Índice Geral das Seções Índice da Seção Atual Índice da Obra Anterior: O Lema da Sociedade Teosófica Seguinte: A Unidade Essencial de Toda a Humanidade |
V – A TEOSOFIA E A FRATERNIDADE
UNIVERSAL
37 – “Nosso objetivo fundamental é a Fraternidade Universal (...) uma
Fraternidade de todas as crenças e denominações, composta de Teístas e Ateístas,
Cristãos e Gentios de todo o mundo, sem que ninguém renuncie à sua opinião
particular, unidos em uma forte Sociedade ou Fraternidade” (HPB, CW, Vol. IV, p. 470)
Nos capítulos anteriores vimos que a palavra Teosofia conceitualmente significa
o estado de iluminação de uma mente de fato sábia e que, como disse HPB, “A
verdadeira Teosofia é ALTRUÍSMO, e não podemos repetí-lo demasiadamente. É amor
fraterno, auxílio mútuo, devoção incansável à verdade.” Vimos também como o lema
da ST é uma seta sempre apontando na direção dessa sabedoria real. Vimos ainda
que a denominação “Sociedade Teosófica”, desse modo, não significa uma sociedade
relacionada com uma determinada reformulação da verdade, isto é, com uma
determinada doutrina; mas sim, diferentemente, significa uma sociedade altruísta
e que, portanto, existe para auxiliar eficazmente a humanidade como um todo.
Vimos, igualmente, que o fato da ST ter sido fundada, segundo o farto testemunho
dos fundadores, sob a inspiração direta de Adeptos (que corporificam, eles
mesmos, o Altruísmo puro, a real Sabedoria Divina ou Teosofia), também nos
indica que a ST deva ser uma organização com propósitos genuinamente altruístas,
pelo menos quanto aos seus propósitos originais.
O Caráter Altruísta da ST e seus Três
Objetivos
No entanto, como já dissemos, se este caráter realmente altruísta da ST for de
fato verdadeiro ele não pode ficar restrito apenas ao nome e ao lema, mas também
precisa estar presente nos objetivos da ST, os quais devem balizar as suas
atividades concretas. E se realmente visam o bem-estar coletivo de toda a
humanidade, então, estes objetivos devem indicar ações concretas que promovam
transformações realmente beneficentes tanto no indivíduo, quanto na sociedade
como um todo.
Assim sendo, nosso propósito ao longo deste livro é, em primeiro lugar,
examinarmos se os objetivos da ST realmente apontam para atividades deste tipo.
Isto é, examinarmos como e porque os objetivos da ST indicam ações que, uma vez
realizadas, colaborariam significativamente na superação dos grandes problemas
mundiais. Em segundo lugar, tentaremos mostrar que isso pode ou não ser algo
verdadeiro, dependendo da interpretação que é dada aos objetivos da ST, ou seja,
dependendo de que eles sejam explicados apropriadamente. No entanto, segundo cremos, estes objetivos geralmente não são corretamente
entendidos e essa má compreensão resulta em atividades muito pouco eficazes,
senão perniciosas. A essa dicotomia denominamos sinteticamente de “a glória e o
fracasso da ST”.
Ou seja, neste capítulo e nos seguintes procuraremos averiguar se há razões
lógicas e consistentes para afirmarmos que estes objetivos, ao menos quando
apropriadamente compreendidos, são derivados ou refletem a Teosofia ou
verdadeiro Altruísmo. Se isto for verdade, então, as ações apontadas por estes
objetivos devem estar relacionadas com o bem-estar de todos os seres humanos. Se
pudermos
demonstrar que os objetivos da ST realmente apontam nesta direção, então, e
somente então, poderemos justificar a denominação da ST, ou seja, que ela é,
pelo menos enquanto proposta, enquanto programa original, realmente uma
sociedade plenamente altruísta ou teosófica.
Com isto em mente, relembremos que os três objetivos declarados da ST estão
assim formulados:
I – Formar um núcleo da Fraternidade Universal Humanidade, sem distinção de
raça, credo, sexo, casta ou cor;
II – Encorajar o estudo de Religião Comparada, Filosofia e Ciência;
e
III – Investigar as leis inexplicadas da Natureza e os poderes latentes no
homem.
