No site www.anna-kingsford.com temos a obra A Verdade Viva no Cristianismo completa, com todos os capítulos já traduzidos ao português, bem como o original em inglês. A seguir temos as páginas de título e os capítulos VIII e IX dessa obra, sendo que o capítulo IX descreve a relação entre o credo do Buda e o credo do Cristo -- a Roda e a Cruz:
Tradução: Daniel M. Alves –
• The Living Truth in Christianity
(A Verdade Viva no
Cristianismo). Bertram McCrie. John M. Watkins,
Informação: Esta pequena obra foi escrita como uma introdução à mensagem dos verdadeiros profetas conhecidos nessa época como Anna Kingsford e Edward Maitland. Ou seja, foi escrita como uma introdução ao chamado Novo Evangelho da Interpretação, que é a doutrina para cuja restauração ao mundo, em especial ao Ocidente, eles foram os instrumentos. Nesse Evangelho da Interpretação o Cristo ergue-se novamente do sepulcro da tradição histórica, para viver e reinar na alma imortal do ser humano.
A VERDADE VIVA NO CRISTIANISMO
D
Bertram
McCrie
Um Sumário da DOUTRINA CRISTÃ ESOTÉRICA dada ao Ocidente pelo NOVO EVANGELHO DA INTERPRETAÇÃO
JOHN M. WATKINS
1915
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– Cristo ou Caifás? – A Alma É Maior que os Dogmas – Pedras em Lugar de Pão – Uma Religião Idealmente Perfeita – Uma Casa Construída sobre Areia – Um Novo Nascimento para o Cristianismo – “Vejam, Eu Estou com Vocês Sempre” – “Eu Sou Aquilo que Sou” – “No Início Era o Verbo” – “Sete Espíritos Diante de Seu Trono” – O Pensamento Divino – Criação e Redenção – “Toda a Vida É uma Chama” – A Criação da Alma – “Conheça a Ti Mesmo” – A Memória da Alma – “Assim Disse o Senhor” – A Quádruplo Rio do Éden – “Vós Sois o Templo do Deus Vivo” – “Aquilo que um Homem Semear” – “Feito Perfeito Por Meio do Sofrimento” – PUREZA, a Tônica Principal da Religião – “A Luz da Ásia”, e – – “A Luz do Mundo” – “Todos Vós Sois Irmãos” – A Morte dos Inocentes – “Suas Mãos Estão Cheias de Sangue” – “Não Matarás” – “A Letra Mata” – “O Espírito Dá a Vida” – “Tais Coisas São uma Alegoria” – “Erga-se, Ó Alma, e Voe” – “Opere a Sua Própria Salvação” – Uma Odisséia da Alma – Iesous Chrestos, o Perfeito Sim de Deus – Adorem Somente a Deus – “Três que Dão Testemunho no Céu” – “Façamos o Homem Segundo Nossa Imagem” – “Até o Estado de um Homem Perfeito” – “Sede Vós Portanto Perfeitos”
Escrituras do Futuro: o Novo Evangelho da Interpretação (44-47) – O Caminho Perfeito; ou, a Descoberta de Cristo – Vestida com o Sol; o Livro das Iluminações de Anna Kingsford – A História de Anna Kingsford, Edward Maitland e o Novo Evangelho da Interpretação – Anna Kingsford: Sua Vida, Cartas, Diário e Obra – O Relato da Própria Bíblia a Respeito de Si Mesma – Palestras e Ensaios sobre o Vegetarianismo – Sonhos e Estórias de Sonhos [Obras adicionadas pelo organizador do Site Anna Kingsford:] – Intima Sacra; um Manual de Devoção Esotérica – O Novo Evangelho da Interpretação – Uma Mensagem à Terra – O Credo da Cristandade: e outras Palestras e Ensaios sobre Cristianismo Esotérico.
