensoriais coisas que tão somente
pertencem ao Espírito, encobrindo assim as verdadeiras feições da Divindade com
representações falsas e espúrias, nós cometemos o que a Bíblia considera como o
mais repugnante dos pecados, e nos tornamos idólatras e, ao mesmo tempo, nos
identificamos com aquela escola materialista que está rapidamente se espalhando
pelo mundo com o objetivo declarado de erradicar a própria idéia de Deus e de
Alma.
Isso porque “Idolatria é Materialismo, o pecado comum e original
dos homens, o qual substitui o Espírito pela Aparência, a Substância pela
Ilusão, e conduz tanto o Ser moral quanto o Ser intelectual ao erro, de modo que
eles substituem o superior pelo inferior, e o elevado pelo superficial. É esse
falso fruto que atrai os sentidos externos, a tentação da serpente no começo do
mundo”; e isso tanto para a raça quanto para cada indivíduo onde e quando quer
que tenha vivido, pois todos estão sujeitos à sua atração.
Devemos então saber, para a reta compreensão das escrituras
místicas, que em seu sentido esotérico, ou interior e real, elas não tratam de
coisas materiais, mas de realidades espirituais; e que nem Adão é um homem real,
porém antes denota a personalidade inferior ou força intelectual em todo ser
humano; nem Eva uma mulher real, mas denota o elemento feminino em todo o ser
humano, a saber, a Alma ou consciência moral; e ela é, portanto, chamada de a
“Mãe dos que Vivem”, ou seja, dos que estão espiritualmente vivos – aqueles nos
quais a Alma alcançou autoconsciência.
Tampouco o Éden é um lugar real, mas uma condição de inocência
anterior a uma queda de uma altura alcançada. Nem é a Árvore da Vida no meio do
Éden uma árvore real, porém Deus estabelecido no meio do Universo como sua vida.
Do mesmo modo que não é o homem feito de imediato à imagem e semelhança de Deus,
mas somente após longas eras de desenvolvimento, começando nas formas inferiores
da vida vegetal, e seguindo sua elevação através de muitas formas, até que ele
alcança a forma humana; e mesmo então ele não é feito à imagem de Deus, não é
verdadeiramente homem no sentido bíblico e místico. Pois nesse sentido faz-se
necessário algo mais do que o homem físico, mais do que o homem intelectual,
mais até mesmo do que o homem moral, para tornar-se um homem.
Para ser feito à imagem e semelhança de Deus ele deve atingir sua
maioridade espiritual, através do desenvolvimento da consciência de sua natureza
espiritual. Ele deve ser alma tanto quanto corpo; Eva tanto quanto Adão; assim
como no mundo físico, também no plano espiritual ele requer a mulher para lhe
fazer um homem, e a mulher mística é a Alma. Antes do seu advento (da Alma), ele
é o homem apenas materialístico e rudimentar, é homem apenas na forma, e é um
animal em todos os outros aspectos.
Mas ela vem finalmente, manifestada como tão somente a Alma pode
fazer, quando seu ser inferior está envolto em profundo sono, e ele acorda para
descobrir-se plenamente homem, à imagem de Deus, macho e fêmea, no sentido que
ele representa os dois aspectos, masculino e feminino da Deidade, o poder divino
e o amor divino, e também os Sete Espíritos através dos quais Deus cria todas as
coisas. Assim constituído ele é de fato Homem, pois ele é uma manifestação de
Deus, por cujo espírito, operando dentro dele, ele tem sido criado. E criado
desse modo tem sido e será todo o homem que jamais viveu ou viverá”. [Anna
Kingsford e Edward Maitland, Addresses and Essays on
Vegetarianism (Palestras e Ensaios
sobre o Vegetarianismo), capítulo O Vegetarianismo e a Bíblia, pp. 216-218].
A Bíblia Insiste no Sentido Esotérico:
Vamos, inicialmente, defender – a
partir da própria Escritura – a afirmação da existência de um sentido esotérico,
o qual a Escritura insiste como sendo seu sentido verdadeiro e divinamente
designado.
A própria necessidade de tal defesa
é por si só uma prova concreta, não apenas da maneira inadequada, mas também
injusta com que a Escritura tem sido tratada por seus expositores oficiais.
Que essa defesa seja algo necessário
fica demonstrado, indiscutivelmente, pela acusação de blasfêmia que os
expositores oficiais costumam levantar contra os que advogam um sentido
esotérico. Essa acusação é feita com o argumento de que tal sentido visa
“desviar a Escritura de seu sentido óbvio”. Ou seja, defendem o sentido “óbvio”,
a visão superficial, e não o sentido espiritual, até rotulando seus escritores
de insanos por atribuírem um sentido diferente do óbvio! Como se as coisas
espirituais pudessem ser “óbvias” para a visão superficial!
Nesse ponto os literalistas
demonstram que são incapazes de compreender que tentar transformar o sentido
“óbvio” da Bíblia em seu sentido real significa destruí-la enquanto uma Bíblia,
ou um livro da alma; uma vez que como livro da alma ela deve apelar à alma e não
aos sentidos; e deve se referir não a pessoas, coisas e eventos pertencentes ao
plano físico, mas a princípios, processos e estados puramente espirituais –
ainda que expressos em termos derivados do plano físico – usando pessoas, coisas
e eventos tão somente como forma de ilustração.
Os literalistas falham, além disso,
em ver que – diante do fato de que todas as Escrituras antigas foram escritas de
forma similar, ou seja, por meio de símbolos, parábolas e alegorias – insistir
que a Bíblia tenha sido concebida literalmente é torná-la absolutamente
diferente de todos os outros livros de sua ordem. As seguintes são algumas das
passagens em que nos baseamos: –
1. “Tu verás o meu dorso” (os
revestimentos
usados como coberturas externas do santuário, e o
material
dos livros), “mas Minha face tu não verás” [Êxodo 33:23]. (Nessa passagem
Moisés é informado que apenas o sentido externo, e não o verdadeiro sentido da
Palavra Divina, seria reconhecido em sua época, pela razão dada a seguir: “a
dureza do coração dos homens”.)