Sendo estes os três objetivos da ST, devemos iniciar examinando se o princípio
ou a lei da fraternidade universal da humanidade, que é a idéia mestra da ST e
que fundamenta o primeiro e mais importante de seus objetivos, está ou não
relacionado com a superação dos problemas mundiais. Porque, como vimos acima,
somente assim poderemos demonstrar que este princípio é derivado ou reflete a
Teosofia, a Sabedoria real que é Altruísmo.
No entanto, antes de avançarmos nesta análise das relações da Teosofia com o
princípio ou a lei da fraternidade universal (e, portanto, com o primeiro e
principal objetivo da ST), vejamos qual a lógica geral do desenvolvimento deste
texto. Isto porque, se tivermos em mente este panorama global a sua leitura será
bastante facilitada. A linha geral do desenvolvimento do texto, então, é a
seguinte:
1) Se a Teosofia é uma estado de genuína iluminação
espiritual, no qual se realizou a Verdade e o Altruísmo, e se a fundação da ST
foi inspirada por Sábios que realizaram a Teosofia, conforme afirma o testemunho
dos fundadores, então, essa luz espiritual (Verdade e Altruísmo) deveria estar
refletida nos objetivos e metas da ST.
2) Isto significa que a ST deveria ser uma organização cujos objetivos fossem
eminentemente filantrópicos, no sentido mais elevado dessa palavra, que é o do
eficaz auxílio à humanidade como um todo, e em seus problemas mais importantes
ou fundamentais. Ou seja, isto significa que os objetivos da ST deveriam apontar
na direção de soluções consistentes para estes problemas.
3) A realidade desses fatos acima é o que procuraremos evidenciar nos capítulos
seguintes, onde examinaremos sobretudo
o princípio ou a lei da fraternidade universal da humanidade, a qual fundamenta
o primeiro e mais proeminente objetivo da ST.
4) Faremos isto analisando este princípio ou lei à luz da Filosofia Esotérica, e
relacionando-o com as soluções dos problemas mundiais.
5) Finalmente, examinaremos a relação da Teosofia com os outros dois objetivos
da ST, mostrando como os três objetivos interagem entre si e, na verdade,
complementam-se mutuamente.
Fraternidade Universal: Idéia e
Objetivo Fundamentais
Tendo em mente este panorama global do desenvolvimento do texto, vejamos qual o
objetivo deste quinto capítulo. Pretendemos neste capítulo
apenas demonstrar que – independentemente da correção ou não da interpretação
apresentada nesta obra acerca da Teosofia e do princípio ou lei da fraternidade
universal da humanidade, bem como acerca dos objetivos da ST e da sua
importância para a solução dos problemas mundiais – podemos, pelo menos, ter
como um dado perfeitamente estabelecido o fato de que para os Mahatmas e para os
fundadores por eles inspirados, a lei ou o princípio da fraternidade universal
da humanidade, bem como o exemplo prático de uma organização que o
corporificasse, era o aspecto mais importante e decisivo da Sociedade Teosófica.
Essa demonstração será feita através do exame de várias citações das cartas dos
Mahatmas e dos escritos de alguns dos líderes mais ilustres da história da ST.
E, uma vez que, segundo os fundadores, estes Mahatmas eram exemplos vivos do
estado de Verdade e Altruísmo (da Teosofia), esse capítulo foi denominado “A
Teosofia e a Fraternidade Universal”.
Afirmamos acima, algumas vezes, ser o primeiro objetivo aquele de mais
fundamental importância no trabalho da ST. Contudo, as verdadeiras razões que
justificam essa afirmativa somente serão apresentadas ao longo do texto. Assim
sendo, a fim de evitarmos que alguém que ainda conheça pouco a respeito da ST
tenha a impressão de que esta é uma afirmação sem muito respaldo, é útil
mostrarmos, desde logo, como HPB a ele se referiu:
38 – “Nossa Sociedade, como foi explicado repetidamente até mesmo para o público
externo, tem uma meta geral e várias outras, senão menores, pelo menos não tão
proeminentes. O envolvimento sério em uma dessas últimas – a ciência oculta, por
exemplo – longe de ser considerado como dever comum e trabalho de todos, está
limitado pelas razões dadas acima a uma parcela muito pequena da Sociedade, este
envolvimento dependendo das inclinações e das aspirações pessoais dos membros.