ESTE pequeno livro se dirige especialmente ao grande e crescente grupo de homens e mulheres de pensamento elevado, os quais instintivamente se afastam do vazio do materialismo e do agnosticismo, mas, não obstante, descobrem que não podem satisfazer seu entendimento e alimentar adequadamente suas almas com o literalismo e os dogmas estabelecidos pela Igreja tradicional. Tais pessoas buscam na religião algo mais profundo do que uma “moralidade tingida de emoção”; sua suprema necessidade é encontrar dentro daquela fé cristã na qual nasceram todos os elementos essenciais da revelação divina. Por mais valioso que o estudo das religiões orientais possa ser para tais pessoas, lhes seria de maior auxílio conhecer que o Ocidente já possui a sua própria doutrina cristã esotérica, um núcleo vivo de verdade religiosa, estabelecido em certas escrituras que constituem verdadeiramente um “Evangelho da Interpretação”. Através de dificuldades e lutas o autor dessa pequena obra foi auxiliado pela luz interna que duas almas-profetas lançaram – no recuperado Evangelho – a respeito das próprias origens do ser e dos mais profundos enigmas da vida. Essa duas almas são conhecidas nessa época como Anna Kingsford e Edward Maitland. Na doutrina que eles foram os instrumentos para sua restauração ao Ocidente, o Cristo se ergue novamente do sepulcro da tradição histórica, para viver e reinar na imorredoura alma do homem. Que esta pequena obra possa levar alguns à “Descoberta de Cristo”, é a sincera esperança de seu autor. BERTRAM MCCRIE. LONDRES, Natal, 1915.
“No
momento atual duas coisas a respeito da religião cristã devem certamente serem
claras para qualquer um com discernimento em sua cabeça. Uma é que os homens não
podem viver sem ela; a outra, que eles não podem viver com ela assim como ela
está.” (MATTHEW ARNOLD,
em God and the Bible (Deus e a Bíblia); Pref. p. xiv.) “A tônica principal da Religião é dada nas palavras ‘Meu reino não é desse mundo.’ Todos os seus mistérios e todos os seus oráculos estão concebidos nesse espírito, e da mesma forma devem todas as escrituras serem interpretadas. Pois qualquer coisa em Religião para ser verdadeira e firme deve ser verdadeira e firme para a Alma. A Alma é o verdadeiro e o único sujeito envolvido; e qualquer relação que a Religião possa ter com o corpo ou com o homem fenomênico é indireta, e apenas por correspondência ou analogia. É para a Alma que a Palavra Divina é escrita, e é sua natureza, sua história, suas funções, seus conflitos e sua redenção que são sempre o tema das sagradas narrativas, profecias e doutrinas.” (ANNA KINGSFORD, em The Perfect Way; or, the Finding of Christ (O Caminho Perfeito; ou, a Descoberta de Cristo); Lect. IV, par. 4.)
CAPÍTULO VIII
“Aquilo que um Homem Semear”
1. (*) É
A ALMA,
portanto, que sendo o verdadeiro ego, continuamente adquire, anima e descarta Pois a alma, para triunfar sobre e re-criar a matéria, deve ter pleno conhecimento da matéria. Para transcender e transmutar a forma ela deve ter completa experiência da forma. Após descer como ego até a criação, ela deve voltar a ascender por meio da emancipação de si mesma do poder do corpo. 2. Uma vez que a alma se polarizou e se lançou para a vida dentro de um organismo, ela passa a estar sob a operação da lei de [Causa e] Conseqüência, ou Carma, e a partir de então ela cria para si mesma corpos ou formas que são, por natureza e tendências, o resultado exato de sua conduta pretérita. As capacidades para o bem ou para o mal de cada sucessiva encarnação física do ego do ser humano dependem das tendências – para o bem ou para o mal – estimuladas por ele como ego em encarnações passadas, e desse modo também é composta a relativa felicidade ou tristeza do ego nos períodos entre cada encarnação. A conduta do homem hoje está determinando suas próprias circunstâncias e características futuras, e o instrumento com o qual seu destino é moldado, o próprio homem o forja com o ferro de seus pensamentos e atos no crisol de seu caráter.
O homem é o resultado de seu pensamento – o Caráter
é
Destino. Essa é uma lei de eqüidade; nem gentil, nem cruel, apenas
eternamente justa. Ignorar ou negar sua soberania traz infelicidade e
perplexidade, compreendê-la e usá-la trás paz e segurança. Ela é a lei da
hereditariedade espiritual para o verdadeiro ser.