2. “Moisés não lhes deu o pão do
céu,” – (o alimento da compreensão). [João 6:32].
3.
“Mesmo até nossos dias, quando
Moisés é lido, o véu está sobre seus corações. No entanto (...) ele será
removido” [2 Coríntios 3:15-16].
4. “Ele tira o primeiro, para que ele possa
estabelecer o segundo” [Hebreus 10:9].
5. “E eles (os Levitas e Anciões)
leram no livro, na lei de Deus, com uma interpretação, e fizeram com que eles (o
povo) compreendessem a leitura” [Neemias 8:8].
6. “E o coração bom, ou compreensivo
(Caleb) disse, aquele que derrotar a cidade (ou sistema) da letra
(Quiriate-Sefer) e a conquistar, a ele concederei o Rasgar do Véu
(Acsa), minha filha, por esposa.”
“E o homem forte de Deus (Otniel)
tomou-a, e ele concedeu-lhe o Rasgar do Véu, sua filha, por esposa. (E ela
lhe trouxe como dote “as fontes superiores e inferiores”, uma expressão de uso
freqüente nas Escrituras para significar a satisfação de necessidades
espirituais.)
7. “E aquilo que antes era chamado
de a cidade, ou o sistema da letra, foi depois disso chamado de a Palavra (Debir)”
[Josué 15:15-19].
8. “Falamos teosofia (theou Sophia)
em um mistério, até mesmo a sabedoria oculta (de Deus).
9. “Sabedoria dentre aqueles que são
perfeitos (literalmente, maduros, implicando iniciados). (...), aos outros
falamos como crianças pequenas” [1 Coríntios 2:6 e 1 Coríntios
3:1]
10. “Tais coisas (no livro de
Moisés) são uma alegoria; pois há duas alianças: uma é a do Monte Sinai, que
gerou enquanto cativa, que é Agar” (a estrangeira que deve ser descartada como
alheia à alma e ao verdadeiro sentido) [Gálatas 4:24].
11. “Mas Jerusalém, que pertence ao
alto (a doutrina perfeita, contida nos sentidos internos) é livre, a qual é a
mãe de nós todos.
“Mas o que diz a Escritura? Expulse
a mulher cativa (o sentido literal) e seu filho” (a falsidade gerada a partir
desse sentido) [Gálatas 4:24-30].
12. “Não percebeis ainda, tampouco
compreendeis? Tendes vossos corações endurecidos?
13. “Tendo olhos, não vedes? Tendo
ouvidos, não escutais, e não vos lembrais?
14. “Como é que não compreendeis?”
15. “Prestem atenção; acautelem-se
do fermento dos fariseus” (literalismo e formalismo), “e do fermento de Herodes”
[Mateus 16:6] (o Sacerdotalismo, que é sempre o assassino da intuição
pura, e, por conseguinte, o assassino da inocência no homem. Tanto a
palavra quanto o fato indicam Herodes como idêntico à Serpente do Éden).
16. “Ó tolos e lerdos de coração
para crerem em tudo o que os profetas falaram. (...) E começando por Moisés e
todos os demais profetas, ele interpretou para eles em todas as Escrituras as
coisas que diziam respeito a ele próprio” [Lucas 24:27]. (Pouco ou nada
disso aparece numa leitura superficial dos livros mencionados.)
17. “Ai de vocês advogados
(Sacerdotes)”! “Pois vocês jogaram fora a chave do conhecimento (Gnosis);
vós mesmos não adentraram, e aqueles que teriam adentrado vocês os tem impedido”
[Lucas 11:52]. (Dirigido ao Sacerdotalismo de todos os tempos.)
18. “Mas isso eu (Paulo) confesso a
vós, que segundo a maneira com que eles” – os sacerdotes, meus acusadores –
“chamam de heresia, assim louvo eu o Deus de meus pais, acreditando em coisas
que estão escritas na lei e nos profetas” [Atos, 24:14].
19. Pois, como Jonas foi um sinal
para o povo de Nínive, assim também será o Filho do homem para esta geração” [Lucas
11:30] (Pois o engolir Jonas pela baleia representou a supressão da verdadeira
doutrina pelo Sacerdotalismo de seu tempo, e sua expulsão [de dentro dela],
representou a restauração dessa doutrina, por meio da qual a Igreja foi liberta
para cumprir sua missão, e assim seria Cristo uma demonstração individual dessa
doutrina para o mundo, a despeito de sua supressão pelo Sacerdotalismo de Seu
tempo.)
20. “Se viverdes segundo a carne,
morrereis.” [Romanos 8:13]
21. “Daqui em diante, não conhecemos
nenhum homem segundo a carne; sim, ainda que tenhamos conhecido a Cristo segundo
a carne, no entanto, agora e daqui em diante já não O conhecemos mais.” [2
Coríntios 5:14]. (A carne denota aqui o sentido literal e pessoal, em
distinção à verdade espiritual representada por Cristo, a saber, a doutrina da
salvação pela regeneração como o caminho único para todos.)
22. “Se Davi então o chamou de
Senhor, como é ele seu Filho?” [Mateus 22:45]. (Um exemplo da confusão
causada por se entender como sendo pessoas onde princípios era o significado
pretendido).
23. “Dê a César as coisas que são de
César, e a Deus as coisas que são de Deus” [Mateus 22:21]. (Essa é uma
injunção que se dá em razão de se atribuir o devido valor relativo aos dois
sentidos das Escrituras, em distinção à preferência exclusiva pelo sentido
superficial.)
24. “Compreendeis o que ledes?”
“Como poderia eu compreender a menos que alguém me orientasse?” [Atos
8:30-31].