Quanto à primeira – a principal meta da Fraternidade Teosófica – é quase
desnecessário
lembrar a qualquer membro qual é esta meta. Nosso objetivo fundamental é a
Fraternidade Universal (...) uma Fraternidade de todas as crenças e
denominações, composta de Teístas e Ateístas, Cristãos e Gentios de todo o
mundo, sem que ninguém renuncie à sua opinião particular, unidos em uma forte
Sociedade ou Fraternidade” (HPB, CW, Vol. IV, p. 470)
Isto posto, iniciemos agora o exame de um conjunto de citações que visam
demonstrar que (pelo menos segundo a visão dos Mahatmas e de alguns dos
principais líderes da história da ST) o princípio ou lei da fraternidade
universal da humanidade, bem como a sua prática, são de importância capital no
trabalho da ST.
Começaremos com algumas passagens da carta conhecida como “Carta do Senhor Maha
Chohan”. Na verdade, trata-se de uma carta do Adepto conhecido como Kuthumi
(Koot Hoomi, K.H.) expressando as visões do Senhor Maha-Chohan. Parece
apropriado iniciarmos por esta carta já que o Senhor Maha-Chohan, segundo a tradição esotérica
expressada nas cartas dos Mahatmas e nos escritos de seus discípulos como HPB, é
um dos chefes mais altos da Hierarquia Oculta do nosso planeta. C. Jinarajadasa, ex-Presidente Internacional da ST referiu-se a esta carta nos
seguintes termos:
39 – “Esta é certamente a mais importante carta já recebida dos Instrutores
Adeptos, pois se trata de uma comunicação do Maha Chohan (diante de cuja visão
interna o futuro é como um livro aberto – K.H., carta 16), um dos três Adeptos
Maiores que formam o “triângulo” da grande Hierarquia. Como a nota do Mestre
menciona,
a comunicação não é uma carta escrita pelo próprio Maha Chohan, mas o relatório
de uma entrevista feito pelo Mestre.” (LMW, 1st Series, n. 1, p. 104)
A carta foi enviada para o Sr. Sinnett, e é introduzida com uma pequena nota do
Mestre Kuthumi, que diz: “Uma versão condensada da visão do Chohan sobre a S.T.
de acordo com as palavras dadas, ontem à noite. Minha carta, em resposta à sua,
seguir em breve. K.H.” Toda a carta é uma resposta a posições antagônicas
existentes dentro da ST, que sustentavam, entre outras coisas, que o princípio
ou lei da fraternidade universal tinha uma importância relativamente pequena,
uma vez que por quase dois mil anos esse era um ensinamento presente na religião
cristã. A esse argumento obteve-se em resposta visões como as que seguem:
40 – “O mundo em geral, e a cristandade em especial, abandonados por dois mil
anos ao regime de um Deus pessoal, bem como aos seus sistemas políticos e
sociais baseados nessa idéia, agora provaram-se um fracasso. Se os Teósofos dizem: “Não
temos nada a ver com tudo isso; as classes mais baixas e as raças inferiores
(aquelas da Índia, por exemplo, na concepção dos britânicos) não podem nos
preocupar e devem se arranjar da melhor forma que puderem”, o que acontece com
as nossas belas profissões de benevolência, filantropia, reforma etc? Serão essas
profissões uma farsa? E se forem uma farsa, poderá o nosso caminho ser o
verdadeiro? Deveríamos nos dedicar a ensinar a uns poucos europeus, alimentados
com o melhor da terra, muitos dos quais aquinhoados com as dádivas da obscura
fortuna, os segredos das campainhas astrais, das materializações, da formação do
telefone espiritual e do corpo astral, e deixarmos que os muitos milhões de
ignorantes, de pobres e desprezados, de humildes e oprimidos, tomem conta de si
mesmos e do seu futuro da melhor forma que souberem? Nunca. Antes pereça a S.T.
com os seus dois desafortunados fundadores, do que permitirmos que ela se torne
nada mais do que uma academia de magia, um lugar dedicado ao ocultismo.” (LMW, 1st Series, n. 1, p. 7)
41 – “Uma maior, mais sábia, e especialmente mais benevolente
mescla do alto e do baixo, do Alfa e do Ômega da sociedade, foi determinada.
