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III – A TEOSOFIA E O NOME DA
SOCIEDADE TEOSÓFICA
9 – “A verdadeira Teosofia é ALTRUÍSMO, e não podemos repetí-lo demasiadamente.
É amor fraterno, auxílio mútuo, devoção incansável à Verdade.” (HPB,
CW, Vol. XI, p. 202)
Depois de introduzirmos a questão da influência dos Adeptos na fundação da ST,
examinaremos agora a relação existente entre esses Sábios iluminados e a
Teosofia. Essa relação pode ser examinada de uma forma que talvez torne a sua
compreensão mais fácil quando analisada juntamente com a escolha do nome da ST.
Por essa razão, neste capítulo examinaremos como foi escolhido o nome “Sociedade
TEOSÓFICA”, e qual o seu significado. Portanto, examinaremos o nome da ST como
forma de revelar o verdadeiro significado conceitual da palavra Teosofia, a
qual, obviamente, está centralmente relacionada com a Sociedade Teosófica.
A Escolha do Nome da ST
Iniciemos pela escolha do nome da ST, a qual está narrada por Olcott em sua obra
já mencionada, publicada em espanhol como Historia de
10 – “A escolha do nome da Sociedade foi, como é natural, objeto de grande
discussão dentro da comissão nomeada. Vários nomes foram propostos, entre eles
se me lembro bem os de: Sociedade Egiptológica, Hermética, Rosacruz, etc., porém
esses não pareciam caracterizá-la suficientemente. Por fim, folheando um
dicionário, um de nós encontrou a palavra “Teosofia”, e depois de discutí-la,
chegamos a um acordo por unanimidade de que era o melhor nome, pois representava
a verdade esotérica que procurávamos alcançar e ao mesmo tempo abarcava o campo
das investigações ocultas de Felt.” (Historia de
Foi dessa maneira, aparentemente um tanto ao acaso, que a palavra Teosofia passou a
ser de central importância na vida da organização filosófico-religiosa proposta
pelos Adeptos. Como vimos,
a Teosofia representava originalmente a verdade esotérica que os fundadores
procuravam alcançar.
Um exame mais aprofundado do significado da palavra Teosofia e do nome dela
derivado (Sociedade Teosófica) é algo que parece revestir-se de uma especial
importância quando se tenta explicar de forma apropriada os objetivos da ST.
Isto porque a essa palavra têm sido atribuídos diferentes significados ao longo
do tempo, alguns dos quais conferem a essa organização um aspecto sectário, o
que, segundo procuraremos mostrar, representou e até hoje ainda representa um
sério problema na vida da ST.
Teosofia é Altruísmo
Gostaríamos de mostrar claramente que já no que diz respeito às interpretações
da própria palavra “Teosofia” surgem grandes diferenças, as quais estão
relacionadas tanto com a glória, quanto com o fracasso da ST. Em síntese, ao
longo do texto procuraremos mostrar que quando a Teosofia é definida como um
estado de ser no qual se alcançou a Verdade, o Altruísmo e a Felicidade (três
aspectos inerentes ao mesmo estado de ser), isto é, como uma real Sabedoria
viva, então a Teosofia é parte da glória da ST. Porém, quando a Teosofia é vista
como uma dada doutrina, ou mesmo como apenas significando também uma doutrina (a
qual, nessa interpretação, seria o aspecto superficial da Teosofia), então a
Teosofia é um elemento do fracasso ST.