“Feito Perfeito Por Meio do Sofrimento”
3. Assim, a doutrina fundamental
da evolução é a antiga lei da progressão da alma através da transmigração, tendo
o Carma como o meio tanto de aprisionamento quanto de libertação. Ele é para a
maioria – O sofrimento individual e as tendências individuais jamais podem ser compreendidos sob a tênue luz de uma única vida física terrena, mas tão somente pela tocha da Reencarnação empunhada nas mãos do Carma. Portanto, embora seja difícil conceber a passagem da alma através do véu da matéria exceto pelo caminho do sofrimento e da experiência, é possível para o indivíduo organizar sua vida encarnada de tal modo que todo o sofrimento seja para ele como as asas de sua ascensão em direção ao Altíssimo. 4. A causa do sofrimento e a raiz do pecado estão relacionados com a alma e não com a personalidade exterior. Essa causa é, em síntese, o desejo inferior. Ele se origina na negação pela alma da sua natureza espiritual, o abandono de seu centro divino para [buscar] as coisas dos sentidos, o desejo daquilo que não é Deus. Renunciando sua verdadeira identidade como substância espiritual ela, dessa forma, identifica-se com a natureza corpórea e, caindo sob o domínio da matéria, se distancia de seu anterior estado de pureza. Como a noção do certo e do errado é inerente à alma, ela tem a faculdade de escolher entre o interno e o externo, e é livre para assim escolher. Mas de sua escolha permanente depende tanto sua perpetuação final como parte do Espírito ou Ser de Deus, quanto a retirada definitiva do espírito que a anima, e sua conseqüente dispersão ou extinção como individualidade.
O
homem é, de fato, livre para aceitar ou negar a Deus – NOTAS (22:*) N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.
CAPÍTULO IX
PUREZA, a Tônica Principal da
Religião 1. (*) CHEGAMOS agora a um ponto [na trajetória evolutiva da alma] em que a religião comumente passa a ser um fator de relevância prática na vida do homem. Como poderá o homem – como um ser humano que vive num mundo de sentidos – superar o sofrimento e a tristeza nascida de sua passagem por esse mundo e conduzir a sua existência da melhor forma possível, e, tornando-se consciente de sua natureza divina, estabelecer relações diretas e palpáveis entre si mesmo e Deus? “Fazendo a Vontade de Deus”, assim responde a religião.
Como a Vontade Divina somente pode ser aprendida individualmente por meio da
alma, e a alma somente pode perceber e transmitir aquela Vontade em sua
inteireza e verdade quando ela própria está íntegra e pura, segue-se que o cerne
de toda a Religião está sintetizado na idéia da
Pureza, e a única forma de
salvação é sua prática no mais alto grau dentro do sistema e da alma do homem.
(1) Desse modo o propósito imediato da religião – quando digna
desse nome – foi sempre de alguma forma estimular o homem em direção à pureza de
vida, e a diferença entre um sistema religioso vivo e um morto 2. Agora, uma das mais deploráveis características do Sacerdotalismo é sua habitual intolerância a todas as outras formas de fé e sistemas religiosos, a despeito de sua antiguidade, autenticidade, semelhanças fundamentais e credibilidade. O Sacerdotalismo não os vê como amigos, mas como rivais e inimigos; que não devem ser entendidos, apreciados e – ao menos em parte – assimilados, mas que devem ser ignorados, depreciados e contestados.
Essa atitude é justificada pelo Sacerdotalismo como sendo zelo por seus próprios
princípios particulares, mas isso, na verdade, não é nada mais que intolerância
nascida da ignorância. Contudo, essa é uma atitude que no longo prazo é fatal
para a existência do próprio Sacerdotalismo, por conter em si um elemento de
autodestruição.
“A Luz da Ásia”, e – 3. Exatamente essa atitude em relação àquele sistema religioso em particular denominado de Budismo, que precedeu o advento do Cristianismo por cerca de cinco ou seis séculos, tem sido algo próximo de uma atitude suicida ao real sucesso do Cristianismo, tendo se provado desastrosa para sua capacidade de influenciar a todos, exceto aos ignorantes e elementares, aos preconceituosos, e às classes conservadoras ainda dominadas pelo Sacerdotalismo.