25. “Sois um Mestre de Israel e não
conheceis essas coisas?” [João 3:10]. (Essa é uma reprimenda dirigida ao
Sacerdotalismo de todas as épocas devido a sua cegueira quanto à doutrina
espiritual da regeneração, e sua preferência pela doutrina sacerdotal do
sacrifício vicário, enquanto que o próprio Jesus foi o categórico e típico
exemplo da doutrina espiritual da regeneração.)
26. “Abre meus olhos de modo que eu
possa perceber as coisas maravilhosas contidas na tua lei!” [Salmos
119:19]
27. “Mistério; Babilônia a grande; a
mãe das prostitutas e das abominações da terra.” [Apocalipse 17:5]. (Essa
é uma denúncia feita por Jesus, falando por seu “Anjo” através de “João o
Divino”, contra o Sacerdotalismo como sendo a “Mulher Escarlate”, por negar ao
homem a faculdade do entendimento, ao insistir na autoridade como o critério de
verdade, e fazendo com que o Mistério consista em algo que transcende e
contradiz a razão, ao invés de simplesmente requerer que a razão seja aplicada a
um plano mais elevado, uma vez que é espiritual; falsificando, portanto, a
doutrina totalmente razoável, representada por Jesus.)
Buda e Pitágoras, Moisés
e Elias, Mente e Corpo, Jesus–Coração,
Obras, Compreensão e Amor, Corpo, Mente e Coração
“Do mesmo modo que não fazia parte do
projeto dos Evangelhos representar o percurso inteiro do Homem
Regenerado, também não fazia parte desse projeto fornecer, no que diz
respeito à vida e doutrina religiosa, um sistema integral e completo,
independentemente dos que o antecederam.
Por ter uma relação especial com o Coração
e o Espírito do Homem, e dessa forma com o núcleo da célula e com o
Santo dos Santos do Tabernáculo, o Cristianismo, em sua concepção
original, delegou a regeneração da Mente e do Corpo (...), ou o dualismo
exterior do Microcosmo, a sistemas já existentes e amplamente conhecidos
e praticados.
Esses sistemas eram dois em número, ou
melhor, eram como dois modos ou expressões do sistema uno, cujo
estabelecimento constituiu a “Mensagem” que antecedeu o Cristianismo
pelo período cíclico de seiscentos anos. Esse sistema era a Mensagem na
qual os “Anjos” estiveram representados em Gautama Buda e Pitágoras.
No caso desses dois profetas e redentores,
praticamente contemporâneos, o sistema era, tanto na sua doutrina quanto
na sua prática, essencialmente um e o mesmo. E suas relações com o
sistema de Jesus, como seus necessários pioneiros e antecessores,
encontram reconhecimento nos Evangelhos na alegoria da Transfiguração.
Os personagens que aparecem nesse evento –
Moisés e Elias – são correspondentes hebraicos de Buda e de Pitágoras. E
eles são descritos como tendo sido vistos pelos três apóstolos nos quais
são representadas, respectivamente, as funções distintamente exercidas
por Pitágoras, por Buda e por Jesus; ou seja, Obras, Compreensão e Amor,
ou Corpo, Mente e Coração.
E pela sua reunião no Monte está
representada a união dos três elementos, e a complementação de todo o
sistema abrangido pelos três por Jesus, como o representante do Coração
ou daquilo que é Mais Interno, e, em um sentido especial, como o “amado
Filho de Deus”.
O Cristianismo, então, foi introduzido no
mundo com uma relação especial com as grandes religiões do Oriente, e
sob a mesma regência divina. E muito longe de ser concebido como um
rival e suplantador do Budismo, ele era a direta e necessária
continuação desse sistema. E os dois são apenas partes de um todo
contínuo e harmonioso, no qual a parte que veio por último é somente o
indispensável acréscimo e complemento da parte que veio anteriormente”.
[The Perfect Way; or, the Finding of Christ (O Caminho Perfeito; ou, a Descoberta de
Cristo), pp. 249-251]
Cristo, a Realização no
Homem de Suas Próprias Potencialidades Divinas
1.
(*) Desse modo, o Cristo da Bíblia, o Cristo de Deus, o
Cristo da Natureza e o Cristo da Gnose não é nenhum personagem único,
anormal, inconcebível, de constituição híbrida e desordenada, tal como é
aquele Cristo apresentado pelo Sacerdotalismo.
Sendo o
equivalente, no homem, do Logos na Deidade, Ele é a Perfeita Razão de
Deus na manifestação. Ele é o cumprimento, e não a subversão, da ordem
natural-divina. Ele é a realização, tanto para o indivíduo quanto para o
universal, das divinas potencialidades próprias e comuns a todos, em
virtude de sua origem e constituição, pela lei imutável da
Hereditariedade; o fruto maduro da semente implantada em todo homem, a
semente de sua própria regeneração; a demonstração da “jóia preciosa” da
divindade “nascida na fronte do sapo”, símbolo alquímico da matéria. E
Nele, definido dessa forma, é devolvido ao homem o Salvador, o qual lhe
foi privado pelos seus sacerdotes.
2.
Geração, degeneração, regeneração – esses são os três termos da história
espiritual do homem. O primeiro e o último são obras
de Deus; o segundo é obra do próprio homem. Pois todas as coisas se dão
pela geração, a qual é o produto da interação entre a Força e a
Substância, Pai e Mãe, respectivamente, o resultado dependendo da
vontade do gerador.
Uma vez
gerado, o homem é livre para se degenerar, até que chegue seu tempo de
ser regenerado. Suas possibilidades de regeneração dependem do
uso que fez de seu período de liberdade. A evolução se dá por meio da
geração; mas a escada da mesma pode ser descida até que se alcance uma
condição na qual a regeneração é impossível, e a extinção, inevitável. O
período da Graça subentendido na expressão “setenta vezes sete” expirou
para ele.
3.