As citações de HPB que seguem, são exemplos da primeira hipótese de conceituação
da palavra Teosofia:
11 – “Sem a verdade e a justiça não pode haver Sabedoria.” (A Doutrina Oculta, p. 145, ou CW, Vol. XII, p. 310)
12 – “Sabedoria e Verdade são sinônimos e aquilo que é falso ou pernicioso não
pode ser sábio.” (A Doutrina Oculta, p. 153, ou CW, Vol. XII, p. 316)
13 – “A SABEDORIA, Theosophia – é a Sabedoria “cheia de misericórdia e bons
frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia”. (Tiago, 3:17)”
(A Doutrina Oculta, p. 158, ou CW, Vol. XII, p. 320)
14 – “Que eles saibam de uma vez por todas e recordem sempre que verdadeiro
Ocultismo ou Teosofia é a “Grande Renúncia do EU”, de forma incondicional e
absoluta, tanto em pensamento quanto em ação. É ALTRUÍSMO (...)”. (Practical Occultism, p. 43)
Mero Conhecimento Intelectual não é
Teosofia
Podemos ver claramente que, no caso dessa interpretação, a Sabedoria Divina ou
Teosofia jamais pode estar dissociada tanto da verdade, quanto de um modo de
ser, ou de uma vida justa, compassiva e beneficente. Ela jamais poderia ser
confundida, nesse caso, com um conhecimento meramente intelectual, o qual sempre
pode ser usado tanto para construir quanto para destruir. Não bastasse isso, não
raro o conhecimento puramente intelectual é mesmo mais um impedimento do que um
auxílio para a evolução espiritual do ser humano, conforme é afirmado nas
citações abaixo:
15 – “As faculdades espirituais necessitam mais de instrução e controle do que
de nossos dotes mentais, pois o intelecto assimila o erro e o mal muito mais
facilmente do que a verdade e o bem.” (K.H., LMW, 1st Series, n. IV, p. 150)
16 – “Para a evolução espiritual do homem, o crescimento puramente intelectual é
frequentemente mais um impedimento do que um auxílio.” (HPB, CW, Vol. V, p. 145)
Essa dupla possibilidade que, de um lado, significa uma concepção gloriosa da
Teosofia e, de outro, uma concepção no mínimo medíocre, foi aludida por um dos
Adeptos que inspiraram a fundação da ST, conforme podemos ler abaixo:
17 – “Sinto muito ao vê-lo comparando a Teosofia a uma casa pintada em um palco,
enquanto que nas mãos de verdadeiros filântropos e teósofos ela poderia se
tornar tão forte quanto uma fortaleza inexpugnável.” (M., ML, n. 38, p. 251)
Um exemplo de testemunho muito claro a respeito destas possíveis diferenças e
dos problemas por elas acarretados na vida da ST é o seguinte trecho de um
artigo de Jeanine Miller, publicado
18 – “A fonte da verdade espiritual não está contida em
qualquer livro, mas é extraída através da alma do homem.
“O ponto crucial da teosofia, a sabedoria divina, foi expresso por
H.P. Blavatsky da seguinte maneira:
“‘A verdadeira Teosofia é ALTRUÍSMO, e não podemos repetí-lo demasiadamente. É
amor fraterno, auxílio mútuo, devoção incansável à verdade.’ (Lucifer, Vol. IV, n. 21, p. 188, maio/1889, ou CW, Vol. XI, p. 202)
“Essa observação quanto à devoção à verdade e não a qualquer
personalidade ou conjunto de doutrinas ou conceitos (...) não é devidamente
levada em consideração. (...)
“Nossa presidente internacional em seu artigo intitulado O Desafio de Krishnaji na edição do
outono de 1987 da revista The
American Theosophist, enfatizou este ponto de uma maneira
semelhante:
“‘Na realidade a teosofia é a sabedoria viva que penetra em nosso ser através da
observação e compreensão do processo da vida, não meramente no nível físico
mas
também no nível psicológico e nos outros níveis mais sutis da existência. A
sabedoria nasce quando a mente se liberta dos seus preconceitos e limitações e
se desloca em uma dimensão diferente.’ (p. 346)
“Ela acrescenta e isto é de fundamental importância para nós, aqui e
agora:
“‘A Sociedade Teosófica pode continuar a ser uma força para o bem apenas na
extensão em que a teosofia não se tornar um outro conjunto de conceitos ou de
crenças.’ (p. 345)
“Na minha experiência com membros da Sociedade Teosófica – e eu
viajei ao redor do mundo – a teosofia passou a ser apenas mais um conjunto de
conceitos e crenças. Com demasiada freqüência os membros colocam a
teosofia no mesmo pé das doutrinas que surgiram no fim do século XIX através das
obras principais de HPB e dos outros autores e não como a sabedoria divina.