Pois o fato é que a doutrina de Buda, com suas Quatro Nobres Verdades, e
seu Nobre Óctuplo Caminho, sua ilimitada compaixão em relação a toda a
vida senciente, seu lógico ensinamento ético de desenvolvimento através da
conquista de si mesmo e da autocultura, sua simples e não obstante profunda
análise do sofrimento e da tristeza com o método da libertação desses estando
disponível a todos, sua regeneração completa da mente, seus elevados código de
moralidade e padrão de tolerância, paz e caridade – essa doutrina é a
indispensável precursora e intérprete da doutrina de Cristo. Em resumo, não são
dois Evangelhos, mas
“A Luz do Mundo” 4. Visto dessa forma, o Cristianismo, como religião, assume a obra de aperfeiçoar o homem em seu coração, a partir daquele grau de regeneração parcial a que o Budismo, como filosofia, já o conduziu em sua mente; e assim o Cristianismo descreve e trata apenas dos estágios finais de todo o grande trabalho. Se isso fosse reconhecido, as sérias deficiências referentes às bases, e aquelas falhas racionais, intelectuais e morais que confrontam os estudantes ponderados e imparciais do sistema cristão, seriam amplamente reconhecidas, e um passo adiante seria dado em direção à reabilitação, enquanto um todo vivo, da tão mutilada fé.
Quão pouco conhecem o Cristianismo aqueles que conhecem somente um Jesus
histórico, e deixam de levar em conta o caminho de Buda, como uma escada que
deve ser subida para que se alcance o estado de Jesus! NOTAS
(25:*)
N.T.: Essa numeração indica os parágrafos no original, em inglês.
A RODA
Pouco após a sua
Iluminação, o Buddha ("O Iluminado" ou “O Desperto”), proferiu o seu
primeiro discurso definindo a estrutura básica sobre a qual se
baseariam todos os seus ensinamentos seguintes. Essa estrutura
básica são as Quatro Nobres Verdades, quatro princípios fundamentais
da natureza (Dharma) que emergiram da avaliação honesta e profunda
que o Buddha fez da condição humana e que definem toda a abrangência
da prática Budista. Essas verdades não são afirmações de fé. São na
verdade, categorias nas quais podemos enquadrar nossa experiência de
tal forma a criar condições para a Iluminação:
1- A Existência
do Sofrimento
2- A Causa do
Sofrimento: o Apego
3- A Extinção do
Sofrimento: a Eliminação do Apego
4- O
Caminho que Leva à Extinção do Sofrimento: o Nobre Caminho Óctuplo,
composto por entendimento correto, pensamento correto, linguagem
correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto,
atenção plena correta e concentração correta.
A Existência do
Sofrimento
Toda existência senciente implica
em sofrimento (Duhkha). Por "sofrimento", devemos entender que, de
uma forma essencial, todo ser está mergulhado em algum tipo de
ignorância consciencial. Isso implica que a maioria dos seres
humanos "sofrem" por não saberem lidar com a existência de forma
equilibrada, seja nas experiências consideradas "prazerosas" ou nas
consideradas "dolorosas". O sofrimento ignorante é fundamentado pela
angústia da frustração egóica, que se prende em um sem-número de
expectativas lineares e ilusoriamente permanentes. Portanto, nós
seres humanos sofremos de uma "doença" psico-espiritual, de
consciência, que nos leva a lidar com os contatos perceptivos de
forma frustrante.
Há oito espécies de sofrimento:
nascimento, velhice, doença, morte, contato com o que detestamos,
separação do que amamos, objetivos inalcançáveis e o sofrimento
inerente ao apego aos cinco agregados (elementos psicofísicos:
forma, sentimentos, percepção, constituintes mentais e consciência).
Coletivamente são chamados de numa
(nome) e rupa (forma). Assim o composto de nome-forma é um sinônimo
dos cinco agregados. Tanto os agregados físicos como mentais são
caracterizados pela impermanência, sofrimento e não-eu.
A Causa do Sofrimento
O sofrimento ocorre pelo desejo
ignorante (Trshna). Aqui temos a base de todo processo ilusório no
qual os seres sencientes estão presos. No plano humano, o desejo
ignorante ocorre em função de um estado de delusão ou
"não-sabedoria" (avidya). Esta condição é um estado natural nos
seres em sua origem, mas que não é impossível de ser superada à
medida em que um ser humano esforça-se em direção à reflexão.