A raça branca deve ser a primeira a estender a mão de solidariedade às nações
mais escuras, a chamar o pobre e desprezado “negro” de irmão. Essa perspectiva
pode não agradar a todos, mas não é um Teósofo aquele que se opuser a esse
princípio.
“Em vista do triunfo sempre maior e, ao mesmo tempo, do mau uso do livre
pensamento e da liberdade (o reino universal de Satã, como Eliphas Levi a teria
chamado), como poderá o instinto combativo natural do homem ser refreado de
infligir crueldades e atrocidades que até agora nunca foram vistas, tirania,
injustiça etc., senão por meio da influência suavizadora de uma fraternidade, e
da aplicação prática das doutrinas esotéricas (...)?” (LMW, 1st Series, n. 1, p. 4)
42 – “E é de nós, humildes discípulos destes Lamas perfeitos,
de quem se espera que permitamos que a S.T. abandone a sua nobre
denominação, aquela de Fraternidade da Humanidade, para se tornar uma simples
escola de psicologia. Não, não, meus bons irmãos, vocês têm incorrido neste
equívoco por um tempo demasiado longo.” (LMW, 1st Series, n. 1,
p. 9)
Implicações Práticas da Fraternidade
para o Mundo
Dessas três citações acima, com alguns aspectos da visão do Senhor Maha-Chohan a
respeito da ST, já transparece claramente a importância do princípio da
fraternidade universal para essa Sociedade, pelo menos quanto à sua concepção
original e quanto à formulação do seu primeiro objetivo. Percebe-se nitidamente
a preocupação central com “Uma maior, mais sábia, e especialmente mais
benevolente mescla do alto e do baixo, do Alfa e do Ômega da sociedade”, isto é,
com o inter-relacionamento ou a organização da humanidade como um todo, o que
fica muito claro quando são denunciados os atuais “sistemas políticos e sociais”
os quais “agora provaram-se
um fracasso”, do mesmo modo que suas fundamentações filosóficas e religiosas.
Percebe-se, ainda, uma forte preocupação com o abuso da
“liberdade”, que poderia levar o homem a crueldades e atrocidades jamais vistas,
injustiças e tiranias (reações brutais a este abuso, que já ocorreram neste
século, a exemplo do Nazismo, do Fascismo e das ditaduras marxistas). Todo esse
quadro aterrador profeticamente anunciado em 1881, de fato, já ocorreu ao longo
do século XX, com suas guerras mundiais, com a miséria dos países do Terceiro
Mundo, com a degeneração crescente do equilíbrio ecológico e tantas outras
atrocidades.
Não é difícil prever que novas e mesmo maiores tragédias continuarão ocorrendo
se as atuais tendências no panorama mundial não forem profundamente alteradas.
Afirmou-se de forma inequívoca que isto não poderia ser evitado “senão por meio
da influência suavizadora de uma fraternidade” (uma mescla mais benevolente e
harmônica entre o alto e o baixo da sociedade humana), além da aplicação prática
das doutrinas esotéricas verdadeiras, e que esse era o objetivo geral a ser
alcançado.
Percebe-se, finalmente, que esperava-se que a ST fosse
um exemplo de organização que aplicasse, na prática, os princípios das doutrinas
esotéricas, o que, conforme veremos mais adiante, significa nada menos do que a
constituição de um núcleo da fraternidade universal da humanidade. Dessa maneira
a ST estaria exemplificando de forma viva as soluções para os grandes problemas
do mundo. Tal realização prática era vista como absolutamente imprescindível
pelos Mahatmas, até mesmo porque predicar sem viver aquilo que se professa
facilmente se transforma em uma forma de hipocrisia, e sempre é muito pouco
eficaz.
Tão somente a realização prática de um tal
núcleo é que, de um lado, conquistaria para a ST o direito moral de pregar as
soluções para os grandes problemas e, de outro, geraria a força necessária para
a realização da tarefa regeneradora de uma enorme reforma intelectual, em face
dos tremendos obstáculos e antagonismos de toda ordem a serem enfrentados.