(...) Que mutilação terrível da mente! Alguns de nós em décadas passadas
transformaram a reformulação do século XIX em um dogma que é oferecido como a
fonte pura da verdade espiritual.
“O perigo da Sociedade Teosófica tornar-se
enredada em um padrão específico de pensamento que gira ao redor de determinadas
reformulações de verdades está dolorosamente demasiado presente conosco aqui e
agora, e a maioria de nós nem mesmo está consciente dessa ocorrência.” (p.
17-18)
Para Jeanine Miller, portanto, quando a Teosofia é vista como uma dada doutrina
haverá sempre o problema “da Sociedade Teosófica tornar-se
enredada em um padrão específico de pensamento”. Outro exemplo de testemunho a
respeito dessas possíveis diferenças e dos problemas por elas acarretados na
vida da ST é o seguinte trecho de um artigo de Aryel Sanat, publicado
19 – “Outra implicação disso é que qualquer um que acredite ou que apresente a Teosofia para os outros como se ela fosse uma série de ensinamentos fixos estaria, a despeito de boas intenções, muito lamentavelmente mal representando a verdade e provavelmente estaria fazendo um desserviço ao ensinamento esotérico.” (The Secret Doctrine, Krishnamurti and Transformation, p. 143)
Para muitas pessoas esse perigo aludido por Jeanine Miller e por Aryel Sanat
talvez possa parecer uma questão meramente terminológica e, assim, pouco
significativa. Desse modo, é útil tentarmos explicá-la um pouco mais
detidamente. E qual é o aspecto central dessa questão, que pode tornar a
Teosofia como elemento da fracasso
da ST, ao invés de sua glória, tal como uma “fortaleza inexpugnável” na
expressão do Mahatma? Em primeiro lugar, cabe lembrar que voltaremos a tratar
dessa questão no capítulo dedicado ao segundo objetivo da ST, já no final dessa
obra. Lá é possível tratar a questão mais confortavelmente, uma vez que
poderemos contar com o auxílio dos conteúdos colocados ao longo do texto.
Contudo, ao menos uma idéia geral desse problema deve ser colocada neste momento
em que tratamos da conceituação da Teosofia.
O Problema da Teosofia Conceituada
como uma Doutrina
Ao nosso ver, um dos principais aspectos da gravidade desse
problema diz respeito ao fato que ele afeta nocivamente a missão central da ST,
que foi referida por um dos Adeptos nos seguintes termos:
20 – “Os Chefes querem uma “Fraternidade da Humanidade”, o início de uma real
Fraternidade Universal; uma instituição que se faça conhecida por todo o mundo e
cative a atenção das mentes mais elevadas.” (K.H., ML, n. 6, p. 24)
E esse efeito nocivo sobre essa missão se deve ao fato de que em nossa época as
mentes mais elevadas tendem a estar condicionadas pelo predomínio do pensamento
científico e a reagirem negativamente a todas as formas de sectarismo religioso.