As assim chamadas expressões “denunciatórias” da Bíblia e do Credo, são
simplesmente afirmações da necessidade da observância das leis do ser
para a salvação. Isso tanto para a vida espiritual como para a vida
física. As condições essenciais à vida devem, em ambos os casos, ser
respeitadas. E do mesmo modo que o fisiologista, se expressando na
linguagem técnica de sua ciência, fala de forma afirmativa quando
declara que se não for pelo cumprimento de certas funções pelo sistema
físico do homem, ele sem dúvida perecerá; assim também falam de forma
afirmativa aqueles que dizem o mesmo a respeito do sistema espiritual do
homem. As condições da vida eterna, assim como as da vida passageira,
estão fundamentadas na natureza das coisas; e não há nada de arbitrário
na afirmação dessas condições por aqueles que as conhecem, mesmo que a
linguagem usada seja técnica e não compreendida pelos ignorantes. O
dogmatismo consiste tão somente na afirmação positiva daquilo que a
própria pessoa que afirma não conhece positivamente.
4.
A Bíblia especifica dois pecados como tendo um caráter especialmente
hediondo e fatal, cuja natureza seus expositores oficiais falharam em
compreender, ou pelo menos em tornar conhecido. Eles são chamados de
“Anti-Cristo” e de “Blasfêmia contra o Espírito Santo.” Eles são
essencialmente de uma mesma espécie, ainda que suas manifestações sejam
diversas.
A chave
agora restaurada acusa o Sacerdotalismo, desde seu começo, de
representar o cometimento sistemático desses pecados em todas as suas
manifestações.
5.
“É Anti-Cristo aquele que nega o Pai e o Filho.” [1 João 2:22] O
Pai e o Filho são negados quando se nega a Mãe. Pois excluir, da forma
que o Sacerdotalismo excluiu, o princípio feminino da divindade – a
Substância – é tornar impossível a relação simbolizada pelos termos Pai
e Filho, tendo em vista que eles implicam e envolvem Esposa e Mãe.
6.
Algo semelhante ocorre em relação ao pecado contra o Espírito Santo.
Tanto em repouso como em atividade, na Divindade e na manifestação, a
unidade divina deve compreender a dualidade, Força e Substância, Pai e
Mãe, para tornar possível aquela eterna geração por meio da qual se dão
a criação e a redenção, e nisso a manifestação de Deus em Cristo.
Que o
pecado dessa negação com respeito ao Espírito Santo “jamais será
perdoado, nem no mundo de hoje, quer naquele que está por vir” [Marcos
3:29], é porque, sendo um pecado contra o princípio essencial, tanto da
Existência Atual como Daquilo que Será, ele carrega sua própria punição
consigo. Ao negar que o Universo é gerado por Deus, e constituído pelas
próprias Força e Substância de Deus, nega-se que o Universo seja uma
manifestação de Deus. Nega-se, portanto, aquela correspondência entre
Deus e a criação em virtude da qual “coisas invisíveis de Deus são
claramente vistas, sendo compreendidas pelas coisas de que são feitas” [Romanos
1:20].
7.
E isso nega a regeneração como o processo da manifestação de Deus
através da individuação do homem, e negar isso é negar Cristo como a
coroamento da evolução e, portanto, da criação.
8.
Postulando como o material da existência algo que – não sendo
essencialmente Deus – é irreal e não relacionado a Deus, tal negação
constitui a negação de qualquer relação vital entre Deus e o Universo,
tal como a de paternidade e filiação, ao ponto da exclusão da idéia do
dever de um para com o outro, em ambas as direções. E considerar Deus apenas como Força, e
não Substância; Vontade apenas, e não Amor; coloca no lugar de um Deus
vivo e de um Universo vivo tão somente causa e efeito mecânicos e
inconscientes.
9.
A frase de Jesus: “meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” [João
20:17], é uma afirmação da divindade da Substância e, consequentemente,
da consubstancialidade de Deus e do homem. Foi tão somente o
Sacerdotalismo que transformou o homem em um “filho do diabo”. Ao fazer
isso o Sacerdotalismo atribuiu ao homem precisamente a paternidade que
Jesus atribui ao próprio Sacerdotalismo, como quando dirigindo-se aos
seus perseguidores e assassinos sacerdotais, ele diz: “Vós sois do vosso
pai, o diabo” [João 8:44].
NOTA
(49:*)
N.T.: Essas numerações referem-se às paginas e aos parágrafos no
original.
[Edward
Maitland, O "Novo Evangelho da Interpretação", pp.44-52]
Cristo Jesus dentro do Homem
“É o ser espiritual do homem – o Cristo Jesus dentro
dele – que é o tema do Credo cristão. “O Credo dos Apóstolos é um resumo da
história espiritual de todos aqueles que se tornam, pela re-generação, ‘Filhos
de Deus’.”” (Edward Maitland., Light,
1893, p. 284; e em Life of Anna Kingsford
(Vida de Anna Kingsford), vol. I, p. 315.)
Crucificação,
Ressurreição e Doutrina Perniciosa da Redenção Vicária
“E é sempre pela crucificação e morte na cruz da renúncia daquele
velho Adão, o ser inferior, e a ressurreição e ascensão para uma condição de
perfeição verdadeira que a salvação é finalmente alcançada. E a razão pela qual
todas essas verdades eternas na história da alma foram centralmente colocadas na
vida do profeta de Nazaré é simplesmente porque, reconhecendo nele os sinais ou
testemunho de sua realização de perfeição num grau nunca antes alcançado, e em
sua história as adequadas correspondências simbólicas, o Espírito Divino, sob
cuja inspiração os Evangelhos foram compostos, o selecionou como o ícone das
possibilidades da humanidade em geral.
Porém, mesmo rejeitando dessa maneira como sendo idólatra, como
uma blasfêmia, e como perniciosa no mais alto grau à doutrina, conforme ela é
comumente conhecida, da Redenção, Reconciliação ou Salvação Vicária [N.T.: Aquela realizada por alguém em
lugar de outro; no caso o sacrifício de Jesus Cristo para nos redimir do pecado,
para nos reconciliar com Deus.], ainda assim vemos em Cristo Jesus o “único
Filho gerado por Deus” (“Filho único de Deus”) (João
3:16, 18). E ainda assim nos apegamos a Seu sangue e a sua cruz como os únicos
meios da salvação.