Por isso o Mahatma afirmou tão categoricamente “antes pereça a ST e seus dois
desafortunados fundadores” do que deixar de estar voltada para a solução dos
problemas dos “muitos milhões de ignorantes, de pobres e desprezados, de
humildes e oprimidos”; e que por essa mesma razão Eles jamais permitiriam que “a
S.T. abandone a sua nobre denominação, aquela de Fraternidade da Humanidade,
para se tornar uma simples escola de psicologia.”
Em vista de tudo isso, e também da elevada posição ocupada pelo Senhor Maha-Chohan
dentro da Hierarquia Oculta do planeta (como um dos seus grandes Chefes), não é
difícil entendermos porque o Mahatma Kuthumi, que foi um dos Adeptos que mais se
envolveu na fundação da ST, escreveu as seguintes linhas, mencionando a
importância das doutrinas esotéricas, bem como relacionando-as
com o advento de novas instituições sociais “de uma genuína e prática
Fraternidade da Humanidade”:
43 – “As verdades e mistérios do ocultismo constituem, de fato, um corpo da mais
alta importância espiritual, ao mesmo tempo profundo e prático para o mundo como
um todo. Contudo, não é como uma mera adição à confusa massa de teorias e
especulação no mundo da ciência que eles lhes foram dados, mas sim por causa de
suas implicações práticas sobre os interesses da humanidade. (...) Eles devem se
provar tanto destrutivos quanto construtivos – destrutivos nos perniciosos erros
do passado, nos velhos credos e superstições que sufocam toda a humanidade em
seu venenoso abraço como a erva daninha mexicana; mas construtivos de novas
instituições de uma genuína e prática Fraternidade da Humanidade, onde todos se
tornarão co-laboradores da natureza (...) Os Chefes querem uma “Fraternidade da
Humanidade”, o início de uma real Fraternidade Universal; uma instituição que se
faça conhecida por todo o mundo e cative a atenção das mentes mais elevadas.”
(K.H., ML, n. 6, p. 23)
A Má Compreensão Generalizada dos
Objetivos da ST
Até os nossos dias, no entanto, os membros da ST em geral (e mesmo a maioria dos
seus líderes) não parecem compreender apropriadamente, nem mesmo apenas em
termos intelectuais, esses elevados propósitos originais. E, em conseqüência
disso, não é de surpreender que a ST ainda esteja muito distante de realizar
praticamente o proposto pelos seus objetivos, especialmente o primeiro, conforme
tentaremos evidenciar nesse livro. Essa dificuldade de realização daquilo que
havia sido proposto pelos Mestres foi apontada desde os primeiros anos da ST,
como na seguinte citação:
44 – “O sucesso dos fundadores não foi igual às expectativas dos seus apoiadores
originais, por fenomenal que tenha sido em certos aspectos.” (M., ML, n. 44, p. 263.)
Seja lá como for, a verdade é que, por maiores que
sejam as dificuldades em relação ao que a ST conseguiu na prática realizar, ao
longo de mais de um século de existência, isso não afeta de modo algum a
hipótese que estamos neste momento tentando demonstrar: de que a ST se
constitui, enquanto proposta original, bem como quanto às diretrizes gerais dos
seus objetivos, numa organização realmente altruísta ou teosófica e, portanto,
que esses objetivos são derivados e refletem a Sabedoria Divina.