Poucos anos após a fundação da ST, Damodar K. Mavalankar, um dos grandes
trabalhadores dos primeiros tempos da Sociedade já escreveu que:
21 – “Parece prevalecer uma impressão geral de que a Sociedade é uma seita
religiosa. (...) Colocando certos fatos diante do público despreparado (...) nos
tornamos em certa medida odiosos aos olhos do público.” (ML, n. 142a, p. 486)
Essa deve ter sido uma das razões que levou o Senhor Maha-Chohan (mencionado como
um grande chefe entre os Adeptos) a afirmar que, com relação à doutrina por Eles
promulgada:
22 – “É absolutamente necessário inculcá-la gradualmente, reforçando suas
teorias, fatos incontestáveis para os que sabem, com inferências diretas
deduzidas e corroboradas pelas evidências fornecidas pela ciência exata
moderna.” (LMW, 1st Series, n. 1,
p. 2)
Em sua obra Principles of
Theosophical Work, I.K. Taimni também comenta a grande necessidade de
adequação no trabalho da ST, por exemplo quando
escreve:
23 – “Há um grande número de pessoas (...) que podem ser levadas a apreciar as
verdades da Sabedoria Antiga se as apresentarmos de maneira apropriada. Faz
grande diferença em seu caso como entramos em contato com suas mentes.” (p. 173)
Assim sendo, o significado que atribuímos à palavra Teosofia não é uma questão meramente terminológica, mas sim um ponto que, ao reforçar a tendência já amplamente difundida – e não sem uma boa dose de razão – de que a ST parece ser uma seita religiosa, pode afetar de forma nociva, em seus aspectos fundamentais, todo o trabalho da Sociedade, na medida em que provoca uma reação negativa, que tende a repelir, e não a cativar “a atenção das mentes mais elevadas”.
Teosofia é Sabedoria, é
Iluminação
A citação abaixo de HPB, de um lado, atesta a existência de conceituações
equivocadas da palavra Teosofia, e portanto problemáticas, desde os seus primórdios – sobretudo
por força do nome de nossa Sociedade. E, de outro lado, também corrobora aquele
que, segundo cremos, é o seu significado conceitual correto:
24 – “Por mais insignificante e por mais limitada a
linha de bons atos, esses terão sempre mais peso do que a conversa vazia e
vangloriosa, e serão teosofia, enquanto que teorias sem qualquer realização
prática são na melhor das hipóteses filosofia. A teosofia é uma Ciência
todo-abarcante; muitos são os caminhos que a ela conduzem, de fato tão numerosos
quanto as suas definições, as quais começaram pelo sublime durante os dias de
Ammonius Saccas e terminaram pelo ridículo – no dicionário Webster.” (The Original Programme of
the Theosophical Society, p. 44)
Em vista desses fatos, em se tratando de uma questão importante para a
compreensão do que seja uma Sociedade denominada de “TEOSÓFICA”, examinaremos
com um pouco mais de atenção o significado da palavra Teosofia. Vejamos, de
início, como a própria HPB a definiu conceitualmente em sua obra A Chave para a Teosofia:
25 – “Pergunta: Ela (a Teosofia) é uma religião?
“Teósofo: Não, não é. Teosofia é Ciência ou Conhecimento Divinos.
“Pergunta: Qual o real significado do termo?
“Teósofo: “Sabedoria Divina”, “Theosophia” ou Sabedoria dos deuses, como
“Theogonia”, genealogia dos deuses. A palavra Theos significa “um deus” em
grego, um dos seres divinos – certamente não “Deus” no sentido atribuído em
nossos dias ao termo. Portanto, não é “Sabedoria de Deus”, como traduzido por
alguns, mas Sabedoria Divina, aquela possuída pelos deuses. O termo existe há
muitos milhares de anos.” (A Chave para a Teosofia, p. 15)
Examinemos mais algumas citações elucidativas. A citação seguinte é novamente de
HPB, onde ela aprofunda mais o exame do significado de Teosofia:
26 – “Para definir completamente Teosofia, precisamos considerá-la sob todos os seus aspectos. O mundo interior não foi ocultado de todos por uma escuridão impenetrável. Por meio daquela intuição superior adquirida pela Theosophia – ou Conhecimento Divino, que eleva a mente do mundo da forma para aquele do espírito sem forma, o homem algumas vezes tem sido capacitado, em todas as épocas e em todos os países, a perceber as coisas no mundo interior ou invisível.