Mas é o Cristo Jesus dentro de nós, ou o homem que renasceu de
alma e espírito puros, como o próprio Jesus declarou que todos devem nascer –
exatamente do mesmo modo como se descreve que Ele nasceu – a quem buscamos para
nos salvar. E os meios são Sua cruz de auto-sacrifício, renúncia, e pureza de
vida; e a recepção em nós mesmos daquele “Sangue de Deus” que não é nenhum
sangue meramente físico – com o qual as imperfeições morais não possuem nenhuma
relação – mas que é a vida de Deus, o próprio Espírito puro, o qual é Deus, e o
qual Deus está sempre derramando em abundância para o bem de Suas criaturas,
dando a elas de sua própria vida e substância.
Quão perniciosa é a doutrina da redenção (ou reconciliação)
vicária, conforme ela é comumente aceita, é algo que pode ser visto pelas atuais
condições do mundo: intelectualmente, moralmente e espiritualmente, não menos do
que fisicamente. O homem sempre se constrói segundo a imagem de seu Deus, isto
é, segundo a sua idéia de Deus. E acreditando em um Deus que é injusto, egoísta
e cruel, o homem não pode ser senão injusto, egoísta e cruel.
É precisamente essa má representação do caráter divino, e essa
perversão da verdadeira e da única possível doutrina da reconciliação ou
redenção, em uma doutrina que faz a salvação do homem um processo externo a si
mesmo, e dependente da ação de outro que não ele mesmo, que, por meio da
falsificação do Cristianismo, provocou o seu fracasso. E, ao invés de um mundo
ordenado por princípios de justiça, simpatia e pureza, nos legou um mundo de más
ações, de egoísmo e de sensualismo”. [Anna Kingsford e Edward Maitland, Addresses and Essays on Vegetarianism (Palestras e Ensaios sobre o Vegetarianismo), capítulo O Vegetarianismo e a Bíblia, pp.
222-223].
Erguido Véu do Simbolismo Igrejas são Similares,
Doutrinas Básicas são Idênticas
“Uma vez erguido o véu do simbolismo da face divina da
Verdade, todas as Igrejas são similares, e a doutrina básica
de todas é idêntica (...). Grega, Hermética, Budista,
Vedantina, Cristã – todas essas Lojas dos Mistérios são
essencialmente unas e são idênticas em doutrina. (...)
Nós sustentamos que nenhum credo eclesiástico
isolado é compreensível somente por si mesmo, se não for
interpretado com o auxílio de seus antecessores e de seus
contemporâneos.
Por exemplo, estudantes de teologia cristã
somente aprenderão a entender e a apreciar o verdadeiro
valor e significado dos símbolos que lhes são familiares por
meio do estudo da filosofia Oriental e do idealismo pagão.
Pois o Cristianismo é o herdeiro dessa filosofia
e desse idealismo, e o que há de melhor em seu sangue vem
das veias dessa filosofia e desse idealismo.
E visto que todos os seus grandes antecessores
ocultaram por trás de suas fórmulas e ritos externos – os
quais são meras cascas e coberturas para entreter os pobres
de entendimento – as verdades internas ou ocultas reservadas
ao iniciado, assim também o Cristianismo reserva aos
buscadores sérios e aos pensadores mais profundos os
Mistérios internos verdadeiros, que são unos e eternos em
todos os credos e igrejas desde o princípio do mundo.
Esse significado verdadeiro, interior e
transcendental é a Presença Real velada nos Elementos do
Divino Sacramento: – a substância mística e a verdade
simbolizadas sob o pão e o vinho das antigas orgias de Baco,
e agora da nossa própria Igreja Católica.
Para aquele não sábio, que não pensa
profundamente, que é supersticioso, os elementos físicos são
a finalidade do rito; para o iniciado, o vidente, o filho de
Hermes, eles são apenas os sinais externos e visíveis
daquilo que é sempre, e necessariamente, interno, espiritual
e oculto”. [Citado por Samuel H. Hart, em seu Prefácio à
Quinta Edição (pp. 12-13), da obra The Perfect Way
(O Caminho Perfeito). Citação extraída de Life
of Anna Kingsford (Vida de Anna Kingsford),
Vol. II, pp. 123-124.]
Ex Oriente Lux. Por que Igreja Cristã foi Chamada de
Católica? Figura do Cristo Sintetiza Figuras Centrais das
Dispensações Anteriores
“A fé cristã é a herdeira direta da velha fé romana. Roma
foi a herdeira da Grécia, e a Grécia do Egito, de onde se
originaram o legado de Moisés e o ritual hebraico.
O Egito foi apenas o foco de uma luz cuja
verdadeira fonte e centro era o Oriente em geral – Ex
Oriente Lux. Pois o Oriente, em todos os sentidos,
geograficamente, astronomicamente e espiritualmente, é
sempre a fonte de luz.
Mas, embora originalmente derivada do Oriente, a
Igreja de nossos dias e de nosso país é modelada diretamente
a partir da mitologia greco-romana, e de lá retira todos os
seus ritos, doutrinas, cerimônias, sacramentos e festivais.
Portanto, a exposição que será feita sobre o
Cristianismo Esotérico tratará mais especificamente dos
mistérios do Ocidente, uma vez que suas idéias e sua
terminologia são para nós mais atrativas e próximas do que
as concepções não artísticas, a metafísica não familiar, o
espiritualismo melancólico e a linguagem pouco sugestiva do
Oriente.
Extraindo sua essência-vital diretamente da fé
pagã do velho mundo Ocidental, o Cristianismo mais
proximamente se parece com seus pai e mãe imediatos, do que
com seus ancestrais remotos, e será, então, melhor exposto
com referência a suas fontes da Grécia e de Roma, do que com
referência a seus paralelos bramânicos e védicos.