Esse alerta e esclarecimento são importantes porque desde os primeiros dias da
ST os Mahatmas encontraram grande dificuldade em ver as suas perspectivas
satisfatoriamente compreendidas pelos membros da ST. A seguir veremos algumas
citações que demonstram este fato e que, ao mesmo tempo, reforçam a importância
do princípio ou lei da fraternidade universal, bem como da sua aplicação
prática:
45 – “Julgamos conhecer mais acerca da causa secreta dos eventos do que vocês
homens do mundo. Digo, então, que é a calúnia e a ofensa aos fundadores, e a má
compreensão generalizada das metas e objetivos da Sociedade que paralisam o seu
progresso – nada mais. Não há nenhuma necessidade de maior definição nestes
objetivos, desde que eles sejam tão somente explicados de forma apropriada. Os
membros teriam muito o que fazer se eles perseguissem a
realidade com a metade do fervor que eles perseguem miragens. Sinto muito ao
vê-lo comparando a Teosofia a uma casa pintada em um palco, enquanto que nas
mãos de verdadeiros filântropos e teósofos ela poderia se tornar tão forte
quanto uma fortaleza inexpugnável. A situação é esta: os homens que entram para
a Sociedade com o único objetivo egoísta de alcançar poder, fazendo da ciência
oculta sua única ou mesmo sua principal meta, bem poderiam nela não entrar –
eles estão fadados ao desapontamento tanto quanto aqueles que cometem o erro de
deixá-los acreditar que a Sociedade não é nada mais do que isto. É justamente
porque eles pregam demais sobre “os Irmãos” (N.A: os Mahatmas) e muito pouco, se
algo, sobre a Fraternidade que eles falham. (...) Tão somente aquele que tem o
amor da humanidade no coração, e que é capaz de compreender plenamente a idéia
de uma fraternidade prática regeneradora que está entitulado para a posse dos
nossos segredos.” (M., ML, n. 38, p. 251)
46 – “(...) tem sido constantemente o nosso desejo espalhar no mundo ocidental
entre as classes mais educadas “Ramos” da S.T. como precursores de uma
Fraternidade Universal (...) Não obstante a sua franca e honesta admissão com
relação ao fato de ser incapaz de compreender a idéia básica da Fraternidade
Universal da Sociedade Mãe, seu objetivo era apenas cultivar o estudo das
Ciências ocultas (...) Mas este consentimento, por favor
tenha em mente, foi obtido unicamente sob a condição expressa e inalterável de
que a nova Sociedade fosse fundada como um Ramo da Fraternidade Universal.”
(K.H., ML, n. 28, p. 209)
47 – “No entanto, você tem sempre discutido apenas com o intuito de diminuir a
idéia de uma Fraternidade universal, questionando sua utilidade, e aconselhando
que se remodele a S.T. sob o princípio de uma instituição para o estudo especial
de ocultismo. Isto, meu respeitado e estimado amigo e Irmão – nunca
servirá! (...) Mas a nova sociedade, se vier a ser formada, deve ser
(embora tendo uma denominação própria e diferente), de fato, um Ramo da
organização Mãe, como o é a Sociedade Teosófica Britânica em Londres, e
contribuir para sua vitalidade e utilidade por meio da promoção de sua idéia
mestra de uma Fraternidade Universal, e de outras formas práticas.” (K.H., ML, n. 2, p. 8)
48 – “Se eu tivesse pedido a sua ajuda na organização de um sistema para ensinar
ciências ocultas, ou um plano para uma “escola de magia”, então o exemplo
trazido por você de um menino ignorante a quem se pediu para resolver “um
complexo problema relacionado com o movimento de um fluido dentro de outro”
poderia ter sido um exemplo feliz. Mas, na realidade, sua comparação erra o alvo
e a pitada de ironia não atinge ninguém; pois a minha menção a este assunto
relacionava-se apenas ao plano geral e à administração externa da projetada
Sociedade, e de forma alguma aos seus estudos esotéricos; relacionava-se ao Ramo
da Fraternidade Universal e não à “Escola de Magia” – a formação do primeiro
sendo condição sine qua non para a última. (...) Eu pedi por um esquema geral, e
você imaginou que eu clamava por cooperação nas instruções a serem dadas nas
ciências espirituais! (...) E você, de outro modo um homem bom e sábio, sendo
inconscientemente um exemplo do seu espírito (N.A: do
espírito desta época) é incapaz de compreender nossas idéias a respeito da
Sociedade como uma Fraternidade Universal, e assim – dá as costas para ela.”