“Daí, o “Samadhi” ou Dyan Yog Samadhi, dos ascetas hindus; o “Daimonion-photi” ou iluminação espiritual dos neoplatônicos; a “Confabulação sidérea das almas” dos Rosacruzes ou filósofos do Fogo; e, até mesmo o transe extático dos místicos e dos modernos mesmeristas e espíritas, são idênticos em sua natureza, embora variados em suas manifestações. A busca pelo “ser” divino do homem, tão frequentemente e tão erroneamente interpretada como a comunhão individual com um Deus pessoal, era o objetivo de todo o místico, e a crença em sua possibilidade parece datar da origem da humanidade – cada povo lhe dando outro nome.
“Assim, Platão e Plotino chamaram de “Trabalho noético” aquilo que os Iogues e o “Srotriya” denominam Vidya. “Por meio de reflexão, autoconhecimento e disciplina intelectual, a alma pode ser elevada à visão da eterna verdade, bondade e beleza – isto é, à Visão de Deus – esta é a epopteia”, dizem os gregos. “Para unir a própria alma com a Alma Universal”, diz Porfírio, “é necessário apenas uma mente perfeitamente pura. Por meio da autocontemplação, da castidade perfeita e pureza do corpo, podemos nos aproximar mais Dela, e receber, naquele estado, verdadeiro conhecimento e maravilhoso discernimento.” (CW, Vol. II, p. 92)
Na citação acima de HPB podemos perceber claramente que a Teosofia é explicada
como sendo, em essência, algo muito maior, ou de uma qualidade muito superior,
do que um mero sistema de conhecimentos intelectuais como, por exemplo, o
conhecimento científico comum, ou o conhecimento de qualquer doutrina filosófica
ou mesmo religiosa. Isto é, a Teosofia é definida como sendo essencialmente um
estado de consciência muito superior ao do conhecimento intelectual de qualquer
tipo, seja de fatos, idéias ou de correntes de pensamento.
Como
vimos, HPB conceitua a Teosofia como sendo a luz
infalível da consciência espiritual, da verdadeira sabedoria e iluminação, a
qual é, segundo estamos firmemente convencidos, a concepção intelectual correta
do que seja a Teosofia.
Haveria algo de novo nessa conceituação? Nada, assim como nada há de novo sob o
sol. Nesse sentido, podemos ler na carta que expressa a visão do Senhor Maha Chohan,
que:
27 – “Como todos sabem, a libertação total da autoridade da lei ou poder que a
tudo penetra (N.A: a Lei do Carma), libertação chamada
Deus pelos padres – Buddha, Sabedoria Divina e Iluminação ou Teosofia, pelos
filósofos de todas as épocas (...)”. (LMW, 1st Series, p. 5)
“Sociedade Teosófica” Significa
“Sociedade Altruísta”
Deste modo, uma vez que esteja claro que a palavra
Teosofia significa o estado de uma mente verdadeiramente sábia, cujas
características essenciais são o “Altruísmo” e a “verdadeira iluminação
espiritual”, e que isto é o que significa “genuína sabedoria”, o fato de termos
a denominação de Sociedade “Teosófica” significa, de fato, uma “sociedade
altruísta”, ou seja, uma sociedade que existe para promover o bem-estar
integral da humanidade, ou ainda, uma sociedade inspirada pela genuína
sabedoria.
O nome “Sociedade Teosófica”, portanto, ao invés de ter como significado,
conforme geralmente se lhe atribui, o de uma sociedade ligada a uma dada reformulação da
Verdade, isto é, a uma dada doutrina filosófico-religiosa (que seria a
Teosofia), bem diferente disto, significa uma sociedade cujo caráter, cujos
objetivos e cujas metas foram inspirados pela luz da consciência espiritual, ou
por mentes puramente altruístas e, portanto, realmente sábias.