O desejo pode ser classificado em
três tipos, baseados nos três modos de identificação egóica: Apego
(o desejo projetado como forma de anseio passional), Aversão (o
desejo projetado como forma de rejeição odiosa) e a Indiferença (os
apegos e aversões desviados repressivamente em uma atitude de falso
alheamento). a Verdade da Causa do Sofrimento a palavra da Índia
traduzida como "causa" significa "vir junto, formar-se conjuntamente
e surgir, aparecer".
A Extinção do Sofrimento
É possível superar o
sofrimento. Embora os processos racionais e sociais sejam muito
viciantes e arraigados em nosso complexo psico-emocional, Buddha
afirma que eles podem ser superados, e que uma forma nova de visão e
percepção do mundo é possível.O
Sutra define a Verdade da Extinção do Sofrimento como a eliminação
dos apegos e o estado de Nirvana.
Sutras primitivos descrevem
Nirvana como eliminação das máculas, extinção da ganância, raiva e
ignorância. Neste contexto a extinção do sofrimento é Nirvana.
O Caminho para a Extinção do Sofrimento: O Nobre Caminho Óctuplo
A última das Nobre Verdades
contém a prescrição de como aliviar nossa insatisfação e alcançar a
eventual libertação, de uma vez por todas, desse ciclo de vida e
morte (samsara) doloroso e desgastante ao qual – pela própria
ignorância (avijja) das Quatro Nobres Verdades – estamos presos por
tempos incontáveis. O Nobre Caminho Óctuplo oferece um guia prático
e completo para o desenvolvimento mental de qualidades e habilidades
benéficas que devem ser cultivadas se o praticante desejar alcançar
o objetivo final, a liberdade e felicidade supremas, o Nirvana. Embora estudados
individualmente cada aspecto faz parte de um todo orgânico e
indivisível.
Ponto de Vista Correto - sabedoria e compreensão das Quatro Verdades Nobres e da Origem Interdependente. Alguns consideram como Fé Correta, para os de pouca experiência que ainda não adentraram o nível da sabedoria superior.
Pensamento Correto - pensamento ou determinação que precede ação ou fala. Para uma pessoa ordenada é a prática do pensamento correto através da mente cada vez mais gentil, compassionada e pura. Para os leigos é pensar corretamente sobre sua situação e agir determinadamente de acordo.
Fala Correta - surge do pensamento correto. Não mentir, não usar linguagem pesada, não falar mal dos outros, não caluniar, não falar frivolamente e usar a fala beneficiando a todos e conduzindo à harmonia, pela ternura que nutre a todos os seres.
Ação Correta - surge do pensamento correto. Não matar, não roubar, não cometer adultério. É praticar boas ações como a de proteger e cuidar de todos os seres, observando os valores éticos.
Meio de Vida Correto - conduta correta na maneira de viver, de se manter, com hábitos regulares e saudáveis de dormir, comer, trabalhar, fazer exercícios, descansar. Viver de maneira a melhorar a saúde, ser mais eficiente e criar harmonia, eficiência e saúde para todos. Ter meios de vida que considerem outros seres, outras formas de vida, o respeito e dignidade próprios e dos outros presentes e passados, as futuras gerações, a sustentabilidade e a melhor qualidade da vida.
Esforço Correto - dedicar-se constante e assíduamente ao caminho de obter os ideais de fé religiosa, ética, educação, política, economia e saúde produzindo e aumentando o que é bom e prevenindo e eliminando o que é mal.
Atenção Correta - manter-se atento garante que com a correta consciência e percepção nunca sejam esquecidos os objetivos ideais de fazer o bem a todos os seres. Na vida diária é agir com cuidado e atenção, pois qualquer momento desatento pode causar um desastre. Do ponto de vista Budista tradicional significa manter constante atenção à impermanência, sofrimento, não-eu.
Concentração Correta - aqui a referência é aos Dhyanas ou estados meditativos. Manter a mente calma e concentrada para permitir a manifestação da sabedoria completa e verdadeira a partir da qual surgem os pensamentos e ações corretas. Manter a mente clara e brilhante em tranqüila atividade.