(K.H., ML, n. 28, p. 213-215)
49 – “O termo “Fraternidade Universal” não é nenhuma frase ociosa. (...) Ela é a
única fundação segura para a moralidade universal. Se for um sonho, pelo menos é
um sonho nobre para a humanidade: e é a aspiração do verdadeiro adepto.” (K.H., ML, n. 4, p. 17)
A próxima citação, de N. Sri Ram, quinto presidente internacional da ST,
sintetiza muito bem todo este conjunto de citações acima, onde percebemos
claramente forças antagônicas quanto ao direcionamento básico que a ST deveria
adotar, desde os seus primeiros anos de existência:
50 – “Talvez não seja do conhecimento de todos que os objetivos da Sociedade
Teosófica, tal como eles aparecem hoje, tomaram forma gradualmente, como
resultado de forças que disputavam entre si. Havia diferentes visões acerca
daquilo que a Sociedade deveria ter como meta, e todas tiveram que ser
consideradas e atendidas em alguma medida. Nos primeiros dias havia aqueles que
pediam mais e mais conhecimento oculto. Mas os próprios Adeptos, de quem o
conhecimento originalmente adveio, eram muito relutantes em responder às
questões que Lhes eram colocadas. De fato, algumas daquelas questões eram de
uma tal natureza que não poderiam ser respondidas em termos que não
fossem mal interpretados. Por outro lado, Eles eram muito enfáticos quanto ao
que um Deles chamou de “Fraternidade Universal”. Esta era a Sua meta principal,
desde o início.” (N. Sri Ram, On the Watch Tower, p. 462)
Os Adeptos (a Teosofia) e a
Importância da Fraternidade
Concluiremos este capítulo com mais algumas citações que nos oferecem um
panorama geral da relação da consciência dos Mahatmas (da Teosofia – a genuína
Sabedoria espiritual ou Altruísmo) com o princípio e a prática da fraternidade
universal da humanidade:
51 – “Você não pode ter esquecido o que eu lhe disse repetidamente em Simla e o
que o próprio Mestre K.H. lhe escreveu, isto é, que a S.T. é antes de mais nada
uma Fraternidade universal, não uma Sociedade para fenômenos e ocultismo.” (HPB, ML, n. 138, p. 468)
52 – “Quão pouco este princípio de Fraternidade Universal é compreendido pelas
massas da espécie humana, e quão raramente sua importância transcendente é
reconhecida, pode ser constatado pela diversidade de opiniões e interpretações
fictícias referentes à Sociedade Teosófica. Esta Sociedade foi organizada com
base neste único princípio, a Fraternidade Essencial da Humanidade, como aqui
foi brevemente esboçado e imperfeitamente apresentado. Ela tem sido atacada como
budista e anti-cristã, como se pudesse ser estas duas coisas ao mesmo
tempo, já que tanto o budismo quanto o cristianismo, como apresentados por seus
inspirados fundadores, fazem da fraternidade a essência da doutrina e da vida. (HPB,
citando J.D. Buck, A Chave para a Teosofia, p. 29)
53 – “Todos os membros da Sociedade Teosófica são livres para
professar qualquer religião ou filosofia que desejarem, ou nenhuma se assim
preferirem, desde que estejam em sintonia com, e prontos a realizar, um ou mais
dos três objetivos da Associação. A Sociedade é um organismo filantrópico
e científico para a difusão da idéia da fraternidade em bases práticas, e não
teóricas. (HPB, A Chave para a Teosofia, p. 30)
54 – “Talvez vocês lembrem como, desde cedo na vida da Sociedade um dos Mestres
escreveu ao Sr. Sinnett que Eles não sairam de seu silêncio secular simplesmente
para ensinar a umas poucas pessoas em um clube oculto. Para Eles, o ensinamento
da Fraternidade do homem, a aceitação deste ensinamento, o desejo de trabalhar
para promover a vida de Fraternidade (...) tal é o maior objetivo da Sociedade;
e o conhecimento somente é valioso na medida em que nos torna mais eficazes em
levar adiante esta Mensagem ao mundo. E assim, como foi colocado ao Sr. Sinnett,
a coisa realmente importante para a Sociedade é: Viver e ensinar Fraternidade.”
(A. Besant, The Theosophical Society and the Occult Hierarchy, p. 19)
Com mais esse conjunto de citações acreditamos, conforme era o
objetivo deste capítulo, ter demonstrado que, pelo menos nas cartas dos Adeptos
(que alcançaram uma realização permanente da Teosofia) e na visão de grandes
líderes da ST, o princípio ou a lei da fraternidade universal da humanidade, bem
como o exemplo prático de uma organização que o corporificasse, é o aspecto mais
importante e decisivo do trabalho da ST, bem como “a sua idéia mestra”.
Esperamos, assim, ter demonstrado o quão estreitamente está relacionada
a
Teosofia com o viver e o ensinar ao mundo o princípio ou a lei da fraternidade
universal da humanidade.
Índice Geral das Seções Índice da Seção Atual Índice da Obra Anterior: O Lema da Sociedade Teosófica Seguinte: A Unidade Essencial de Toda a Humanidade |