A Igreja cristã é católica, ou então ela não é
nada que mereça, em absoluto, o nome de Igreja. Pois
católico significa universal, todo-abarcante: – a fé que
sempre e em todos os lugares foi recebida. A prevalecente
visão limitada desse termo é errada e prejudicial.
A Igreja cristã foi inicialmente chamada de
católica porque ela abarcava, compreendia e tornou seu o
passado religioso de todo o mundo. Reunindo em sua figura
central – do Cristo – e em torno dessa figura todas as
características, lendas e símbolos até então pertencentes às
figuras centrais das dispensações anteriores, proclamando a
unidade de toda aspiração humana, e formulando em um grande
sistema ecumênico as doutrinas do Oriente e do Ocidente.
Assim, a Igreja católica é védica, budista,
zend-avesta e semítica. Ela é egípcia, hermética, pitagórica
e platônica. Ela é escandinava, mexicana e druídica. Ela é
grega e romana. Ela é científica, filosófica e espiritual.
Encontramos em seus ensinamentos o panteísmo do
Oriente, e o individualismo do Ocidente. Ela fala a língua e
pensa os pensamentos de todos os filhos dos homens; e em seu
templo todos os deuses estão em um lugar sagrado.
Eu sou vedantina, budista, helenista, hermética
e cristã, porque eu sou católica. Pois nessa única palavra
todo o Passado, Presente e Futuro estão abarcados.
Como Santo Agostinho e outros dos Padres (Pais)
da Igreja verdadeiramente declararam, o Cristianismo não
contém nada de novo a não ser o seu nome, estando próximo
dos antigos desde o seu início. E as várias seitas, que
retém apenas uma porção da doutrina católica, são apenas
como cópias incompletas de um livro, do qual capítulos
inteiros foram retirados, ou como representações de uma peça
teatral na qual apenas alguns de seus personagens e de suas
cenas foram mantidos”. [The Credo of Christendom
(O Credo do Cristianismo), pp. 94-96]
Figueira e Hermes
“A figueira, que tanto para os hebreus quanto para os gregos
era o símbolo da percepção intuicional, era um símbolo especial de Hermes,
chamado de Rafael pelos hebreus.” [Dreams and Dream-Stories
(Sonhos e Estórias de Sonhos).
Nota de Rodapé
(38:1)]
Filho de Deus
Andrômeda, a
Alma, a melhor parte do Homem, está a ponto de ser
inteiramente devorada pelo dragão maligno da Negação, que é
o agente da natureza inferior, e o destruidor de todas as
esperanças da humanidade. Seu nome – idêntico aos termos com
os quais é descrita a primeira Mulher da história dos
hebreus – a aponta como a companheira e regente do homem;
sua paternidade indica a origem da Alma, que nasce do Fogo
astral ou Éter, simbolizado pela terra da Etiópia; os
grilhões de bronze com que ela é presa à rocha são o símbolo
da atual escravidão do Divino no homem a sua parte material;
e a sua redenção, casamento, e exaltação pelo herói Perseu,
prenunciam o coroamento e a realização final do Filho
de Deus, o qual não é outra coisa senão o Ser Humano
Espiritual fortalecido e sustentado pela Sabedoria e pelo
Pensamento. (Preface, The Perfect Way,
p. 14)
Idólatras e Idolatria
“Idolatria consiste na
materialização dos Mistérios espirituais:
“São idólatras aqueles que
entendem como sendo coisas dos Sentidos onde o significado diz respeito tão
somente a coisas do Espírito, e que escondem as verdadeiras Características dos
Deuses com apresentações materiais e falsas. Idolatria é Materialismo, o Pecado
geral e original dos Homens, o qual substitui o Espírito pela Aparência, a
Substância pela Ilusão, e leva ao erro tanto o Ser intelectual quanto o moral,
de modo que eles substituem o Superior pelo Inferior, e o Elevado pelo Baixo.””
(Veja a Iluminação “A Respeito da Interpretação das Escrituras Místicas”,
Vestida com o Sol, Pt. l,
N°. V.) – S.H.H.
A
Interpretação de Suas Bíblias
“Aquilo que vocês
precisam na Terra é a interpretação de suas Bíblias, e de todas as
Escrituras que contém a sabedoria oculta, o mistério de que São Paulo
tão freqüentemente mencionava como existindo desde os primórdios do
mundo. [P. ex: Romanos 16:25]” (Uma
Mensagem à Terra. Editado
por Edward Maitland. p. 69)
A "Mulher" Não é uma Mulher, mas Sim a Alma e a Intuição
1. É
a hostilidade inveterada entre os poderes ocultos do mal e a “Mulher”
das Escrituras que está representada na passagem do
Apocalipse na qual aparece o dragão, “quando soube que já não tinha
muito tempo”, ao “despejar água de sua boca como uma enchente para
levá-la embora”.
2. A
iminência da restauração da intuição reconhecida pelo dragão – que não é
outra senão sua velha sedutora no Éden – se deve ao início do reinado de
Miguel, “o grande príncipe que defendeu os filhos do povo de Deus”. Isso
porque, como o representante do princípio da equidade ou equilíbrio em
relação aos fatores masculino e feminino na natureza humana, Miguel
representa a restauração da Intuição a seu devido trono. Intuição que é
por meio da qual se dá o discernimento do espírito e, assim, da
verdadeira natureza do dragão como sendo a antítese do Espírito.
3. A
negação da Intuição é uma característica marcante do Sacerdotalismo,
seja ele religioso ou científico. E a Intuição nunca esteve tão
flagrantemente ausente de ambos os tipos do Sacerdotalismo quanto nos
dias de hoje.
Mas a
pergunta que deve ser respondida em primeiro lugar é quem, ou o que, é a
intuição precisamente. E como não há ninguém tão competente para
responder a isso quanto ela própria, é nas palavras em que ela revelou a
si mesma novamente – expressamente para os propósitos da Nova
Interpretação – que a resposta será dada.