Na prática, o Buddha
ensinou o Nobre Caminho Óctuplo aos seus discípulos de acordo com um
sistema de treinamento gradual, iniciando com o desenvolvimento de
sila ou virtude (linguagem correta, ação correta e modo de vida
correto, que na prática estão resumidos nos cinco preceitos),
seguido pelo desenvolvimento de samadhi ou concentração (esforço
correto, atenção plena correta e concentração correta), culminando
com o pleno desenvolvimento de pañña ou sabedoria (entendimento
correto e pensamento correto). A prática de dana (generosidade)
serve como um apoio para cada passo ao longo do caminho já que atua
como um auxiliar na corrosão da tendência habitual ao desejo e
também porque pode trazer grandes ensinamentos sobre as causas e
resultados das ações de cada pessoa (kamma).
O progresso ao longo
do caminho não segue uma trajetória linear simples. Em vez disso, o
desenvolvimento de cada aspecto do Nobre Caminho Óctuplo encoraja o
refinamento e fortalecimento dos demais, levando o praticante
adiante em uma espiral ascendente de maturidade espiritual que
culmina na Iluminação.
Vendo por um outro
ângulo, a longa jornada no caminho para a Iluminação tem início a
sério com os primeiros sinais de alguma movimentação na questão do
entendimento correto, os primeiros lampejos de sabedoria através dos
quais a pessoa reconhece tanto a validade da Primeira Nobre Verdade
e a inevitabilidade da lei do kamma (sânscrito karma), a lei
universal de causa e efeito. A partir do momento que a pessoa se dá
conta de que más ações inevitavelmente trazem maus resultados e que
boas ações trazem bons resultados, o desejo, de viver uma vida
moralmente correta e íntegra, de adotar seriamente a prática de
sila, cresce. A confiança criada a partir desse entendimento
preliminar leva o praticante a ter ainda mais fé nos ensinamentos. O
praticante se torna um "Budista" a partir do momento em que expressa
uma determinação interior de "tomar o refúgio" na Jóia Tríplice: o
Buddha (tanto o Buddha histórico como o potencial de cada um de
alcançar a Iluminação), o Dhamma (tanto os ensinamentos do Buddha
histórico e a verdade última que eles revelam), e a Sangha (tanto a
comunidade monástica que protegeu os ensinamentos e os colocou em
prática desde os tempos do Buddha como todos aqueles que alcançaram
algum grau de Iluminação). Tendo fincado firmemente os pés no solo
através da tomada do refúgio e, com o auxílio de um bom amigo para
ajudar a indicar o caminho, a pessoa estará pronta para trilhar o
caminho, confiante de que estará seguindo as pegadas deixadas pelo
próprio Buddha.
Algumas vezes o
Budismo é ingenuamente criticado como uma religião ou filosofia
negativa ou pessimista. Apesar de tudo (esse é o argumento
utilizado) a vida não é somente miséria e desapontamento: ela
oferece muitos tipos de alegria e felicidade. Porque então existe
essa obsessão pessimista no Budismo com a falta de satisfação e o
sofrimento?
O Buddha baseou os seus ensinamentos em uma franca avaliação da nossa situação como seres humanos: existe falta de satisfação e sofrimento no mundo. Ninguém pode contestar esse fato. Se os ensinamentos Buddha parassem por aí, os seus ensinamentos poderiam de fato ser considerados pessimistas e a vida totalmente sem esperança.
Porém, como um médico
que prescreve o remédio para uma enfermidade, o Buddha oferece a
esperança (a Terceira Nobre Verdade) e a cura (a Quarta). Os
ensinamentos do Buddha portanto permitem ter um alto grau de
otimismo em um mundo complexo, confuso e difícil. Um professor
contemporâneo resumiu bem: "Budismo é a busca da felicidade levada a
sério".
O Buddha alegava que a Iluminação que ele redescobriu está acessível a qualquer um que esteja disposto a fazer o esforço e comprometer-se a seguir o Nobre Caminho Óctuplo até o fim. Cabe a cada um de nós colocar essa afirmação à prova. |