Este último fato, para alguns, poderá não ser um ponto de compreensão
imediata, ou não estar suficientemente bem esclarecido. Isto é, que o estado de
uma mente realmente Sábia (a Teosofia) deva ao mesmo tempo ter como
características essenciais, de um lado, a realização da Verdade e, de outro, o
Altruísmo puro.
Neste sentido, poderá ser útil examinarmos a passagem abaixo do Dr. I.K Taimni, onde ele explica porque a Verdade e o Amor são,
de fato, duas características fundamentais de uma mente Sábia, de uma mente
espiritualmente iluminada (cuja luz é a Teosofia):
28 – “Amor, Sabedoria e Felicidade são nomes dos diferentes aspectos do mesmo
estado de Consciência no qual o indivíduo percebe o Todo. A percepção do Todo na
qual todas as coisas são vistas em suas corretas perspectivas e
verdadeiras naturezas é Sabedoria. A atitude em relação ao Todo e suas
diferentes partes que resulta do apercebimento dessa unidade e harmonioso
relacionamento é Amor. A reação na consciência que é o produto conjunto deste
apercebimento de unidade e totalidade de um lado, e a atitude de amor do outro
lado, é Felicidade, Bem Aventurança ou Ananda. Pode-se perceber, portanto, que
Sabedoria, Amor e Felicidade são diferentes aspectos do mesmo estado de
Consciência Divina.” (I.K. Taimni, Glimpses into the Psychology of Yoga, p. 308)
No entanto, como vimos antes, essa inspiração da Teosofia em relação
à ST como um todo, inspiração que está expressa no nome “Sociedade
TEOSÓFICA”, se refere apenas aos seus objetivos e metas em abstrato. E isto não
significa que a ST e os seus membros mantenham sempre esse caráter teosófico em
suas políticas e ações concretas. Assim sendo, em termos abstratos, a
denominação “Sociedade TEOSÓFICA” significa uma organização que visa promover o
bem-estar integral e universal da humanidade, pois do contrário não seria uma
expressão da Sabedoria Divina ou do Altruísmo verdadeiro.
Esse caráter implícito na denominação da ST deve, se for verdadeiro, necessariamente se refletir no lema
e nos objetivos da ST, fato que procuraremos examinar a seguir.
Convém enfatizar, mesmo com o risco de nos tornarmos repetitivos, que esse
caráter de uma sociedade verdadeiramente altruísta, pelo menos no que diz
respeito aos seus objetivos e metas, também está relacionado com o fato da ST
ter sido fundada por inspiração, e até mesmo, como vimos antes, por ordem de
Sábios espiritualmente iluminados e, assim sendo, perfeitamente altruístas.
Ao enfatizarmos o que já havíamos colocado anteriormente, também
faz-se necessário repetir que nem sequer a própria existência dos
Mahatmas é uma crença obrigatória na ST, conforme está claramente estabelecido
no primeiro objetivo da ST, pois este objetivo propõe a formação de um núcleo da
fraternidade universal da humanidade SEM DISTINÇÃO DE CREDOS. O único ponto,
portanto, a respeito do qual pode-se dizer que
necessariamente deve existir uma aceitação por parte de todos os membros da ST,
trata-se do grande princípio ou lei da fraternidade universal da humanidade, do
mesmo modo que a vontade de formar um núcleo dessa fraternidade universal.
Contudo, não deve causar qualquer surpresa que – em face das inúmeras
declarações deixadas pelos fundadores, bem como em face do testemunho de suas
vidas abnegadas à causa do bem-estar da humanidade – a maioria dos membros da ST
aceitem a plausibilidade da existência dos Mahatmas. No caso dessas pessoas, é
claro, essa relação (entre o caráter altruísta implícito no nome “Sociedade
TEOSÓFICA” e o fato dela ter sido fundada sob a inspiração dos Mestres) é aceita
com absoluta naturalidade, ao menos como uma hipótese muito provável.
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