Como
veremos, desde o início a Intuição restaura a doutrina – Universal nas
Igrejas pré-cristãs, mas suprimida pelo Sacerdotalismo ao assumir a
denominação de cristão – que é a única que a torna, ou a Bíblia, ou
mesmo a própria existência, inteligíveis. Essa é a doutrina da
multiplicidade das vidas terrenas:
4. “Intuição
é experiência inata; aquilo que a alma sabe dos idos e antigos
anos.
“Conhecimento inato e percepção das coisas, essas são as
fontes da revelação: a alma do homem o instrui, já tendo aprendido pela
experiência.
“Ninguém é profeta, a
não ser aquele que sabe: o instrutor do povo é um homem de muitas vidas.
“E a Iluminação é
a Luz da Sabedoria, pela qual o homem percebe os segredos
celestiais.
“Essa Luz é o Espírito
de Deus dentro do homem, mostrando-lhe as coisas de Deus”. (1)
“Os
Livros Místicos tratam apenas de entes espirituais? Nem o
próprio Tentador é matéria, mas antes aquele que dá
precedência à matéria. Adão é antes a força
intelectual: ele é Terreno. Eva é a consciência moral: ela
é a Mãe dos que Vivem.
“Então, o intelecto é o princípio masculino, e a
intuição, o princípio feminino. E os Filhos da Intuição, ela
própria caída, finalmente recuperarão a verdade e
redimirão todas as coisas.
“Por
sua culpa, de fato, que a consciência moral da
humanidade tornou-se sujeita à força intelectual,
e que dessa forma proliferam todo o tipo de maldade
e confusão, já que o desejo dela está direcionado para o
intelecto e, até agora, ele exerceu domínio sobre ela.
“Mas o
Fim profetizado pelo Vidente não está muito longe. Então, a Mulher será
exaltada, vestida com o Sol e levada ao Trono de Deus. E seus Filhos
farão Guerra ao Dragão, e alcançarão a Vitória sobre ele.
A
intuição, desse modo, pura e sendo como uma Virgem, será a
Mãe e a Redentora de seus Filhos caídos, os quais ela mantinha como
Escravos do seu Esposo, a Força intelectual.”
“Moisés, portanto, conhecendo os Mistérios
da Religião dos egípcios, e tendo aprendido com seus Ocultistas o
valor e a significação de todos os Pássaros e
Animais sagrados, os transmitiu como Mistérios para o seu próprio Povo.
(...) Ele ensinou a seus Iniciados o Espírito dos Hieróglifos celestiais
e ordenou-lhes que quando celebrassem Festivais diante de Deus
carregassem em procissão, com música e
dança, aqueles dos Animais sagrados que, por suas
significações interiores, estivessem relacionadas com a ocasião.
“Agora, desses Animais, ele selecionou
principalmente os Machos do Primeiro Ano, sem Mancha ou Defeito, para
significar que é necessário, acima de todas as coisas, que
o homem dedique ao Senhor seu intelecto e
sua razão, desde o princípio e sem
reserva alguma. E fica evidente – pela história do
mundo em todas as épocas, principalmente
nestes últimos tempos – que ele foi muito sábio ao ensinar isso. Pois, o
que foi que levou os homens a renunciar às
realidades do espírito e a propagar falsas teorias
e ciências corrompidas, negando todas as coisas
que não sejam a aparência que pode ser apreendida pelos
sentidos externos, e desse modo a se transformar no próprio
Pó da Terra? É o seu intelecto que, não estando
santificado, os desviou do caminho reto; é a força
da mente neles que, estando corrompida, é a causa
de sua própria ruína e da de seus seguidores.
“Então, assim como o intelecto
está apto a ser o grande Traidor do Céu, assim também é ele a
força pela qual os homens, seguindo sua
intuição pura, podem também compreender a verdade.
Por essa razão está escrito que os Cristos são submissos a
suas Mães. De modo algum isso quer dizer que o intelecto
deva ser desonrado; pois ele é o Herdeiro de Todas as Coisas, desde que
tão somente ele seja verdadeiramente gerado e não um Bastardo.
“E, além de todos esses símbolos,
Moisés ensinou seu Povo a ter, acima de todas as coisas,
Repúdio à Idolatria. O que é, então, a Idolatria e o que são os Falsos
Deuses?
“Criar um Ídolo é materializar Mistérios
espirituais. Os Padres, desse modo, são Idólatras, os quais, chegando
depois de Moisés e entregando-se a escrever aquelas
coisas que ele, pela Palavra de Boca a Ouvido, tinha transmitido
à Israel, substituíram as verdadeiras coisas significadas,
pelos símbolos materiais, e derramaram sangue
inocente nos puros Altares do Senhor.
“Também são Idólatras aqueles que
compreendem as coisas dos sentidos, onde tão somente as
coisas do espírito estão referidas, e que escondem as verdadeiras Feições dos Deuses por
meio de representações materiais e falsas. Idolatria
é materialismo, o compartilhado e original Pecado dos
Homens, que substitui o Espírito pela Aparência, a substância
pela ilusão e conduz o tanto o ser moral
como o intelectual, ao erro, de forma que substituem o
inferior pelo superior e o que está no Fundo
pelo que está no Alto. É o falso Fruto que atrai os sentidos
externos, a Tentação da Serpente do Começo do Mundo. (1)
Até que o Homem e a Mulher Místicos tenham comido desse Fruto, conheciam
apenas as Coisas do Espírito, e as achavam suficientes. Mas após sua
Queda, começaram a apreender também a Matéria e a ela deram a
Preferência, tornando-se Idólatras. E seu Pecado, e a Mácula gerada por
aquele falso Fruto, corromperam o Sangue de toda a Raça dos Homens, de
cuja Corrupção os Filhos de Deus os teriam redimido.” (1)
“Tudo que é verdadeiro
é espiritual. (...) Nenhum dogma é real se não for espiritual. Se for
verdadeiro e, contudo, lhe parecer ter uma significação material, saiba
que não o resolveu. É um mistério: busque sua interpretação. Aquilo que
é verdadeiro é tão somente para o espírito.
“Pois a matéria
perecerá, e tudo que a ela pertence, mas a Palavra do Senhor continuará
a existir para sempre. E como ela poderia perdurar se não fosse
puramente espiritual, uma vez que, ao perecer a matéria não mais seria
compreensível?” (2)
A Igreja
tem toda a verdade; mas os sacerdotes a materializaram.
Em seu
sentido real as doutrinas são verdades divinas, fundamentadas na
natureza do Ser. Mas apresentadas segundo o sacerdotalismo elas são absurdos
blasfemos. Elas são verdadeiras de acordo com o significado dado por
Deus; não conforme o significado dado pelos padres.
A Bíblia
foi escrita por pessoas de intuição, para pessoas de intuição, e do
ponto de vista das pessoas de intuição. Ela tem sido interpretada por
pessoas superficiais, para pessoas superficiais, e do ponto de vista das
pessoas superficiais. Mesmo sendo o mais oculto e místico dos livros,
ela tem sido exposta por pessoas sem conhecimento oculto ou percepção
mística.
NOTAS
(27:*)
N.T.: Essa numeração refere-se às paginas no original.
(29:1)
Vestida com o Sol, I, ii.
(31:1) Vestida
com o Sol, I, v.
(31:2)
Vestida com o Sol, I, iii.
[Edward Maitland, O "Novo Evangelho da Interpretação",
pp.27-32]
Ordem Divina da Cavalaria É a
Ordem do Cristo, Cavalo é o
Símbolo da Inteligência
“A divina Ordem da Cavalaria é a inimiga do
isolamento ascético e do indiferentismo. É a Ordem do Cristo
que anda pelo mundo fazendo o bem. O cavaleiro cristão,
montado em um valente corcel (pois o cavalo é o símbolo da
inteligência), e equipado com a armadura de Miguel, é o
modelo da vida espiritual – a vida de ativa e heróica
caridade.” (p. 278) [Anna Kingsford – Dreams and
Dream-Stories (Sonhos e Estórias de Sonhos) –
Editado por Edward Maitland. Segunda Edição: George Redway,
Londres, 1888.
281 pp.]
Redenção do Espírito da Matéria, Tema
das Sagradas Escrituras, Queda de Adão, Israel, Cativeiro no Egito,
Êxodo pelo Deserto, Travessia do Jordão e Terra Prometida
“É esse processo de transmutação, ou redenção do Espírito da
Matéria, tanto na dimensão individual quanto na universal, que constitui o tema
das sagradas escrituras, o objeto de todas as religiões verdadeiras, e a tarefa
de todas as verdadeiras igrejas. E são os vários estágios desse processo que
constituem respectivamente a Queda de Adão por meio da submissão da Eva dentro
dele à serpente da Matéria; a descida de Israel, ou da Alma, até o Egito, ou o
mundo e os sentidos; e o Êxodo ou fuga do mundo através da água da separação e
consagração até o deserto, até a região erma da experiência beneficente; e a
travessia do rio Jordão, ou rio da purificação, para tomar posse da terra
prometida da perfeição”. [Anna Kingsford e Edward Maitland,
Addresses and Essays on Vegetarianism (Palestras
e Ensaios sobre o Vegetarianismo), capítulo O Vegetarianismo e a Bíblia, p. 221].
Regeneração, Fuga do
Egito, Deserto, Provação, Quarenta Dias-Anos, Redenção, Rio Jordão e
Terra Prometida
“A Regeneração nos mistérios hebreus é simbolizada pela fuga do
Egito – o corpo, e, portanto, terra de aprisionamento para a alma – através do
Mar Vermelho para o Deserto do Pecado, o cenário da provação no qual os quarenta
dias místicos estão expressos em um período semelhante de anos.
A Redenção é representada pela travessia do Jordão, que separa
esse deserto da provação da terra prometida da perfeição e repouso espiritual.
Esse Jordão, ou rio do julgamento, não poderia ser atravessado por Moisés, pois
ele tinha falhado na provação de sua iniciação.
A libertação final de Israel estava reservada a Joshua, um nome
idêntico a Jesus, que se manteve fiel em todos os momentos. O Jordão corresponde
ao rio Aqueronte dos mistérios do Olimpo, o qual todas as almas, ao descer ao
mundo inferior, eram obrigadas a atravessar. E o Limbo, o Paraíso, o Avernus, os
Campos Elísios, o Tártaro, o Purgatório e o repouso, todos denotam, sob diversos
nomes, não localidades, porém esferas ou condições de existência, igualmente
reconhecidos nos sistemas hebreu, pagão e cristão, e existindo no próprio
homem”. [Anna Kingsford e Edward Maitland, The Credo of Christendom (O
Credo do Cristianismo), p. 102]
Sentido Místico e Não o Sentido
Literal
“Esta
a primeira sugestão (...) que nos foi dada a respeito da verdade que
posteriormente foi revelada plenamente – a presença nas Escrituras de um
sentido místico escondido dentro do sentido aparente, como uma noz em
sua casca, o qual é o sentido pretendido, e não o sentido literal”.
(p. 53) [Edward Maitland.
The Story of Anna
Kingsford and Edward Maitland and of the New of Interpretation –
Birmingham, The Ruskin Press, 1905. 204 pp.]
Tema do Credo Cristão: o
Cristo Jesus Dentro do Homem
“É o ser espiritual do homem – o Cristo Jesus dentro dele – que é
o tema do Credo cristão. “O Credo dos Apóstolos é um resumo da história
espiritual de todos aqueles que se tornam, pela re-generação, ‘Filhos de Deus’”.
[Edward Maitland, The Life of Anna Kingsford (A Vida de Anna Kingsford), vol.
I, p. 315]
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